sábado, 28 de março de 2015

RECADO DO DIABO- “Não se preocupem com comunistas e afins. A primeira coisa que fazemos com comunas aqui no inferno é decapitar suas línguas ou injetar nos seus cérebros novos neurônios.” (Satanás Ferreira)

“Ali Baba jamais faria parte de um governo do PT. Com certeza ele ficaria constrangido.” (Eriatlov)

Só posso concordar!- Marcelo Madureira: Millôr Fernandes, um imortal sem academia

Para o meu querido mestre Gravatá
Tem gente que morre e faz a maior falta. Assim, de cara, falo do meu pai, Seu Mauro, e do João Saldanha. Na sexta-feira passada, dia 27 de março, fez três anos que o Millôr Fernandes morreu. Saudades.
Conheci o Millôr, mas menos do que queria. Lamento muito isso. Em compensação, convivi com a sua obra, diariamente, anos a fio. No Pif-Paf, no Pasquim, na Veja, no finado Jornal do Brasil - aonde quer que o Millôr fosse, eu ia atrás abanando o rabo. Millôr Fernandes era o meu Antônio Conselheiro. Junto com Ivan Lessa, Jaguar, Paulo Francis, Tarso de Castro, Henfil e tantos outros, Millôr foi uma espécie de João Gilberto na minha formação humorística e intelectual. Fundamental. A obra é eterna, e o intelectual, assim como algumas bichas, nunca morre, vira purpurina.
Fundada a Casseta Popular, já com um certo renome no circuito marginal, Helio de la Peña e eu fomos incumbidos pelo resto do grupo de introduzir a Casseta (no bom sentido, de fora para dentro) no inventor do frescobol. Eu morava em Ipanema e Millôr Fernandes residia na quadra seguinte. Lívidos e trêmulos de emoção acionamos o interfone, uma voz metálica nos autorizou a subir. Parecíamos um casal de veados. Tocamos a campainha. Súbito a porta se abriu e o semi-deus em pessoa se mostrou de torso desnudo (devia estar comendo alguém). No pórtico do templo, gaguejando, justificamos a nossa presença, e colocamos em suas mãos o produto de nossa obra. Millôr pegou, olhou e disse: obrigado, façam sucesso e fiquem ricos. Em seguida bateu a porta na nossa cara e retomou à sua provável foda. E isso foi tudo.
Seguimos os seus sábios conselhos e o resto é história.
Vida que segue. Estava eu trabalhando na Casseta quando toca o telefone. Era da Globo News, Millôr acabara de morrer e eles queriam um depoimento ao vivo. Imediatamente me colocaram no ar. O Chico Anysio havia morrido há pouco tempo e eu falei com a apresentadora: “Puxa vida! Eu adoro a Globo News, sou um telespectador fiel mas, ultimamente, vocês só estão me dando noticias tristes, semana passada o Chico Anysio, agora o Millôr. Com tanta gente para morrer no Brasil, como o Zé Sarney, o Collor, o Maluf... Quando é que vocês vão me dar uma boa notícia dessas?“ Sem graça a entrevistadora cortou a entrevista. Esta foi a melhor homenagem que eu poderia prestar ao Millôr.
No dia seguinte, fui ao velório antes do churrasco do Millôr. Ele foi cremado. Desolado, eu estava sentado na capela quando adentrou o Ziraldo aos berros me procurando para dar porrada. Tudo porque eu havia dito em entrevistas que o Millôr havia se recusado a requerer a Bolsa Ditadura. Para ele era uma questão de ideologia, não era um investimento. Hoje eu entendo. O Ziraldo não se conformava que o Millôr, em seu próprio velório, pudesse chamar mais atenção que o maior cartunista de Caratinga de todos os tempos.
Pacificados os ânimos, eu estava sentado ao lado de Cora Ronai, querida amiga, lamentando a perda do intelectual e humorista. De repente, uma jovem repórter de Caras se aproximou. E pediu uma minha declaração sobre a perda do grande “Millôr Ferreira”.
Dei um salto na cadeira. Olhei o rosto sem vida do Millôr no caixão e não me controlei. Parti em direção ao ataúde e gritei na orelha morta do artista: "Millôr Ferreira!!! Porra Millôr! Acorda! Você ainda nem foi cremado e já caiu no esquecimento!!!!"
E tenho dito.
Millôr! Acorda!

