terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

“Nada de armas. Para arruinar uma nação e o progresso do seu povo nada melhor que implantar o socialismo.” (Eriatlov)

“Instituições desmoronam. Obra de cupins petistas.” (Eriatlov)

LEANDRO NARLOCH- Os traficantes e o império da lei nas favelas



pedreira
O repórter Leslie Leitão passou sete horas entrevistando o traficante Playboy, chefe do Complexo da Pedreira e o criminoso mais procurado atualmente no Rio de Janeiro. Na reportagempublicada na VEJA desta semana, há três informações sobre o líder da favela que merecem destaque:
1) “Todas as normas do morro é ele quem dita. Uma enorme faixa anuncia que carro roubado, por exemplo, não pode mais circular naquelas bandas. Quem não obedece às suas leis está sujeito a punições do tribunal do tráfico.”
2) “Ao estilo de outros chefões de favelas cariocas, Playboy distribui mensalmente centenas de cestas básicas e botijões de gás.”
3) O bandido media conflitos entre os moradores e pune quem cometer assaltos na favela. “Na lógica peculiar da bandidagem, Playboy se define como um ‘mal necessário’”.
Repare que interessante. Playboy, o líder do tráfico, um dos maiores ladrões de cargas do mundo, o homem acusado de uma dúzia de assassinatos, se incumbe de boa parte das tarefas que as pessoas (e os grandes teóricos da política moderna) esperam que sejam realizadas pelo estado. Garante o império da lei e o direito de propriedade no local onde detém o monopólio da violência, e mantém sua popularidade entre os moradores por meio da assistência social. O homem ainda se diz um “mal necessário”, a exata expressão usada por Hobbes em Leviatã.
Como é possível que um dos maiores assaltantes do mundo seja, ao mesmo tempo, a pessoa que garante o direito de propriedade na favela?
Na verdade, há pouca surpresa nessa história. O líder armado que media conflitos entre os moradores é um personagem comum tanto nas favelas do Rio quanto na história do mundo. Para economistas e cientistas sociais que estudam a economia do crime organizado, governos, máfias, reinos, coronéis, senhores feudais e chefes do morro lidam todos com a mesma commodity – violência – e oferecem o mesmo serviço: proteção e mediação de conflitos. Não é à toa que chefes do tráfico de vez em quando se intitulam “reis do morro”. O processo de formação dessa turma é o mesmo de reinos e estados nacionais.
Tudo começa com o problema fundamental de uma troca econômica: confiança. Até mesmo quem comprar uma lata de cerveja no bloco de carnaval precisa confiar que o camelô não vai sair correndo com o dinheiro antes de entregar o produto. Meios privados de assegurar trust são possíveis (falarei sobre eles num próximo post). Mas até o mais convicto anarco-capitalista precisa admitir que, na história, o problema muitas vezes se resolveu com a solução de Thomas Hobbes: estabelecer o Leviatã, uma terceira parte neutra e poderosa. Se eu te der o dinheiro e você não me passar a lata de cerveja, eu chamo o rei (ou a Justiça, a polícia, o senhor feudal, o imperador) para garantir o cumprimento do contrato.
Acontece que nem sempre o governo civil desempenha ou aceita desempenhar o papel de garantidor de contratos. Na cadeia de produção de cocaína, por exemplo, não dá pra resolver o conflito com um fornecedor recorrendo à Justiça. “Toda vez que o estado decreta uma transação ou produto ilegal, um mercado potencial para proteção é criado”, diz Diego Gambetta, o grande especialista em máfia siciliana. A demanda por mediação de conflitos é cumprida por fornecedores paralelos de violência.
Nas favelas do Rio, não é só a proibição de drogas que acaba criando pequenos leviatãs. A demora da Justiça, a pouca eficiência da polícia e a falta de escritura das casas são outros motivos. Sem documentos para assegurar a propriedade, os moradores não podem contar com a Justiça caso um inquilino deixe de pagar o aluguel ou um vizinho invada o terreno. Recorrem ao Poderoso Chefão local.
Digo isso e já imagino comentários de leitores reclamando que fui possuído por um espírito de Poliana e estou romantizando assassinos e traficantes. Não, nada disso.
Meu ponto é o seguinte: o que faz o tráfico dominar as favelas não é a falta de estado de Bem-Estar Social, como a esquerda costuma dizer. Não se vai resolver o problema construindo hospital ou escola pública na favela. O que faz os traficantes dominarem os morros é a falta de estado mínimo, de uma instituição que garanta o cumprimento de contratos e os direitos de propriedade.
O sucesso das UPPs no Rio de Janeiro depende não só de prender os chefes do tráfico dos morros, mas também de suprir a demanda dos moradores por império da lei e mediação de conflitos. Se o governo não cumprir essa demanda, vai apenas criar oportunidade de mercado para outros chefes do tráfico que se consideram “um mal necessário”

