terça-feira, 4 de julho de 2017

AZAR

Sou um grande visualizador de calcinhas rendadas e simples; de coxas belas se lisas; de bundas firmes e salientes; de pernas torneadas de brancas, negras, mulatas e morenas. De algumas consigo até visualizar os pelos sedosos que teimam em escapar do tecido delicado. Vejo tantas coisas maravilhosas e, no entanto, não posso tocá-las e nem mesmo sentir o perfume que delas emana. A vida é assim; tive azar e nasci um mero capacho para porta de salão de beleza.

MUNARO

Munaro era um homem pequeno que se tornou triste. Viúvo recente, não tinha mais prazer na vida. A depressão foi tomando conta do pequeno corpo dele; os remédios não o ajudaram.  Por fim, no último domingo ele deu cabo da vida se enforcando num bonsai.

MAIS, MAIS ÁGUA SUJA

Tive um sonho. Todos os eleitores do PT estavam afogados no fundo de um lago podre. Mas eles mesmo estando afogados gritavam e agitavam bandeiras. E por incrível que pareça pediam por mais água suja.


Siga o cheiro do dinheiro. Coluna Carlos Brickmann


EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 2 DE JULHO DE 2017


Tudo bem, houve greve geral. Só que não foi geral: tirando alguns congestionamentos chatos em algumas cidades, o país funcionou como de costume. Também não foi greve: até os congestionamentos chatos, seu símbolo maior, ocorreram por manifestações com pouca gente, em locais estratégicos, para dificultar o trânsito. Trabalhou-se como de costume.


Guilherme Boulos, líder do MTST, movimento dos sem-teto, um dos organizadores da greve, atribuiu o fracasso ao desemprego. “As pessoas estão com medo de ser demitidas, achacadas por patrões”. A explicação tem lógica, mas não é verdadeira. O objetivo da greve geral era impedir um ponto da reforma trabalhista: o que prevê o fim do imposto sindical. Este imposto, um dia de trabalho de cada assalariado do país, é a grande fonte de renda das centrais sindicais (e dos sindicatos, que ficam desobrigados de trabalhar em favor de seus associados, porque eles não lhes fazem falta: o dinheiro do imposto sindical continua irrigando seus cofres com fartura).


O problema era esse? Michel Temer o resolveu: o Imposto Sindical será abolido e, em seu lugar, surgirá uma nova fonte de financiamento para a pelegada. Em outras palavras, o imposto sindical só muda de nome. Paulinho, presidente da Força Sindical, confirma a manobra: resolvido o problema do dinheiro (R$ 3,5 bilhões por ano), a reforma passa a ser boa.


As centrais ameaçaram, Temer acertou tudo, e o caro leitor paga a conta.


Dinheiro entra...


Um dia de salário de todos os empregados com carteira assinada (pouco mais de 41 milhões de pessoas) representa uns R$ 3,5 bilhões por ano. Desse dinheiro, pela CLT, Consolidação das Leis do Trabalho, 60% vão para 15.315 sindicatos, para muitos deles a principal receita; 15% às federações; 5% às confederações; 20% ao Ministério do Trabalho, para financiar programas como o FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador, que sustenta o seguro-desemprego e o PIS. Da verba repassada ao FAT, 10% vão para as centrais, livres de prestar de contas. Por isso há tantas centrais sindicais e tantos sindicatos: há muito dinheiro sem precisar trabalhar.


...dinheiro sai


A Assembleia Legislativa de São Paulo planeja licitação para contratar uma agência de publicidade. A agência terá verba inicialmente calculada em R$ 35 milhões por ano (podendo chegar a R$ 50 milhões). Pergunta que vale milhões: que é que a Assembleia paulista pretende anunciar? A Assembleia faz aniversário e quem ganha o presente é você? Assembleia, sempre a seu dispor? Assembleia, novas obras, agora ainda mais bonita?