O Antagonista-Joaquim Levy diz que Dilma é ineficiente

Joaquim Levy disse que Dilma Rousseff é ineficiente, mas bem-intencionada.
A declaração foi dada alguns dias atrás, em inglês, numa reunião com ex-alunos da Universidade de Chicago. A Folha de S. Paulo conseguiu uma cópia da gravação e publicou-a hoje.
O trecho completo é:
"Acho que a presidente realmente quer acertar. Nem sempre da maneira mais simples... do jeito mais eficiente, mas há um desejo genuíno".
É melhor Joaquim Levy sair de férias por uma semana.

O Antagonista- Ainda sem explicação

A revista Veja fez uma reportagem de quatro páginas sobre o uso eleitoral que o governo petista queria fazer com a lista de clientes brasileiros do HSBC de Genebra. Um episódio vergonhoso.
Na reportagem, a revista diz que não é crime manter contas bancárias no exterior, desde que declaradas à Receita Federal. Isso está claro. Os dois editores deste jornal online, por exemplo, têm contas no exterior. Um na Itália, porque mora em Veneza; o outro na França, porque morou em Paris, onde ainda mantém residência por razões familiares. Ambos declaram todos os anos as suas contas ao Fisco -- italiano, no caso do primeiro; brasileiro, no caso do segundo. Nenhum tem ou teve contas em paraíso fiscal.
Ninguém é obrigado a revelar dados da sua vida privada. Mas, quando o nome de um jornalista surge numa lista produzida por um escândalo mundial de sonegação, é recomendável que ele e o veículo em que trabalha não deixem margem a suspeitas que possam prejudicar a credibilidade tanto de um como de outro. Se não o fazem, as suspeitas ficam no ar.
O Antagonista admira a Veja. Por isso mesmo, acha uma pena que a revista não tenha explicado o fato de o colunista José Roberto Guzzo constar da lista do HSBC de Genebra. A única reação da Veja à pergunta legítima que fizemos na semana passada foi retirar o nome de Diogo Mainardi da sua lista de colaboradores. Por decisão própria, Diogo Mainardi já não colaborava com a revista havia tempo, como sabem os seus leitores.

