Ano 2550 DC. Romualdo e Peter saíram no domingo
para caçar patos. Os bichinhos faceiros se deliciavam na grande lagoa quando os
caçadores chegaram. Os bichos alçaram voo e eles meterem bala. Aí foi que
aconteceu um fato novo que mudou a história de todas as caçadas de patos.
Chegaram por detrás deles dois patos de terno e gravata que se apresentaram
como advogados. Os eles largavam as armas ou seriam denunciados e presos. E
ainda ameaçaram: E saibam vocês, o juiz do condado também é um pato. Acho que
dá perpétua! Foi assim que acabaram os domingos de caçadas de patos.
sexta-feira, 8 de junho de 2018
JOÃO BABA
Jurunupanu, nordeste seco. Poeira dos infernos.
Árvores secas, animais mortos de sede e água para o povo somente de caminhão
pipa. Então o prefeito Óvide ouviu falar de tal João Baba que morava na região
das pedras amarelas, um desperdício. Trouxe o homem com um emprego bem
remunerado na prefeitura para o setor de recursos hídricos. Pois deu certo. Em
seis meses João Baba babou tanto que se formaram três rios e um lago do tamanho
do Titicaca. O melhor de tudo é ninguém mais passou sede em Jurunupanu, nem
gente, nem animal e o verde tomou conta. Até uma praia de água doce ganharam.
Quando houve ameaça de enchente compraram um babador para João e tudo se
resolveu.
SETEMBRINO
Setembrino morreu no manicômio aos sessenta anos.
Após sua morte os médicos especialistas o desmontaram para estudá-lo, mas não conseguiram
juntá-lo novamente. Então ficou claro para todos que era verdade o que diziam
dele: Setembrino tinha realmente um parafuso a menos.
BARRABÁS NA CRUZ
O ladrão Barrabás não se importava de ser
crucificado, estava nem aí. Sua dor
maior era estar pregado naquele calorão dos diabos, com um chato ao seu lado e
não poder chupar nem um picolé ou beber uma mineral com gás.
MUNARO
Munaro era um homem pequeno que se tornou triste.
Viúvo recente, não tinha mais prazer na vida. A depressão foi tomando conta do
pequeno corpo dele; os remédios não o ajudaram.
Por fim, no último domingo ele deu cabo da vida se enforcando num
bonsai.
TRAÇA
Havia uma traça de meia idade ainda solteira e já
cansada de viver só. Certa manhã acordou bem disposta e determinada como nunca;
pegou uma caneta e fez um traço. Pronto! Arranjou um marido.
LANCHINHO
Uma multidão se reuniu em volta do homem que
sentado na calçada se alimentava. Usava maionese, ketchup e mostarda como
incremento. Protegia sua camisa com um guardanapo de pano xadrez. O que teria
de especial um homem fazendo seu lanche na calçada? Nada teria se ele não
estivesse se alimentando de paralelepípedos.
RETRATO 3X4
Borlulário trabalha no SEF (Sindicato dos
Ensacadores de Fumaça), lê Emir Sader, Frei Betto e Chauí, está sempre pronto
para passeata e mortadela, para ser contra tudo que não sai das cabeças
iluminadas da esquerda, inclusive a Lei de Responsabilidade Fiscal quando foi
votada; é amplamente favorável ao roubo cometido contra o trabalhador pela
Contribuição Compulsória, enfim, é um homem pronto para mudar o mundo como
estudantes de certo país que ocupam escolas com um discurso pífio e mentiroso,
pois onde é que já viu querer mudar o que é uma bela porcaria, basta ver a
nossa colocação no ranking mundial, quando na verdade o que desejam é gazetear
e na vida ter uma boa teta estatal para mamar. O verme apoia toda arruaça, pois
protestar é com ele, já que trabalhar e estudar é muito duro, então o furo é
mais embaixo. Crê piamente que bandido só é bandido porque é pobre, ofendendo
os milhões de pobres que trabalham honestamente. Bordulário não sabe a
diferença entre magarefe e mequetrefe; conjuga o verbo colorir começando com
“eu coloro”,; recebe Bolsa-Família para comprar ração para cachorro; fala
presidenta; acredita que Lula não é dono do sítio de Atibaia; pensa que Rose
Noronha é uma freira e que Guido Mantega é apto ao Nobel de Economia. Eis aí o
retrato 3x4 de um marxista imbecil.
