sexta-feira, 27 de outubro de 2017


“Antes do PT tínhamos a corrupção ocasional individual. Eles conseguiram implantar a roubalheira sistemática coletiva partidária.” (Eriatlov)
“O povo ainda acredita em governo Papai Noel. A verdade é que quanto maior for o saco dele menor será o nosso.”(Eriatlov)


“Não, Nicolás Maduro não é um cavalo, pois cavalo a gente respeita.” (Eriatlov)


ALEXANDRE GARCIA-A maldade e a ignorância

O fogo consome milhares de hectares do parque nacional que é patrimônio natural da humanidade, a Chapada dos Veadeiros, cerca de 200 quilômetros ao norte de Brasília. O mais chocante é o assassinato de milhares de animais das espécies que habitam o cerrado. Onças, lobos-guarás, veados, tatus, cobras, lagartos e aves, como a ema, pássaros - 50 variedades raras da fauna ou com risco de extinção - e, o que é pior, sem chance para os filhotes. Vi fotos de animais mortos pelo fogo, de pássaros a cavalos - uma tragédia.

O coordenador do IBAMA para combate a incêndio confirma o que eu sempre disse: a origem do incêndio tem nome: é o homem. A mão criminosa de alguém que começou o fogo na estação seca e quente. Pode não ter feito por maldade, com a intenção de destruir e matar. Mas fez. Fez por ignorância, mas matou e destruiu. Por isso digo que a ignorância é o maior dos males, porque ela é a maior causadora de destruição e morte. Mais que a destruição e morte praticadas por maldade.

Vejam no trânsito: os que trafegam com aquele farol auxiliar aceso. São as luzes que ficam abaixo dos faróis e só têm um facho, de luz alta e ofuscante, que serve para identificar veículo perdido na neblina. Ofuscam até quem estiver na janela do sexto andar. Ofuscam quem vem atrás, porque acendem mais luz brilhante pela traseira. E trafegam com isso nas estradas sem nevoeiro e nas cidades, ofuscando todos os demais. E há os que trafegam de luzes apagadas, porque estão enxergando a via e deixam de sinalizar seu veículo para os outros; se tornam fantasmas. Fazem isso por maldade, com a intenção de ofuscar os outros e causar acidentes? Não. Fazem por ignorância.

Vejam na política: reclamam dos poderes que a Constituição deu à Justiça, aos deputados e senadores, ao presidente da República. Mas não se importaram com isso ao eleger seus constituintes. Importaram-se mais com o futebol. Reclamam dos corruptos na Câmara e no Senado, mas todos que lá estão para lá foram mandados pelo voto de cada um. Foi por maldade, que escolhemos constituintes que fizeram uma constituição que beneficia o criminoso, o bandido menor-de-idade? Foi por maldade que mandamos corruptos para a Câmara e o Senado? Não. Foi por ignorância.

Há poucos dias um aluno de 14 anos ateou fogo numa escola estadual no Acre, porque o professor lhe chamara a atenção por chegar atrasado. Reagiu porque estão retirando da escola a disciplina e a autoridade do professor. Um episódio simbólico: a escola, que seria o antíodoto para a ignorância, é queimada pelo atraso. A ignorância quer permanecer, porque o conhecimento liberta. A ignorância escraviza e consegue produzir mais mal, com o “foi-sem-querer, eu-não-sabia”, que o mal em si, proposital.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- sexta-feira, novembro 28, 2008 OS ÔNIBUS DE LONDRES E O MELHOR MÉTODO

“Provavelmente deus não existe. Assim, deixa de preocupar-te e trata de gozar tua vida”. Este slogan estará estampado nos ônibus de Londres em meados de janeiro próximo. Trata-se da primeira campanha ateísta no Reino Unido financiada com doações de contribuintes anônimos. Previa-se coletar 6.500 euros e, em apenas dois dias, foram arrecadados dez vezes mais. A iniciativa não é isolada. Na Espanha, aumentam os pedidos de apostasia. Parece ter chegado a hora dos não-crentes. É o que leio em El País. Estará o ateísmo tomando consciência mais ativa na sociedade? – pergunta-se o jornal.

