quinta-feira, 8 de agosto de 2019

EREMITA


Numa grota perdida no sertão de Tocantins viveu recluso por trinta anos Anselmo Berg. Viveu todo o tempo de frutas, raízes e pequenos animais, sem contatar humanos. Ontem apareceu na capital, Palmas. Deus uma voltas, leu  jornais e voltou correndo para sua grota.

RATOS NA CASA VAZIA


Os ratos foram aos poucos chegando, conhecendo o terreno e invadindo a casa vazia. Magrelos, vinham da casa de um aposentado da iniciativa privada. Encontraram as prateleiras da despensa abarrotadas de queijos e outras guloseimas. Quando viram àquela abundância chamaram também os tios e primos que estavam nos arredores. O proprietário fora generoso: havia saído de férias, mas deixou um bom rancho para eles. Naquele mês os ratinhos encheram seus buchinhos e ficaram gordos como patos. Festança todos os dias, alegria geral. Quando o dono da casa retornou seu gato ficou encantado com tantos ratos fofinhos. Em todos os cantos da casa estavam eles arrotando sem cerimônia. Os roedores de tão obesos não conseguiam mais correr e o bichano foi então papando todos com paciência. Eram tantos que até reservou alguns para comer no natal. Moral da história: Quem precisa correr para sobreviver não deve engordar.

MILLÔR- FÁBULAS FABULOSAS- O grande sábio e o imenso tolo

Por um acaso do destino, um velho e sábio professor e um jovem e estulto aluno se encontraram dividindo bancos gêmeos num ônibus interestadual. O estulto aluno, já conhecido do sábio professor exatamente por sua estultície, logo cansou o mestre com seu matraquear ininterrupto e sem sentido. O professor aguentou o quando pôde a conversa insossa e descabida. Afinal, cansado, arranjou, na sua cachola sábia, uma maneira de desativar o papo inútil do aluno. Sugeriu:
- Vamos fazer um jogo que sempre proponho nestas minhas viagens. Faz o tempo passar bem mais depressa. Você me faz uma pergunta qualquer. Se eu não souber responder, perco cem pratas. Depois eu lhe faço uma pergunta. Se você não souber responder, perde cem.
- Ah, mas isso é injusto! Não posso jogar esse jogo – disse o aluno, provando que não era tão tolo quanto aparentava -, eu vou perder muito dinheiro! O senhor sabe infinitamente mais do que eu. Só posso jogar com a seguinte combinação: quando eu acertar, ganho cem pratas. Quando o senhor acertar, ganha só vinte.
- Está bem – concordou o professor – pode começar.
- Me diz, professor – perguntou o aluno , o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
O professor, sem sequer pensar, respondeu:
- Não sei; nem posso saber! Isso não existe.
- O senhor não disse se devia existir ou não. O fato é que o senhor não sabe o que é – argumentou o aluno – e, portanto, me deve cem pratas.
- Tá bem, eu pago as cem pratas – concordou o professor pagando -, mas agora é minha vez. Me diz aí: o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei – respondeu o aluno. E, sem maior discussão, pagou vinte pratas ao professor.
Moral: A sabedoria, nos dias de hoje, está valendo 20% da esperteza.

A FILA


A fila ultrapassava cinco quarteirões. O passante curioso perguntou para o último dos esperançosos:
-Fila para emprego?
-Não. Estamos pegando senha para no futuro entrarmos no paraíso.
O passante ficou atônito:
- É grátis?
-Não! Duzentos reais.
-Bem caro- falou o passante. - Acho que irei aguardar pela fila do purgatório.

A NOVA PAIXÃO DE ESTER


Josué, corretor de imóveis, falava muito e alto. Sujeito muito simpático alegrava ambientes em que chegava; irradiava muita energia, era convidado em muitos eventos.   Sua mulher Ester, por sua vez boca murcha, diariamente o reprimia por isso. Dizia brava que iria colocar um botão para diminuir e regular seu tom de voz. Josué aborrecido por receber tantas reprimendas da esposa acabou emudecendo e morreu de tristeza dentro de alguns meses, para consternação de centenas de amigos e clientes. Mas a vida prega peças.  Não se passou muito tempo e a jovem viúva ficou apaixonada perdidamente por outro homem que conheceu no velório do marido. Pensamento ligado nele vinte e quatro horas. Podemos afirmar que verdadeira paixão adolescente.   Pobre Ester apaixonou-se antes de saber que o novo dono do seu coração era locutor de turfe e cantava pedras em bingo sem microfone.

ISSO JÁ DIZIA NO SÉCULO PASSADO A FELDA, IRMÃ MAIS NOVA DA MELDA


“O Brasil é um país lindo com políticos de bosta. “ (Climério)
SERVENTIA

Labutar num escritório
Nem pensar pelo tédio
Trabalho braçal
Achava pesado
Tentou ser cantor
Mas não tinha voz
Tentou ser ator
Porém não tinha talento
Então resolveu ser chupim de político
Trabalho que serve para qualquer jumento.
GASOSA DE GROSELHA


Na minha infância já tão distante
De pés descalços e calção de pano
Tenho lembranças de tantas coisas
Que o tempo da memória não apagou
Uma delas era procurar por garrafas de vidro
Em porões escuros e poeirentos
E quando encontradas correr até o armazém secos e molhados da esquina
Para trocar os achados
Por gasosa de groselha.
VAGABUNDA

Todo dia acontece
É como rotina funesta
Alguns de toga não a respeitam
E da lei fazem festa
Protegem os seus padrinhos
Da letra que seria para todos
Tornando aos olhos do povo
A justiça como uma grande vagabunda.

RATÃO


Miguel é meu nome, tenho pelo e dentes grandes. Antes homem, vivo agora como um ratão reencarnado, me deliciando num lixo grande e gostoso. Encontro de tudo por aqui, proteínas e carboidratos, frutas in-natura, fartura de guloseimas, nossa, como sou feliz! Não posso me queixar da nova vida que levo, ainda mais que na vida passada eu fui  comunista. Que avanço senhores, que avanço!