ADEUS, MUNDO CRUEL
Mauro não era propriamente um homem a quem podemos
emblemar de bem com a vida. Casamentos desfeitos, bons empregos perdidos, duas
sociedades em que fora passado para trás. Naquele dia saíra para procurar
emprego e voltando para casa sem nenhuma novidade encontrou ela vazia. A mulher
partira levando a mobília também. Ele foi então
até o banheiro, levantou a tampa do vaso e se atirou dentro. Espremeu-se
bem e com muito esforço conseguiu puxar a cordinha da descarga. Adeus mundo
cruel!
PERU INÁCIO
Dezembro estava chegando e o peru Inácio não queria
morrer. Rezava que rezava para ser poupado nas festas de natal e novo ano. Já
não dormia mais, sua angústia era visível. Suas colegas galinhas tentavam
consolá-lo dizendo que a vida é mesmo assim; hoje uns e amanhã outros. O galo
médico receitou até um ansiolítico. O padre Bode João rogava-lhe que tivesse
esperança. Inácio olhava para o ceú azul e não sentia nenhuma alegria, sua
única visão era ele bem bronzeado sobre uma farta mesa, rodeado de arroz,
saladas e de pessoas embriagadas. O caso é que dezembro chegou e o bom Inácio
foi ao forno. Ficou bem moreninho como ele mesmo imaginara; sem dúvida um belo
peru. As galinhas amigas agora rezam por sua alma, orientadas pelo Bode João.
CONTANDO
Desde cedo da manhã o velho seu Zacarias sentado na
porta da igreja contava um, dois, um, dois, um, dois. Passou Antenor e
perguntou: Por que um, dois? Seu Zacarias olhou para ele e: Um, dois, três... Um,
dois, três...Um, dois, três...Aí veio Dona Cleusa e também o interpelou. E Zacarias: Um, dois, três, quatro... Um, dois, três,
quatro... Agora já são quatro pessoas que não tem o que fazer além de ficar
xeretando a vida de um velho sentado na porta da igreja.
BARRAS
Linha azul e agulha, agulha e linha, uma calça
jeans sobre a mesa. Gritos pedindo anestésicos e “socorro vão me matar!” “estão
me furando as minhas pernas!” Alguns minutos dessa ladainha chorosa tudo se
acalma. Linha e agulha voltam para seus lugares e a calça suada depois de todo
o sofrimento para fazer suas barras repousa em silêncio debruçada no cabideiro.
FÓSFOROS
Naquela minúscula caixa havia um fósforo meio
depressivo, sem cabeça. Não conversava com ninguém, abatido, triste, um inútil.
Numa fria manhã ele surtou. Riscou um irmão contra o outro até a caixa explodir
num fogo só. Não sobrou ninguém, até o esmalte da tampa do fogão ficou marcado.
Uma vez mais ficou provado que quem não tem cabeça age por impulso e queima até
mesmo os seus irmãos.
LEOCÁDIO
Salta! Pula! A multidão reunida no centro da cidade
ansiosa aguardava lá embaixo pelo último ato do suicida. Finalmente ele se
jogou do telhado. Os mais sensíveis fecharam os olhos antes do choque fatal.
Então antes de espatifar-se no chão Leocádio abriu suas belas asas e alçou voo
para navegar sob o resplandecente azul do céu. Antes contornou e fez um rasante
mostrando a língua para os abutres que pediam por sangue.
ANA ANDROPOVA E ALEXEI ROMANOV
Moscou, Rússia. Ana Andropova, 40 anos, dona de
casa, cinco casamentos, sem filhos, cinco vezes viúva, todos de morte natural.
Alexei Romanov, agricultor, um homem bom, 42 anos, se achava também um homem de
muita sorte e propôs casamento a Ana Andropova; não temia morrer cedo.
Acontecido o entendimento sentimental e financeiro entres as partes, casamento
realizado. Foram morar no campo e viveram felizes por mais de quarenta anos.
Não tiveram rebentos. Morreram de
infarto no mesmo dia e hora, sem sofrimento. Ao limparem os corpos descobriram
que os dois tinham um trevo de quatro folhas vivo e crescido no ouvido
esquerdo.
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