Não sou assim tão otimista. Para começar, a primeira proposição a ser estampada nos ônibus de Londres me parece tímida. Não é que provavelmente deus não exista. O fato é mais singelo: deus não existe. Qualquer pessoa que se dedique ao estudo de história das religiões, concluirá que o tal de deus é criação humana. Primeiro, para tentar entender o mundo. Quando caía um raio, aquele nosso ancestral de clava em punho julgava que aquele estrondo e aquele brilho eram emanações de alguma potestade. Foram necessários alguns milênios para que o Homo sapiens descobrisse que aquele fenômeno não provinha de potestade alguma.

Em segundo lugar, a sociedade humana necessitava de algumas regras para bem viver. Voltasse Moisés com duas tabuinhas do Sinai e disse aos hebreus: “olha, gente, eu escrevi umas regrinhas para que possamos viver em paz”, é claro que todos ririam dele. Já a coisa toma outro cariz quando Moisés anuncia: o Todo-Poderoso me confiou estas tábuas, que agora serão nossa lei. Todos os grandes malandros da História souberam usar este recurso. Sócrates, por exemplo, nunca falava em nome próprio. Sabia que convenceria muito mais dizendo; “o meu daimon me disse que...”

O biólogo Richard Dawkins, que já é conhecido como o rottweiler de Darwin, por sua férrea defesa da teoria evolucionista, afirma que a situação dos ateus hoje em dia na América é comparável a dos homossexuais há 50 anos. Pode ser, mas lá nos States, certamente um dos países mais fanáticos – do ponto de vista religioso – do mundo contemporâneo. Não me parece que o mesmo ocorra na Europa ou mesmo na América Latina. Verdade que cá entre nós, candidato algum a cargos políticos ousa definir-se como ateu. Mas são vigaristas que mentem à vontade para ter acesso a mordomias. Como mentiu um dia Fernando Henrique, como mentiu Lula e como mentiu, mais recentemente, a terrorista santa Dilma Roussef. Já entre pessoas sem maiores ambições de subir a cargos públicos, não é preciso mentir. Nunca me senti discriminado por ser ateu. Posso provocar eventuais perplexidades, mas nada além disso.

Ateu, não simpatizo com militantes do ateísmo. Quando ateus querem criar um clube, estão doidinhos para acreditar num deus qualquer, desde que seja distinto do deus oficial. Ateu sendo, vivo bem com esta minha condição e jamais convidei alguém a participar dela. Ateísmo exige coragem, virtude que nem todos têm. O que prevalece é o medo do Além. As religiões nunca morrerão. A humana covardia as garante.

Tenho muitos leitores crentes e é bom que os tenha. Me sentiria um fanático se escrevesse só para ateus. Espanta-me que, entre estes leitores crentes, há muitos acadêmicos. Ora, não consigo conceber um universitário acreditando em deidades. Em algum momento, houve um erro. O ensino da ciência e dos métodos científicos não foi bem ministrado. É por esta, e por outras razões, que descreio totalmente do ensino das ditas ciências humanas. Formam tanto comunistas como papistas. O que dá no mesmo.

Entre estes leitores crentes, não poucos acham que minhas leituras da Bíblia ou preocupações com questões de fé denunciam um apóstata que quer voltar a crer. Nada disso. Leio a Bíblia porque adoro as ficções teológicas. Mais do que as literárias. As literárias tratam, de modo geral, de bobas angústias de seus autores. Não são normativas. As ficções teológicas, estas sim o são. Impõem dogmas, comportamentos, ética e mesmo legislação. Se um escritor contemporâneo diz que gosta de deitar com homens, tudo bem. Mas quando lemos no Levítico: “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”, aí a coisa toma aspectos mais solenes. Vira lei.

E é por isso que gosto de ler a Bíblia. Escritorinhos manifestam suas pequenas angústias. O Livro manda e não pede. É ficção com força de lei. Alguns leitores – curiosamente os crentes, et pour cause – acham que é perda de tempo discutir a Bíblia. Não acho. Perda de tempo é discutir futebol, fórmula 1 e outras que tais. Não leva a nada. No boteco que freqüento aos fins de semana, há uma mesa que só discute isso. Sento-me há uns dez metros de distância. Ouvir estupidez me faz mal.