O indivíduo comum como o único agente da história

A ideia do herói revolucionário não é, de forma alguma, nova. Na realidade, é um dos mais interessantes paradoxos do marxismo que este tenha combinado uma teoria da história que nega a eficácia da liderança com uma prática revolucionária que depende inteiramente da liderança para seu sucesso, e que foi capaz de consolidar-se no poder somente por estabelecer hábitos de adoração ao herói revolucionário”.
A passagem, de Roger Scruton sobre Gramsci, traz um ponto muito interessante sobre uma das maiores – entre tantas – contradições do marxismo: a crença no determinismo histórico concomitante ao culto do líder revolucionário. As “forças históricas” são produzidas pela luta de classes, segundo os marxistas, e do feudalismo passamos ao capitalismo que, inexoravelmente, chegará ao socialismo.
A crença em qualquer fatalismo deveria levar à inação. Ora, se tais acontecimentos independem da volição das pessoas, até mesmo da ação de indivíduos, então por que lutar tanto? Para “acelerar” o processo histórico inevitável? Claro que não faz o menor sentido, e o classismo marxista, esse abjeto coletivismo que só enxerga classes abstratas e nunca indivíduos de carne e osso como os protagonistas da história, não passa de uma forma de tornar o violento revolucionário mais insensível ao dano que causa às pessoas.
Somente quando a “burguesia” é o alvo, o grande inimigo, que revolucionários podem dar vazão à sede de violência eliminando os kulaks, os pequenos proprietários russos de terras. Somente quando os seguidores de Pol-Pot enxergam nada além de “classes dominantes” é que um terço da população do Camboja pode ser exterminada sem tanto peso na consciência dos revolucionários. Não matavam pessoas, pais e mães, gente de carne e osso, mas uma “classe”. O mesmo com os nacional-socialistas na Alemanha, exterminando “ratos judeus”, e não seres humanos como você e eu.
Não perceber que são indivíduos os verdadeiros agentes da história, cuja trajetória é sempre indefinida, é um equívoco primário que o marxismo comete, e que possibilita todo tipo de prática nefasta por parte dos revolucionários – eles mesmos indivíduos também, seguindo seus instintos mais do que sua razão, e agindo impunemente e com paz na consciência, pois se sentem agindo como uma “classe” oprimida, nunca como pessoas responsáveis por seus atos.
Toda essa longa explanação foi para chegar na realidade brasileira atual. Os petistas, herdeiros tupiniquins do marxismo, julgavam-se os “protagonistas da história” como representantes da “classe oprimida”, enquanto os demais, mesmo os esquerdistas tucanos, eram da “elite”, da “classe opressora”, e portanto “reacionários”. A mobilização das massas nas ruas era monopólio do PT, pois somente ele agia em prol do avanço da história rumo ao seu destino inevitável: o socialismo.
Muitos realmente acreditaram e acreditam nessa baboseira. É por isso que olham perplexos, com um sentimento doloroso de dissonância cognitiva, para milhões nas ruas contra o PT. Precisam ser acusados de “classe golpista”, de “elite”, mesmo que sejam pessoas comuns, da classe média, um misto de tudo, de trabalhadores, de profissionais liberais, de aposentados, de jovens estudantes, de empresários grandes, médios ou pequenos. Todos viram um monolítico grupo de “reacionários golpistas”, pois se colocam contra o “progressismo” petista, aquele que fala em nome dos pobres e de seu futuro brilhante.
Reinaldo Azevedo falou algo similar em sua coluna de hoje na Folha, mostrando, com o próprio Marx, como alguns podem ser vítimas de sua própria visão de mundo. O PT está em crise grave, definhando, murchando, e antigos aliados pulam fora do barco que afunda. O partido pode até mesmo ser totalmente destruído. Mas esquerdistas históricos se recusam a ver o que acontece. Escreve Reinaldo, usando o petista Andre Singer como exemplo:
Tentei achar nos seus textos onde estão os sujeitos que fazem história fora das hostes da esquerda. Não há. Ou os homens que disputam as narrativas estão engajados num movimento que traz em si o germe da mudança necessária ou estão articulando as forças da reação, o que levaria o mundo a andar pra trás.
É impressionante que mesmo os esquerdistas que leram mais de três livros ignorem que os valores do homem médio –que, no fim das contas, asseguram a estabilidade disso que entendemos como civilização– também podem ser afirmativos, não apenas reativos ou derivados da mobilização esquerdista. Bakunin, numa crítica pela esquerda, apontava “a falta de simpatia” de Marx pela raça humana. A crítica era pertinente. O furunculoso nunca se interessou pelo homem que há, aquele que realmente faz história, mas sempre pelo homem a haver, que existe como projeto.
O petismo perdeu o bonde. Também perdeu a rua, como ficará claro, de novo!, no dia 12 de abril. O petismo já morreu. Tornou-se vítima de sua própria concepção de mundo.
Amém! Mas não chega a ser uma declaração de fé, e sim uma conclusão lógica derivada da análise fria dos fatos, algo que os petistas jamais foram capazes de fazer. Eles eram o “motor da história”, e isso era tudo que bastava para sua arrogância e seu ataque virulento aos opositores, tratados por eles como inimigos, como obstáculos ao futuro radiante de sua utopia.
É o que dá essa mania de enxergar somente coletivos abstratos, e nunca o indivíduo de carne e osso, o único agente verdadeiro da história, sempre imprevista. Para os liberais, o indivíduo sempre faz a diferença – para o bem e para o mal.
Rodrigo Constantino

