segunda-feira, 2 de abril de 2018

ALEXANDRE GARCIA- Fuxicos e Mexericos



Em janeiro escrevi aqui sobre a rede de mentiras pelas redes sociais. Pois agora estou assustado com a contaminação que afeta muitas das notícias que nos chegam. Editoriais do Estadão têm se referido aos noticiários sobre o Supremo e a prisão em 2º. instância como “boatos” e qualificou de “fuxicos e mexericos a disposição deste ou daquele ministro” sobre o assunto. É uma questão já decidida pelo Supremo, no início de 2016. Quando saiu a decisão, há mais de dois anos, o noticiário aplaudia, aliviado, porque facilitava a retirada de circulação dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras, que sucedeu ao do Mensalão.

Desde o Código Penal de 1941, estava claro que após a condenação, o réu ía para a cadeia, cumprir a pena, ainda que recorresse. Isso valeu até 2009. Quando surgiu o Mensalão, os políticos passaram a se mobilizar para que não fossem presos, alegando que o cumprimento da pena só deveria começar depois do transitado em julgado, como se ainda sobrevivesse a presunção da inocência mesmo depois da condenação. E ficou a lenga-lenga até que o Supremo decidiu em 2016: depois do tribunal revisor, nada mais impede que a pena comece a ser cumprida.

Mas depois veio a condenação de um ex-Presidente da República, confirmada e ampliada na 2ª instância. Partidários de Lula imaginam que decisões da Suprema Corte estejam submetidas à popularidade do condenado, personalizando o que a Constituição manda que seja impessoal. E passou-se a escrever e a dizer que a Presidente Cármen Lúcia estava sob pressão; que os juízes do Supremo estavam sob pressão. Pressão de quem? Do advogado de Lula, ex-presidente do Supremo? De senadoras do PT que foram conversar com a Ministra Cármen Lúcia? Ou pressão do noticiário que fala todos os dias nessa “pressão”, nas perguntas que à toda hora derramam sobre os ministros? Ou do noticiário que chama de “impasse” onde não há impasse?

Alguém inventou uma reunião, na terça-feira, convocada pelo decano, Ministro Celso de Mello, para tratar de novo julgamento do que já está decidido. Pois nem houve a reunião, nem o Ministro Celso de Mello a convocou. A Presidente Cármen Lúcia afirma, reafirma e fica rouca de tanto afirmar que não há motivos para rever a decisão de dois anos atrás, mas parece que não querem ouvir. O relator da Lava-Jato, Ministro Fachin nega habeas-corpus para evitar a prisão de Lula, mas ainda assim tem que rejeitar novos recursos, como se não tivesse sido compreendido. O Ministro Gilmar Mendes nega também habeas-corpus de advogados cearenses, mas as pessoas têm dificuldade de entender. O juiz Sérgio Moro põe na cadeia o ex-vice-presidente da Engevix, que ele condenou a 19 anos e o tribunal revisor aumentou para 34 e ele vai para as grades mesmo recorrendo ao Superior Tribunal de Justiça, mas as pessoas ainda duvidam da prisão após segunda instância. Em 2009 o Supremo decidira que a execução da pena deveria esperar o trânsito em julgado. Assim votou o hoje aposentado Ministro Eros Grau. Mas agora ele votaria pela prisão em 1ª instância, para tirar logo o corrupto de circulação. Como se vê em filme americano: o juiz bate o martelo e o condenado já vai algemado para as grades.


Noite. Uma rua solitária na periferia. Um gato malhado salta entre os telhados enquanto cães ladram ao vento. O excesso de lixo caiu fora das latas e escorre pelo chão de terra. Baratas passeiam fugindo dos pés dos meninos que brincam de bola na via. Mães e irmãs mais velhas chamam para dentro os garotos de pés encardidos. É hora do banho e do jantar. Crianças recolhidas, agora chegam automóveis com ocupantes que procuram nas esquinas pelos empresários do pó. A lua e as estrelas observam o movimento. Dinheiro para cá, pó para lá. Negócio feito lá e vão os loucos em busca de alucinações, enquanto os empresários da farinha perigosa contam as notas. O inferno para ambos os lados é logo ali.

