segunda-feira, 20 de agosto de 2018

JÁ CONHECES O GAB?

Hoje tomei conhecimento  do GAB, nova rede social sem a infâmia do politicamento correto. Para todos que estão cansados da perseguição do Twitter e Facebook, aos que não rezam pela cartilha da esquerda.
 https://gab.ai/home

A EXASPERADORA RIBALTA DOS DEBATES por Percival Puggina. Artigo publicado em 20.08.2018

Os debates entre candidatos a cargos majoritários mostram alguns aspirantes que não conseguem ocultar seu despreparo para as demandas das funções que buscam. Nenhuma empresa de médio porte bem conduzida convidaria para assumir cargo de responsabilidade num segundo ou terceiro escalão. No entanto, aspiram ao poder político e se sentem motivados para conduzir a nação em período de grandes dificuldades. Outros há, bem preparados, sem a mínima competência política.
Não é muito diferente o quadro, aliás, onde quer que o poder dependa das ruas e das urnas. A política, de um modo quase geral, é ponto de encontro de pessoas que gostam do que fazem e fazem empiricamente. Obtêm sua formação da simples experiência, aplicando o intelecto aos fatos que observam, às notícias que leem e às informações que acumulam.
 Se os parlamentos refletem a sociedade cuja pluralidade representam, a maior qualidade daqueles vai depender dos avanços que sejam obtidos no desenvolvimento cultural desta. A União Federal, 21 dos 26 estados brasileiros e a imensa maioria de seus municípios se arrastam numa sufocante crise fiscal, levando junto o setor privado. E só estamos nessa porque as galerias clamam, os parlamentos legislam e governos governam despesas que, sistematicamente, ano após ano, crescem acima da receita. Reflexo de um modelo errado sendo conduzido por mãos impróprias.
 Em outras palavras: faz-se imperioso reconhecer que a alfaiataria institucional brasileira é de péssimo corte e ainda piores costuras. Os temas nela envolvidos estão na raiz de muitos de nossos males e penares.
1) O péssimo corte, inábil e inadequado, criou um sistema de governo que, em vez de dar força às ideias mais aplicáveis a cada momento histórico, escolhe governantes segundo critérios que não costumam guardar relação com as virtudes necessárias ao exercício do poder. E assim, não raro, privilegia os mais demagogos, os mais mentirosos, os mais astuciosos. Num sistema diverso, próprio das democracias mais estáveis, que separe as funções de chefia de Estado das funções de chefia de governo, confiando-as a pessoas diferentes, essa dificuldade é superada. O chefe de estado, o presidente da República, é eleito diretamente pelo povo e representa a nação. O cara da gestão, escolhido pelo parlamento, é o líder do plano de governo que sai vitorioso das urnas porque, em torno dele, se aglutinou a maioria parlamentar.
2) A péssima costura favorece o recrutamento de lideranças políticas de insuficiente preparo, centradas na preservação do poder (o que é normal) a qualquer preço para a sociedade (o que não é normal). E é, precisamente, na costura, feita por mãos inábeis e desonestas, para preservar o poder a qualquer preço, que a corrupção se instala, o Estado incha, a despesa explode e a sociedade, não preciso dizer, você sabe o que acontece com ela.
Enquanto, com angústia, deposito estas ponderações no papel a menos de dois meses das eleições nacionais, só me resta o apelo: Capricha nesse voto, cidadão!

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

SEM SOMBRA


Ele tinha certa dificuldade em fazer amigos. Para dizer a verdade não tinha nenhuma facilidade em se aproximar de alguém. Para uns era um grande chato, para outros apenas um jovem profundamente melancólico. Algo que Joel não sabia era sorrir, sempre taciturno, vivia para si. Naquela cidade não havia por certo pessoa mais solitária e triste;  sua única amiga era uma televisão de 20 polegadas que dele não podia fugir. Do trabalho no banco para casa e nada mais. Não tinha empregada em casa nem bichos para cuidar. Pensou num cachorro, mas logo desistiu, não queria ter o trabalho de limpar sua sujeira. Teve sua tragédia pessoal quando sua noiva o trocou por outra. Não reagiu, não lutou nem um pouquinho para sair da tristeza, apenas entrou no baú dos solitários. E foi assim que um dia sua própria sombra resolveu deixá-lo, abandonando um corpo quase já sem vida. E quando o sol mostrava seu brilho e calor Joel caminhava pelas ruas sem ter sequer a própria sombra por companhia.


