segunda-feira, 9 de outubro de 2017

NA DESPENSA

NA DESPENSA

Um pedaço de queijo dando sopa na despensa. Dois ratos estranhos entram no local ao mesmo tempo. Olham um para o outro e hesitam em avançar sobre o alimento.


-Acho que cheguei primeiro, não?
-Creio que não. Chegamos juntos.
-Temos um impasse. Que faremos? Na sorte?
- Pode ser. Tem aí uma moeda?
-Não.
-Então penso que teremos que decidir no dente?
-Vai ter que ser.
- Antes pense bem, sou mais dentuço.
-Até parece.
-Quer fazer um último pedido? Uma cartinha de despedida?
-Quem deve fazer é você. Tem família?
-Tenho. Cento e cinquenta filhos.
-Família pequena.
-E você?
-Um pouco menor que a sua.
-Deixou testamento?
-Deixei. E...
-Também deixei.
Nisso ouviram uma voz:
-Por que vocês palhaços dois não dividem o pedaço de queijo?
Enquanto pensavam se dividiriam em partes iguais ou não o gato que havia dado a ideia comeu os dois.

FOI


Quando Joel completou trinta e três anos viu uma luz e dentro dela uma voz que dizia ‘vá!’. Ele foi, errou um degrau, caiu da escada e quebrou o pescoço. Foi mesmo.

MENINO OBEDIENTE


Renatinho é um menino obediente. A mãe o mandou comprar marshmallow. Não encontrou no supermercado perto de sua casa e seguiu em frente. Isso faz quinze dias. Foi visto ontem em Miami com um pacotinho na mão. Contam que está retornando ao Brasil a nado.

SEM RUMO

Acordo com a mente envolvida na tristeza
Pois absorvo e somo todos os fatos
E uma só conclusão resulta
Desta minha abstração:
É de que há muito somos um navio sem rumo
Lotado de marinheiros safados e de muitos passageiros imbecis.

AO SABOR

Subo ao céu
Desço à terra
Não sou piloto
Tampouco um avião
Sou apenas um papelucho ao vento.

CONHECIMENTO

Quando penso que estou chegando ao meu destino
Descubro que ainda não saí
Assim é a viagem pelo conhecimento.

MESTRE YOKI

Mestre, o Brasil tem jeito?”
“Tem jeito, mas precisa de uma lipo.”

NATURAL

Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Desses nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos preparados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, novembro 19, 2006 COM A NONCHALANCE DE UM DEUS

Há mais de vinte anos não leio ficções. Já fui devoto do gênero e traduzi uma boa dezena delas ao brasileiro. Acabei cansando. O autor faz das tripas coração para criar um universo imaginário. Como este universo é de mentirinha, ele não está limitado pelas contingências da realidade. No entanto, a realidade acaba superando de longe todas as ficções.

Qual ficcionista conseguiria criar personagens como Hitler, Mao, Stalin, Pol Pot? Nenhum. Na hora de matar, embora possa matar e permanecer impune, o autor de ficções é tímido. Verdade que o Hagiógrafo conseguiu criar um que matou todos menos um. Mas não é todos os dias que se escreve uma ficção como a Bíblia. "Quem mata um é assassino, quem mata milhões é conquistador, quem mata todos é Deus" - escreveu o biólogo Jean Rostand. No século passado, assistimos a conquistadores que mataram com a nonchalance de um Deus.

Costumamos empurrar a barbárie para épocas remotas da História. No entanto, o século em que mais se massacrou em todos os tempos foi o passado, este no qual todos nascemos. Outra característica do XX, é que estes grandes assassinos foram cultuados como heróis, modelos de virtude e mesmo como deuses. Quando surgiram as notícias da morte de Stalin, não poucos comunistas não acreditaram. Um deus não pode morrer.

Se você nada conhece de Josiph Vissarionovitch Djugatchivili, nada entendeu da história recente. Este senhor, conhecido também por Koba ou Stalin, "o de aço", matou mais que Hitler e só não conseguiu matar mais que Mao. Ostenta em seu currículo a modesta cifra de 20 milhões de cadáveres. Houve época em que não era fácil encontrar uma biografia de Stalin no Brasil. A primeira biografia importante, a de Boris Souvarine, escrita originalmente em francês e editada em Paris em 1939, jamais chegou até nós. Consta ter existido uma tradução em russo, editada em único exemplar, para uso exclusivo de Stalin. Ignora-se o destino do tradutor.

Outra importante biografia, a de Adam B. Ulam, em dois volumes e editada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1973, tampouco chegou até nós. Tive acesso a elas porque vivia em Paris. Este ano, tivemos nas livrarias brasileiras pelo menos três biografias do ditador georgiano, a do britânico Simon Sebag Montefiore e a dos irmãos russos Roy e Zhores Medvedev e a de Isaac Deutscher.

