quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

FOFUCHO

“Larguei dos carboidratos, mas continuo a ser perseguido por torresmos e trufas escandalosas.” (Fofucho)

 “Tenho banhas localizadas em todas as partes do corpo.” (Fofucho)

 “Meu médico diz pela minha altura eu deveria pesar trinta quilos menos. Então deduzo que na verdade não sou gordo, mas sim muito baixo.” (Fofucho)

 “Todo possuem a receita de um regime maravilhoso para emagrecer. Porém não me perguntam se eu quero.” (Fofucho)

O QUARTO

Genivaldo veio do interior do Ceará para morar em São Paulo. Arrumou um quarto para morar que na verdade não era nem um terço. Para conseguir abotoar a camisa ele precisava sair para o lado de fora ou nada feito. Dormir e sonhar nem pensar; o sonho ficava do lado na rua em frente. Arranjou uma namorada, mas ele namorava um dentro e ela no sereno ou na chuva. Genivaldo ficou um mês e se cansou daquele cubículo. Aborreceu-se e foi morar dentro de uma caixa de fósforos. De graça.

FÓSFOROS

Naquela minúscula caixa havia um fósforo meio depressivo, sem cabeça. Não conversava com ninguém, abatido, triste, um inútil. Numa fria manhã ele surtou. Riscou um irmão contra o outro até a caixa explodir num fogo só. Não sobrou ninguém, até o esmalte da tampa do fogão ficou marcado. Uma vez mais ficou provado que quem não tem cabeça age por impulso e queima até mesmo os seus irmãos.

ESCURIDÃO

Há muita escuridão lá fora
Refugio-me indignado na casa da luz das mentes
É onde me assossego.

TÚMULO DADO

Finados. Nicanor visitando uns e outros no campo santo quando se deparou com o próprio túmulo; nome, a data de nascimento e foto batiam, era ele. Pagou duzentos reais para o coveiro fazer uma abertura, entrou dentro, deitou-se e mandou fechar. Falou para o coveiro: “Já que está pronto preciso aproveitar não se ganha um túmulo assim de graça, ainda mais com tampo de puro mármore. Faça o favor de avisar os meus familiares que morri.” Calou-se e partiu desta feliz, pois para um sovina até na morte é preciso economizar.

LEONINAS

“Antes me tornar um animal empalhado que um vegetariano.” (Leão Bob)
“Rodeado de moscas. Isso é vida?” (Leão Bob)
“Se houver reencarnação só espero jamais ser uma hiena. Cruzes!” (Leão Bob)
“Não comemos doces e mesmo assim temos cáries.” (Leão Bob)
“Somos uma raça de fedidos. Quem iria querer nos comer?” (Leão Bob)

NORILISK

O pequeno solitário Wladimir de oito anos brincava na neve nos arredores de onde existiu um campo de trabalhos forçados à época de Stalin, em Norilisk. Ao mexer uma pequena pedra aconteceu um estrondo e o lampejo de um raio e milhões de gritos lamuriosos foram ouvidos, saídos da fenda que estava sob a pedra. Gritavam fome! Frio! Dor! Tortura! Queremos liberdade! O pequeno caiu para trás assustado. Enquanto Wladimir tentava entender o que estava acontecendo, os espíritos martirizados pelos comunistas naquele Gulag transformaram-se em pequenos pássaros azuis e saíram batendo asas libertas, felizes finalmente. Cada pássaro que saía da fenda deixava cair uma pena azul que aos poucos formou no branco da neve a frase “Jamais esqueçam quem cometeu essa ignomínia.” Wladimir não sabia porque, mas sentia-se feliz. Ergueu suas pequenas mãos e acenou para os pássaros, que fizeram um bailado em agradecimento e após seguiram para o infinito.

EM BUSCA DA PAZ

Omar ajoelhado ao pé da montanha clamava de braços abertos ao senhor: “Senhor meu Deus, tenho sofrido tanto! Traga-me paz senhor!” O viajante Gabriel que dormia em paz na sombra de uma pequena caverna não gostou de ser incomodado pela gritaria, então rolou uma pedra que veio a matar Omar, pois atingiu a cabeça. Gabriel olhou para baixo e berrou: “Não sou Deus, mas consegui a tua paz! Agora que os abutres se regozijem!”