Para que publicidade da Assembleia? Alguém lhe faz concorrência? Há alguma disputa de mercado? Não: é pura vontade de gastar cada vez mais.


Direito na prática


Depois de quatro sessões, o Supremo Tribunal Federal decidiu como tratar os acordos para obter delações premiadas. Os acordos de delação não poderão ser revistos, exceto em dois casos: quando houver uma ilegalidade afrontosa ou quando o delator não cumprir o que prometeu. Em outras palavras, os acordos legais deverão ser mantidos. E os ilegais, cancelados.


Temer, o poeta do futuro


Nos tempos do Império Romano, acreditava-se que os poetas recebiam dos deuses a capacidade de prever o futuro. Poeta, em latim, é “vate”; daí vem a palavra “vaticínio”, previsão. E, quem diria, nos dias atuais há quem preveja o futuro em seus poemas. O presidente Michel Temer publicou em 2012, pela Topbooks, o livro de poesias Anônima Intimidade. Cinco anos depois, é cada vez mais atual. Quem descobriu essa pedra preciosa foi o jornalista Augusto Nunes (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/):


SABER: “Eu não sabia./ Eu juro que não sabia!”


TRAJETÓRIA: “Se eu pudesse,/ Não continuaria”.


FUGA: “Está/ Cada vez mais difícil/ Fugir de mim!”


RADICALISMO: “Não. Nunca mais!”


EU: “Deificado./ Demonizado./ Decuplicado.”/


“Desfigurado./ Desencantado./ Desanimado.”/


“Desconstruído./ Derruído./ Destruído”.


COMPREENSÃO TARDIA: “Se eu soubesse que a vida era assim,/ Não teria vindo ao mundo.”


Justiça petista


Frase do ex-presidente Lula (PT), que aguarda sentença de Sérgio Moro:


“Se tiver uma decisão que não seja a minha absolvição, quero dizer que não vale a pena ser honesto neste país”.


Pimenta no ar


Rádio Jovem Pan de São Paulo, a partir desta terça, dia 4: voltam os Pingos nos Is, com Felipe Moura Brasil, Joice Hasselmann, Fernando Martins, mais o ótimo repórter Cláudio Tognolli.


Metralhadora giratória.

Chegou a hora da fogueira. Coluna Carlos Brickmann


EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 2017


Como no futebol, há juízes para decidir cada lance. Como no futebol, a derrota pode derrubar o time. Como no futebol, há quem se rebele contra o juiz. Como no futebol, muita gente levou uma bolada. Mas não se trata de futebol: trata-se de um país e de seu futuro. Futuro? Como no futebol, cada um pensa no próprio futuro, e os outros que, digamos, se danem.


O presidente Temer e o ex-presidente Lula buscam desmoralizar seus acusadores. Ataca-se o procurador-geral Janot, que denunciou Temer, e o Ministério Público, que, segundo Temer, não investigou procuradores cujo comportamento considera duvidoso. Ataca-se o juiz Moro, que Lula acusa de parcialidade, e procuradores da Lava Jato, porque fazem palestras pagas. Tanto Temer quanto Lula suspeitam que os acusadores tenham forçado delações “a la carte”, dando substanciais reduções de pena a quem atingisse determinado acusado. O embate nos tribunais mais parece uma guerra.


O juiz Sérgio Moro pode, a qualquer momento, emitir a sentença de Lula. A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, diz que só é aceitável a sentença que o absolva integralmente. O presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, defende “o confronto popular aberto nas ruas” se Lula for condenado. Temer acena com o êxito da política econômica (a inflação ficou abaixo da meta, as exportações cresceram) que, indica, só será mantida caso fique no cargo.


E o Brasil? O Brasil é apenas um detalhe.


