sábado, 17 de fevereiro de 2018

HOMEM SANTO


Jesuíno era um exemplo de homem bom. Com certeza não houve nunca houve no planeta homem mais santo. Não carregava chifres, carregava pombas brancas na cabeça. Era só paz e amor, e I Love You. Fazia boas ações todos os dias e rezava como um jumento beato, desgastando rosários vida afora. Mas quando morreu Jesuíno não conheceu o paraíso. Pelo bom currículo São Pedro o mandou ao inferno para dar aulas de tolerância ao capeta.

ARTHUR SCHOPENHAUER- A VIDA NA PAZ E NA GUERRA, E SUA FINALIDADE


A vida nunca se apresenta como um mimo que nos é dado gozar, mas sim como uma tarefa que tem de se cumprir à força de trabalho; disto nasce e toma origem uma concorrência sem tréguas, uma luta sem fim, uma miséria geral, uma agitação em que tomam parte todas as forças do espírito e do corpo. Milhões de homens, reunidos em nações, trabalham para o bem público, trabalhando assim cada um em seu próprio interesse, porém, as vítimas deste trabalho morrem aos milhares. Às vezes, por preconceitos absurdos, outras, por uma política sutil, as nações se aniquilam numa guerra. É preciso que o sangue do povo corra em abundância para expiar a culpa de alguns, ou para realizar os caprichos de outros. Enquanto reina a paz no mundo, a indústria e o comércio prosperam, as invenções se multiplicam, os navios sulcam os mares, transportando para toda parte produtos do mundo, as ondas tragam milhares de homens. O tumulto é imenso, enquanto uns se agitam e movem, outros meditam. Mas qual é a suprema finalidade de tantos esforços? Manter, no caso mais favorável, a vida de seres efêmeros em uma miséria suportável, e uma ausência relativa de dor que o tédio aceita constantemente, e ademais a reprodução desses seres, e a renovação de seus esforços.

O VELHO EREMITA


O velho eremita tentou mudar os homens de sua comunidade por anos seguidos. Foi infeliz no seu projeto. Desiludido subiu numa grande árvore e disse que somente desceria de lá quando os homens da sua vila fossem menos astutos e canalhas. Pois a grande árvore morreu e virou petróleo; o velho eremita também. Caso contrário ele ainda estaria lá, esperando pela mudança.

SUSYLAND


Hermes sofria bullying na escola por causa dos seus braços compridos, sendo que os cotovelos davam nos joelhos. Então no Dia dos Namorados, tremendamente aborrecido com todos os seus colegas de escola, vizinhos e outros, subiu no telhado de casa tendo nas mãos um pano escuro. Então esticou os braços até onde pode e cobriu a lua completamente. Foi o Dia dos Namorados mais sem graça em toda história de Susyland.

ATITUDE


Ele chegou em casa pé por pé, de mansinho. Entrou quietinho pelos fundos e como um gato deslizou até a sala. Lá estava sua esposa com o amante se amassando no sofá. Engoliu em seco e foi para o quarto. No dia seguinte vendeu o sofá.

ESPERANÇA


Formigas caminham despreocupadas pela varanda enquanto o cão preguiçoso boceja deitado satisfeito na cerâmica fria. Nuvens passeiam pelo céu, sem pressa. O sol vespertino é forte; o verde das árvores se destaca; o cantar dos pássaros presos é triste. Alados libertos cruzam os ares fazendo alarido e lamentando a má-sorte dos irmãos engaiolados. Não tem jeito, quem está na gaiola canta de tristeza, mas os obtusos pensam que é de alegria. Quem canta seus males espanta; eles sabem disso mais do que ninguém. Uns poucos ainda olham para cima com esperança de um dia poder novamente voar. A esperança, sempre ela, junto do ser até o derradeiro suspiro.

COM OU SEM ELE



A mesa estava posta. Ela soube pela vizinha que o marido ficara no boteco jogando baralho e bebendo pinga. Debruçada na janela esperava por ele; já passava das oito e nem sinal do dito. Estava toda maquiada e perfumada, bem disposta para uns amassos. E o maridão lá no boteco pegando bafo, esquecido de casa. Esperou mais meia hora e como o especial não apareceu, abriu a porta do guarda-roupa e disse para Deoclides sair: estava na hora do show.

COMPRIMIDOS


Hermógenes saiu de casa naquele tarde completamente intranquilo, estando seu cérebro em chamas. Repetia para si: “hoje eu mato alguém, hoje eu mato alguém.” Deixou o automóvel na garagem e seguiu em direção à cidade. Na cabeça usava um boné branco e na mão direita um revólver calibre 38, carregado com cinco projéteis. No caminho cumprimentou bodes e galinhas. Duas centenas de metros antes de chegar à cidade suas pernas travaram; sentou-se numa pedra saliente e ficou por alguns minutos pensativo, até mesmo sem cuspir e piscar. Então deu um grito pavoroso que acordou até mesmo os japoneses que já dormiam, semicerrou os olhos e atirou na própria cabeça. Em casa sua mulher sentiu o coração palpitar quando viu os comprimidos do marido doente jogados no lixo.

