quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

LAÇANDO O VENTO


Raimundo e Anselmo, por sinal mui valentões e corajosos, decidiram agora na sexta de carnaval que iriam laçar o vento. Foram ao campo nos pampas munidos do melhor em corda e laço, também reforços nos punhos. Pois quando o dito arreganhou-se foram para cima dele. Não deu outra: Raimundo foi encontrado congelado no Everest e Anselmo caminhando sem rumo na Nova Zelândia.

MUNARO


Munaro era um homem pequeno que se tornou triste. Viúvo recente, não tinha mais prazer na vida. A depressão foi tomando conta do pequeno corpo dele; os remédios não o ajudaram. Por fim, no último domingo ele deu cabo da vida se enforcando num bonsai.

O GUARDA-COSTAS DE DEUS


Fundamentalistas islâmicos saíram do inferno carregados de bombas e entraram sorrateiramente no paraíso para destruir o trono do Senhor. Disfarçados de anjos buscavam o melhor lugar para colocá-las quando tiveram uma surpresa desagradável e voltaram correndo para o inferno sem fazer nada; estavam assustados quando viram que o guarda-costas de Deus era ninguém menos que John Wayne e seu revólver de duzentos tiros.

BLECAUTE


Vivíamos a Era do Sangue. A capital da República Federativa de Ignorabis, Ailisarb, ficou às escuras por muitas horas aquela noite de verão. Um inexplicável blecaute tomou conta de toda área urbana provocando um medonho caos. Acidentes de trânsito, assaltos, quebra-quebra nas lojas, estupros e outras violências. Corruptos e corruptores até saíram dos seus esconderijos. Alarmes da polícia e gritos da população se misturavam. A polícia não conseguiu atender nem metade dos casos, para desespero dos cidadãos. Também milhares de presos-vampiros foram liberados por seus parceiros dos seus caixões-celas e saíram às ruas em busca de alimento. Muitas pessoas indefesas foram atacadas pelos humanos-morcegóides em suas próprias casas fechadas. Nem mesmo mendigos escaparam de ter caninos cravados nos seus pescoços.  A desgraça só não foi maior porque todos os Bares de Sangue permaneceram abertos por toda noite. Existiram baixas nos dois lados. O que se sabe é que muitos vampiros morreram de indigestão por excesso de sangue de corruptos e corruptores. Tipos assim não possuem sangue bom. Com o nascimento do sol a vida voltou ao normal.


LUGAR ESTRANHO



Hoje despertei num lugar estranho; cama e móveis desconhecidos, quarto sufocante. O galo não cantou. Quando terminei de abrir os olhos, ouvi uma sirene e alguém bateu à porta: entrou por ela um jovem com aparência aborrecida, fala rouca e baixa.
-Antes que o senhor pergunte onde está eu lhe digo: no inferno! Aqui neste papel estão descritas as regras gerais do Reino do Capeta e todos os horários e compromissos. E caso falhe em alguma das obrigações o castigo será em dobro e assim por diante. E não ouse falar alguma coisa!
Fui lendo a bula do inferno:

6h- Café da manhã acompanhado de pães de aranhas secas;
7h- Momento chibata;
8h- Banho de salmoura;
9h- Gargarejo com pimenta malagueta;
10h- Vômitos induzidos ao som de Ravel;
11h- Massagem especial com urtiga;
12h- Almoço servido dentro de um cão morto;
13h- Pequena siesta no refrigerador, 10 graus negativos;
14h- Corrida de uma hora pelo deserto, 70 graus centígrados;
15h- Passeio pelo inferno no ônibus da comunidade. O guia será o patrão;
16h- Recepção aos recém-chegados, com direito aos novatos tomarem pedradas e choques da galera mais antiga, não mui diferente de certos trotes de universitários;
17h- Sauna;
18h- Culto com os padres e pastores residentes;
19h- Churrasco de bago de touro;
20h- Discurso do mais velho capeta;
23h- Recolhimento