CIRURGIA


Depois da cirurgia ele se encontra deitado na cama de ferro, imóvel sobre alvos lençóis. De hora em hora uma enfermeira vem para ver como ele se encontra. Observa sua pressão e sai. Na parede um quadro solitário da Santa Ceia faz companhia ao homem que dorme sedado. Sobre o criado mudo não há nada, nem mesmo um copo ou uma revista qualquer. O soro desce em lentas gotas e o rosto do enfermo aos poucos ganha cor. Lá fora, entre nuvens, aparecem pedaços do azul do céu. No canto esquerdo do quatro está largado um pequeno sofá marrom que aguarda para acolher uma visita qualquer. Já faz quatro horas que a operação foi realizada. O homem abre os olhos e se mexe um pouco. A enfermeira chega, ele pede: “Onde estou?” Ela fazendo um olhar de mãe diz que ele está no Hospital Samaritano, sofreu uma cirurgia para extirpar um pequeno tumor no cérebro e que correu tudo bem. “Tudo bem nada” diz ele .-“Sou o encanador, vim até aqui apenas para consertar um vazamento e acabei caindo no banheiro. E agora me acontece isso?”

CORDA COLORIDA


Desgostoso da vida Amauri não queria mais viver. Decidiu dar um fim à sua existência que achava totalmente sem graça. A forca foi o meio escolhido. Mas ele tinha um desejo: queria se enforcar com uma corda verde-limão. Saiu pela cidade à procura de tal corda. Procura daqui, procura dali e nada. Passou dois dias procurando nas lojas do ramo e não conseguiu encontrar. Pesquisou na internet mundo afora. Procurou por ainda vinte e oito dias. Por fim resolveu enforcar-se com uma corda rosa-pink.  Enforcou-se.
No fim ficou um enforcado bonito, mas meio fresco.

O VELHO JOSÉ


O velho José já passando dos setenta ficava em frente de casa vendo o movimento da rua. Viúvo e sem filhos, ali ficava para passar o tempo. E os dias foram se passando, os meses, os anos, e o velho José ali olhando o movimento sentado na sua cadeira de palha. Os vizinhos foram morrendo de velhice, casas demolidas e o seu José por ali observando o movimento. Com os anos chegaram os edifícios e novos vizinhos que desconheciam o idoso seu José, coisa de cidade grande e correria maluca. Talvez por isso foi que demorou alguns anos para descobrirem o esqueleto do seu José sentado na sua cadeira, cigarro entre os dentes de sua caveira, ainda contando os automóveis que passavam pela rua.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- JERICO RIDES AGAIN- sábado, setembro 29, 2007

Comentei o outro dia a absurda proposta de Nelson Jobim para resolver o problema de segurança aérea no país. O ministro, só porque é gordo e tem traseiro proporcional à grandeza do cargo que ocupa, teve uma idéia de jerico: aumentar o espaço entre os assentos. Pois bem, o jerico ataca de novo. Leio nos jornais que o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou novas restrições para as operações no aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, que incluem a limitação de 130 passageiros nas aeronaves em pousos e decolagens.

Ora, as principais companhias aéreas do país utilizam modelos com capacidade superior a essa. O Airbus-A320 da TAM, por exemplo, tem 174 assentos. Cada avião decolará agora com 44 assentos vazios. Talvez seja difícil de calcular, mas não é difícil imaginar o gasto extra de combustível que um avião consome para levantar vôo com esse lastro inútil, 44 assentos mais o espaço necessário para sua instalação. Você já imaginou chegar num aeroporto e não conseguir embarcar em um avião que vai voar com 44 assentos vazios?

Se os aviões foram concebidos para decolar com 174 assentos, é porque podem decolar com 174 passageiros, ora bolas. A restrição do TRF não tem sentido. A menos que a EMBRAER esteja cogitando de colocar no mercado uma aeronave com exatamente 130 assentos e queira forçar sua venda. Mas esse não é o caso. É idéia de jerico mesmo.

A VOZ ROUCA DAS REDES SOCIAIS por Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico. Artigo publicado em 02.04.2018



Antes de tudo faço aqui uma revelação: sou fã incondicional das Redes Sociais. De todas elas, ainda que seja mais adepto das REDES DE RELACIONAMENTO, como é o caso do Facebook e do Twitter, onde leio, posto comentários, curto e compartilho.