A Bíblia é o livro que formata todo o pensamento ocidental e quem não a conhecer não conhece o Ocidente. Além do mais, é preciso terminar com essa bobagem de que é um livro de amor. Pelo contrário, há ódio, massacre e genocídio em praticamente todas suas páginas. Quando fala em amor, o amor é compulsório: ou me amas ou vais para as profundas do inferno. Nem o Alcorão é tão sanguinário como a Bíblia. Há uns dois meses recebi de um amigo minha nona tradução do Livro, a da Gallimard, a meu ver uma das mais fiéis aos textos antigos. Que aliás, nem mais existem. A Bíblia tem sido traduzida a partir de cópias de cópias de cópias, conforme os interesses de cada igreja. Gosto de cotejar traduções, só para ver como cada fanático puxa brasa para seu assado.

Tenho prazer imenso quando encontro pessoas com as quais posso discutir a Bíblia, a história, óperas, línguas, gastronomia e viagens. Felizmente, tenho esses interlocutores aqui em São Paulo e meus fins de semana são sempre ricos de bons papos. Tenho a ventura de ter uma filha intelectualmente ambiciosa, e viajamos longe quando proseamos. Ela ainda não chegou às questões bíblicas - nem às ostras e polvos - mas um dia vai chegar. Cultura e refinamento do palato são coisas que andam juntas e dependem de idade.

Nós, ateus, adoramos ler a Bíblia, para xingar os crentes com autoridade. Além disso, lá estão os mitos todos que dominam a cultura ocidental. Como disse, impossível entender o Ocidente e sua cultura sem conhecer a Bíblia. Sem falar que tem dois livros de uma poesia extraordinária, o Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos, que até hoje não sei como foram integrados ao cânone. São livros transgressores e se opõe frontalmente ao espírito do Livro.

Quem crê, não precisa ler, basta crer. Quem descrê, tem de ler, para justificar sua descrença. É por isso que um ateu sempre conhecerá melhor a Bíblia do que um crente. Quando alguém tiver dúvidas a respeito do Livro, sugiro consultar este ateu empedernido. Conheço a Bíblia mais do que bispos. É livro extremamente complexo, porque em virtude dos embates entre as várias tendências da Igreja, virou um cajón de sastre, como dizem os espanhóis. Baú de alfaiate, com retalhos de todas as cores. Estou lendo atualmente sobre como foi constituído o baú.

Aliás, vou adiante: conheço a Bíblia mais do que o papa. Esse papa tem dito besteiras a respeito da Bíblia que não são aceitáveis nem em párocos de aldeia. Em janeiro passado, por exemplo, ele andou deitando homilia sobre os reis magos. Que reis magos? Não existem reis magos na Bíblia. Como é que o Bento diz uma besteira dessas? Acho que vou oferecer meus serviços ao Vaticano, para assessorá-lo em suas falas e evitar que profira bobagens.

Se alguém tem preguiça de ler os textos fundamentais da humanidade, nada posso fazer. Sei que hoje nem mesmo os professores universitários se dedicam a leituras mais profundas. Não falo apenas sobre a Bíblia e Deus. Falo apenas quando leio besteiras sobre o tema. Minhas crônicas se alimentam das besteiras alheias. Ou seja, assunto não me falta.

Assim sendo, me parece muito ingênuo esse slogan dos ônibus de Londres. Eu faria diferente. Proporia: “leia a Bíblia”. É o melhor método para deixar de acreditar em bobagens.

TUPI


Tupi era um cão muito fino que diariamente levava seu homem chamado Lúcio para passear. Muito belo o homem, de roupinha colorida, coleira de prata e tudo mais. Porém senhor Tupi nunca levava o kit cocô e o seu homem de estimação era pródigo em defecar nos gramados e calçadas. Faz alguns meses seu Tupi andava só por uma dessas calçadas de sua rua quando resvalou num cocô, bateu a cabeça e morreu. Que lástima! Lúcio triste e com sentimento de culpa entrou em depressão. Deixou de comer e até de mostrar a língua. No momento o pobre Lúcio mora num Homil para homens loucos.

