domingo, 3 de maio de 2020
SUICIDA
Estava ele sentado na mureta da ponte
O olhar fixo no vazio
A dor agarrada ao seu eu
Sem dar trégua alguma
O rio que representava o fim das dores
O chamava para um abraço
Seu foco era um só
O ápice da desistência
Soltou então seu corpo
E voou para as águas
Sentindo quem sabe arrependimento
Ou alívio por finalmente conseguir matar o desespero que o consumia.
Shirley Maquilaine
“A minha língua é de Jesus e o resto do corpo para servir-se da nata.” (Shirley Maquilaine)
FOLHA CORRIDA
Meu pai sempre me quis na linha e minha mãe sempre falou para eu estudar e trabalhar ser um menino do bem porém eu fui atrás do ganho fácil e aqui estou dentro dessa cela num ambiente hostil dormindo quase dentro de uma privada com ratos pulgas e baratas na cama e arriscando tomar um golpe de estilete além das surras isso não é vida é um inferno em terra e lamento e choro a falta da boa comida lençóis limpos e banho quente carinho e amor tudo o que eu tinha e desprezei achando que era muito pouco queria andar de carrão roupas de grife muitas mulheres ao meu lado tudo isso sem esforço e disciplina só na base do pó e o que ganhei foi ficar anos aqui chaveado e entreverado com a bandidagem de primeira linha e ficar até feliz que ninguém ainda quis pegar a minha bunda todos os dias chega gente nova um mais mau que o outro não dá para encarar ninguém sem correr riscos espero os anos voem para que possa sair daqui.
BUNDA VERMELHA
Anacleto pintou a bunda com tinta vermelha e saiu nu a caminhar pelas ruas centrais da cidade causando alvoroço. O delegado Firmino muito gente boa mandou pegar o homem e levá-lo à delegacia. E o sermão.
-Onde já se viu Anacleto, andar com essa bunda vermelha pelas ruas da cidade? Denegrindo o nosso lugar? Onde já viu? Pouca vergonha! E o respeito, onde fica?
Chamou o Cabo Bruno.
-Cabo Bruno, dê duas demãos de tinta ouro na bunda desse homem e depois pode soltá-lo. Ficará um luxo! E tire uma foto pra gente colocar aqui na minha mesa.
O ASCENSORISTA
Naquele fim de tarde de sexta-feira o elevador dois do Edifício Gimenez estava lotado, inclusive com um padre e dois pastores evangélicos. Silêncio entre os presentes e ninguém notou o novo ascensorista que hora se apresentava. O elevador subia e descia e não parava em nenhum andar. Interpelaram o trabalhador que disse estar com um pequeno problema que logo seria resolvido. Por alguns minutos ninguém reclamou, mas depois... Após muitas indas e vindas reclamações, o elevador parou num andar não visualizado no painel, a porta se abriu e todos caíram diretamente no fogo do inferno. O ascensorista era o próprio Satanás Ferreira que resolvera começar o final de semana com uma brincadeirinha, digamos, bem quente.
MESTRE YOKI
“Mestre, por que os pardais são felizes?”
“São felizes por que não cantam bosta nenhuma e sua cor é sem graça. Caso fossem coloridos e canoros seriam perseguidos e encarcerados.”
MADURO
"Quando morrer (alegria) Maduro irá para o céu, assim como Fidel e Hugo. O capeta de tonto nada tem, não quer concorrência de jeito nenhum."
O TEMPO DA VERDADE CHEGARÁ
Podemos fugir por um tempo
Dar desculpas esfarrapadas
Mas do confronto interno
Não há como escapar
Chega o dia
De ouvir o nosso eu
Encarar as nossas falhas
E saber que justificativas talvez possam consolar
Mas não resolverão os nossos problemas.
GINA
Gina, dezoito anos, bela e frágil, meiga e prestativa. O pai Ernesto era um cavalheiro. A mãe Andradina uma caninana. Certa amanhã Gina acordou tossindo e vomitando pétalas de rosas. A mãe não se aguentou- “Ainda vomitasse dólares ou euros.” Gina morreu no outro dia, seu corpo exalava um maravilhoso perfume. Foi o velório mais cheiroso do mundo. Até hoje a ciência ainda não conseguiu uma explicação. Os pais de Gina ainda vivem. Ele, culto e aberto ao mundo; ela; caminhando pra lá e pra cá matando grama com cuspe.
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