MAIOR REDE DE COMUNICAÇÃO DO PLANETA
Criadas no fértil ambiente da Tecnologia da Informação, e desenvolvidas a partir da Internet (Rede Mundial de Computadores), as REDES SOCIAIS se transformaram, em curto espaço de tempo, na maior REDE DE COMUNICAÇÃO do planeta.

TOTAL LIBERDADE
Hoje, como se percebe com clareza absoluta, qualquer pessoa, COM TOTAL LIBERDADE e de forma imediata (on-line, e/ou real-time-, independente de nacionalidade, sexo, cor, religião) escreve, lê, ouve ou diz aquilo que bem entende, na hora que bem entende. Simples assim.

REGISTRO
Aliás, vale aqui um importante registro: a importância das Redes Sociais é de tal ordem que os próprios meios de comunicação (jornais, emissoras de rádio e televisão), sem exceção, já perceberam que correm sério risco de sumirem do mapa caso as ignorem.

WHATSAPP E APLICATIVOS
Pois, da mesma forma como aprecio, e muito, as Redes Sociais, também sou fã incondicional, tanto do WHATSAPP quanto dos APLICATIVOS. Aliás, quanto mais faço uso destas importantes e revolucionárias ferramentas, mais fico me perguntando como foi possível viver tanto tempo sem elas.

SEM MODERAÇÃO
Resolvi abrir o mês de abril revelando o meu grande apreço pelas Redes Sociais, pelo WhatsApp e pelos Aplicativos, porque amanhã, DIA DE 3 DE ABRIL, independente do clamor vindo da VOZ ROUCA DAS RUAS, este importantes instrumentos serão indispensáveis para engrossar o CORO DAS MANIFESTAÇÕES dos brasileiros decentes, que clamam por um mínimo de JUSTIÇA.

O meu apelo é que façam uso TOTAL E INDISCRIMINADO de todos estes meios. SEM MODERAÇÃO!

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- sábado, setembro 29, 2007 ASSASSINO ENGANA SÉCULO

Na manhã do dia 09 de outubro de 1967, eu caminhava pela Rua da Praia em Porto Alegre, quando um advogado um tanto alucinado me abordou:

- É ele. Não há dúvidas. Viste os olhos?

Sem me dar tempo de falar, o amalucado seguiu em frente. Eu não havia visto olhos alguns, aliás não havia visto nada. Só entendi o que o angustiado rábula dizia quando vi as manchetes dos jornais. Che Guevara havia sido morto no dia anterior. De lá para cá, foram décadas de culto. A foto feita por Korda, que o assimilava a Cristo, foi certamente o ícone mais cultuado nestas últimas décadas. Em um passe de mágica, por obra de um fotógrafo, o celerado virou santo. E não falo por metáforas. Morto em odor de santidade, o guerrilheiro foi cultuado na Bolívia, como San Ernesto de la Higuera.

Em 18/06/99, escrevi:

"Se este foi o século do comunismo, pelas mesmas razões foi o século do culto aos fracassados. Particularmente nesta América Latina, onde a figura do herói coincide com a dos derrotados pela História. Você quer um manual do fracasso? Leia qualquer uma das dezenas de biografias de Che Guevara. Fracassou em todos os países onde lutou. Só venceu uma batalha: a da instauração em Cuba da mais longa ditadura do continente e do mundo contemporâneo. Teve sorte: morreu em odor de santidade. E até hoje sua efígie - xerox contemporâneo de um Cristo armado - permanece como bandeira e cartilha do subdesenvolvimento".

Leio na edição desta semana de Veja: "exceto na revolução cubana, sua vida foi uma seqüência de fracassos. Como guerrilheiro, foi derrotado no Congo e na Bolívia". Foi necessário transcorrer quatro décadas após a morte de Che, para que um órgão da grande imprensa brasileira titulasse em sua capa:

CHE, A FARSA DO HERÓI

Melhor que nada. Há dez anos, jornal algum no Brasil ousaria assim tratar o santo. Guevara era o mártir da libertação da América Latina e de todos os oprimidos do mundo. No fundo, não passava de um assassino de gatilho fácil. Que iludiu inclusive críticos ferrenhos do marxismo. Entre eles, Ernesto Sábato. Em novembro de 1967, em discurso proferido na Universidade de Paris, Sábato via no guerrilheiro o homem que encontrou a morte combatendo não somente pela elevação do nível de vida dos povos miseráveis, mas também por um ideal mais valioso, pelo ideal de um Homem Novo:

"Assim acabou a vida do comandante Guevara. Indefeso, após sofrer horas intermináveis com muitas balas em seu corpo enfermo, sem médico, com a asma que agravava de modo insuportável sua dor. Houve um latino-americano suficientemente covarde para aproximar-se daquele corpo dorido, com a suficiente coragem para sacar o revólver diante de seus olhos, dirigi-lo ao coração e disparar esse balaço miseravelmente histórico. Jamais saberemos o que disse Ernesto Guevara nesses momentos, mas podemos imaginar que seu olhar foi muito triste. Não por sua esperada morte, mas pelo fato de ter-lhe sido dada de tal forma e por um boliviano. Não por um ranger dos Estados Unidos, mas por alguém que de certa forma era seu próprio irmão". 

Mais tarde, em Abadón, o Exterminador, o escritor argentino faz a hagiologia de seu conterrâneo, desenvolvendo a saga do Che, através do personagem Palito, suposto companheiro de armas do guerrilheiro. Sábato mescla história e ficção. Boa parte de seu relato está baseado no diário de campanha de Inti Peredo. Em carta de despedida a Fidel, diz Guevara:

"Outras terras do mundo reclamam o concurso de meus modestos esforços. Posso fazer o que te está negado por tua responsabilidade à frente de Cuba e chegou a hora de separarmo-nos. Deixo aqui o mais puro de minhas esperanças de construtor e o mais querido entre meus seres queridos. Libero Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a que emana de seu exemplo. Se a hora definitiva me chegar sob outros céus, meu último pensamento será para ti, Fidel".

Comovente. Pelo menos para quem desconhece História. Abadon traz ainda a transcrição de um outro trecho de carta, esta endereçada a seus pais, que evidencia o caráter romântico e quixotesco do empreendimento do guerrilheiro:

"Queridos velhos: sinto outra vez sob meus talões o costilhar do Rocinante, volto à estrada com minha adarga no braço. Há coisa de dez anos, escrevi-lhes outra carta de despedida. Segundo recordo, lamentava-me de não ser melhor soldado e melhor médico. O segundo já não interessa, médico não sou dos piores... Pode ser que esta seja a definitiva. Não a busco, mas está dentro do cálculo lógico. Se é assim, vai um último abraço. Sempre os quis muito, só que não soube expressar meu carinho. Sou extremamente rígido em minhas ações e creio que às vezes não me entenderam. Por outro lado, não era fácil entender-me. Creiam-me, pelo menos hoje".

A evocação de Palito, no romance de Sábato, mostra um homem que acredita mais no moral e na disciplina que no poder das armas. Um guerrilheiro deve manter a decisão de combater seus ideais até a morte. Esta disciplina não é a dos quartéis, mas a de "homens que sabem pelo que lutam e que sabem que isso é grande e justo". À noite, segundo o relato de Palito, Che dava um curso de francês:

"Não é uma questão de dar tiros, dizia, só de dar tiros. Algum dia vocês terão de ser dirigentes, se triunfarmos nesta guerrilha. O dirigente, dizia, tem de ter não só coragem, tem que se desenvolver ideologicamente, tem de ser capaz de análises rápidas e de decisões justas, tem de ser capaz de fidelidade e disciplina. Mas, principalmente, dizia, tem de constituir o exemplo de homem que queremos em uma sociedade justa".

Palito confessa não compreender muito bem o que Che queria dizer "homem novo". Deduzia que deveria ser mais ou menos como o Che: "com espírito de sacrifício pelos outros, com coragem e ao mesmo com compaixão e..." O companheiro de armas de Guevara hesita. Mas acaba fazendo uma descrição quase evangélica do Che:

"Dizia que não se podia lutar por um mundo melhor sem isso, sem amor pelo homem e que isso era uma causa sagrada, não uma simples questão de palavras, que a cada dia, a cada hora, tinha-se de prová-lo. Muitas vezes o vimos tratar sem rancor soldados que pouco antes haviam atirado para matar, como curava suas feridas, mesmo gastando os medicamentos que para nós eram escassos".

