sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Do futuro, não!

“O Brasil é um país pra ontem.” (Mim)

Inveja

“A inveja é a irmã má do desejo.” (Filosofeno)

Editorial Estadão- Lula e Dilma sempre souberam


O ESTADO DE S.PAULO
14 Novembro 2014 | 02h 05


Em janeiro de 2010, quando ocupava a Presidência da República e Dilma Rousseff era ministra-chefe da Casa Civil, Lula vetou os dispositivos da lei orçamentária aprovada pelo Congresso que bloqueavam o pagamento de despesas de contratos da Petrobrás consideradas superfaturadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Lula sabia exatamente o que estava fazendo, tanto que se empenhou em justificar longamente sua decisão, na mensagem de veto encaminhada ao Congresso. E é impossível que Dilma Rousseff ignorasse o assunto, pois o veto foi encaminhado ao Congresso pela Mensagem n.º 41, de 26/1/2010, da Casa Civil.
Até um cego enxerga que os governos petistas permitiram, quando não estimularam, as irregularidades na Petrobrás. E agora está claro e confirmado que Lula e Dilma não desconheciam o assalto à maior empresa brasileira. Tudo está registrado no Diário Oficial da União.
As evidências são abundantes, resultado do trabalho do TCU, da Controladoria-Geral da União (CGU), da Polícia Federal (PF) e também do Congresso Nacional. E agora a empresa holandesa SBM Offshore, fornecedora da Petrobrás, faz um acordo com o Ministério Público de seu país pelo qual pagará US$ 240 milhões em multas e ressarcimentos para evitar processo judicial por corrupção por ter feito "pagamentos indevidos" para obter contratos no Brasil, na Guiné Equatorial e em Angola. Os pagamentos incluem US$ 139 milhões relativos a contratos com a estatal brasileira. No Brasil, o assunto já é objeto de investigação pela CGU.
Sempre que é questionada sobre os sucessivos escândalos envolvendo a Petrobrás, Dilma alega que os "malfeitos" aparecem porque ela própria "manda investigar", como se o TCU, a CGU e a PF dependessem de ordem direta da Presidência da República para cumprir suas obrigações constitucionais. Ao contrário de "mandar" investigar, o governo tem feito o contrário, tentando, por exemplo, esvaziar o trabalho das duas comissões de inquérito do Congresso ou vetando medidas profiláticas como as sugeridas pelo TCU.
O vínculo do PT com a corrupção na gestão da coisa pública não se explica apenas pela vocação de notórios larápios, mas principalmente pela marota convicção de que, num ambiente dominado pelos famosos "300 picaretas", é indispensável dispor sempre de "algum" para ajeitar as coisas. Em outras palavras: a governabilidade exige engrenagens bem azeitadas.
Pois foi exatamente com esse espírito que Lula, com o óbvio conhecimento de Dilma, ignorou solenemente o acórdão do TCU que apontava graves irregularidades em obras da Petrobrás e vetou os dispositivos da lei orçamentária que, acatando a recomendação do Tribunal de Contas, impediam os repasses considerados superfaturados. Só com isso, Lula permitiu a liberação de R$ 13,1 bilhões para quatro obras da Petrobrás, dos quais R$ 6,1 bilhões eram destinados à construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Ao vetar, "por contrariedade ao interesse público", os dispositivos da lei de meios que coibiam a bandalheira, Lula argumentou que a aceitação das recomendações do TCU sobre as quatro obras implicaria "a paralisação delas, com prejuízo imediato de aproximadamente 25 mil empregos e custos mensais da ordem de R$ 268 milhões, além de outros decorrentes da desmobilização e da degradação de trabalhos já realizados". Ou seja, a corrupção embutida nos contratos da Petrobrás, comprovada pelo TCU, seria um mal menor. Perfeitamente aceitável para quem acredita e apregoa que "excessos de moralismo" são coisas de "udenistas" e "burgueses reacionários".
Mesmo se admitindo - só para argumentar e na mais indulgente das hipóteses - que o veto de Lula, afinal, tenha beneficiado o interesse público, é o caso de perguntar: o que foi feito, daí para a frente, para coibir os notórios "malfeitos" na Petrobrás? Os operadores da bandalheira permaneceram rigorosamente intocados, enriquecendo e distribuindo o dinheiro da Petrobrás para políticos amigos até o fim do mandato de Lula.
Depois de assumir o governo, Dilma jamais deu importância ao assunto publicamente, limitando-se a garantir que "mandou apurar" tudo.