CHOVEU NO INFERNO

Bilhões de pessoas torrando dia após dias no fogo do inferno por séculos e séculos, sem cessar o sofrimento. Ontem, porém desceu um toró que não foi dos diabos e apagou tudo. Nadica, nem um foguinho para esquentar água para o café. A enxurrada levou até os diabos morro abaixo. O inferno acabou. O povo feliz cantava e dançava e queria agradecer a Deus pela bendita quando um vivente disse que não fora Deus que fizera a graça. Apontou o dedo para um magrelo que Lúcifer deixara entrar no reino com uma bicicleta e um rádio transístor. Fora ele que fizera a máquina de chuva. Apareceu então sorridente no meio da multidão um sorridente louro usando casado de couro; seu nome, MacGyver.

ALUNOS DA UMPV


Dois jovens canadenses de Toronto resolveram fazer o curso superior para corruptos na Universidade de Malandragens Públicas da Venezuela. Terminado o curso foram instados pelo professor para dizer onde iriam demonstrar suas aptidões. Os dois responderam o Brasil. O professor ficou rindo por alguns minutos e após matriculou os dois num curso de pós-graduação. Justificou-se dizendo que o Brasil não é para iniciantes.

CONFINS

Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Dilma.
-Não tem ninguém em casa.


APRESENTAÇÃO


O auditório estava lotado de homens de semblantes sérios, todos elegantemente vestidos, nenhum sem paletó e gravata. Bach deslizava pelas paredes e fazia sorrir àqueles corações que amavam a boa música. O ar que se respirava no ambiente era o odor das boas virtudes, a paz interior que somente homens sem débito com Deus podem realmente expressar. Silêncio total quando Madame Junot subiu ao palco para mostrar a tão seleta e educada plateia as novas moçoilas do seu bordel de luxo.

SEMILDA BEATA


Semilda, sempre vestida de preto, um urubu de saias. O sangue irriga seu cérebro não sei por que, pois vive prostrada maltratando os joelhos. Do alto espera castigo e prêmios, o resultado não aparece, mas junta as mãos muito mais que toma banho. É uma juíza, julga todos, porém se perguntada sobre algo coerente e real é uma toupeira que não sabe nem quando é dia ou noite. Uma beata, inerte no pensar como uma batata dentro de um saco na carroceria de um caminhão.

COMO A COMPETIÇÃO CRIOU A POLÍTICA DE DEVOLUÇÃO DE COMPRAS NOS EUA por Ricardo Bordin. Artigo publicado em 24.10.2017



Não, não foram os burocratas das casas legislativas dos Estados Unidos que elaboraram leis determinando que os comerciantes devolvessem o dinheiro dos consumidores arrependidos por terem efetuado determinada compra: foi a concorrência entre os empresários que os induziu, na ânsia por atrair clientes, a possibilitar o desfazimento de uma transação livremente realizada entre as duas partes, sem nem mesmo cobrar maiores esclarecimentos a respeito da decisão do comprador desgostoso.

Alguns estados, no máximo (como a Flórida), exigem que os estabelecimentos que não efetuam devoluções informem aos clientes tal deliberação, seja por meio de avisos afixados na própria loja, no recibo de compra ou por meio da internet. Mas a decisão de adotar o procedimento ou não, em si (bem como os princípios que irão reger seu sistema), é exclusiva do próprio empreendedor, tendo em vista seu desejo de impulsionar suas vendas a partir do exacerbamento do ímpeto dos fregueses em possuir certo produto gerado a partir desta medida.

Sim, pois a possibilidade de devolver uma mercadoria diminuiu a reflexão do consumidor no momento da compra. Ora, se eu posso vir a declinar aquele item caso venha a decidir que não foi um bom negócio, reduz-se naturalmente o tempo de avaliação de sua real necessidade e conveniência antes daquela aquisição.