Carlos Alberto Sardenberg: ‘A parte que cabe a Dilma e Lula’

O GLOBO
A parte que cabe a Dilma e Lula
Dinheiro da corrupção pode ser localizado e, em parte, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão ficar por conta do povo


Quem começou o roubo na Petrobras, os políticos ou as empreiteiras? Para quem não tem nada a ver com isso, não faz diferença. Mas para quem está no rolo, pode fazer a diferença entre uma pena maior ou menos severa. Quem sabe até uma absolvição? — a esperança é livre aqui.

A versão dos políticos — no caso, do PT, PMDB e PP, principalmente, e de gente do governo Dilma — joga a culpa principal no cartel das empreiteiras, que existiria desde muita antes de os petistas chegarem ao poder. Fazendo combinações entre si, distribuindo as obras em reuniões secretas, acertando os preços, as empreiteiras dominavam de tal modo o negócio das grandes obras no Brasil que não havia saída senão, digamos, render-se a elas. Era isso ou não tocar os empreendimentos.

Sendo assim os fatos, com as empreiteiras se refestelando com os preços superfaturados, por que não tirar algum troco para a nobre tarefa de financiar atividades políticas? E atividades de partidos que visavam à nobre causa do povo — até muito justo, não é mesmo? Se isso for crime, dizem os autores dessa teoria, pelo menos é menor do que a montagem da quadrilha, quer dizer, do esquema.

A versão das empreiteiras é o inverso. Políticos dos partidos dos governos Lula e Dilma teriam montado uma máquina de fazer dinheiro para financiar eleições, de modo que não pagar propina e não entrar no esquema significava perder todas as obras.

E se as regras do jogo eram essas, se o preço seria mesmo elevado para pagar a caixinha política, por que não superfaturar um pouquinho mais para atender aos nobres interesses dos acionistas? Este seria um crime menor do que a montagem original da quadrilha etc.

No meio desses dois poderosos lados, sempre sobrava algum para executivos das empreiteiras e da estatal. Na verdade, alguns milhões.

Digamos que haja aí boa matéria para os advogados dos dois lados, mas, para a gente — cidadãos, contribuintes, eleitores, acionistas privados da Petrobras — não tem sentido algum. O gestor da coisa pública — para ficar bem solene — tinha que simplesmente chamar a Polícia Federal tão logo soubesse do esquema. Sem contar que, para o pessoal do PT, haveria aí um ótimo tema para atacar os seus antecessores no governo federal, aqueles neoliberais.

A mesma coisa vale para os donos das empreiteiras. Sabendo da quadrilha, que chamassem a polícia. Por que uma empresa eficiente, dona de tecnologia de primeira, precisaria se sujeitar a esse tipo de esquema que favorece a picaretagem?

Tudo considerado, não importa saber qual versão é mais correta. Mesmo porque, o mais lógico é concluir que ambas estão certas, assim mesmo, uma contra a outra. Os dois lados montaram seus esquemas, uma sociedade que está caindo para todas as partes. Como me dizia um advogado de ampla experiência: quando um réu acusa o outro, vão os dois para a cadeia.

Parece que o processo vai nessa direção, apanhando de passagem alguns executivos, pelo menos no tribunal do juiz Sérgio Moro. Agora em fevereiro, vamos ver como a ação penal anda no Supremo Tribunal Federal.