Dois lados, uma defesa


Temer e Lula são hoje adversários ferozes, mas sua defesa é a mesma: há uma conspiração dos inimigos contra eles, e não há provas de nada. Mas cada um tem um antídoto diferente para a peçonha dos adversários. Lula, a ameaça de convulsão social, com apoio do PT, de partidos como PSOL e PSTU, de centrais sindicais como a CUT; Temer, a blindagem parlamentar, já que é preciso que 342 deputados (em 513) autorizem o processo contra ele.


Só que Lula já ameaçou colocar nas ruas “o exército de Stedile” (o MST) e não deu certo. E Temer, em seu duro discurso de ontem, apareceu na TV ao lado de políticos de menor expressão. Os caciques se pouparam.


É o que temos


Outra arma de Temer é a falta de um bom nome para sucedê-lo, caso seja afastado. Mesmo que surja alguém, será eleito por um Congresso em que o presidente do Senado, Eunício Oliveira, e o da Câmara, Rodrigo Maia, são investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.


Caso Temer seja afastado, Rodrigo Maia é o favorito para sucedê-lo.


O Temer...


Um fato está intrigando os meios políticos: este Temer não é o Temer a que todos se acostumaram. Temer sempre foi discreto, afável, racional, cauteloso, frio e duro – foi quem assumiu com êxito a Secretaria de Segurança de São Paulo logo depois do massacre do Carandiru. O Temer presidente não tem como ser discreto. Mas anda ríspido, irritado, reagindo emocionalmente à pressão que sofre. O político cauteloso, que antes de falar “boa noite” pensava muito para não ser mal interpretado, referiu-se duas vezes aos russos como “soviéticos” – o que não são há 27 anos; e, em visita oficial à Noruega, confundiu o rei da Noruega com o da Suécia.


...que não é o Temer


O duro Temer levou um pito da primeira-ministra norueguesa sobre desmatamento na Amazônia e calou a boca. O sempre bem-informado Temer nem lembrou, ou nem sabia, que uma empresa controlada pelo Governo da Noruega está desmatando quase cinco mil hectares da floresta amazônica para extrair bauxita, o minério básico do alumínio; e que um país tão interessado no meio-ambiente talvez devesse repensar a poluente extração de petróleo no Mar do Norte e a autorização para a caça às baleias.


O cauteloso Temer ainda recebeu Joesley Batista nos porões do Jaburu.


O dia da caça


Os procuradores da República elegem hoje três candidatos à Procuradoria-Geral, na sucessão de Janot. Mas o presidente Temer nomeia quem quiser, esteja ou não na lista tríplice. Uma escolha acertada pode fazer com que Janot se enfraqueça até deixar o cargo, em 17 de setembro. Temer acredita que, saindo Janot, se reduzam as pressões contra ele. Mas nem sempre é assim: o novo procurador-geral pode querer provar que não está lá para acochambrar, e que é tão duro quanto o antecessor.


Gravando lá e cá


O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu a família para dizer que ninguém deve se preocupar com delações premiadas em que é citado. Informou que, durante todo seu período como ministro, gravou todas as conversas que manteve em seu gabinete. São oito anos de gravações.


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A VENEZUELA EXISTE E É LOGO ALI por Percival Puggina. Artigo publicado em 04.07.2017



No Brasil, a violência política se faz visível em dois níveis de radicalização. Num, há a perda da noção de limites; o discurso se exaspera, os poderes e seus membros se retaliam verbalmente, xingamentos agitam as redes sociais, a verdade apanha e a razão é posta à prova. Noutro, tem-se algo mais perigoso. Refiro-me à violência que nasce da ideologia, que não ocorre em assomos de indignação, nem se manifesta naqueles momentos em que o sangue ferve e as estribeiras são perdidas. Trata-se de algo fora dos parâmetros pelos quais se orientam pessoas normais.

Ao entender isso começa-se a compreender a razão pela qual, sem quê nem porquê, certos grupos passam a incendiar ônibus, a dar "voadoras" nas vitrinas e a disparar rojões contra a autoridade policial. Mauro Iasi citando Brecht, Guilherme Boulos e João Pedro Stédile com seus exércitos, falam por eles.