CARRANCAS


Sou simples, faço minhas coisas. Naquele dia a chuva caía forte na tarde. Saí do banco desprotegido então parei sob uma marquise. Logo estávamos em mais de dez entre mulheres e homens. Tentei puxar conversa para passar o tempo enquanto descia o aguaceiro. Todos usavam máscaras de carranca e nada de papo, absorvidos por certo em suas complicadas vidas, ou achando que um papo camarada comigo não valeria a pena. Fiquei na minha e pensando em coisas boas que ainda teria no dia, como visitar minha mãe e comer pão caseiro da hora. Não demorou e meu motorista chegou, deixando todos ali perplexos com o meu belo automóvel. Embarquei no meu Rolls Royce sob abanos tímidos e sorrisos falsos dos companheiros de marquise.

REGRESSÃO


Naquela terrível tarde de  quinze de julho de dois mil e noventa uma escuridão total cobriu o planeta terra. No mesmo instante emergiram de bueiros e templos religiosos trilhões de espécimes do animalis ignorare, espalhando entre os humanos o vírus da superstição retroativa ao tempo das cavernas e da letal bactéria do ouvidizereacrediteisempestanejar.  Foi  assim meus queridos que em poucas horas a humanidade regrediu cem mil anos. E agora estamos todos aqui ao redor do fogo nos aquecendo. Ainda bem que sobraram alguns fósforos.

ROUBO PLANEJADO


Por dias os quatro ladrões espreitaram para entrar na casa dos Oliveira Brandão . Fizeram revezamento no monitoramento. Hora de saída, hora de entrada, quantas pessoas, guardas, alarmes, câmeras e cães. Todos os passos dos proprietários foram devidamente mapeados. Finalmente chegou o dia de invadir e roubar. Renderam os guardas, acalmaram os cães com medicamentos e desligaram com eficiência o sistema de segurança. Os três larápios entraram na residência cientes de fariam um grande trabalho; muita grana e joias. Seria o golpe do ano, depois sim muitas viagens e festas mundo afora. Armas em punho entraram na casa para o assalto tanto planejado. Foram então surpreendidos por mais de quarenta homens na sala, todos bem armados e uma banda de música que para recepção ao grupo entoou a canção San Quentin de Johnny Cash.


O TUNEL


Penitenciária Estadual. Dez companheiros de cela comandados por Arrudão começaram a escavar o túnel da libertação. Um mundo livre para bebidas, mulheres e novos golpes. Cavouca e cavouca. A terra seca era levada para fora por carcereiros amigos e comprados. Quanto mais o túnel seguia mais quente o buraco ficava. E foi ficando tão quente quase impossível de suportar. Em dez dias após imenso esforço eles terminaram o dito túnel, mas deu zebra. No lugar de um campo aberto fora do presídio eles saíram dentro da cozinha do estabelecimento. O comandante fez a leitura errada do mapa. Os companheiros enraivecidos jogaram Arrudão dentro da panela do sopão. Como era um sujeito enorme queimou apenas parte da bunda. Os fujões foram todos para a solitária e naquele dia nenhum dos presos demonstrou interesse pela sopa.



O VOO


Tomas dormia durante o voo. A aeronave estava em velocidade de cruzeiro quando ele acordou. Após olhar detalhadamente em volta percebeu algo estranho. Naquele voo pareciam estar reunidas inúmeras pessoas famosas já falecidas. Ao seu lado, por exemplo, estava o Mahatma Ghandi. Do outro lado do corredor viu com clareza Airton Senna gargalhando ao brincar com amigos. Alguma coisa diferente acontecia naquele voo, o que seria? Quando foi ao banheiro deu de frente com uma pessoa muito conhecida aos católicos, o Papa João Paulo II, usando crachá de copiloto. Quando Madre Tereza de Calcutá uniformizada de aeromoça passou com o carrinho de lanche pelo corredor Tomas ficou pálido e perguntou ao senhor ao lado o que estava acontecendo naquele avião. O ancião olhou rindo para ele e respondeu:
- Acorde tonto, você está sonhando!


DIÁRIO DE UM NARIGÃO SUJO- Homem da mala de Gleisi Hoffman diz na PGR: "A senadora recebia R$ 200 mil por mês de dinheiro sujo"


A revista Veja de hoje conta que a senadora Gleisi Hoffmann foi delatada por seu operador, Marcelo Maran, que disse na PGR: - Gleisi e Paulo Bernardo (marido de Gleisi) receberam entre 150.000 e 200.000 reais por mês em dinheiro sujo, de 2010 a junho de 2015, quando a Lava Jato desmantelou o esquema.

CORREIO DO MANÉ DE BIGUAÇU- Raimundo Colombo, SC, pede licença para fazer curso na Espanha. Depois, renunciará para disputar cadeira no Senado.

Raimundo Colombo, o traíra, ficou ao lado de Dilma na última eleição. O meu voto nunca mais.

ALUNOS


Dois jovens canadenses de Toronto resolveram fazer o curso superior para corruptos na Universidade de Malandragens Públicas da Venezuela. Terminado o curso foram instados pelo professor para dizer onde iriam demonstrar suas aptidões. Os dois responderam o Brasil. O professor ficou rindo por alguns minutos e após matriculou os dois num curso de pós-graduação. Justificou-se dizendo que o Brasil não é para iniciantes.

CONFINS 3



Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Dilma.
-Não tem ninguém em casa.

THE END


Aos trinta anos o solitário Marcelo chegou à conclusão que não gostava de nada e de ninguém, nem de lugar, gente ou bicho. Tinha raiva até de cuspir. Após essa análise entrou no lixão da prefeitura e prontamente se deu um tiro na cabeça.