Essa é a história da corrupção, para os tribunais. Há uma outra, que é a desastrosa gestão imposta à Petrobras desde o governo Lula. Difícil saber qual causou mais prejuízo à empresa e ao país. Tão difícil que Graça Foster, com todo seu empenho e dedicação, não havia conseguido fazer a contabilidade que separasse a grana da corrupção do dinheiro torrado por erros de gerência e administração.

Por exemplo: a refinaria Abreu e Lima (a de Pernambuco) talvez nem devesse ter sido feita; se feita, poderia ter saído mais barata do que o preço já descontado da roubalheira. O dinheiro da corrupção pode até ser localizado e, em parte ao menos, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão mesmo ficar por conta do povo, o verdadeiro acionista e dono, traído, da Petrobras.

Ainda não apareceram denúncias de superfaturamento nos projetos das refinarias Premium do Maranhão e do Ceará. Os projetos foram cancelados, uma das últimas decisões da diretoria de Graça Foster, depois de um gasto de R$ 2,7 bilhões. Ou, um bilhão de dólares, para nada, para uma papelada sem valor.

E tem o incrível, e maior, prejuízo imposto ao caixa da empresa, com o controle dos preços da gasolina e do diesel. Segundo cálculos feitos dentro da estatal, foram nada menos que R$ 60 bilhões ao longo dos anos que a Petrobras foi levada a vender combustível a preço menor do que pago na importação. Uma sangria no caixa, que virou endividamento.

Nesta outra história não há dúvida nenhuma. A culpa é de quem mandou na Petrobras nos governos Lula e Dilma, a começar por Lula e Dilma. Essa responsabilidade só pode ser apurada nos foros políticos. Aliás, no que sobrar dos foros políticos depois da Lava-Jato.

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista



QUANDO O PINTO MATOU O GALO- Vício em sexo impediu Tyson de ser o maior de todos, diz ex-agente

O JABUTI NA AREIA MOVEDIÇA- Emprego no setor industrial cai 3,2% em 2014, aponta IBGE

SEM PRESENTE PARA GREGOS- Alemães não aceitam renegociar ajuda financeira à Grécia

Eduardo Cunha vai chamar os 39 ministros à Câmara

VEJA
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acertou nesta terça-feira com os líderes da Casa convocações semanais das chamadas comissões gerais para ouvir os 39 ministros do governo. A ideia é que eles respondam a perguntas dos deputados sobre suas atividades. Foi Cunha quem apresentou a proposta: "Vamos aprovar um convite global. Vamos fazer um calendário para o ano inteiro. Se eventualmente alguém que foi convidado sem uma motivação de força maior se recusar a comparecer, pode ser que o plenário decida convocá-lo", diz o presidente da Câmara. A ideia é que cada ministro compareça pelo menos uma vez no ano. O primeiro a comparecer deve ser Cid Gomes, da Educação.
Os líderes também confirmaram uma alteração no Orçamento de 2015 para permitir que os novos parlamentares também tenham direito a emendas parlamentares já neste ano. Para isso, o relator do orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR) fará uma alteração e incluirá mais 10 milhões de reais para cada um dos deputados e senadores em exercício, tendo sido ou não reeleitos. Com isso, quem deve ficar sem os recursos são os parlamentares que não se reelegeram em 2014. "Tem  200 deputados que não foram reeleitos. É evidentemente que esses vão perder. O financeiro vai ser para os novatos", diz o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). (Gabriel Castro, de Brasília)

*Os deputados saberão quem são eles e o que fazem. Coisa que talvez Dilma não saiba. Em tempo, será que ela sabe o nome de todos eles?

QUEM TEM A VERDINHA AGRADECE AO GOVERNO JABUTI- Dólar atinge a maior cotação em mais de 10 anos: R$ 2,83

QUADRINHA

Pinóquio anda tristonho
Às vezes até iracundo
Pois perdeu para Madame Roussef
O título de maior sicofanta do mundo.