COSA NOSTRA- Cunhada de tesoureiro do PT é alvo da PF

Marice de Lima, cunhada de João Vaccari Neto, teria recebido 110.000 reais do esquema operado por Youssef. Ela é mencionada por intermediário da OAS.

PISANDO NO BARRO- Ação da Petrobras cai mais de 4%

O JABUTI RECEBEU EXTREMA-UNÇÃO- Pela primeira vez na história, Brasil fecha vagas de trabalho no mês de outubro

Foram 30 mil postos a menos. Resultados do período foram sempre positivos desde o início da série do Ministério do Trabalho, em 1999.

“O Muro de Berlim não foi uma gafe histórica. Cada socialismo requer seu próprio muro, seu próprio cárcere.” (Juan Ramón Rallo)

IMB-O Muro de Berlim não foi um acidente histórico

A derrubada do Muro de Berlim há 25 anos corre o risco de se converter em uma mera efeméride sobre um passado quase pré-histórico em vez de uma valiosa recordação sobre os horrores do socialismo real.

Como é próprio da história, o passar do tempo tende a suavizar — e até mesmo a ofuscar — as causas dos eventos e a ser mais cordial e tolerante com os responsáveis diretos.

Olhar friamente os relatos históricos dá a entender que o Muro foi apenas um pitoresco acidente histórico, uma frivolidade feita por um regime megalômano — uma frivolidade sem nenhuma conexão com o substrato ideológico desse regime.

No entanto, o muro da vergonha socialista não foi nenhum acidente histórico: foi, isso sim, a consequência natural e inexorável de uma ideologia que institucionalizava a exploração do homem pelo homem, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, dizia estar abolindo essa exploração.

Houve — e ainda há — vários outros muros socialistas diferentes do berlinense: os controles de circulação e a restrição à concessão de passaportes — além das barreiras naturais, como estar cercado por um oceano — são, em muitos casos, cárceres tão ou mais eficazes que a barreira alemã.

Pois a exploração — a verdadeira exploração, aquela baseada na repressão sistemática da liberdade — é forçosamente indivisível da ditadura do proletariado: não porque a ditadura reconhece sem ambiguidades qual deve ser o destino dos não-proletários, mas sim porque, inclusive dentre os proletários, existem várias divergências de interesses entre eles, divergências essas que a ditadura socialista só pode resolver por meio da coerção estatal — isto é, chancelando e exercendo o uso da força policial e militar em prol de alguns proletários e em detrimento de outros proletários (na realidade, em prol dos quadros com maior poder dentro da burocracia socialista e em detrimento do coletivo dos proletários).

E todo regime assentado sobre a selvagem escravização do homem pelo homem terá de erigir muros para impedir que os escravos fujam do jugo de seus senhores, especialmente quando existem sociedades muito mais livres ao redor.

O jornalista alemão Eugen Richter já havia entendido isso 70 anos antes da construção do muro, de modo que ele foi capaz de antecipar de maneira incrivelmente presciente que a eventual implantação do socialismo na Alemanha seria seguida, necessariamente, por um rígido controle de fronteiras que impediria as pessoas de fugir e as obrigaria a continuar sendo exploradas como gado pelo estado.