“Vida fácil levam os políticos As ditas garotas de vida fácil levam é ferro. ” (Pócrates)


“Creio que ter um honesto patrimônio de alguns milhões de dólares não faça mal para ninguém. ” (Climério)


OVNI


Não fazia muito que Romualdo e Natália conversavam na varanda. Observavam o céu estrelado, a bela lua que dominava o firmamento quando notaram um objeto luminoso e colorido que se aproximava da casa. Uma tremedeira tomou conta deles. Pensamentos horripilantes vieram à mente do casal, tirados dos filmes do gênero em que seres humanos são abduzidos e tratados como cobaias. O objeto voador prateado e cheio de luzes pousou no terreno em frente e uma portinhola se abriu. Uma pequena mão espalmada se mostrou e uma voz feminina foi ouvida: Por favor! Vocês podem me emprestar alguns absorventes?



O RETORNO DOS ESPELHOS


 Anilda, 26 anos, morena, não que fosse feia, mas se achava. Sempre se punha defeitos. Por este motivo certo dia mandou retirar todos os espelhos da casa e pôs óculos escuros no marido. Só saía à rua disfarçada de homem, até bigodes usava. Não tinha amigas, vivia reclusa por não ter autoestima. Na sua cabecinha era a mulher mais feia do planeta. Passava os dias numa tristeza só. Nem fazer compras lhe dava ânimo, coisa difícil de ser ver numa mulher. Porém um fato ocasionou uma mudança radical na sua maneira de agir. Anilda tomava banho numa tarde de maio quando o telhado do banheiro desabou, e junto dele veio Amauri, o filho do vizinho de 15 anos. Com ela pelada na sua frente, ainda assustado, ele confessou ser seu admirador, e que diariamente a espionava no banho fazendo certos maroteamentos. Anilda ficou tão lisonjeada que nem mesmo brigou com o menino, deu-lhe sim uma beijoca e o mandou para casa. Sentiu-se uma gata, o sol voltou a brilhar no seu mundo. No mesmo dia mandou comprar espelhos novos.


RELEMBRANDO JANER CRISTALDO- quarta-feira, outubro 22, 2003 MUITA ÁGUA SOB A QUILHA

Kafka tem um belo apólogo. Fala de um homem que busca a Lei. Diante da Lei está um porteiro. Um homem do campo acerca-se dele e pede-lhe que o deixe entrar na Lei. Mas o porteiro diz-lhe que agora não pode deixá-lo entrar. O homem reflete e pergunta se poderá, então, entrar mais tarde. «É possível», diz o porteiro, «mas agora não». Como o portão da Lei se encontra, como sempre, aberto, e o porteiro se afasta para o lado, o homem inclina-se e olha para dentro através do portão. Assim que o porteiro repara nisso, ri-se e diz-lhe: «Se te atrai assim tanto, experimenta então entrar, apesar da minha proibição. Mas repara: eu sou forte. E sou apenas o porteiro mais ínfimo. De sala para sala há, porém, outros porteiros, cada um deles mais forte do que o outro. Até eu próprio já não consigo suportar o aspecto do terceiro porteiro». 

Resumindo: o camponês espera a vida toda. O porteiro reconhece que ele já está próximo do seu fim. Para alcançar o seu ouvido moribundo, berra-lhe: "Aqui mais ninguém poderia ser admitido, pois esta entrada era apenas destinada a ti. Agora vou-me embora e fecho-a." 

Este apólogo marcou-me fundo e sempre tive medo de estar diante de minha porta, de minha única porta, e de não ter a coragem de forçá-la. Camponês e filho de camponeses, terá sido este medo que me impeliu deste cedo a viajar. Via uma porta aberta? Entrava logo, bem que podia ser a minha. Assim, sem ser rico, tive a ventura de conhecer o melhor do Ocidente e viver em suas cidades mais esplendorosas. Quem faz esta opção acaba perdendo empregos, cargos, carreira e patrimônio. Paciência. Ganhei o mundo e sua memória. 