“Quanto tempo a sociedade brasileira levará para se recuperar do atraso intelectual, econômico e moral perpetuado pelo PT seus micos amestrados?” (Eriatlov)

RS- SARTORI DETERMINA NÃO DAR MOLEZA PARA VÂNDALOS-

BRIGADA JÁ TEM ORDENS PARA MANDAR PARA O PRESÍDIO O PRIMEIRO QUE LEVANTAR PEDRA NAS MANIFESTAÇÕES DE RUA

O governador José Ivo Sartori já avisou ao comandante da Brigada Militar que nas previstas manifestações de rua contra tudo e contra todos, os blocos dos pelados serão tratados com todo o rigor da lei. A ordem é prender o primeiro que levantar uma pedra e o primeiro que ousar iniciar um quebra-quebra. Quem fizer isto, será isto não irá para a delegacia de polícia mais próxima, mas para o presídio central. No dia seguinte até poderá sair da cadeia, mas terá virado mocinha. Nenhum beiçudo será recebido com cafezinho e rapapés no vetusto salão do Negrinho do Pastoreio. Governos federal, estadual e municipal já sabem que março virá muito quente. 

A seita marxista: Marx pela lupa de Paul Johnson


Rodrigo Constantino

“Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava distribuir; foi fatal: os socialistas nunca mais entenderam a escassez.” (Roberto Campos)
Poucos intelectuais exerceram tanta influência direta como Karl Marx. Suas idéias, afinal, foram colocadas em prática por seguidores convictos como Lenin, Stalin e Mao Tse-Tung, sacrificando milhões de vidas no altar da utopia. O marxismo pretendia ser científico, e tal termo era comumente usado pelo próprio Marx. Seria crucial, então, analisarmos quão científica era sua obra.
Como o estudo da vida de Marx deixa claro, ele não tinha as características de um cientista que se interessa na busca da verdade. Mais parecia um profeta, interessado em proclamá-la. Até mesmo o economista Schumpeter, que fez uma análise obsequiosa de Marx, reconheceu que o marxismo é uma religião e Marx era uma espécie de profeta. Seu tom messiânico e seu escrito escatológico, influenciado pelo pano de fundo poético, nada tinham de científico. Sua visão apocalíptica de uma catástrofe imensa prestes a se abater sobre o sistema vigente desprezava a necessidade de evidências sustentadas pelos fatos. Tal característica conquistou muitos seguidores pelo desejo de crer no fim próximo do capitalismo, dispensando o uso da razão para tanto. Os slogans ajudavam na propaganda, assim como a promessa de salvação.
Marx tinha um bom talento como jornalista polêmico, e sabia usar aforismos de forma inteligente, ainda que a maioria tenha sido copiada de outros autores, e não criada por ele. Mas seu mérito residia no uso das palavras para instigar sentimentos e revolta nos leitores. A elaboração de sua filosofia foi um exercício de retórica, sem a sustentação de sólidos pilares. Distanciado do mundo real, em seu bunker intelectual, ele iria fazer de tudo para confirmar suas idéias já preconcebidas. Afirmava ser o defensor dos proletários, e até onde sabemos, nunca esteve numa manufatura ou fábrica. Seus aliados eram intelectuais de classe média, como ele, e havia inclusive certo desprezo pela classe trabalhadora.
Um cientista sério busca dados novos que possam contradizer suas teses. Marx nunca fez isso; pelo contrário: tentava encontrar o tipo certo de informação, adequada para suas teorias já definidas. Toda a sua abordagem era no sentido da justificação de algo declarado como sendo a verdade, não na investigação imparcial dos fatos. Era a convicção não de um cientista, mas de um crente. Os dados estariam subordinados aos seus trabalhos de pesquisa, tendo apenas que reforçar as conclusões alcançadas independentemente deles. Com tal método, foi escrita sua obra clássica, Das Kapital, repleta de contradições, dados errados ou defasados, fontes suspeitas ou mesmo manipulações e falsificações. Assim como na obra do seu colega Engels, o descaso flagrante e a distorção tendenciosa estão presentes nos escritos de Marx, como prova de uma desonestidade inequívoca. Em Os Intelectuais, Paul Johnson fez uma análise detalhada desses erros todos.