Em suma, um santo. Hoje, sabemos que era um assassino frio. Sábato, ex-comunista que denunciou com vigor o comunismo e o stalinismo, tinha profunda admiração pelo assassino... comunista. Chegou inclusive a trocar afável correspondência com Guevara. Em entrevista que me concedeu em sua casa em Santos Lugares, disse Sábato:

- Devo esclarecer, no entanto, algo que para mim é importante: sempre respeitei os comunistas que, por sua candidez ou sólida fé acreditaram no regime soviético, os que sofreram prisão e torturas, os que lutaram com boa fé por seus ideais. Por isso - fato que enalteci em dois de meus livros - admiro e continuo admirando Che Guevara, que foi acima de tudo e de seu marxismo, um grande idealista, um personagem quixotesco que, como diria Rilke, teve sua morte pessoal na selva boliviana, após ter abandonado a burocracia cubana. Um herói, e sempre temos de nos erguermos ante um herói que morre por ideais.

Esta imagem difundida por Sábato difere um pouco do guerrilheiro que, em janeiro de 1957, escrevia à sua mulher: "Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue". Também difere do homem que, em 11 de dezembro de 1964, disse na assembléia-geral da ONU: "Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte". Em maior de 1967, na revista cubana Tricontinental, Che escrevia: "O ódio intransigente ao inimigo converte o combatente em uma efetiva, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim".

Se o celerado argentino conseguiu enganar um escritor lúcido, não é de espantar que tenha enganado gerações e gerações de basbaques durante décadas. E ainda continuará enganando. O frio assassino não enganou apenas Sábato, mas o século todo. Foi preciso que o Muro fosse derrubado, que a União Soviética desmoronasse, que o socialismo fosse desmoralizado internacionalmente como regime, foi preciso que ainda decorressem quase duas décadas mais para que jornalistas e escritores ruminassem a idéia do fracasso rotundo do marxismo, para que Veja produzisse a capa desta semana.

Antes tarde do que nunca. A impressão que fica é que, quarenta anos após sua morte, Che acaba de morrer de novo. Pelo menos para os desavisados.

Segue a correspondência, cheia de nobres propósitos, trocada entre Che e Sábato.

UMA SOCIEDADE PENDURADA NO PINCEL por Percival Puggina. Artigo publicado em 30.03.2018



Sob o ponto de vista de sua estabilidade, três pilares sustentam uma construção. Quatro fazem-no ainda mais facilmente. Com apenas dois pilares só dá para fazer uma ponte, ou algo com jeito de ponte. Num único pilar pode-se colar um cartaz, apoiar as costas, ou fazer alongamento de pernas.

São quatro os melhores pilares para suporte de uma boa ordem social: família, religião, escola e instituições políticas. No Brasil, há longo tempo, todas vêm sendo atacadas por grupos que agem com motivação política, ideológica, partidária e/ou econômica.

A instituição familiar tornou-se objeto de sistemática desvalorização. As uniões são instáveis e os casamentos, quando chegam a acontecer, duram, em média, 15 anos (em acelerada queda). O número de divórcios anuais já corresponde a um terço do número de casamentos. Em 27% das famílias com filhos, a mulher não tem cônjuge (um total de 11,6 milhões de lares). Vinte por cento dos casais não têm filhos e, quase isso - 18,8% - dizem não querer ter filhos. Estou falando apenas em estatísticas, sem aprofundar na análise da nebulosa qualidade dos laços e do exercício das funções parentais. É sabido, porém, que tais funções estão revolutas na desordem dos costumes que tanto afeta a vida social nas últimas décadas. E vai-se o primeiro pilar.

A religião enfrenta notória redução de sua influência. Externamente, correntes políticas que perceberam ser impossível destruir a civilização ocidental sem revogar a influência do cristianismo atacam as religiões cristãs declarando o direito de opinião e o exercício da cidadania territórios interditos a quem tenha convicções decorrentes de fé religiosa. E o fazem em nome da laicidade do Estado. Com esse estratagema, confundem os néscios e reservam apenas para si o direito de opinar e intervir em relevantíssimas questões sociais e morais. Internamente, as mesmas correntes agem de modo perversor na Igreja Católica através da Teologia da Libertação e nas evangélicas através da Teologia da Missão Integral. E vai-se o segundo pilar.