Muito bem, com a lista em mãos fui para o café da manhã com aranhas secas. Era enorme o refeitório; apanhei minha bandeja e entrei na fila. Nela tinha café, manteiga e os tais pães de aranhas secas. Mas não eram aranhas secas e sim castanhas secas. O comprador do inferno era cego e comprou por engano toneladas de castanhas, quando o certo seriam aranhas indianas. Saciada a fome, dirigi-me ao salão da chibata para receber meu castigo. Fui jogado numa mesa fria de latão, amarrado de bruços e de boca tapada.Mas tive sorte,o cara da chibata deu apenas duas e desistiu:sofria de bursite e sentia mais dor do que eu. Fiquei de papo até terminar meu horário e saí. Com o lombo em dia, saltei na banheira de salmoura, tomando cuidado para não entrar água nos olhos. Foi tranquilo. No Departamento Gargarejo com Pimenta foi até bom. Após dois minutos de gargarejo a gente recebia uma cerveja gelada pra acompanhar. Ali o diabo não era bem um diabo. Deu 10h e lá estava eu para vomitar ao som de Ravel. Mas a especialista não compareceu, pois estava com a gripe suína. Fiz um tempo e me apresentei para a tal massagem com urtiga. Mas urtiga mesmo era um por cento, o resto era creme hidratante. Até gostei. Meio-dia, hora do almoço servido dentro de um cão morto. Entrei na fila com o meu bandejão, antevendo a catinga que iria ter que aturar. E não podia reclamar. Como não vi nada de cão morto, perguntei ao cozinheiro que fumava na ala própria:
-E o cão morto?
-Está no pastel, respondeu ele.

Não comi o pastel, então almocei tranquilo. Fiz uma pequena pausa e segui para o freezer, o tal de 10 graus negativos. Um pouco antes havia lido num pequeno quiosque: Alugam-se Casacos.  Encostei-me  ao balcão e pedi o preço do aluguel por uma hora.

-Dez tabefes nas bochechas e um puxão de orelhas - sou viciado nisso, falou para mim o diabinho que ali atendia. E tem bônus de meias de lã!

Bem, tomei meus bofetes, apanhei meu casaco e entrei no freezer. Como estava bem agasalhado não foi difícil suportar o frio por uma hora, ajudado por alguns exercícios. Ao sair do gelo fiquei sabendo que a corrida pelo deserto estava cancelada; uma chuva providencial chegou para poupar o meu corpo de tão estafante esforço. Descansei até a chegada do ônibus que faria o tour infernal.
O capeta de guia estava todo posudo de terno e gravata, livro negro debaixo do braço, barba feita e perfumado tal qual quarto de puta. Conheci todos os fornos movidos a carvão e os modernos já aparelhados com energia nuclear. Os prédios principais do recinto infernal estavam em bom estado, pelo jeito receberam uma pintura recente. Achei muito interessante o campo de treinamento para novos diabinhos. Como apanhavam e batiam! Cursos de graduação para linguarudas. Estava lotada a arena onde seriam recepcionados os recém-chegados ao inferno. Atirei apenas uma pedrinha de nada, pois tinha diabo de olho em mim. Mas vi gente arremessar pedra de quilo e pilhas Raiovac. Quando peguei os apetrechos para ir à sauna fui chamado pelo diabinho da recepção, que apavorado, analisando um formulário amarelo, me disse: “o senhor pode retornar ao mundo terreno .Foi um grande engano. Aqui no inferno, os diabos também erram.” Quando quis pedir como seria a transição, apaguei. No momento estou no hospital me recuperando de um infarto. Mas não sei se conto esta história para alguém.







“Fui educado para chorar sem apanhar. Quando comecei apanhar estava bem treinado”. (Climério)

DEF



“Tenho todos os defeitos do mundo. E não satisfeito ainda pego alguns dos vizinhos.” (Climério)