Alguns exemplos merecem destaque para a melhor compreensão desta total falta de compromisso com a verdade, premissa básica para qualquer um que se considera um cientista. Marx utilizou informações obsoletas quando interessava, já que as novas não validavam suas alegações. Em exemplos gritantes, usava casos de décadas atrás para mostrar uma suposta conseqüência nefasta do capitalismo, sendo que o próprio capitalismo tinha feito a situação perversa desaparecer. Ele escolheu também indústrias onde as condições de trabalho eram particularmente ruins, como sendo típicas do capitalismo. Entretanto, esses casos específicos eram justamente nas indústrias onde o capitalismo não tinha dado o ar de sua graça, e as firmas não tinham condições de implantar máquinas, por falta de capital. A realidade gritava que quanto mais capital, menor o sofrimento dos trabalhadores. Marx não tinha o menor interesse em escutar este brado retumbante dos fatos. Salvar a teoria, e em última instância seu ódio ao capitalismo, era mais importante que a verdade. Chamar isso de científico beira o absurdo completo. Schumpeter admitiu que Marx estava quase sempre errado, e Keynes considerou Das Kapital um livro obsoleto, cientificamente errado e sem aplicação no mundo moderno.
No fundo, podemos tentar buscar os motivadores de Marx em alguns aspectos de seu caráter. Ele alimentava um profundo gosto pela violência, tendo deixado isso claro ao longo de toda a sua vida. Desejava ardentemente o poder. Mostrava uma inabilidade irresponsável e infantil de lidar com dinheiro, sendo vítima constante de agiotas. E mostrava uma tendência de explorar os que se encontravam a sua volta, incluindo família e melhores amigos.
Provavelmente, seu rancor refletia uma frustração em possuir certas potencialidades mas ser incapaz de exercê-las de forma mais efetiva. Marx levou uma vida boêmia e ociosa durante sua juventude. Mostrou uma enorme incapacidade de lidar com dinheiro, gastando sempre muito mais que recebia, tendo que parasitar nos familiares e amigos ou recorrer aos agiotas. Isso pode estar na raiz de seu ódio ao sistema capitalista e também seu anti-semitismo, já que os judeus praticavam normalmente a usura. Ele pegava dinheiro emprestado, gastava de forma insensata, e depois ficava nervoso com a cobrança. Passou a ver os juros como um crime contra a humanidade, uma exploração do homem pelo homem. Não o interessava verificar que o problema estava, de fato, em sua completa irresponsabilidade. Chegou ao ponto de ser deserdado pela mãe, que recusou pagar suas dívidas certa vez. Foi procurar refúgio em Engels, um rico herdeiro e a maior fonte de renda de Marx, que passava então a viver como pensionista de um rentier. Sua mulher, de família aristocrata, também foi uma fonte de recursos para Marx. Aquele que considerava o trabalho uma exploração, nunca quis muito saber de trabalhar ou de se relacionar com trabalhadores, orgulhava-se da nobre descendência de sua esposa e ainda vivia às custas do dinheiro dos outros.
Essas características de Marx podem explicar seu tremendo sucesso de público no Brasil, como o embaixador Meira Penna notou em sua obra O Dinossauro. As origens românticas de seu pensamento, o fato de ele ter sido um “boêmio nefelibata que refugava qualquer trabalho útil e qualquer poupança”, podem explicar a identificação por parte dos aristocratas ociosos e especulativos que dominavam a elite brasileira. O embaixador conclui: “O segredo do fascínio de Marx para nossos intelectuais reside, certamente, nessa postura antieconômica de que o dinheiro ou a propriedade é a origem de todos os males, de todos os pecados”.
Poucos são os casos, em minha opinião, em que um só intelectual concentra tantas idéias estapafúrdias. Fora isso, o desprezo por Marx aumenta mais quando conhecemos sua vida e seu caráter, sem falar do fato de que a concretização de seus ideais derramou um oceano de sangue inocente. Por fim, a autoproclamação de que tanto absurdo e contradição tem um respaldo científico é um crime contra a ciência e a razão. Se a religião é o ópio do povo, como Marx dizia, o marxismo é o crack. Seus seguidores – e eles são muitos ainda, principalmente entre os intelectuais – precisam desprezar o uso da razão para manter a fé dogmática no marxismo. Não foi a razão que falhou nas idéias de Marx. Foi a falta dela, necessária para salvar o dogmatismo presente na seita que é o marxismo.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