Em sua distópica novela Imagens de um Futuro Socialista, Richter escreveu:



Dado que os jovens já receberam a adequada doutrinação de nossas instituições socialistas, e dado que lhes foi ministrado o honorável propósito de dedicar todas as suas energias ao serviço da comunidade, rapidamente deixaremos de necessitar de todos esses burgueses e aristocratas [que querem deixar o país]. No entanto, todos eles têm a obrigação de ser retidos dentro do país. (...) O governo [socialista] faz bem em impor implacavelmente medidas para evitar a emigração. Par que essas medidas sejam eficazes, é imprescindível enviar tropas para as fronteiras e para os portos. A fronteira com a Suíça vem recebendo atenção especial por parte das autoridades. Já foi anunciado que a vigilância foi intensificada e que as patrulhas foram incrementadas em vários batalhões de infantaria e cavalaria. Essas patrulhas têm ordens estritas para disparar indiscriminadamente contra todo e qualquer fugitivo.

Sem um celeiro de cobaias não há paraíso socialista. Por isso, os muros de contenção são imprescindíveis: não para evitar que as "massas depauperadas pelo capitalismo" emigrem em debandada para os paraísos socialistas, mas sim para evitar que as "massas enriquecidas pelo socialismo" sejam tentadas a fugir para o inferno da exploração capitalista.

Hoje, lamentavelmente, alguns países capitalistas optaram por levantar barreiras para impedir que populações estrangeiras busquem melhorar suas expectativas de vida em seu solo. No entanto, os países socialistas foram os únicos que tiveram de recorrer a muros físicos para reter a sua própria população. Nem mesmo a República Democrática da Alemanha, o mais rico entre os países socialistas, foi suficientemente atraente para evitar quemais de 200.000 berlinenses cruzassem anualmente as fronteiras antes da construção do Muro.

O livre mercado se baseia na livre cooperação humana por meio de contratos voluntários; contratos que, por serem voluntários, são mutuamente benéficos para ambas as partes. O socialismo, por sua vez, se fundamenta integralmente na coerção: na exploração violenta do homem pelo homem. O Muro não foi uma gafe histórica. Cada socialismo requer seu próprio muro, seu próprio cárcere.

Juan Ramón Rallo
é diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.

“Grande parte das mulheres que conheço somente foram felizes quando ficaram viúvas. Estou esperando.” (Eulália)

“Meu mundo caiu faz tempo. Ainda estou debaixo dos escombros.” (Climério)

“Destruir o bem alheio e público é para burro, miolo mole ou oportunista safado.” (Mim)

“Mal-educados quando visitam restaurantes chamam os garçons com se estivessem num canil. Só falta erguerem um osso. Coisa feia!” (Mim)

“Já lambi sabão de graça. Em alguns restaurantes tive o desprazer de comer coisa bem pior e pagar caríssimo.” (Limão)

“Governo bom, sério e equilibrado o Brasil nunca teve. Sempre houve um rodízio dos mais ou menos. Mas agora resolveram esculhambar.” (Al Zen Aimer)

“Melhor que sexo só mesmo pudim de pão.” (Chico Melancia)

“Estou preparando o meu testamento. Para quem deixarei minhas sandálias havaianas?” (Climério)

