“No Brasil é assim: quando esperamos por uma
revoada de andorinhas o STF nos joga em cima um monte de urubus.” (Climério)
sábado, 24 de março de 2018
TRANQUILINHO
Marcos é um sujeito muito tranquilo. É daqueles que em meio a uma tempestade acende um cigarro encostado num muro bambo. Ao chegar em sua casa e se deparar com a mulher com outro homem na cama, não gritou, não prometeu matar; apenas vestiu o pijama, pediu licença e foi se deitar no meio deles. Dois minutos depois já estava roncando. O amante da mulher perdeu o tesão e foi embora
DONA IOLANDA
Dona Iolanda sempre foi uma mulher reservada, mulher difícil. Demorou em aceitar o sexo. Quando aos setenta anos teve o primeiro orgasmo morreu de alegria.
MENINO OBEDIENTE
Renatinho é um menino obediente. A mãe o mandou
comprar marshmallow. Não encontrou no
supermercado perto de sua casa e seguiu em frente, sempre procurando. Isso faz quinze dias. Foi visto ontem em Miami
com um pacotinho na mão. Contam que está retornando ao Brasil a nado.
SUJEITO FRIO
Lá dentro de sua casa hermética e quase sempre
apertada é um sujeito frio e seco como todos os seus familiares. Para ir pra
rua precisa tomar banho. Quando sai de
casa muda de personalidade e se torna um feliz derretido. Seu nome: gelo.
SEMILDA BEATA
Semilda, sempre vestida de preto, um urubu de
saias. O sangue irriga seu cérebro não sei por que, pois vive prostrada
maltratando os joelhos. Do alto espera
castigo e prêmios, o resultado não aparece, mas junta as mãos muito mais que
toma banho. É uma juíza, julga todos, porém se perguntada sobre algo coerente e
real é uma toupeira que não sabe nem quando é dia ou noite. Uma beata, inerte
no pensar como uma batata dentro de um saco na carroceria de um caminhão.
SEU NICÁSIO
Ainda caminhava para lá e para cá, conhecia todos
na vila, apesar da idade avançada. Ninguém na verdade sabia sua verdadeira
idade, o que todos tinham certeza é de
que seu Nicásio era muito, mas muito velho, pois tinha até um retrato ao lado
de D. Pedro II. Pois Seu Nicásio morreu na tarde de ontem e nem foi preciso
realizar a cremação: quando deixou este mundo já era pó.
DONA MEIGA
Filha de Bastião Louco e Eldorina, Dona Meiga
nasceu e viveu por mais setenta anos em Barra do Sarapião. Teve uma infância
normal entre algumas dezenas de cadáveres de amigos do pai. Adulta, um doce era
Dona Meiga. Vivia da lavoura e nas horas
de folga matava alguns conterrâneos em troco de uns cobres. Não judiava é
verdade, somente matava a tiros como manda o bom figurino. Mas era na matança
muito delicada e deveras tão gentil que alguns até agradeciam por estar
entrando pra bala.
PODRES
O
tempo passa
E os
homens podres
Com
o passar do tempo
Apesar
da pesada maquiagem
Ficam
cada vez mais podres.
SUSPEITO
O
jornal diz
Que
o suspeito matou a vítima com seis tiros
Diante
de vinte e cinco testemunhas
Gravação
em vídeo
Pego
ainda com a arma na mão
Mas
o jornal repete que o elemento é apenas suspeito
Diante
de tanto absurdo
Digo
que suspeito mesmo é o jornal.
DO POUCO QUE SEI
Do
pouco que sei
Sei
pouco
Então
me calo mesmo diante de um simples
Pois
mesmo ele tem muito para ensinar.
GLÓRIA VÃ
Nino, 12 anos, era um menino mirado, com os ossos gritando para fora da pele. Sua tez amarelada denunciava um corpo doente. Naquela tarde de muito sol Nino, que morava no interior do interior saiu com outros meninos para pescar no riacho das pedras. Meteu a minhoca no anzol e apontou o caniço pra corredeira. Nem bem a minhoca havia se molhado um jundiá puxou com gosto e Nino, firme como prego em polenta foi para dentro do rio agarrado no seu caniço. Afundou, voltou e bateu-se em pedras. Os companheiros ficaram apavorados sem saber o que fazer. Todos sabiam nadar; o certo é que nenhum deles tinha força suficiente para salvar um corpo que estava em apuros. A boa sorte foi que o mirrado alguns metros abaixo conseguiu subir numa pedra sem largar a vara e também o jundiá. Ergueu os braços mostrando o troféu. Teve mais sorte que juízo. Foi festejado pelos colegas e voltou para casa com um peixe de quilo para presentear sua mãe. Tentou e não conseguiu esconder os hematomas. O jundiá foi pra frigideira e Nino para o castigo. E ficou sem comer o peixe.
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