Em 1968, o general vienamita Vo Nguyen Giap, em artigo publicado em "El hombre y el arma", escreveu (tradução de Igor Dias): "... os revisionistas contemporâneos e os oportunistas de direita do movimento comunista e do movimento operário seguem vociferando sobre 'paz' e 'humanitarismo'; não se atrevem a mencionar a palavra 'violência'. Para estes, a violência é um tabu. Temem esta assim como a sanguessuga teme o cal. O fato é que negam a teoria marxista-leninista sobre o papel da violência na história". Mais adiante, lecionará o general: "Os comunistas expõem o papel histórico que cumpre a violência não porque sejam 'maníacos' por esta, mas sim porque é uma lei que rege o desenvolvimento social da humanidade. Não poderá triunfar nenhuma revolução e nenhum desenvolvimento da sociedade humana sem entender tal lei."

Para Marx a violência é a parteira de toda velha sociedade que leva em seu seio outra nova. Assim, ela acompanha a ação política de tantas referências da esquerda brasileira, começando, entre outros, pelos nossos patrícios Prestes, Marighela, Lamarca; e vai importando seus bandidos - Fidel Castro, Che Guevara, Tiro Fijo e por aí afora. Se há acusação que não se pode fazer a qualquer desses senhores é a de prezarem a democracia, seus valores e suas regras. Assim também se explicam 100 milhões de mortos com vistas ao tal "desenvolvimento social da humanidade". Fala-me de teus amores e te direi quem és.

Para pôr freio nesses desequilibrados e em seus desequilíbrios, a democracia se afirma, aos povos, no horizonte das possibilidades. “Mas não se faz democracia sem democratas”, disse alguém, com muita razão. A democracia é um sistema e uma filosofia. Uma boa democracia exige que ambos sejam bons e andem juntos. O sistema é definido pelas regras do jogo político, ou seja, pelo conjunto de normas que legitimam a representação popular, regem eleições, determinam atribuições aos poderes, e definem o modo segundo o qual as leis são elaboradas, aprovadas e aplicadas. A filosofia é marcada por um conjunto de princípios e valores elevados, honestamente buscados e socialmente ratificados.

Sem a filosofia, o sistema pode dar origem a toda sorte de abusos, entre eles a ditadura da maioria. Sem o sistema, a filosofia pode descambar para a anarquia, ou para a ditadura da minoria, posto que faltarão os instrumentos de legitimação conforme a vontade social. Defender insistentemente o constitucionalismo e promover os princípios e valores que inspiram o regime democrático é a melhor proteção contra as perversões que se expressam pela violência. Não chegamos lá, mas tudo pode piorar. A Venezuela existe e é logo ali. Cuidado, pois.

A OUTRA NUVEM- JANER CRISTALDO- Abril 17, 2012



Para quem já deu mais de sessenta voltas em torno ao Sol, os acontecimentos de infância e adolescência pertencem a um passado já distante, do qual as atuais gerações já nem têm idéia. Nasci na época da linotipia, tecnologia que há muito foi para os museus. Fiz curso de datilografia. Suponho que hoje muito jovem jamais tenha visto uma máquina de escrever. Sou da época pré-televisiva, em que as pessoas – no interior, pelo menos – saíam de suas casas para conversar e fazer o footing em torno à praça. Isto, hoje, é da alçada da História. O homem de mais idade sempre tem um pouco de historiador.

Com a passagem do tempo, observamos o tempo. Há as mudanças bruscas: o automóvel, a televisão, o computador. Esta última, a meu ver, foi a mais rápida e transformadora. Em meados de minha vida, isso de falar com alguém vendo seu rosto e movimentos em uma tela era tecnologia de Guerra nas Estrelas. Hoje faz parte da vida de cada um, como algo que sempre tivesse existido.