Ano passado, recebi mail de uma amiga, viajada e cosmopolita, que há horas mora nos Estados Unidos. Para minha surpresa, confessou-me não conhecer Paris nem Roma. Em um primeiro momento, manifestei minha perplexidade. Paris e Roma, hoje, já não são distantes. Já no segundo momento, pensando melhor no assunto, uma pontinha de inveja começou a corroer-me por dentro. Lembrei-me de quando não conhecia a Europa e da excitação com que vi o continente cada vez mais perto de meus pés. Explico. Minha primeira viagem foi de navio. Ao final de dez dias de navegação, no horizonte foi-se delineando a silhueta do litoral português. Mais algumas horas e já se via a ponte sobre o Tejo. A ponte foi-se se tornando cada vez mais nítida e mais próxima e eu, Colombo às avessas, mesmo vendo a velha e boa terra, não conseguia acreditar que dentro de mais outras horas estaria pisando solo europeu. Devo confessar que só acreditei mesmo depois de fincar os pés no porto. Esta sensação, só temos uma vez na vida. Colombo que o diga. 

Outras há que também não se repetem. Entrar lentamente de trem em Paris, vendo cruzar na janela aqueles telhados e chaminés que sempre repousaram nalgum escaninho de nossa memória. Ouvir o chiado dos próprios pés numa viela noturna e silente em Veneza. Quebrar pela primeira vez a crosta de um mar congelado rumo ao Norte. Perfurar pela primeira vez um deserto branco, pleno de neve e silêncio, para cair finalmente, também pela primeira vez, numa densa noite ao meio-dia. Penetrar em um fiorde em uma meia-noite clara como dia. Atravessar as pontes sobre o Neva nas noites brancas de São Petersburgo. Ouvir o silêncio da noite gelada, no pico de uma montanha enluarada no Sahara. É um silêncio estridente, que fere os ouvidos acostumados aos ruídos urbanos, só entrecortado pelas escassas palavras dos tuaregues contando lendas ao redor de uma fogueira. Se os deuses houveram por bem conceder-me a ventura dessas paragens, hoje tudo isto adquiriu um ar de déjà vu. Certo dia, atravessando o Pont Saint Michel, minha mulher me alertou: notaste que aquilo ali à direita é a Notre Dame? Eu sequer a havia visto. Residira quatro anos em Paris e já não mais a via. Se hoje deploro a condição de quem ainda não passou por estes momentos mágicos, ao mesmo tempo a invejo. Este deslumbramento, eu o perdi para sempre. 

Ante as urbes prodigiosas, os viajores do século XIX sofriam uma reação física semelhante a dos peregrinos perplexos ao nelas entrarem. Os visitantes caíam de joelhos em Florença, Roma e Atenas. No caso dos peregrinos, recorria-se à histeria e à doença de San Vito para explicar as convulsões. O mesmo não se diria de hordas mais sensíveis. Em 1817, quando ia entrar na igreja de Santa Croce, em Florença, Stendhal foi tomado por uma espécie de pasmo, teve o pulso acelerado e lhe tremeram as pernas... isso só de antever o que veria lá dentro. A esta experiência, que o escritor francês narra em sua correspondência, convencionou-se chamar de síndrome de Stendhal, a perturbadora agitação do viajante ante a contemplação da beleza. 

Esta crise acometeu-me em Cuenca, quando a beleza das cidades da Espanha já começava a saturar-me. Subindo a encosta do penhasco, ao olhar para o alto vi os prédios inclinados que pendiam sobre minha cabeça. Aos poucos, fui perdendo o sentido da verticalidade. Para não cair, olhava só para baixo. Ao chegar, de pernas bambas, à frágil ponte que varava o abismo, não consegui mais manter-me em pé. Sentei no chão e enrolei-me em posição fetal. Crianças saltitavam sobre o vazio, sem medo algum ou espanto. Haviam nascido ali. Para minha satisfação, vi outros estrangeiros apoiando-se nas paredes de rocha para não cair. Isto também só se vive uma vez. Dia seguinte, após tomar um bom vinho na sacada de uma das casas colgadas, enveredei pela ponte e saltitei como as crianças. Vencera Cuenca. 

A moça que não conhece Paris não deixa de ser pessoa afortunada: tem ainda síndromes pela frente. A ela, repasso esta saudação de marujos: muita água sob a quilha. Que vasto é o mundo e breve nossa passagem. Santé, Milla! 

FILOSOFENO


“Os defeitos são mais notados do que as virtudes. O lado ruim sempre leva vantagem. ” (Filosofeno)


FILOSOFENO


“O amanhã ninguém conhece. Videntes não passam de falsários”. (Filosofeno)