Instituto Ordem Livre- A extraordinária rede do mercado

Um dia desses, eu tive que recolher alguns recibos para os impostos e entregá-los ao meu contador. O dia 15 de abril se aproximava e meu contador estava em St. Louis. Para dar mais tempo ao meu contador, eu queria que os documentos chegassem lá na manhã seguinte.
O que eu poderia fazer? Minha primeira escolha era pegar um avião e entregá-los em pessoa. Mas seria muito caro e levaria muito tempo.
Tentei minha próxima opção. Fui ao aeroporto e procurei alguma pessoa que estivesse indo para St. Louis. Disse a ela o quanto era importante que meu contador recebesse aqueles recibos no dia seguinte. Felizmente, ela parecia ser bastante simpática. Disse que ficaria feliz em me ajudar. Lacrei o envelope e ela me prometeu que não iria abri-lo.
Acho que sou um pouco ingênuo. Sei que foi estupidez confiar algo tão importante a uma estranha, mas ela parecia honesta e sorria bastante. Mas talvez um bom ladrão pudesse aprender a fazer o mesmo.
Eu fiquei um pouco nervoso quando ela confessou que, na verdade, não poderia entregar o envelope pessoalmente. Tinha negócios a tratar, que a manteriam ocupada até a manhã seguinte. Mas prometeu encontrar pessoas que pudessem fazer a entrega. Eu posso ser ingênuo, mas não sou idiota. Aquilo me deixou com medo. Eu não teria contato algum com essas outras pessoas que supostamente me ajudariam. Como poderia saber se eram tão honestas quanto essa moça parecia ser? Talvez se eu pudesse, pelo menos, falar com eles pelo telefone?
Sem chances, ela me disse, mas acrescentou que não precisava me preocupar. Ela checaria se eram pessoas tão confiáveis quanto ela – pessoas que não abririam meu envelope. Pessoas que não roubariam o número do meu cartão de crédito que estava nos recibos. Pessoas que não jogariam o envio fora, só para evitar o transtorno de ter de entregá-lo. Com certeza tudo correria bem. Além disso, ela não tinha como saber, antecipadamente, quem estaria disponível para fazer a entrega. Só me restava esperar pelo melhor.
Tudo isso parecia uma loucura, mas agora já estava ficando tarde. Eu tinha que confiar nela. Não havia outra forma de cumprir essa tarefa. Eu não tinha opção.
Dei a ela algum dinheiro. Ela não recusou. Talvez já tenha feito isso antes.
Naquela noite, eu dormi como uma pedra. Sempre achei que as pessoas eram essencialmente boas.
Mas e você? Como você se sentiria naquela noite, sabendo que uma remessa sua, de conteúdo importante, estava nas mãos de estranhos que você nunca irá ver e de honestidade e confiabilidade desconhecidas?
Talvez eu devesse ter me importado mais. Quanto dinheiro eu paguei? Muito menos do que me custaria levar o pacote pessoalmente – 19 dólares. Foi tudo o que ela pediu. Além do mais, se ela cumprisse a promessa e entregasse meu pacote ao contador, eu teria uma história para contar para o resto da minha vida.
A verdade é que nem pensei duas vezes. Eu confiei naquela estranha do aeroporto. Eu nunca a tinha visto antes e nunca a verei novamente, mas senti, de alguma forma, que ela cumpriria aquela tarefa por mim.
E ela cumpriu. Eu telefonei para o meu contador no dia seguinte e ele, com toda segurança, tinha recebido o pacote pouco antes das dez da manhã.
Teria sido um milagre? Um golpe de sorte? Ou talvez uma lição perigosa, que pode me levar a ingenuamente confiar em estranhos no futuro?
Nenhuma das respostas acima. Eu não confiei em milagre ou golpe de sorte. Sou um pouco menos ingênuo do que você deve estar pensando.