Cortella, a esquerda e a demofobia

Escutava a CBN, programa “Fim de expediente”, quando quase bati de carro. É que a fala do filósofo Mario Sergio Cortella, o entrevistado, fez eu levar automática e incoscientemente a mão à barriga, procurando o estômago. Quando lembro que sua especialidade é falar sobre ética, bate uma tristeza ainda maior. Nossa esquerda não tem jeito mesmo!
E o que foi dito de tão assustador? Bem, após tecer loas ao mestre Paulo Freire, pintado não como um homem, mas quase como um santo e um gênio, basicamente pelos títulos conquistados (apelo à autoridade*), pois o reconhecimento oficial de “patrono da educação brasileira”, convenhamos, não deveria ser tão honroso num país com esse ensino lamentável que ocupa a rabeira dos rankings internacionais, Cortella resolveu falar sobre a esquerda e a direita.
Sua definição “histórica” dos termos foi a seguinte: esquerda é tudo aquilo que não tem “demofobia”, enquanto direita é tudo que tem “demofobia”. E lá vamos nós para o monopólio das virtudes uma vez mais, a velha e surrada tática de se apropriar dos fins nobres e demonizar os oponentes pelas supostas intenções terríveis. Mesmo que o partido se diga de esquerda, alega Cortella, ele será de direita se não quiser o bem do povo, se não desejar melhorar a vida dos pobres.
Esquerda, para ele, é um sentimento bom, uma alegada intenção nobre, um “amor” por tudo que é popular. Como Rousseau, que “amava” a Humanidade, especialmente o “bom selvagem”, mesmo tendo abandonado todos os filhos e criado problema com todos os amigos, chegando a ser visto como um “poço de vileza” por Voltaire. Detalhes bobos. Ser de esquerda, nos diz Cortella, é apreciar o povo, enquanto ser de direita é detestá-lo, torcer para que os pobres não possam frequentar os aeroportos.
O que dizer de tanta estupidez ou desonestidade? Só posso dizer que o discípulo teve o mestre que merecia. Quem sabe Cortella não possa ser o novo patrono de nossa educação? Até porque está cotado para o ministério, não é mesmo? (assim que o texto foi publicado, saiu a notícia de que Renato Janine é o novo ministro, ou seja, outro puxa-saco do petismo) Nada mais adequado do que um especialista em ética aceitar um cargo no governo do PT, não é verdade? Será apenas mais um a levar a mentalidade marxista de oprimidos e opressores para dentro da sala de aula, colaborando com afinco para o declínio ainda maior de nosso ensino público.
Cortella, em seguida, passou a minimizar nossos escândalos de corrupção com base na juventude nacional. Ou seja, o Brasil é um país com apenas 500 anos. Como podemos nos comparar com países milenares? Ele citou a China e a Índia como exemplos. Como é? Qual a lição aprendida pela China ao longo de tanto tempo? Um país sem democracia e ultra corrupto, vai ensinar o que exatamente? E a Índia, uma miséria total, de que serviu tantos milênios de idade? Já os Estados Unidos…
Mas ficamos assim: devemos ser menos exigentes com nossos políticos pois o Brasil é um país jovem ainda. Disse o entendido sobre ética, e que talvez vá para o governo do PT. Não é tudo incrível? Acho que tenho um pouco de “petistofobia”, admito, pois quando vejo o que esses petistas fazem com o nosso povo que tanto “amam”, a revolta é inevitável…
* Acho incrível como os “intelectuais” de esquerda apelam para os títulos acadêmicos, na incapacidade de focar em argumentos. Não importa quantos doutorados honoris causa Paulo Freire recebeu, isso não diz nada sobre suas ideias serem boas ou ruins. Outros acadêmicos renomados e repletos de títulos também defenderam baboseiras. Aliás, vários marxistas são doutores, e isso não salva o marxismo, um retumbante fracasso, de nada. Podemos pensar em Chomsky, respeitado na área linguística, mas um rematado idiota político, chegando a afirmar que os Estados Unidos representam a maior ditadura do mundo, enquanto defende as tiranias assassinas de esquerda. O certo não é se respaldar em títulos acadêmicos, mas nos argumentos e nos fatos, algo que a esquerda nunca faz.
PS: Certa vez o jornalista Elio Gaspari também apelou para a tal “demofobia” para blindar o PT de críticas, como se estas fossem derivadas de um suposto ódio ao povo. Uma piada! Comentei o absurdo aqui.
Rodrigo Constantino