Estão surgindo no Brasil biografias das mais completas destes grandes assassinos. Ainda há pouco, li uma outra de Stalin, assinada por Simon Sebag Montefiore, intitulada Stalin, a Corte do Czar Vermelho, 860 páginas. Editada originalmente em 2003, esta biografia é trabalho invejável de um jovem pesquisador (o autor nasceu em 1965), que narra o dia-a-dia, cada frase, cada gesto de Stalin. Montefiore parece ser um observador onisciente e onipresente. O livro é lido com o sabor de um romance. Com um detalhe: os horrores nele narrados - com fria objetividade - nada têm de fictícios. É leitura que recomendo vivamente, particularmente aos jovens, em especial àqueles que nunca ouviram falar de Stalin. Se você quiser entender o século passado, leia o livro de Montefiore. Voltarei ao assunto.

Mal larguei Stalin, foi lançado Mao, a História Desconhecida, 960 páginas, de Jung Chang e Jon Halliday. Estas duas obras, ambas lançadas pela Companhia das Letras, preenchem uma lacuna enorme no estudo dos tiranos do século passado. Decididamente, nenhuma mente seria capaz de conceber ficcionalmente a trajetória destes monstros que foram cultuados como deuses. 

Em Mao, a História Desconhecida, vemos Stalin amplamente superado por seu discípulo chinês, Mao Tse Tung. O nome duplo Tse Tung significa "brilhar sobre o Leste". De início vemos uma diferença básica entre ambos. Se Stalin passou a matar uma vez instalado no poder, matar foi o método empregado por Mao para chegar ao poder. Nesta biografia, é interessante ver Mao lutando contra Chiang Kai-Shek, Stalin apoiando Mao e Chiang Kai-Shek ao mesmo tempo, os Estados Unidos apoiando Mao, e Chiang Kai-Shek permitindo a progressão da Longa Marcha, marcha tão exitosa que começou com 80 mil homens e acabou com dez mil.

Livro Negro do Comunismo debita a Mao 65 milhões de cadáveres em tempos de paz. Jung Chang fala em 70 milhões. 65 ou 70, não se tem notícia na História de homem que, sozinho, tenha matado tanto. Entre 58 e 61, no Grande Salto para a Frente, 28 milhões de chineses morreram de fome. Segundo a autora, foi a maior epidemia de fome do século XX - e de toda história registrada da humanidade. A China produzia carne e grãos, mas Mao exportava estes produtos para a União Soviética, em troca de armas e tecnologia nuclear. Segundo o homem que brilhava sobre o Leste, as pessoas "não estavam sem comida o ano todo - apenas seis ou quatro meses."

Para Mao, morrer fazia parte da vida. É preciso que as pessoas partam para dar lugar às que chegam. Claro que jamais lhe ocorreu perguntar se alguma pessoa aceita partir antes do devido tempo. "Vamos considerar quantas pessoas morreriam se irrompesse uma guerra - diz Mao -. Há 2,7 bilhões de pessoas no mundo. Um terço poderia se perder; ou um pouco mais, poderia ser a metade. Eu digo que, levando em conta a situação extrema, metade morre, metade fica viva, mas o imperialismo seria arrasado e o mundo inteiro se tornaria socialista."

A partir de 1953, foi imposto o confisco em todo o país, a fim de extrair mais alimentos para financiar o Programa de Superpotência. A estratégia era simples: deixar para a população apenas o suficiente para que permanecesse viva e tomar todo o resto. Segundo Chang, Mao via vantagem práticas nas mortes em massa. "As mortes trazem benefícios", disse em 1958. "Elas podem fertilizar o solo". Os camponeses receberam ordens para plantar sobre os túmulos. Usar luto foi proibido e até mesmo derramar lágrimas, pois segundo Mao a morte deveria ser celebrada.

O homem que brilha sobre o Leste não se contentou em matar e torturar. Procurou também humilhar a inteligência. Em 1966, durante o Grande Expurgo, fez arrastar e maltratar professores e funcionários da universidade de Pequim diante da multidão. "Seus rostos foram pintados de preto e puseram chapéus de burros em suas cabeças. Forçaram-nos a ajoelhar-se, alguns foram espancados e as mulheres foram sexualmente molestadas. Episódios semelhantes se repetiram em toda a China, provocando uma cascata de suicídios."

Os Guardas Vermelhos invadiram casas onde queimaram livros, cortaram pinturas, pisotearam discos e instrumentos musicais - conta-nos Yung Chang - destruindo tudo em geral que tivesse a ver com cultura. Confiscaram objetos valiosos e espancaram seus donos. Ataques sangrentos a residências varreram a China, fato que o Diário do Povo saudou como "simplesmente esplêndido". Muitos dos que sofreram os ataques foram torturados até a morte em seus lares. Alguns foram levados para câmaras de tortura improvisadas em antigos cinemas, teatros e estádios. Guardas Vermelhos vagando pelas ruas, fogueiras de destruição e gritos das vítimas: esses eram os sons e as cenas das noites do verão de 1966.

Que um tirano mate, isto nada tem de original. Faz parte de sua estratégia para manter-se no poder. O que mais me causa espécie em Mao foi um episódio de seu regime que bem demonstra a insanidade de homens que se atribuem poderes absolutos. Sigo ainda o relato de Yung Chang. "Um dia, Mao teve a brilhante idéia de que uma boa maneira de manter os alimentos seguros era se livrar dos pardais, pois eles comiam grãos. Então designou esses passarinhos como uma das Quatro Pragas que deveriam ser eliminadas, junto com ratos, mosquitos e moscas, e mobilizou toda a população para sacudir paus e vassouras e fazer uma algazarra gigantesca, a fim de assustar os pardais e impedi-los de pousar, de tal modo que eles cairiam de fadiga, seriam capturados e mortos pelas multidões".

