terça-feira, 6 de outubro de 2015

Estamos fabricando uma geração de idiotas Por Lucas Berlanza

george orwell

Toda época, na avaliação dos historiadores que a sucedem, tem as suas grandes questões, os seus grandes problemas, os seus grandes desafios. Cada geração tem os seus dilemas específicos a serem enfrentados. Ao contrário do que quiseram entender alguns pensadores e intérpretes do mundo contemporâneo, a nossa não foge à regra. Algumas notícias que tenho lido me fazem pensar que, ao olhar para o nosso momento, os analistas do futuro terão de constatar que um dos seus temas cruciais, para nossa vergonha, é a fabricação abundante de idiotas.
Posso explicar. Em artigo para a Gazeta do Povo, o doutor em Filosofia e professor na Unisinos, Gabriel Ferreira, transcreve a informação de que um curioso debate está sendo travado nos meios de comunicação dos Estados Unidos. Baseados no conceito de “microagressão”, um neologismo da década de 70 concebido pelo psiquiatra Chester Pierce para se referir a agressões veladas que os negros sofriam ao seu tempo, professores e alunos de diversas universidades estão extrapolando e, insuflados pela doença do politicamente correto, empanturrando a educação de “não-me-toques”.
Diz ele: “alguns alunos solicitaram aos professores que as aulas acerca da legislação que versa sobre crimes sexuais fossem precedidas por um alerta de que o conteúdo é potencialmente desencadeador (…) de reações, lembranças e sentimentos desagradáveis ou traumáticos”, precaução que estão estendendo a outras searas. Os alunos poderiam se julgar, por exemplo, sensíveis às ementas de “cursos potencialmente ofensivos” ou traumáticos, o que incluiria falar sobre “mitologia grega, literatura e mesmo história, com suas narrativas de farsas, sexo, intrigas e morte”. Até mesmo a frase “só existe uma raça: a raça humana”, que se espera esteja refletindo uma convenção científica atual que deslegitima a discriminação racista na humanidade, está sendo criticada, por supostamente sugerir que “brancos não reconhecem a existência de negros”. Sim, você não leu errado.
No mesmo estilo e expressando a mesma verdade assustadora, encontro matéria no Portal UOL dando conta de que um vereador do PTB em Sertãozinho, interior de São Paulo – portanto, alguma coisa ainda mais próxima de nós -, Rogério Magrini, protocolou um projeto para proibir a conhecidíssima cantiga popular “Atirei o pau no gato” na cidade. O motivo? Segundo ele, a música incentiva a maltratar os animais, é violenta e agressiva, desaconselhável, portanto, aos infantes em formação.
Amigos, o que está acontecendo com as pessoas? De repente, as tradições mais inofensivas, e as informações mais importantes sobre a vida real, se tornaram horrores impactantes para quem está se preparando para encarar o mundo? A obsessão do esquerdismo politicamente correto por sufocar as angústias da realidade e proteger os indivíduos em redomas de vidro conceituais, castrando sua linguagem, castrando a exposição da verdade, castrando o contato com a realidade, está definitivamente criando uma geração de mimados e covardes hipersensíveis, que não serão capazes de lidar com nenhuma questão maior de suas vidas e de seu tempo. Adotam, ainda, um tom policialesco, censor, que se esforça por padronizar discursos e calar divergências porque supostamente “chocam”, “violentam”. O que me choca e violenta é essa busca doentia por homogeneidade, essa loucura que está pretendendo fazer do mundo um lugar chato e insuportável!
Entre os principais responsáveis por isso estão os acadêmicos, os pensadores e filósofos, que, inspirados nas “frescurites” da Nova Esquerda, decidiram adotar esses penduricalhos como dogmas intocáveis e resolveram fazer da negação da realidade uma profissão. O sociólogo Michel Misse, da UFRJ, em entrevista para a Folha de São Paulo, deu demonstração clara disso. Diante da indignação dos moradores do Rio de Janeiro, indiscriminadamente – afinal, tanto pessoas mais abastadas quanto mais pobres são alvo da violência -, decidiu reduzir tudo à paranoia de ver presente uma “extrema direita raivosa”. Segundo ele, os “desdobramentos de arrastões nas praias (…) com ataques de grupos contra ônibus de jovens da periferia” são reflexo da ascensão desses extremistas de direita. Ele alega nunca ter visto tanto ódio surgir, em reação “ao longo período de hegemonia da esquerda na esfera federal”. Os “meninos” dos arrastões, eles sim, coitadinhos e pobrezinhos injustiçados – como já dizia a secretária do Ministério da Cultura Ivana Bentes -, reagem à ocupação das favelas, porque a polícia “tenta moralizar os costumes, proíbe bailes funk, faz revistas em jovens que ela considera suspeitos e cria um conjunto de constrangimentos”.
Entenderam? Esses bandidos, que instalam o medo pela cidade, prejudicam o ir-e-vir dos cidadãos, retiram seus pertences – em geral, acreditem ou não, conquistados com suor e esforço, até matam e esfaqueiam, mas são, na visão desses ideólogos sonháticos, revolucionários sociais que se indignam contra a elite opressora. Da mesma forma, é claro, que os terroristas comunistas que lutavam contra o regime militar para implantar no Brasil a ditadura totalitária assassina não eram terroristas, mas sim guerreiros da liberdade que queriam resgatar a democracia.
Apesar de minhas inspirações de princípios liberais e conservadores, talvez o maior profeta do mundo moderno não provenha, na realidade, dessas hostes, mas sim da esquerda. Falo de George Orwell, egresso descontente do marxismo-leninismo, em seu imortal 1984. Tal como na “novilíngua” do Socing de seu livro, os socialistas e fascistas de hoje estão investindo na desconstrução das acepções dos termos, em revestimentos artificiais da linguagem e das palavras, a fim de descolar cada vez mais os códigos da vida real. Até onde isso nos pode levar, não faço ideia. Sei que, mais do que o Estado Islâmico, a Rússia, a China, as crises econômicas, o maior desafio do Ocidente, hoje, o mais estrondoso e notório, é, sem dúvida alguma, a estupidez.

Lucas Berlanza

Jornalista, graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela UFRJ, colunista e assessor de imprensa do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.

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