Aquela estranha a qual eu confiei alguns segredos sobre minhas finanças estava de pé atrás de um balcão da FedEx, vestindo um uniforme da empresa.
E isso muda tudo, não muda? Você vai à FedEx, dá 19 dólares a uma estranha e vai embora sem se preocupar, sabendo que seu envio estará no destino por volta das 10 da manhã do dia seguinte.
Eu não estava preocupado se, depois que eu fosse embora, aquela mulher atrás do balcão abriria ou não o pacote para ver o que eu estava mandando e se aproveitar do conteúdo do envelope. Eu não estava preocupado se a próxima pessoa a manuseá-lo abriria o envelope para ver o que eu tinha ali dentro. Eu não estava preocupado se todas as pessoas que pudessem ter algum contato com a minha remessa fossem checá-la para ver se havia algo ali que valeria a pena ser roubado.
Eu também não me preocupei, nem por um instante, que alguma pessoa que pudesse ter algum contato com meu pacote fosse pensar que demandaria muito esforço entregá-lo e o jogaria fora.
Completos estranhos - que eu nunca veria. Que palavra descreveria melhor minha falta de preocupação? Seria confiança? Fé? Segurança? E qual seria a fonte de meu contentamento quando eu despachei meu pacote?
Não foi confiança. A corrente de pessoas que interagiram com o meu pacote foi longa e não há maneira de entrevistar cada uma delas para saber se eram confiáveis. Então, como eu poderia confiar nelas? Eu nunca as vi. E nunca as verei. A mulher atrás do balcão parecia uma pessoa honesta. Eu, de certa forma, confiei nela. Mas confiança seria uma forma incorreta de descrever a minha relação com todas as demais pessoas envolvidas no processo de envio.
Fé? Pareceria muito vago... A fé viria de ter usado a FedEx antes e de saber que ela sempre executa bem as tarefas. Há, é claro, um pouco disso. Mas eu não estive preocupado nem na primeira vez que eu usei FedEx.
Segurança parece ser a palavra certa. Minha segurança nasceu da compreensão de como a divisão do trabalho funciona na economia moderna. O que Hayek chamou de ampla ordem de cooperação humana.
Você pode perceber o milagre que é a economia moderna se comparar a FedEx com um sistema diferente, no qual eu realmente encontre um estranho que pareça honesto, no portão do aeroporto, a caminho de St. Louis. Tome aqui, eu diria. Pegue esse dinheiro e esse pacote. E não se preocupe se você precisar de ajuda de mais alguém para levar o pacote até o destino. Leve até onde puder e entregue o pacote e parte do dinheiro à próxima pessoa, com a promessa de que os próximos continuarão sempre a corrente.
Quem apostaria que uma jogada dessas pudesse dar certo?
Então, qual seria a diferença em relação à FedEx? Em princípio, nenhuma. Eu esperava que vários estranhos fossem fazer um trabalho por mim e manter suas promessas. Ainda assim, tudo é diferente.
Quando eu uso a FedEx, há conseqüências se a falha de estranhos me causa prejuízos. Há uma troca de informações que premia a excelência e pune as falhas e a desonestidade. Essa troca de informações cria uma forma de controle por parte dos consumidores.
A FedEx tenta empregar pessoas honestas e agradáveis, que sorriem quando você fala com elas. Ela demite pessoas rudes que freqüentemente perdem ou roubam pacotes. Premia e exalta pessoas que fazem bem seu trabalho. E por que a FedEx se esforça tanto? Parte da resposta é a reputação. Mas por que a FedEx se empenha tanto em manter sua reputação intacta? A competição responderia parte da pergunta. Mas há algo a mais.
