terça-feira, 30 de junho de 2020

MENINO OBEDIENTE


Renatinho é um menino obediente. A mãe o mandou comprar marshmallow. Não encontrou no supermercado perto de sua casa e seguiu em frente, sempre procurando. Isso faz quinze dias. Foi visto ontem em Miami com um pacotinho na mão. Contam que está retornando ao Brasil a nado.

SEM SOMBRA

SEM SOMBRA


Ele tinha certa dificuldade em fazer amigos. Para dizer a verdade, não tinha nenhuma facilidade em se aproximar de alguém. Para uns era um grande chato, para outros, apenas um jovem profundamente melancólico. Algo que Joel não sabia era sorrir, sempre taciturno, vivia para si. Naquela cidade não havia por certo pessoa mais solitária e triste, sua única amiga era uma televisão de 20 polegadas, que dele não podia fugir. Do trabalho no banco para casa e nada mais. Não tinha empregada, nem bichos para cuidar. Pensou num cachorro, mas logo desistiu, não queria ter o trabalho de limpar sua sujeira. Teve sua tragédia pessoal quando sua noiva o trocou por outra. Não reagiu, não lutou nem um pouquinho para sair da tristeza, apenas entrou no baú dos solitários. E foi assim que um dia sua própria sombra resolveu deixá-lo, abandonando um corpo quase já sem vida. E quando o sol mostrava seu brilho e calor; Joel caminhava pelas ruas sem ter sequer a própria sombra por companhia.

DO BAÚ DE JANER CRISTALDO- DEZEMBRO 2005- NATAL DESTRÓI PRAÇAS

NATAL DESTRÓI PRAÇAS



Há anos não consigo ver as praças européias em todo seu esplendor. É que gosto de frio e viajo geralmente em fim de ano. Quando aqueles espaços belíssimos como a Plaza Mayor, de Madri, a Piazza Navona de Roma, a Grand Place, de Bruxelas, são tomadas por uma camelotagem mais sofisticada, as malditas feiras de Natal. Os quiosques tomam todo o espaço livre e as praças desaparecem.

Em Barcelona, costumo hospedar-me no Bairro Gótico. Aos sábados, eu tinha um compromisso inadiável: ir até a praça da Catedral e entrar numa roda de sardana. Sempre me fascinou aquela manifestação espontânea de dança, em que gentes do mundo todo, que jamais se viram, se dão as mãos e dançam como se fossem amigos desde séculos.

Num destes sábados passados, corri até a praça. Que praça? Não existia mais praça, apenas uma espécie de mercado árabe, onde os quiosques vendiam presépios, santinhos e outras quinquilharias natalinas. (Curiosidade catalã: nos presépios há uma figura exótica, el caganer. É um menino que discretamente se agacha num canto do presépio, para fazer suas necessidades).

Todos os natais, os católicos investem contra a fúria consumista dos cidadãos. Mas quando querem vender seus peixes, não se preocupam em destruir os mais belos espaços europeus. Como o caganer, sujam todas as praças.
HAIKAI
Amar alguém é um contrato
Sem armadilhas
Sem letras miúdas.

"A esquerda como não consegue convencer com argumentos, mente e agride. " (Mirandopoulos)