No mesmo sentido, pesquisar preços e condições nos concorrentes antes de concretizar a operação comercial torna-se menos oportuno neste cenário, o que faz com que o consumidor, de forma muito mais frequente, decida-se pela compra tão logo sinta-se atraído pela oferta, por puro impulso – o qual pode ser consertado a posteriori, se for o caso.

No final das contas, entre devoluções efetuadas e compras feitas no calor do momento, tanto consumidor quanto fornecedor costumam sair ganhando: o primeiro por não precisar pensar mil vezes antes de comprar algo; o segundo por aumentar suas vendas e, no saldo, ver seu lucro majorado – e caso isso não ocorra, ele pode rever suas diretrizes internas a qualquer momento.

Cada empresa está livre na América para estabelecer suas próprias regras para devolução de mercadorias, determinando prazos para tal e fixando normas para sua realização – como manter a etiqueta em uma roupa ou guardar a nota fiscal, ou mesmo se irá devolver o dinheiro do cliente ou oferecer crédito para compras na mesma loja. Ou se, simplesmente, não vai aderir à política.

E foi o ambiente favorável ao empreendedorismo nos Estados Unidos que instou os comerciantes a adotarem tal procedimento, a partir da forte concorrência produzida por esta conjuntura voltada ao livre mercado – leia-se: facilidade para abrir (e fechar) empresas, taxa de juros praticada bastante baixa, garantia de cumprimento de contratos, segurança jurídica, tributação mais racional, pouca intervenção estatal na economia, dentre outros fatores.

Mas sempre que tal assunto vem à tona, levanta-se a seguinte questão: será que isso funcionaria no Brasil? É inegável que o forte sentido de ética do americano médio contribui para que esta política de devolução dê certo. A liberdade econômica costuma vingar em sociedades onde os indivíduos respeitam (na maioria das vezes, ao menos) os acordos firmados, dispensando a atuação estatal intermediando as trocas.

Quanto tempo demoraria até que brasileiros começassem a litigar judicialmente contra o regulamento de devolução das empresas? Ou até que o Legislativo passasse a ditar normas para tal – muito provavelmente motivado por lobby financeiro de determinados segmentos interessados em minar a competição? Ou para que os Procon inviabilizassem por completo a política de devolução de produtos?

Para efeito de comparação, narro uma experiência pessoal: certa feita, fui devolver uma jaqueta comprada em Chicago/Ilinóis, adquirida às pressas pelo fato de que não esperava deparar-me com tanto frio logo na chegada à terra de Al Capone. As circunstâncias levaram-me a comprar a peça de roupa na primeira loja que entrei. Mas logo percebi, nos dias seguintes, que o preço cobrado estava muito acima do observado nas demais lojas do gênero. Quando fui atendido no departamento de devoluções, indagaram-me o motivo da decisão, ao que respondi com total sinceridade. Prontamente, o próprio empregado do balcão, sem chamar o gerente nem nada parecido, disse que cobriria o preço da concorrência, devolvendo-me a diferença, caso eu desistisse de retornar o produto. Aceitei.

Ou seja, estão incluídos no caldo do relato exitoso para todos os lados a honestidade de, no mínimo, três pessoas: a do consumidor (pois eu poderia ter mentido qualquer preço na ocasião), a do empregado (a qual permite que o empregador lhe delegue tamanho poder sem temer desfalques no caixa), e a do empreendedor, o qual busca manter uma clientela cativa – e obter lucro, mesmo que em uma perspectiva de longo e médio prazo – agradando seus consumidores, e não orando ao Estado por privilégios e tratamento diferenciado.

Retirado qualquer um destes elementos de cena, provavelmente abrir-se-ia brecha para que o governo, em seu infinito afã de dirimir conflitos entre os cidadãos (cobrando um altíssimo preço pelo “serviço” e, por óbvio, sempre provocando novos conflitos a fim de aumentar a demanda por “apaziguamento” estatal), se apresentasse como o salvador da pátria.
Ou seja, estamos mesmo muito distantes desta realidade, e, por ora, vai ser difícil que esta política de devolução de mercadorias surja por estas bandas protossocialistas.