DEVORADO PELO MICRO

Mozarte Ribas, gabaritado aluno participante do Enem, colocado entre os primeiros na lista reversa, estava em frente ao seu PC na madrugada escrevendo a história da sua vida que começava assim: “Minha mãe me ganhou no hospital municipal quando meu pai tava viajando pra fora e ela tava sozinha, porque minha avó tava trabalhano noutra cidade tumem.” Quando terminou de escrever o tumem aconteceu o cráu! Ele foi devorado pelo Micro Leão Dourado.

ARES BORRADOS

Ricardo tinha muito medo de viajar de avião. Na verdade não podemos nem dizer que era medo, era pavor mesmo. Seu apelido entre colegas era “ares borrados.” Com o tempo seu corpo passou a reagir a esse medo e ele foi criando penas e asas, grandes asas emplumadas. Foi então que seu medo sumiu, pois estava garantido. Voava sorrindo, acalmando os nervosos. Ainda dizia orgulhoso: “Se algo acontecer com esta aeronave, te dou uma carona.”

O BURACO

Havia um buraco. No local não havia nenhuma placa. Um enorme perigo para os transeuntes que não tinham o hábito de olhar para o chão. Um cidadão distraído com seus pensamentos caiu então no buraco. Gritou ele por socorro durante muitas horas. Finalmente foi ouvido: vieram os funcionários da prefeitura e encheram o buraco de pedras e terra. O cidadão distraído então não gritou mais.

"Quem segue um líder cegamente sem deixar para si o direito da dúvida não passa de um tolo". (Mim)

“A maior e melhor mãe do Brasil é o estado. Mas o leite está secando.” (Mim)

“Todo homem deve ter a liberdade para ser enganado como quiser.” (Mim)

“Muito amor esvazia o bolso, mas enche a casa de filhos.” (Mim)

“O Brasil é um belo país com uma barriga enorme. Vermes, só pode ser.” (Mim)

A CULPA É DAS MÁS COMPANHIAS por Miguel Lucena. Artigo publicado em 17.01.2017

“Ele não é uma pessoa má”, afirma a irmã do rapaz de 20 anos que participou do estupro coletivo de uma menina de 11 anos no Recanto das Emas na última terça-feira. Familiares informam que o jovem cursava o ensino médio, era freqüentador assíduo da igreja e não costumava causar preocupação para a mãe. Porém, nos últimos tempos, ele estava acompanhado de más influências e a mãe já tinha falado para ele se afastar dessas pessoas, mas ele não ouviu. A família repete um discurso que já vem se tornando corriqueiro na sociedade: o delinquente é visto como alguém incorporado por um espírito maligno que precisa ser exorcizado para voltar a ser puro e conviver em sociedade.
É como se o ato criminoso fosse praticado por uma entidade estranha ao corpo daquele indivíduo, usado por forças do mal. A culpa, no caso do Recanto das Emas, é das más companhias, mas o jovem de 20 anos era o único maior do grupo, formado por garotos de 13 a 15 anos, sendo ele o corruptor dos demais e único com capacidade de impedir o ato selvagem contra uma criança de 11 anos. A garotada, inclusive a vítima, estava numa residência fazendo farra com narguilê, cuja venda é proibida a menores de 18 anos.
Esses jovens desocupados são gerados, em sua maioria, na cultura da irresponsabilidade, na era dos direitos totais e deveres quase zero, com todos sendo livres para engravidar na hora que querem, às vezes sem saber quem fez o menino. Nas áreas mais pobres, os filhos praticamente não conhecem a figura paterna, criam-se num ambiente de vale-tudo e desrespeito às regras. O pai é o delegado de Polícia, quando chama o feito à ordem.
Disse em artigo anterior que esses jovens têm um perfil arrogante, prepotente, olham de soslaio, vivem desconfiados e não respeitam nenhuma autoridade.Não têm referências, os conhecimentos são pueris e o nível cultural bate e volta em Anita e Valesca Popozuda.
A sociedade em geral já está pagando o preço do nivelamento por baixo. Esse tipo de jovem já é detectado em todos os segmentos sociais, com os meios de comunicação ajudando a difundir como boa a cultura da baixaria e da terra arrasada das favelas. O jeito prostituta de se vestir – chamado disfarçadamente de periguete – chegou às elites, tornando as profissionais do sexo, antes facilmente identificáveis, em população difusa.
Meninos e meninas da classe média vestem as roupas que antes identificavam as gangues juvenis de São Sebastião, Ceilândia e Planaltina, chamados pelos policiais mais antigos de kit-mala. A maioria das cidades do Distrito Federal não tem espaço cultural e o lazer dos jovens é nos bares sujos, onde ficam até as madrugadas e promovem brigas, facadas e tiros.
Noventa por cento das vítimas de homicídios já passaram por uma delegacia pela prática de delitos, quase todos violentos. Para completar, o uso desenfreado de drogas lícitas e ilícitas vai preenchendo o vazio por falta de família, cultura e bom gosto.
A culpa, no entanto, é das más companhias...
* Miguel Lucena é delegado da Polícia Civil do Distrito Federal e jornalista.
 