Mesmo aquela troca de informações, que mantém os empregados da FedEx honestos, funciona melhor quando as pessoas se sentem culpadas por serem ladrões ou lerdos. Será que o capitalismo funciona melhor quando as pessoas são essencialmente honestas ou será que o capitalismo ajuda a criar virtudes que o fazem funcionar bem? Provavelmente os dois.
O sistema funciona tão bem que nós raramente o notamos ou sequer apreciamos suas maravilhas. A empregada sorridente da FedEx está sempre atrás do balcão esperando para levar meu pacote para St. Louis. Um estranho entrega meus jornais todas as manhãs. Eu nem mesmo sei como ele ou ela é. Estranhos montaram meu carro, costuraram minhas roupas e preencheram a receita do antibiótico que curou a pneumonia da minha esposa no último inverno. Incontáveis estranhos trabalhando juntos em algum laboratório de pesquisas, em algum lugar desconhecido, descobriram aquele antibiótico.
Não pensamos em nada disso. Já se tornou algo natural para nós confiar naqueles que não vemos e nem podemos verificar a honestidade, confiabilidade e excelência. Ainda assim, na maior parte do tempo, essa ampla ordem de cooperação humana preenche nossas expectativas de que produtos e serviços que desejamos estarão esperando por nós quando quisermos.
Entendemos que o papel da competição é sustentar esse sistema. Ter alternativas ajuda a criar esse controle por parte do consumidor e aumenta a punição às empresas que não atentem à nossas expectativas. Porém, na maioria das vezes, não entendemos ou não notamos a cooperação entre estranhos que resulta de suas ações coordenadas através das empresas que nos servem.
Surpreendentemente, confiar em estranhos pode ser mais vantajoso do que confiar em amigos. Afinal, não temos tantos amigos para podermos confiar somente neles e, ainda assim, gozarmos de um bom padrão de vida, com satisfação material e imaterial. Confiar somente em amigos ou em familiares traria nosso padrão de vida de volta ao nível de subsistência e a autosuficiência é o caminho para a pobreza.
Confiar em estranhos também libera nossos amigos para se especializarem em serem apenas amigos e fazerem o que amigos fazem de melhor. Quando tenho problemas, eu não quero comprar o “ombro amigo” de um desconhecido, que esteja atrás de um balcão disposto a vendê-lo barato. Eu desejo que meus amigos e parentes me dêem amor. Mas meus amigos e parentes têm mais tempo para seu conforto e alegria porque a ampla ordem de cooperação humana, em ação no mercado, significa que eu não espero que eles costurem minhas roupas ou fabriquem meu carro.
Confiar em estranhos cria uma rede extraordinária de cooperação que é a economia moderna. Um mundo onde a divisão do trabalho e a especialização – frutos do comércio e confiança reforçados pela troca de informações sobre preços, lucro e competição – me permitem enviar um pacote de Washington para St. Louis pelo preço de uma hora de trabalho de um americano.
É fantástico que um tanto de segurança possa ser comprado por apenas 19 dólares. E essa maravilha de cooperação funciona, mesmo que a maioria de nós não preste atenção nela, nem saiba como ela funciona. Porém, apreciar essa maravilha pode nos ajudar a lembrar do valor do sistema de preços e lucros que faz com que tudo isso continue funcionando.
Russell Roberts é Professor de economia da Universidade George Mason. Roberts é apresentador do podcast EconTalk e um dos autores do blog Cafe Hayek.
* Publicado originalmente em 22/02/2008.