E há também as mudanças mais sutis, só ao alcance do observador mais atento. Se contemplo o mundo contemporâneo a partir de uma ótica de minha juventude, tenho de convir que, nas últimas décadas, não foi só a nuvem de poluição que aumentou sobre as cidades. Uma outra nuvem bem mais nefasta se instalou hoje sobre todas as urbes, a espessa nuvem da mediocridade e da conseqüente valorização do fútil.

Houve época em que admirávamos o homem de boas leituras, o cultor da boa música e da grande arte. Cada cidadezinha do interior sempre tinha um latinista, que podia ser o pároco, o juiz de direito ou algum advogado. Eram pessoas respeitadas, que gozavam de uma aura de sapiência. Hoje, nem os padres conhecem latim, a lingua franca da Igreja.

Na Dom Pedrito de meus dias de adolescente, então com 13 mil habitantes, tínhamos o Dr. Márcio Bazan. Cada um de seus artigos, publicados no Ponche Verde, o vibrante matutino local, como dizíamos ironicamente, tinha mais latim que português. Nós fingíamos que entendíamos e tínhamos pelo latinista um respeito sagrado.

Por osmose, arranhávamos um grego básico. As mulheres não tinham traseiro, mas lordo. Quando eram lindas, medíamos suas belezas em mili-helênios, isto é, a capacidade que tem uma mulher de fazer naufragar mil navios. E gostávamos de lascar uns quousques tandems de vez em quando. Ouvia-se rádio, mas a cultura era transmitida basicamente pelos livros. Não havia, naqueles dias, a indústria da literatura infanto-juvenil. No máximo, Monteiro Lobato. Não nos era estranho, lá pelos quinze anos, começar a ler os clássicos.

A época era da vitrola, mas se cultivava a boa música, tanto popular como erudita. Na época dos CDs e iPods, curte-se mais bate-estaca que outra coisa. A indústria do best-seller e do show business invadiu o mundo contemporâneo e hoje soa à heresia não gostar dos Beatles ou Rolling Stones. Multidões que nada ou quase nada entendem de inglês se aglomeram aos milhares, erguendo as mãos aos novos ídolos como os jovens alemães erguiam as suas para Hitler ou aplaudem o papa. Sou visto, por alguns de meus interlocutores, como elitista, por gostar de autores clássicos ou música erudita.

Pior ainda, a palavra elite passou a ter um conceito pejorativo. Se um dia elite significou o que é o mais desejável, hoje virou palavra sinônima de discriminação e preconceito. Ou você gosta do que a maioria gosta, ou está se pretendendo superior aos demais. Esta palavrinha também foi amaldiçoada. Se um dia falávamos em culturas superiores e culturas inferiores, hoje esta distinção virou crime. Como dizia Discépolo em Siglo XX Cambalache, nada es mejor, todo es igual.

Passei minha adolescência discutindo Platão e Aristóteles, Tomás de Aquino e Agostinho, Montaigne e Montesquieu. Não vivia em nenhuma metrópole, mas naquela cidadezinha de 13 mil habitantes. E se eu discutia, é porque tinha com quem discutir. Devorávamos os livros que nos chegavam às mãos e buscávamos em Rivera ou Montevidéu o que não havia em Dom Pedrito. Tive, na ocasião, um grave atrito com uma irmã do Colégio do Horto. Havia lido El Hombre Medíocre, de José Ingenieros, e me fascinei por um outro título, Hacia una Moral sin Dogmas. Encomendei-o de Montevidéu, pela irmã Helena. Mal ela voltou de viagem, fui voando ao Horto.

— Sim, eu trouxe o livro. Mas não posso te dar.
- Como disse, irmã?
- Não posso te dar. Esse livro é perverso, me queima nas mãos.

Sinal que o havia lido. Mais tarde irmã Helena largou o hábito, e creio ter dado uma modesta mãozinha à sua libertação. Aleguei que de nada adiantava sua recusa. Agora mesmo é que queria ler Ingenieros. A irmã cedeu a meus argumentos. O livro nada tinha de satânico. Mas para quem vive no claustro, tudo que o cerca cheira à perversão.