O CADÁVER E O URUBU

Década de 1940. Um urubu percebeu um corpo inerte estendido numa clareira na África. Fez o reconhecimento e pousou o sobre o cadáver. Nenhum leão em volta, tranquilo. Deu a primeira bicada, engoliu, sentiu náuseas, vomitou e foi então que percebeu que o corpo que devorava pertencia a um capitão SS carregado de medalhas. Fez cara de nojo, escreveu um bilhete e jogou sobre o corpo: ”Urubus, comida apenas para vermes, tenham cuidado!”

"Ter alma é a ferramenta necessária para pagar o dízimo. Quem não possui alma está isento." (Eriatlov Rocha)

O PORCO DO MATO

O porco do mato conseguiu fugir dos caçadores não sem antes levar um tiro. Em disparada fuga foi perdendo sangue até cair enfraquecido numa clareira. Os urubus começaram o reconhecimento de preparação para o almoço. O porquinho olhava para o céu e na mente antecipava seu final melancólico. Mas prometera para seu pai que lutaria até o fim em qualquer circunstância e foi o que fez. Na porta do último suspiro engoliu uma boa dose de estricnina e partiu da vida, não sem antes dar um pequeno sorriso carregado de sarcasmo.

MONTANHA

Jessé era instigado sempre pelos familiares para ir até a montanha aos domingos. Tranquilo, equilibrado, nunca foi, não estava interessado. Um dia bateram à sua porta. Atendeu. Era a montanha de terno e gravata com uma bíblia debaixo do braço pronta para tirar seu sossego.

DO BAÚ DO JANER- sábado, setembro 27, 2008 BIBLIOANÁLISE, A NOVEL VIGARICE

Essa agora! Leio na Folha de São Paulo que a School of Life, de Londres, lançou um projeto de biblioterapia. Mediante certo pagamento, não exatamente módico, a terapia pelos livros. “A idéia é a seguinte: o cliente preenche uma ficha com informações sobre sua história, suas aspirações e seus hábitos e, a partir da consulta com um especialista, recebe indicações de leitura que o ajudem a enfrentar uma nova fase, encarar uma etapa importante ou simplesmente aproveitar um momento de sua vida”.

Uma sessão custa 35 libras (120 reais), mas pode-se escolher um contrato de cinco meses, em que o biblioanalista acompanha suas leituras e troca informações por e-mail, por 50 libras (170 reais). 

Que livros fazem bem à saúde mental, não há dúvida alguma. Vou mais longe: fora da leitura não há salvação. Claro que você não vai morrer se não lê. Há milhões, senão bilhões de pessoas que não lêem e nem por isso vivem mal. Mas não entendem o mundo em que vivem e muito menos entendem a si mesmas. A leitura – a boa leitura, é claro – sempre teve um efeito terapêutico. Daí a pagar profissionais para orientá-lo sobre o que ler vai uma grande distância.