Instituto Ordem Livre- Empregos de verdade geram riqueza

Por meros US$787 bilhões, o presidente Obama prometeu “salvar ou gerar” 3.5 milhões de empregos. Dá apenas US$224.857 e uns trocados por emprego! (Se eu ainda tiver o meu emprego no ano que vem, será que ele vai levar o crédito por salvá-lo?)
Mas espere aí. 3.5 milhões de empregos, só? Por que tão poucos? Até parece que criar empregos é difícil.
O Egito construiu mais de 100 pirâmides em algum momento do terceiro milênio A.C. para guardar os corpos dos faraós e de seus parentes e amigos. Pense só em todos os empregos que esse projeto gerou. Aposto que a taxa de desemprego ficaria muito bem na campanha de reeleição de qualquer faraó - se ele precisasse se eleger, é claro. A construção de pirâmidaes é uma obra pública de primeira.
Pirâmides, terremotos, guerras
A importância econômica destes não foi ignorada por aquele grande defensor do pleno emprego por meio de obras públicas, John Maynard Keynes. O economista inglês, tão na moda hoje em dia, escreveu famosas palavras na Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936): “A construção de pirâmides, os terremotos e mesmo as guerras servem para aumentar a riqueza”.
De fato, as pirâmides são até mellhores do que os projetos governamentais comuns. Disse Keynes: “Duas pirâmides... são duas vezes melhores do que uma; mas não duas ferrovias de Londres a York”.
O sucesso do antigo Egito tem muitas aplicações hoje em dia. Poderíamos ter o pleno emprego do dia para a noite se o governo simplesmente proibisse as máquinas. A taxa de desemprego [nos EUA] de 8% simplesmente desapareceria.
Novamente vemos uma defesa disso na Teoria geral de Keynes: “Cavar buracos no chão, pagando com nossa poupança, aumentará não apenas o emprego mas o dividendo nacional real de bens e serviços úteis”.
O segundo exemplo é Franklin Delano Roosevelt. Não me refiro a seus projetos governamentais, como os Civilian Conservation Corps. Estou falando de sua mais séria ação para a criação de empregos: o recrutamento militar.
Se não se pode empregá-los, é preciso recrutá-los
Em setembro de 1940, Roosevelt assinou o Selective Service Act [“Lei do serviço seletivo”], que ordenava todos os homens de 21 a 35 anos a alistar-se para o serviço militar. “Das 16 milhões de pessoas que serviram nas forças armadas em algum momento durante a guerra, 10 milhões foram obrigadas a servir, e muitos dos que se voluntariaram só queriam evitar o alistamento obrigatório...”, como escreve Robert Higgs em Depression, War and Cold War.
O alistamento obrigatório marcou o início do fim dos dois dígitos na taxa de desemprego que assolava os EUA há uma década. Dois anos antes, o secretário do tesouro de Roosevelt, Henry Morgenthau, lamentava: “Depois de oito anos deste governo, temos tanto desemprego quanto no início”. O alistamento obrigatório era a resposta que eles buscaram todo aquele tempo.
Assim, não é difícil para o governo gerar empregos. O que é difícil para o governo é gerar empregos que produzam riqueza. Pirâmides, buracos no chão e guerras não produzem riqueza. Eles destróem riqueza. Eles tomam recursos valiosos e os convertem em algo menos valioso.
Em vez de iPods, grandes obras de arte, curas para doenças e máquinas que fazem trabalhos que dão dor nas costas, temos algo equivalente a cavar buracos e tapá-los.
Com o plano de “estímulo” do presidente Obama, serão gerados empregos para climatizar edifícios, construir escolas e turbinas eólicas, e reparar pontes e estradas. Mas, fora do processo do mercado, não há como saber se estes usos de capital escasso são melhores do que qualquer coisa que seria produzida se o capital ficasse com a economia privada.
Como os serviços governamentais são pagos com impostos compulsórios, não têm preço de mercado. Mas sem preços de mercado, não temos como saber qual importância pessoas livres dariam a estes serviços versus outras coisas que desejam.
Assim, apesar de vermos os governo dando trabalho às pessoas e até algumas escolas e pontes novas, não teremos como saber quanta riqueza perdemos porque recursos escassos foram mal alocados pelos políticos.
No entanto, podemos ter certeza de que todos teremos perdido. Se os projetos governamentais realmente valessem a pena, seriam realizados por esforços privados, e, em sua busca por lucros, os empreendedores os tratariam com mais eficiência.
Lembrem-se disso quando o presidente Obama começar a se gabar do sucesso de seu plano de estímulo.
John Stossel é jornalista e apresentador do programa Stossel. Stossel é autor do livro "Myth, Lies, and Downright Stupidity".
* Publicado originalmente em 28/05/2009.

Ordem Livre- “Política Industrial”: apenas um novo nome para o planejamento central

Os problemas atuais da economia não chegam nem perto de ser tão ruins quanto os da Grande Depressão. No entanto, como aconteceu na Grande Depressão, estão levando muitas pessoas a repensar o papel do governo na economia. Os clamores por mais regulamentações estão maiores do que em qualquer outro momento da minha vida adulta de que eu consiga me lembrar. (Acabei de fazer 50 anos.)
Os apelos por uma “política industrial” são particularmente assustadores. Esse termo é outro nome para o planejamento central.
Nos Estados Unidos de hoje, os desejos em favor de uma política industrial nascem do medo da mudança – das ansiedades das pessoas em relação à competição em uma economia de mercado dinâmica, na qual os produtores servem os consumidores (em vez do contrário).
Em qualquer economia que mereça ser chamada de “bem sucedida”, os consumidores são soberanos. Os produtores existem para satisfazer os desejos dos consumidores. Caso os consumidores não queiram mais comprar espartilhos ou enviar telegramas, os produtores que outrora prosperavam com o fornecimento de espartilhos e com o envio de telegramas não terão mais razões para continuar esses negócios.
Uma política industrial inverte essa relação. Os consumidores passam a existir para o benefício dos produtores.