* Publicado originalmente em https://bordinburke.wordpress.com

O PARTO DO STF por J. R. Guzzo, em Veja. Artigo publicado em 25.10.2017



Durante um programa de entrevistas na televisão, pouco mais de um ano atrás, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, teve a ideia de perguntar a um dos entrevistadores, o jornalista José Nêumanne Pinto: "Você não acredita na Suprema Corte do seu país?". Um ministro do STF não deve perguntar essas coisas hoje em dia. Se perguntar, arrisca-se a receber, como de fato recebeu, a resposta mais sensata para a indagação que tinha feito. "Não", disse o entrevistador. "Eu não acredito." E por que alguém haveria de confiar, Santo Deus?

Os onze ministros insultam-se publicamente entre si. Faltam ao serviço. Um deles levou bomba duas vezes no concurso para juiz de direito. Outro mantém negócios privados e julga causas do escritório de advocacia em que trabalha a própria mulher. Há um que conseguiu asilo no Brasil para um quádruplo homicida condenado legalmente pela Justiça da Itália, e outro que foi o juiz preferido do ex-governador e hoje presidiário Sérgio Cabral, réu em quinze processos de corrupção. Agora, em seu último feito, o STF decidiu que cabe ao Senado Federal punir ou perdoar o senador Aécio Neves — flagrado numa conversa gravada tentando extorquir 2 milhões de reais de um bilionário, réu confesso e atualmente domiciliado no sistema penitenciário nacional. Os ministros tinham decidido o contrário, tempos atrás, com o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que por causa disso perdeu o cargo, o mandato e está preso até hoje. O que vale, então?

Nossa Corte Suprema parece ter conseguido, nesse tumulto, algo inédito no direito internacional: errou nas duas decisões. Perguntaram aos nossos magistrados máximos quanto dá 2+2; na primeira vez eles responderam que dá 5, e na segunda que dá 7. Erraram nas duas vezes porque em ambas se meteram a resolver coisas que não têm o direito de resolver — invadiram a área de outro poder, e uma vez feito isso não conseguem acertar mais nada. Com certeza o poder que invadiram, o Congresso Nacional, é uma espécie de Monga, a Mulher-Gorila, ou alguma dessas aberrações exibidas no circo; mas é o eleitorado, e não o STF, quem tem de consertar isso. Com sua intromissão, os ministros pariram Mateus; agora têm de embalar a criatura, dar de mamar, levar ao pediatra e esperar mais uns dez ou doze anos para ver qual o sexo que ela prefere. Enquanto o STF cria a criança que não podia ter parido, os brasileiros ficam sem saber o que está valendo. As decisões finais sobre corrupção no Poder Legislativo são do Congresso? São do Poder Judiciário? Vai saber. Talvez fique valendo o que resolverem na próxima vez.

O caso de Aécio é especialmente tenebroso. Começa que o grupo de ministros que queria punir o senador veio com uma punição de mentirinha — "afastaram" o homem do cargo e decidiram, com imensa coragem, proibi-lo de sair de casa à noite, como se alguém só começasse a roubar depois que escurece. É uma piada, para fazer bonito a preço de custo com intelectuais e artistas de novela, mas o foco da infecção não está no tipo do castigo. Está na pretensão de entregar o que não poderia ser entregue. O ministro Luís Roberto Barroso argumentou que seria uma injustiça deixar "três peixes pequenos" presos e o "peixe grande" solto. Mas Barroso não está lá para medir o tamanho dos peixes, e sim para cumprir a Constituição. Tem todo o direito de não gostar dela; mas não pode escolher quando vale e quando não vale o que está escrito ali. Aécio Neves não é peixe graúdo nem miúdo — é senador da República, por mais que isso se revele um disparate. É senador porque foi eleito. Se o povo votou errado, paciência — a lei não obriga o eleitor a votar certo. Mas obriga a todos, incluindo os ministros do STF, a obe­decer à regra segundo a qual um senador só pode ser punido com a autorização do Senado.