RETRATO 3X4


Borlulário trabalha no SEF (Sindicato dos Ensacadores de Fumaça), lê Emir Sader, Frei Betto e Chauí, está sempre pronto para passeata e mortadela, para ser contra tudo que não sai das cabeças iluminadas da esquerda, inclusive a Lei de Responsabilidade Fiscal quando foi votada; é amplamente favorável ao roubo cometido contra o trabalhador pela Contribuição Compulsória, enfim, é um homem pronto para mudar o mundo como estudantes de certo país que ocupam escolas com um discurso pífio e mentiroso, pois onde é que já viu querer mudar o que é uma bela porcaria, basta ver a nossa colocação no ranking mundial, quando na verdade o que desejam é gazetear e na vida ter uma boa teta estatal para mamar. O verme apoia toda arruaça, pois protestar é com ele, já que trabalhar e estudar é muito duro, então o furo é mais embaixo. Crê piamente que bandido só é bandido porque é pobre, ofendendo os milhões de pobres que trabalham honestamente. Bordulário não sabe a diferença entre magarefe e mequetrefe; conjuga o verbo colorir começando com “eu coloro”,; recebe Bolsa-Família para comprar ração para cachorro; fala presidenta; acredita que Lula não é dono do sítio de Atibaia; pensa que Rose Noronha é uma freira e que Guido Mantega é apto ao Nobel de Economia. Eis aí o retrato 3x4 de um marxista imbecil.

OS MÁGICOS


Dois mágicos caminhavam por uma estrada quando se armou um temporal daqueles. O primeiro deles fez surgir do nada um guarda-chuva e rio com sua façanha. O outro riscou o céu com sua caneta de fada e escreveu “céu azul”. O primeiro teve que fechar seu guarda-chuva e seguir a pé. O segundo seguiu viagem nas asas de Pégaso.

MANUEL


Manuel artesão sempre adorou fabricar brinquedos de madeira, era sua vida e alegria. Não se casou, não tinha filhos ou parentes vivos. Homem magro e pequeno, quando morreu aos oitenta anos foi enterrado dentro de um bilboquê.

CHOVEU NO INFERNO



Bilhões de pessoas torrando dia após dias no fogo do inferno por séculos e séculos, sem cessar o sofrimento. Ontem, porém desceu um toró que não foi dos diabos e apagou tudo. Nadica, nem um foguinho para esquentar água para o café. A enxurrada levou até os diabos morro abaixo. O inferno acabou. O povo feliz cantava e dançava e queria agradecer a Deus pela bendita quando um vivente disse que não fora Deus que fizera a graça. Apontou o dedo para um magrelo que Lúcifer deixara entrar no reino com uma bicicleta e um rádio transístor. Fora ele que fizera a máquina de chuva. Apareceu então sorridente no meio da multidão um sorridente louro usando casado de couro; seu nome, MacGyver.

CONFINS 2


Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Gilmar Mendes!
-Valha-me Deus! Antes fosse o demo em carne e osso!

LÃ E CARNE


Genara era uma ovelha descontente que resolveu fugir dos campos e ir à cidade para cortar sua lã, pois sofria com o calor e principalmente queria ver como era o mundo longe da verde relva. Após muito andar chegou à terra do cimento e aço. Obteve informações e correu até o primeiro barbeiro. Lá chegando perguntou:
-O senhor corta lã de ovelha?
Respondeu o barbeiro um pouco espantado:
-Não só corto a lã como também degusto a carne.  
E dito isso deu uma paulada na ovelha Genara que morreu no ato. O barbeiro foi para casa feliz levando nas costas o futuro assado da noite de seu aniversário.




CONFINS


Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Lula!
-Quem!!!- 
- Lula!
-Ladrão, como é que tu ainda não foste preso?


MINHOCAS E ALGO MAIS


Carlos, pescador de final de semana saiu para apanhar minhocas. Terra preta e mole, bem adubada, um criadouro perfeito. A cada enxadada brotavam meia dúzia de boas cobrinhas. Com o baldinho já repleto foi dar a última e brotou da terra algo inusitado: a vergonha na cara de Luis Inácio Lula da Silva, enterrada num terreno em São Bernardo do Campo próximo do Sindicato dos Metalúrgicos. Ela toda suja e ainda cuspindo terra perguntou: “já prenderam o maldito?”

FOI


Quando Joel completou trinta e três anos viu uma luz e dentro dela uma voz que dizia ‘vá!’. Ele foi, errou um degrau, caiu da escada e quebrou o pescoço. Foi mesmo.

SOPA DE LETRINHAS


Nestor, sujeito mala politicamente correto foi tomar uma sopa de letrinhas. Blábláblá interminável. Perdigotos atiravam-se solenes sobre a mesa. Até que as letrinhas não suportaram o papo e as ideias do babão e revoltadas formaram dentro do prato uma corriqueira expressão nacional: “ Calado! Vá tomar nas pregas!”