O caminho para a anomia


Rodrigo Constantino

“As crises de legitimidade sempre têm algo a ver com a incapacidade das sociedades em criar lealdade a seus valores básicos; se esses valores se tornam autodestrutivos, a crise torna-se aparente.” (Ralf Dahrendorf)
O sociólogo alemão Ralf Dahrendorf, que acompanhou os terríveis anos nazistas bem de Berlim, escreveu em 1985 um livro chamado A Lei e a Ordem, onde traçou alguns paralelos entre a situação que estavam vivendo os países desenvolvidos nesta época e a era que antecedeu o nazismo. Seu principal alerta era quanto ao caminho para a anomia, que costuma anteceder regimes totalitários. Afinal, os índices de criminalidade estavam em alta nesses países desenvolvidos, ameaçando a paz e a ordem dos cidadãos.
Em primeiro lugar, é interessante definir o que exatamente o autor pretendia com o uso do termo anomia, resgatado na sociologia por Durkheim, em seu estudo sobre o suicídio. Dahrendorf estava preocupado com a incidência crescente da impunidade, cuja conseqüência é a anomia, “quando um número elevado e crescente de violações de normas torna-se conhecido e é relatado, mas não é punido”. Com isso, ele não pretende justificar os crimes individuais, mas apenas reconhecer que a “anomia é uma condição social, que pode fazer brotar vários tipos de comportamento, como ocorreu durante a queda de Berlim, em 1945″. Logo, a conexão entre anomia e crime não é causal. “A anomia fornece uma condição básica, onde as taxas de crimes tendem a ser elevadas”.
No dicionário Aurélio, o termo anomia está definido como “ausência generalizada de respeito a normas sociais, devido a contradições ou divergências entre estas”. Isso reforça o que o sociólogo tinha em mente, ao afirmar que “a anomia é então concebida como uma ruptura na estrutura cultural, ocorrendo especialmente quando houver uma aguda disjunção entre, de um lado, as normas e os objetivos culturais e, de outro, as capacidades socialmente estruturadas dos membros do grupo em agirem de acordo com essas normas e objetivos”. No estado de anomia, as normas reguladoras do comportamento das pessoas perderam sua validade. As violações de normas simplesmente não são mais punidas.
“Esse é um estado de extrema incerteza, no qual ninguém sabe qual comportamento esperar do outro, sob determinadas situações”. As normas são válidas se e quando elas forem tanto eficazes como morais, ou seja, julgadas corretas. A anomia é, pois, “uma condição em que tanto a eficácia social como a moralidade cultural das normas tendem a zero”. Todas as sanções parecem ter desaparecido neste quadro social, e isto leva ao desaparecimento do poder legítimo, transformado em poder arbitrário e cruel. O “contrato social”, entendido aqui como normas aceitas e mantidas através de sanções impostas pelas autoridades concernentes, é rasgado, restando o vácuo em seu lugar. Tudo passa a ser visto como permitido, já que nada mais parece ser punido.
Uma das causas que levam a esta anomia está na imagem de homem romântica, porém errada, que muitos alimentam desde Rousseau e seu “bom selvagem”. Essas pessoas “supunham que bastava as pessoas serem liberadas das restrições impostas a suas ações pela história, pela cultura e pela sociedade, para que pudessem viver, felizes e em paz, para todo o sempre”. Para Dahrendorf, “essa imagem do homem é um dos marcos principais no caminho para a anomia”. Ainda que bem intencionados, esses românticos teriam buscado Rousseau, mas encontrado Hobbes, com a luta de todos contra todos.