Não vejo mais esta busca desesperada por um livro, como se dele dependesse a vida. E a verdade é que depende. Há alguns anos, em Madri, recebi a visita de sobrinha muito querida, pessoa inteligente e capaz de grandes vôos. Mostrando a cidade para ela, levei-a à Plaza España, onde está aquela estátua clássica do Quijote e Sancho Panza. Aqueles dois, disse, não preciso te apresentar.

Precisava. Ela não tinha idéia de quem fossem. Isso não é culpa de uma pessoa inteligente. É culpa da escola, que subtraiu do ensino os clássicos universais e passou a fornecer medíocres autores nacionais. Fiquei pasmo. Não conseguia conceber como uma universitária, de seus vinte e tantos anos, jamais houvesse ouvido falar do Quixote. Em meus dias de ginásio, eu lia De Bello Gallico. No original. Não que eu julgue que todo jovem deve ter lido Cervantes. É leitura difícil e exige sofisticação. Mas a ninguém é permissível ignorar estes dois personagens.

Em compensação, ela acrescentou algo à minha erudição. Certa vez, veio de Santa Maria a São Paulo para assistir ao U2. O que é isso? – perguntei. Foi sua vez de ficar pasma. Posso ser obsoleto. Mas considero que se entende melhor o homem e o mundo lendo Cervantes ou Júlio César do que curtindo roqueiros.

Houve um livro que dividiu minha vida em dois, o Ecce Homo, do Nietzsche. Para um jovem sufocado pela propaganda de Roma, sorver Nietzsche era como beber água límpida, não poluída pelos construtores de mitos. Passei inclusive a estudar alemão, para degustar no original seus ditirambos. Mas a vida tem outros projetos para os que nela entram, e acabei aprendendo sueco. De qualquer forma, Nietzsche foi decisivo para minha libertação. É autor que deve ser lido quando se é jovem. Depois de maduros, de pouco ou nada adianta.

Quantos jovens, hoje, terão ouvido falar de Cervantes ou Nietzsche? Em compensação, demonstram extraordinária erudição quando discorrem sobre bandas de rock. Outros livros me ensinaram mais ainda sobre o homem, o mundo e sobre mim mesmo. Mas se hoje sou como sou, isto eu o devo ao pensador alemão. Em meus dias de magistério, me perguntava uma aluna:

— Professor, verdade que a leitura transforma?

Ou seja, já se perdera a idéia de que a leitura transforma. Uma doença ou uma viagem também transformam, mas a transformação mais vital sempre é dada pela leitura. Ninguém conhece o mundo sem ler. Mesmo quem viaja não o conhece bem, se não se fizer acompanhar de um bom autor. Minhas aluninhas gostavam de ler Clarice Lispector ou Graciliano Ramos. Não porque apreciassem seus livros. É que eram fininhos.

Em meus dias de guri, se encontrasse pessoa mais velha que me falasse de história, viagens, geografia ou literatura, eu calava a boca e era todo ouvidos. Hoje, velho e com conhecimento de mundo, raramente encontro jovens que queiram me ouvir. Meus interlocutores, salvo uma honrosa exceção, são quase todos de minha idade. A honrosa exceção está estudando alemão e quer ler Nietzsche no original. Um dia chega lá.

Estes dias de Internet são propícios à leitura. Qualquer um tem acesso aos clássicos mesmo em cidades onde não mais existem bibliotecas. Mas desconfio que a moçada, de modo geral, prefere baixar filmes ou música. Ou publicar abobrinhas no Facebook. Não digo que vá se discutir a enteléquia aristotélica nas redes sociais. Mas não precisavam publicar tanta bobagem.

