segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

MINICONTO- OS PISTOLEIROS


Lá nos cafundós do Mato Grosso, perto de onde o diabo perdeu suas cuecas, no final de uma estrada poeirenta e quase sempre vazia, moravam os irmãos Morais; Pedro 38, Paulo 35 e Batista 30. Eram solteiros e quando precisavam se aliviar visitavam o bordel da Zefa, em Feliz Natal. Os irmãos Moraes criavam porcos e matavam gente. Mais matavam gente que criavam porcos. Matavam gente perto, matavam gente longe. O importante era a paga. Quem morria só interessava pelo preço. Faziam tudo bem feito; a justiça nunca triscou neles. Mais de trinta estavam na conta, bons lucros às funerárias. Não tinham sentimentos, pouco se importavam em deixar filhos sem pai. Eram pessoas rudes e sem bons sentimentos. A vida era assim; um serviço e depois meses de armas guardadas. O tempo corre... certo dia chegou naqueles confins uma bela moça morena. Tinha brilho, belo sorriso e pernas roliças. Era quase noite e pediu um lugar para ficar. Com boas intenções eles acolheram a mocinha, acredite quem quiser nas tais boas intenções. Foi uma noite e tanto. Rolou muito sexo e cachaça entre o quarteto. Todos dormiram embriagados e exaustos. Quando clareou o dia ela foi embora antes mesmo dos irmãos acordarem.  Dela não mais se soube. Sumiu do mapa sem deixar marcas no chão. Os irmãos? Só se soube que após alguns meses morreram os três da tal doença do pinto podre.

MINICONTO- DIA RUIM



Ele acordou dentro do ataúde fechado. Acendeu o isqueiro e viu que relógio havia parado. Droga de relógio falsificado! Ninguém mandou fazer economia, ralhou consigo mesmo. Que horas serão? Dia ou noite? Apanhou uma bala de hortelã para dar um lustro no bafo, que estava horrível. Bateu o pó do smoking, fechou os botões e foi abrindo a tampa do caixão bem devagar. Percebeu que era noite e respirou aliviado. Foi à geladeira para tomar seu copo de sangue diário. Porra! Sangue azedo! Faltara energia, a geladeira estava descongelada. Cuspiu diversas vezes querendo tirar o gosto, mas por azar cuspiu em cima do sapato novo. Irado, transformou-se em morcego e saiu batendo asas rumo ao Banco de Sangue em busca do desjejum. E saiu esbravejando:
- Está uma merda ser vampiro! Mil vezes ser uma múmia!

MINICONTO- ALMOÇO DOMINICAL


A família do nobre doutor Epaminondas estava reunida para o tradicional almoço dominical. Um pouco antes de ser servido o almoço, Eduardinho, filho único do doutor Epaminondas com Dona Letícia pediu para falar:
“Serei breve, meus queridos familiares. Agora que completei dezoito anos assumo as rédeas da minha vida e do meu destino. Gostaria de comunicar a todos que sou gay. Peço que me entendam. ”
O Doutor Epaminondas que já estava em pé foi em direção ao rapaz e o abraçou dizendo:
“Meu filho, que alívio! Pensei que você fosse petista! ”