A escola e o controle das funções educacionais foram tomados por militantes mais ocupados em conquistar adeptos às causas revolucionárias do que em desenvolver talentos e habilidades para que os jovens tenham participação produtiva e ativa na vida social. Com isso, oportunidades são dissipadas pela mais rasa ignorância, nutrindo frustrações e revoltas. Professores que respondem por essa realidade reverenciam Paulo Freire e sua pedagogia do oprimido que outra coisa não é senão a definitiva opressão pela pedagogia. Outro dia, um conhecido me contava de certo jovem seu parente que, aos 18 anos, sem ser imbecil, egresso do sistema de ensino, não sabia os meses do ano. E vai-se o terceiro pilar.

As instituições políticas afundam no bioma pantanoso da corrupção e do descrédito. Não apenas pesam dolorosamente nos ombros magros de uma sociedade empobrecida. Fazem questão, por palavras e obras, de deixar claro o quanto os píncaros dos três poderes existem para reciprocamente se protegerem. Vai-se, então, o quarto pilar. E ficamos, todos os demais brasileiros, pendurados no pincel.

DONA EUFRÁSIA


Já viúva, Dona Eufrásia (62) não era mole. Dava laço e tiro em qualquer marmanjo, não tinha medo de tamanho e nem de cara feia. Atirava também como poucas. Quando Neco engravidou a filha Jurema e não quis casar Eufrásia deu um jeito. Quebrou ele a pau e fez o bonito se casar com ela, a sogra. Criaram o menino na mesma casa, porém o assanhado só se deitava com a velha. Mais tarde Jurema arrumou um marido e trouxe-o para morar sob o mesmo teto. Pois Neco teve que aturar a sogra até ela morrer aos oitenta e cinco anos. Longa pena. Isso sem contar que a cada trimestre tomava uma tunda da velha para bem se lembrar da sem-vergonhice.

FLINTO


Flinto, 30, gostava de passar seus dias sentado na calçada e com o lombo encostado no muro da igreja. Tinha até o lombo já impresso no reboco. Saí dali quando chovia e no mais ali contava passantes, automóveis e observava o céu, suas nuvens e pássaros. Às vezes reunia ali alguns amigos de vadiagem para fumar maconha e beber cachaça, só não me peçam como arrumava dinheiro para isso, já que trabalhar para ele era uma ofensa. Quando o cansaço era demais ele se deitava na calçada para observar a bunda das passantes, distração apenas, pois já estava mais impotente que uma Maria-Mole. Não esperava o tempo passar, o tempo é que esperava por ele. Pois um dia desses, Flinto deitado, um ventinho de nada derrubou o muro sobre ele. Pois aconteceu que Flinto se foi sem dizer um ai. Podemos dizer que apesar da sua aversão à dura labuta, morreu no trabalho de vadiar.

MESTRE YOKI


“Mestre, quando conseguiremos moralizar o poder no Brasil?”
“Quando do retorno dos TIRANOSSAUROS. Espero que eles comam todos.”

MESTRE YOKI


-Mestre, Lula ou Dilma?
-Miami.

MESTRE YOKI


“Mestre, o senhor já foi de esquerda?”
“Sim meu pequeno grilo falante, mas ninguém é obrigado a ser burro para sempre.”

MESTRE YOKI


“Mestre, quem ganha mantendo o povo ignorante e dependente?”
“Igrejas e políticos.”

MESTRE YOKI


“Mestre, quando o Brasil estava literalmente voando com Lula o senhor pensava em quê?”
“Em comprar um paraquedas.”


“É o chamado efeito colateral. Quando o banco cortou o meu talão de cheques também perdi alguns amigos. Acho que eles eram mais amigos do meu talão.” (Climério)



“Mulheres lindas querem é paparico. São as feias que agradam mais.” (Climério)


“Antes sal que comida insossa.” (Climério)


“Não rezo porque sou completamente desacreditado.” (Climério)


“Rio e tento fazer rir para resistir a tanto atraso em nosso país. Não sou um comediante, sou um resistente.” (Climério)


“Se somos todos filhos de Deus tem muito rebento por aí não reconhecido pelo pai.” (Climério)