Ainda há pouco, comentei reportagem de Veja sobre a leitura, na qual o repórter se congratulava com o fato de o brasileiro estar lendo mais. Mas está lendo o quê? Paulo Coelho ou padre Marcelo, Zíbia Gasparetto ou Lauro Trevisan, Thalita Rodrigues ou Gabriel Chalita. Melhor fossem os brasileiros analfabetos. Na época, leitores me contestaram, acusando-me de elitista por desprezar a leitura destes senhores. Ou seja, chegamos a um ponto em que denunciar a mediocridade é condenável.

Verdade que, neste blog, sempre pesco almas jovens que querem entender o mundo. Nem tudo está perdido. É minha paga, melhor que qualquer salário.

JANER CRISTALDO- quinta-feira, janeiro 29, 2009 HOLOCAUSTO DE JUDEUS E HOLOCAUSTOS OUTROS

Costumo afirmar que padre não briga com padre. Mas o Bento XVI andou usando de mão inábil. Revogou, no sábado passado, a excomunhão sob a qual estavam submetidos há mais de vinte anos os bispos da Fraternidade Sacerdotal San Pio X, ou bispos lefebvrianos. O documento ressalta que a remoção do caráter de excomungados é uma iniciativa de Bento XVI para "recompor a ruptura com a fraternidade", em direção a uma "completa reconciliação."

Bento só não contava com a reação dos judeus. Ontem ainda, segundo o Jerusalem Post, o Rabinato de Israel cortou todos os seus laços com a Santa Sé de forma indefinida em protesto pela decisão do papa. Pois revogava a excomunhão de um bispo que nega o Holocausto.

Em uma carta enviada à Santa Sé por seu diretor geral, Oded Weiner, o Rabinato comunica sua indignação pela reabilitação do bispo britânico Richard Williamson e suspende um encontro entre judeus e cristãos programado para o início de março. "Sem uma desculpa pública será difícil continuar com este diálogo", afirma Weiner. O encontro devia acontecer entre os dias 2 e 4 de março em Roma entre o Rabinato e a Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo, presidida pelo cardeal Walter Casper.

O que o Rabinato não entendeu é que o bispo Williamson não foi excomungado por suas opiniões sobre o Holocausto. Coube a João Paulo II excluí-lo da comunhão dos fiéis, pelo fato de a Fraternidade Sacerdotal San Pio X, grupo fundado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, se opor ao reformismo das medidas aprovadas após o Concílio Vaticano II, como a autorização da celebração das missas em diferentes idiomas, e não só o latim.

Sem ter mandato para tanto, Lefebvre ordenou quatro bispos, entre eles Richard Williamson, que foram formalmente submetidos à excomunhão latae setentiae pela Congregação para os Bispos, no dia 1° de julho de 1988. Ou seja, nada a ver com a negação do Holocausto.

Negar o Holocausto já traz em si sua punição, é atestado de indigência mental. O que se pode discutir é o número de judeus mortos geralmente admitidos, seis milhões de cadáveres. Ora, ninguém consegue contar seis milhões de cadáveres, particularmente se foram incinerados. Pessoalmente, não tenho como dogma essa cifra.

Em suma, Sua Santidade meteu-se em um imbróglio bem mais complicado com Israel que o provocado por Tarso Genro com a Itália. Negar o holocausto praticado pelos nazistas é insanidade.

Neste sentido, os judeus são bem mais honestos. Jamais negaram os holocaustos que cometeram para a construção de Israel. Estão todos atestados na Bíblia e nenhum rabino os colocaria em dúvida.
“Para você ter uma ideia de quanto o meu marido é velho; ele foi alfabetizado escrevendo em papiro.” (Eulália)

“Já passei de tudo nesta vida. Inclusive roupas.” (Eulália)

“Meu velho marido não é um iludido. Ele sabe que o meu amor é pelo seu cartão de crédito.” (Eulália)

EULÁLIA

“Já tive muitas esperanças. Hoje sou uma quase viúva que envelhece ao lado de um Matusálem.” (Eulália)

DISTRAÍDO

Belo domingo de sol, os amigos Paulo e Anselmo foram passear de balão. Paulo sempre ligado e Anselmo mui distraído. Quando o instrutor mandou aliviar o peso Anselmo prontamente se jogou do balão. Paulo sofreu um infarto e o instrutor um AVC. Anselmo caiu sobre um monte de feno, saiu ileso  e foi ao enterro dos dois. De paletó e gravata, só de cueca e sapato de bico fino.