Quando as ligaduras, os “liames culturais associados com certas unidades básicas às quais os indivíduos pertencem, em virtude de forças fora de seu alcance, mais do que escolha própria”, estão enfraquecidas, o mundo tende a ser mais desorientador e desconcertante. Não é fácil achar substitutos para tais ligaduras, que sustentam os principais valores de uma sociedade. O enfraquecimento progressivo desses valores morais, assim como a impunidade, o declínio na validade das normas sociais, são ingredientes perigosos que podem levar à anomia. Os costumes e as leis são complementares: quanto mais sólidos os costumes, mais eficientes tendem a ser as leis. O assustador é quando ambos – costumes e leis – perderam o valor.
Não há como ler o livro de Dahrendorf sem pensar na situação atual do Brasil. A impunidade é crescente, e os valores básicos estão completamente deturpados ou enfraquecidos. Políticos cometem crimes à luz do dia, nada acontece, e os próprios eleitores ainda votam neles novamente. A crença de que as leis não funcionam mais é generalizada. O país caminha, infelizmente, para a anomia descrita pelo sociólogo. Algo precisa ser feito. No próprio livro, podemos ter alguma idéia do que precisa ser feito.
Em primeiro lugar, é importante acertar o diagnóstico do problema. Não basta repetir que a causa dos males reside somente na economia, e que necessitamos apenas de políticas sociais, pois isso não é verdade. O buraco é bem mais embaixo. Vivemos uma crise de valores morais, uma falência das instituições necessárias para a manutenção da lei e da ordem, e um problema de pobreza agravado, muitas vezes, pela própria ação do Estado. Mas nem tudo está perdido. E a anomia ainda pode ser evitada, mesmo que leve tempo. Basta lembrarmos que os Estados Unidos e a Inglaterra, principais países citados por Dahrendorf no livro, deram a volta por cima. Reagan e Thatcher, é verdade, deram importantes contribuições. Mas elas não seriam suficientes nem possíveis sem todo um trabalho de base que tivesse alterado a mentalidade do povo e seus valores morais, abrindo o caminho para as mudanças institucionais.
Foge ao escopo deste artigo focar nas soluções do problema. Mas não custa, ainda que en passant, apelar para o sucinto resumo do próprio autor. “A resposta para o problema de lei e ordem pode ser colocada numa única expressão: construção das instituições”. O autor teria, com certeza, o apoio do prêmio Nobel de economia, Douglass North, que vem batendo incansavelmente nesta tecla. É mais fácil falar que fazer, claro. Mas isso não muda o fato de que compreender o que deve ser feito já é um bom começo. Estamos longe disso ainda, em minha opinião. Nem todos entendem o valor das instituições. E é preciso explicar também que isto não significa que quanto mais instituições, melhor. O outro perigo, além da anomia, é a hipernomia, o crescimento desordenado de normas, sanções e instituições, que gera apenas mais incerteza e desconfiança.
Com isso em mente, podemos concluir nas palavras do próprio Dahrendorf: “Somente através de um esforço consciente para construir e reconstruir as instituições podemos esperar garantir nossa liberdade em face da anomia”.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

“Não há como o PT fazer um bom governo. Onde buscar em seus quadros cérebros capazes para gerenciar? Ou se é petista ou se é capaz.” (Eriatlov)

“Se eu acreditasse em destino não me levantaria da cama pela manhã.” (Pócrates)

“A sorte de Dilma e Lula é serem políticos no Brasil. E saber que nos EUA Nixon caiu por uma escuta. Onde estariam eles num país de leis justas?” (Eriatlov)

“De sexo a Nona faz tempo não quer saber. Tenho comigo uma caixa de preservativos adquirida em 1986.” (Nono Ambrósio)

“Para 2018 os meus candidatos são o AVC e o INFARTO.” (Nono Ambrósio)

“Sou tão velho que se ficar ao sol começo a derreter.” (Nono Ambrósio)

“Já que as jovens e bonitas não me querem, só estou beijando mulher feia e velha. Basta estar respirando.” (Nono Ambrósio)