Sem Aécio, o Brasil seria um lugar mais justo, mais sadio e mais limpo — sem ele e todos os outros que vêm do mesmo saco de farinha, a começar por seus inimigos e todos os parasitas, mentirosos e ladrões que mandam no país e fingem ser diferentes entre si. Mas ele é membro do Congresso, e esse Congresso, que positivamente está entre os piores do mundo, é também o único que existe por aqui. Também só existe um STF e só uma Constituição, essa mesma do "Dr. Ulysses" — antes adorada de joelhos como grande fonte de "direitos populares" e hoje tida como um manual de estímulo à roubalheira. Fazer o quê? Acabar com tudo?

Ou dar ao STF o poder de decidir quem é punido e quem é premiado? Está garantido que não vai dar certo.

“Na política existem dois ou mais lados, e o sempre providencial muro.” (Mim)


"Ser infeliz é fácil: Basta viver de comparações." (Mim)


“A CNBB fez a sua opção. A opção pelos podres.” (Mim)


“Dilma e Lula; duas faces da mesma moeda: a ignorância imodesta.” (Mim)


“Dormir em má-companhia a gente nem percebe. Duro é ficar acordado.” (Mim)


PEDIDO DE MÃE

Minha mãe escreveu  um bilhetinho para Jesus:

"Jesus,por favor, faça do meu filho um padre."
 Minha mãe tem a letra ruim e Jesus naquele momento estava sem óculos,então no lugar de padre ele leu podre.

Pois aqui estou.(Climério)

“Meu mundo caiu faz tempo. Ainda estou debaixo dos escombros.” (Climério)


“Genérico de cotonete é tampa de caneta BIC.” (Climério)


“Ser corno da mulher ainda vá lá. Mas levar chifre da amante é coisa pra suicídio.” (Climério)


"Para fazer economia vale de tudo. Estamos escovando os dentes com cinzas." (Climério)


“Estou naquela idade que toda camareira de hotel é Miss Brasil.” (Climério, o impossível)


“Alguns momentos são inesquecíveis. A primeira tunda de cinta então...” (Climério)


VIRTUDES


“Tenho uma ou outra virtude, porém os defeitos são múltiplos dos cabelos do corpo.” (Climério)

E NÃO É?


“Presidiários reclamam da qualidade dos presídios. Mas colocando um pé fora já aprontam para voltar.” (Climério)

NA LUA

ANO DE 2200, fábrica de componentes eletrônicos na Lua. O diretor cansado de tantos erros cometidos por distrações manda um recado para todos os funcionários:

“Senhores, peço encarecidamente pelo bem da empresa e dos vossos empregos que mantenham vossas cabeças no mundo da lua.”

O GUARDA-COSTAS DE DEUS

Fundamentalistas islâmicos saíram do inferno carregados de bombas e entraram sorrateiramente no paraíso para destruir o trono do Senhor. Disfarçados de anjos buscavam o melhor lugar para colocá-las quando tiveram uma surpresa desagradável e voltaram correndo para o inferno sem fazer nada. Estavam completamente assustados quando viram que o guarda-costas de Deus era ninguém menos que John Wayne e seu revólver de duzentos tiros.

HERBERT E A MORTE

Herbert era um grande mágico. Tão bom que por mais de uma centena de oportunidades enganou a morte quando ela veio para buscá-lo. Foram tantas vezes que a morte desistiu de levá-lo, cansou-se. Desde então Herbert vaga pelo mundo sem descanso. Aquilo que poderia  ao olhar superficial ser uma dádiva tornou-se um fardo duro de carregar. Herbert ainda vaga por aí, saturado da vida, esperando que a morte reconsidere.

GREMLINS

No Deserto do Atacama protegidos por uma enorme parede de pedra encontraram-se os últimos gremlins malvados do planeta. O velho chefe mordendo a cabeça de um lagarto recém-abatido disse aos demais: “Pensei que caminhávamos para o fim da espécie, mas descobri novos elementos da nossa raça no Brasil. Ainda estão disfarçados, mas já cometem suas maldades com astúcia. O povo de lá vai se danar!”
-Quem são eles chefe?- perguntou o mais afobadinho.    
-Não posso dizer os nomes para não atrapalhar suas artes. Só digo que estão instalados num tal de STF.