E AÍ ACONTECE

O pai está em fuga
A mãe dança animada no bailão
O bebê chora solitário na cama
Um cão ladrão pela madrugada
Enquanto a responsabilidade se ausenta.

TIRANIA

Estado de direito torto morto
Melhor dormir no relento
No gramado ou mato adentro
Não ficar em casa esperando pela visita desgraçada
Dos mandados do tirano
Que te trazem algemas de presente pela madrugada.

MEU VIZINHO JOÃO

Bela figura o João
Meu vizinho preferido
Que vem buscar migalhas todos os dias
Garboso e gentil
Faz sua cantoria
Alegrando nossa pequena rua
O pequeno João de Barro.

CHEGA DE CONVERSA MOLE

Politiqueiros safados
Poupem meus ouvidos de tantas mentiras
Da lida que praticam já os conheço bem
E sei por quem e porque ladram diante dos microfones
Tudo pelo poder e para o poder
E do legítimo interesse dos familiares
Que se locupletam pouco importando a dor alheia.

A GRANDE MANADA

O caldeirão de imbecis está transbordando
O real agora é o fantasioso
O certo como errado é visto
O manipulador é o grande herói
Pois as mentes estão estagnadas
No dai-me o pão e o circo
E a boa rede para descansar
Depois no momento das urnas
Ganhará o torpe pagamento em votos
Da grande manada que muge.

AO SABOR

Subo ao céu
Desço à terra
Não sou piloto
Tampouco um avião
Sou apenas um papelucho ao vento.

A PRESSA

A pressa é inimiga da perfeição
O apressado come cru
Ou não come.

CHORAR NÃO ADIANTA

O Brasil está assim que tá
E não adianta chamar a mãe
O melhor que se faz é abandonar certas bandeiras
E olhar com mais atenção para o passado dos homens que ganharão sua confiança em 2018.

VAMOS LIMPAR O BRASIL?

Em 2018 não reeleja ninguém. Também não vote em ninguém da família de político que já teve mandato. Vamos tentar limpar o Brasil. Também não vote na esquerda, é atraso, é querer a tutela do estado.

QUALIDADE, OH!

“Com a qualidade dos Três Poderes que temos o país vai para algum lugar que não sabemos. Só sabemos que será um lugar ruim!” (Eriatlov)

O MAU POLÍTICO

“O mau político não cai do céu. Começa pequenino lá atrás, quase sempre seu início é na vereança.” (Eriatlov) 

SÓ INJEÇÃO NA TESTA

“Toda família deve ter oportunidade de ter a sua moradia e pagar por ela. O pagamento abrirá oportunidade para que outra família também possa. Gratuidade é injustiça com os outros necessitados. De graça só injeção na testa.” (Eriatlov)


VOTOS

“A candidata Cleidenara, vereadora mais votada em Chapecó foi empossada, porém afastada por problemas com a Federal quando Secretária da Saúde. Penso que não tinha todo esse cacife para tantos votos. Voto consciente ou voto favorzinho?” (Eriatlov)   

*Claidenara Weirich (PSD) recebeu 6.371 votos na eleição de outubro de 2016, a maior votação da história de Chapecó. Ela é investigada na Operação Manobra de Osler da Polícia Federal.
“O país precisa ser limpo de cabo a rabo. Não reeleja ninguém.” (Eriatlov)


“Está na hora do eleitor brasileiro parar de votar com o bolso.” (Eriatlov)