Os autores que me esclareceram sobre o mundo e sobre mim mesmo, eu os encontrei ao acaso, geralmente em bares. Explico: através de conversas com amigos em bares. As bibliografias de universidade foram mais ou menos inúteis. Nunca encontrei Nietzsche, Swift, Thackeray, Herman Hesse, Huxley, Orwell, Kazantzakis, Istrati, Ingenieros, Bertrand Russel, Reich, em currículos universitários. Aliás, pelo que intuo, a universidade sempre detestou estes autores. Em meu curso de filosofia, Nietzsche era visto como um vândalo irresponsável, não como um pensador. A academia sempre foi conservadora e não tem muito apreço por leituras que transformam.

Talvez não os tenha encontrado exatamente ao acaso, afinal não por acaso eu curtia pessoas que liam muito. Fora isto, sempre gostei de praticar a ronda das lombadas, como dizia Mário Quintana. Entrar numa livraria, ir bolinando os livros ao sabor dos títulos, trecheá-los. Através deste método, encontrei muita literatura vital. Hoje, quando já não leio mais ficções, vou direto às estantes de ensaios. Minha única queixa, nas grandes livrarias, é que as estantes são grandes demais. E misturam gêneros. Criou-se atualmente um título genérico para livros sobre religião – espiritualismo – e nessas estantes há um conúbio obsceno entre estudos sérios de religião e livros de auto-ajuda. Mas sempre dá para separar o joio do trigo.

Se você é leitor compulsivo, sempre saberá o que buscar e onde buscar. Um livro conduz a outros e o melhor biblioterapeuta é o autor que você está lendo. E sempre podemos nos aconselhar com amigos que lêem, que terão prazer em nos sugerir autores e jamais nos cobrarão um vintém. Eu, inclusive, sempre recebo consultas sobre leituras e sugiro títulos e autores com muito prazer. O único problema é que as leituras que me fascinaram talvez não fascinem outros. Gosto muito de recomendar Cervantes. Mas sei que não é uma leitura fácil. Além de exigir tempo, exige conhecimento de um vocabulário de quatro séculos atrás. Penso que Cervantes é mais indicado para pessoas que curtem a ironia, adoram a Espanha e querem viajar no tempo. Sem estes predicados, a leitura do Quixote pode ser uma tortura. 

A School of Life abriu há três semanas e cerca de trinta pessoas já procuraram as sessões de biblioterapia. “Um casal planejava fazer uma viagem e procurava obras que ao mesmo tempo transmitissem o clima do lugar e dessem uma idéia não-ficcional do que iriam encontrar. Nosso consultor sugeriu alguns livros”. Ora bolas, precisa consultor? Não basta ir à estante de livros de viagem? O tal de biblioanalista, em verdade, é um substituto daquele antigo livreiro, que sabia do que tratavam os livros que vendia. Este profissional ainda existe, mas é cada vez mais raro. A verdade é que, com o gigantismo das livrarias e com a profusão de títulos editados, este conhecimento se torna mais ou menos inviável.

Certa vez, em uma livraria em Brasília, sei lá por que estranhas razões, andei procurando o romance Engenharia do Casamento, de Esdras do Nascimento. O balconista me encaminhou ao setor de livros técnicos. Outra vez, em Porto Alegre, pedi Sexus, do Henry Miller. O balconista atroz disse que estava em falta, mas ele tinha Nossa Vida Sexual, do Fritz Khan. Ou seja, desde há muito os funcionários de livrarias nada entendem da mercadoria que vendem.

A incultura dos balconistas parece estar gerando uma nova profissão, a dos tais de biblioanalistas. Ora, se psicanálise já é vigarice, biblioanálise é vigarice ao quadrado. A moda ainda vai chegar até nós. Se você tem amor a seu dinheiro, fuja destes picaretas.