Ou, mais precisamente, os consumidores existiriam para o benefício dos produtores já estabelecidos – as empresas, indústrias e profissões que por acaso são predominantes no momento em que a política industrial é implementada. Os futuros produtores seriam excluídos pela própria política, que os impediria de entrar no mercado.
A empresa que iria produzir um dispositivo que cura o câncer de pulmão, mas que ainda será inventado; a indústria que produziria um motor para automóveis movido a folhas de árvores, mas que ainda não foi criado; os especialistas que nos educariam por meio de um processo inovador, mas que ainda será desenvolvido – esses produtores, e inúmeros outros na mesma situação, seriam prejudicados, e não ajudados, por uma política industrial.
A única forma pela qual a política industrial pode garantir que as indústrias, empresas e empregos existentes não serão “destruídos” é através da limitação da competição. E a competição que deverá ser estritamente limitada não será apenas aquela que acontece entre empresas nacionais e estrangeiras, mas também a competição entre as empresas criadas dentro do próprio país e entre as inovações e invenções nacionais.
Qualquer produto novo, empresa nova ou mesmo método novo de fabricação de produtos já existentes ameaça alguns dos produtores já estabelecidos. Se os empreendedores tivessem a liberdade de inovar e inventar, e se os consumidores tivessem a liberdade de comprar os bens e serviços resultantes – os produtos e os lucros das empresas estabelecidas divergiriam, inevitavelmente, daquilo que se espera da “política industrial”.
Para fazer com que o lucro das empresas retornasse aos níveis anteriores, seria necessário que o governo as subsidiasse ou que freasse as invenções e inovações. Em ambos os casos, os consumidores seriam forçados a pagar por produtos que não desejam – seja através da tributação para financiar os subsídios ou sendo impedidos de gastar seus dólares comprando os bens de consumo de sua escolha.
E as coisas podem piorar. Essa “política” de bloquear as mudanças econômicas se tornaria, inevitavelmente, cada vez mais cara. Protegidos da competição, os gerentes das empresas se tornariam preguiçosos e menos diligentes. Por que arriscar, se o Tio Sam irá protegê-los das conseqüências que poderiam surgir? Então, o tamanho dos subsídios necessários para se manter intacta uma “política industrial” – ou seja, evitar os produtores já estabelecidos sofram com as ameaças sobre seus mercados e seus lucros – deverá crescer.
Da mesma forma, à medida que as empresas se tornam cada vez mais insensíveis às demandas do consumidor, a tentação de novas empresas de ganhar a preferência dos clientes vai ficar mais forte, assim como ficará mais forte o desejo dos consumidores de apoiar esses empreendimentos. Surgirá um mercado negro e cinza.
Porém, o Tio Sam tem poder suficiente para manter a sua política industrial “funcionando” por um bom tempo. Mas “funcionando” quer dizer que ela funcionaria dentro de seus limites estreitos. Ela funcionaria bem na proteção dos atuais produtores, congelando eficientemente a economia, tornando estática uma economia outrora dinâmica – fazendo estagnar um movimento que anteriormente era o tempo todo renovado com novas idéias e oportunidades, e matando o que outrora estava vivo.
Uma política industrial implementada com seriedade por Washington fará com que os americanos (e, na realidade, todas as pessoas no mundo) fiquem significativamente mais pobres. A prosperidade não é, e não pode ser, criada ou mantida por políticas construídas sobre a premissa de que os produtores devem ser servidos pelos consumidores.
Prosperidade significa ampla satisfação dos desejos dos consumidores. As empresas que satisfazem esses desejos deveriam ser celebradas e deixadas em paz para continuar com seus negócios. Porém, a partir do momento que deixarem de satisfazer aos desejos dos consumidores, por qualquer razão que seja, esses empresas também deverão ter a liberdade de morrer sem interferências.
Essa é a única “política industrial” de que precisamos.
Donald J. Boudreaux é o diretor do departamento de economia da Universidade George Mason.

* Publicado originalmente em 07/10/2008.