Vi certa vez um documentário sobre esta insânia. Milhares de chineses perseguiam pardais por ruas, árvores e telhados, businando, batendo latas e tambores. Que Mao matasse, até que se entende. O mais difícil de entender é ver um líder levando milhões de chineses a matar pássaros... no grito. O problema é que estes pássaros, além de comer grãos, eliminavam muitas pragas, "e não é preciso dizer que muitas outras aves morreram na farra da matança. Pragas que eram mantidas sob controle pelos pardais e outros pássaros floresceram, com resultados catastróficos. Os argumentos dos cientistas de que o equilíbrio ecológico seria afetado foram ignorados".

Resultado da Grande Matança de Pardais: o governo chinês acabou pedindo, em nome do internacionalismo socialista, que os russos enviassem 200 mil pardais do leste da União Soviética assim que possível. E durante anos houve quem cultuasse no mundo todo - e principaslmente entre nós - como salvador da humanidade, este assassino ridículo.


“Antes do PT tínhamos a corrupção ocasional individual. Eles conseguiram implantar a roubalheira sistemática coletiva partidária.” (Eriatlov)

“A confirmação que o comunismo é uma aberração está na Correia do Norte, confirmadíssima como o cú do mundo.” (Eriatlov)

OPINIÃO


Tenho sempre apoiado vigorosamente o direito de cada homem à sua própria opinião, por mais diferente que essa opinião possa ser da minha. Aquele que nega ao outro este direito, torna-se escravo da sua opinião atual, porque se priva do direito de mudá-la.

Thomas Paine

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- sexta-feira, novembro 24, 2006 CHOPE CHEGA A DOM PEDRITO

2006 ficará como um marco histórico na brava Capital da Paz. Finalmente o chope chegou a Dom Pedrito. Chegou no século XXI, é verdade. Antes tarde do que nunca. O que me lembra o gelo chegando a Macondo.

Ainda neste século, os pedritenses tiveram contato com o mármore. Pela primeira vez vi na cidade mesas de mármore. No mesmo bar que servia o chope. Antes disto, para ter contato com o mármore ou chope, suponho que os pedritenses tivessem de organizar excursões culturais à vizinha Rivera, na Banda Oriental.

Chegaram também os primeiros mendigos. Também pela primeira vez em minha vida, vi dois mendigos em Dom Pedrito.

“Sim, sou um azedo. A minha mãe não tinha leite, então enchia minha barriguinha de suco de limão.” (Limão)

“Após a terceira dose de Bourbon caem todas as barreiras e limites. O animal fica nu.” (Limão)

SORTUDO EU


“Sortudo eu sou. Um cataclismo mata todo mundo. No planeta somente eu e uma mulher para recomeçar. Garanto que a outra alma seria a Graça Foster.” (Limão)

“Sou um sujeito muito bravo. E para ficar ainda mais bravo uso creme dental de urtiga.” (Limão)


LEÃO BOB

“Pensava eu estar ouvindo vozes. Quase chamei um paranormal. Descobri depois que era meu estomago roncando.” (Leão Bob)

MESTRE YOKI, O BREVE

“Mestre, defina o politicamente correto em duas palavras.”
“Um saco!”

“Quis eu viver de amor e por muito pouco não morri de inanição.” (Josefina Prestes)

“Estive por anos num convento e afirmo: Por debaixo do hábito tínhamos pererecas desfalecidas e outras em chamas.” (Josefina Prestes)
“Cansei de pobre. Agora meço os homens pelo tamanho do patrimônio.” (Josefina Prestes)

LOBO

Muitas vezes o mal se maquia
O lobo se torna ovelha
E através de manipulações e língua ferina
Tenta fazer da verdadeira ovelha
O ser que na verdade ele é.

SEM BUTIRÁCEO

Mesa posta no meio da tarde 
Serve pão seco e café preto doce
Nenhum butiráceo cobrindo o pão seco
O certo é que quando a fome é grande
Pouco importa o engasgo.

FAZ BEM

Sentado sossegado numa escada entre jardins
O cão amigo no colo
Flores de todas as cores diante dos olhos
Quase silêncio
E observando um colibri navegando inquieto
Isso tudo faz tão bem que até minhas orelhas sorriem.

“Ando tão quebrado que o meu banqueiro é um mendigo.” (Climério)


“Tendo fome até pastel de rodoviária é iguaria.” (Climério)


“Comparado com os políticos brasileiros o bicho-papão é uma moça.” (Climério)


“Minha mãe nunca viu nada em mim. Ela nunca soube que o meu nada é invisível.” (Climério)


“Estou evoluindo. Já limpo orelhas e nariz todos os dias.” (Climério)


“Quando tudo parece perdido é porque tudo está perdido. Faça suas malas.” (Climério)