BEM PRÓPRIO DELES- Governo tentou obter nomes no caso HSBC para uso eleitoral

“Dilma/Cristina- Terão muito que desaprender uma com a outra.” (Eriatlov)

“Com amante posta no serviço público, pinto de graúdo não cria limo.” (Climério)

“Tenho um pacto de não agressão com o capeta. Eu não falo mal dele e ele não conta os meus podres para o vigário.” (Climério)

Magna fures

“A corrupção no Brasil sempre existiu. Porém jamais em tamanha proporção e organizada por quadrilheiros amoitados no governo e em empresas estatais, visando o financiamento de campanhas, compra de apoio parlamentar e como ninguém é de ferro, para enriquecer familiares que agora recebem visitas da Polícia Federal.” (Eriatlov)

“O inconformismo com a morte fez surgir os exploradores do medo.” (Filosofeno)

Desprezo bajuladores. São seres menores.” (Mim)

“Dor sem fim? Suicídio sim. Cada ser sabe onde lhe aperta o calo.” (Filosofeno)

“Não pago nem promessas, imagine então contas.” (Climério)

"Minha mulher só me suporta porque é feita de açúcar." (Limão)

“Numa mesa de bar só há gênios. Não existe problema que o álcool não resolva.” (Limão)

“Amigo de boteco é o último que chega ao velório, mas é o primeiro que visita a viúva.” (Limão)

“Meu irmão rezou todos os dias por trinta anos. Agora parou. Diz ele que Deus é surdo.” (Limão)

“A lei protege menores infratores. Mas quem nos protegerá deles?” (Limão)

“Há tipos que pensam que pensam ter o mundo a seus pés. Quando dão por conta estão é com os pés atolados na bosta.” (Pócrates)

Andrea Faggion- Ideologia e seus Bodes Expiatórios

Ideologias e seus Bodes Expiatórios

by andreafaggion
Vamos especular um pouco sobre sociologia, ou psicologia de massas? Vocês já leram Minha Luta, de Hitler? Eu, sim. Quem leu sabe que a origem do ódio de Hitler aos judeus não era baseado em alguma característica religiosa ou étnica do grupo. Hitler simplesmente atribuía aos judeus os supostos crimes do sistema financeiro. Como para muitos ainda hoje, segundo Hitler, o sistema financeiro seria parasitário do sistema produtivo, e culpado pelas crises que levam massas de trabalhadores a passarem fome.
É bem sabido como, por serem sempre fugitivos, historicamente, os judeus não tendiam a se tornar grandes produtores rurais ou industriais. Imagine como seria estúpido acumular riqueza, por exemplo, em forma de terra, se você fosse um judeu. Judeus tornaram-se, por exemplo, grandes comerciantes de pedras preciosas, porque, se você precisar fugir da noite para o dia, você vai querer poder carregar sua riqueza nos bolsos. Assim, vivendo de comércio e de crédito, judeus não adquiriram lá grande reputação nas sociedades em que formaram suas comunidades. Eram vistos como aqueles que, usando de astúcia, obtinham vantagens sobre os que verdadeiramente produziam riqueza. É por isso que, muito antes de Hitler, você já encontrará observações do tipo sobre os judeus em ninguém menos do que Kant, por exemplo.
Note, então, como foi fácil para Hitler eleger o judeu como o bode expiatório de seu contexto. Foi assim que ele pôde propagar com tanto sucesso sua ideologia. Todo mundo quer alguém para culpar por seus problemas! (E aqui entra minha psicologia de botequim). É reconfortante poder pensar que você tem menos do que poderia ter por causa de alguém que o explora, que o oprime, que tira de você o que deveria ser seu por direito. Seria muito mais duro termos que conviver com o fato de que somos mais pobres do que poderíamos ser, porque fizemos escolhas erradas no passado, ou porque nossos antepassados fizeram-nas, ou porque não fomos favorecidos pela natureza. Quem já perdeu um ente querido sabe como isso é mais difícil quando o fato se deve a um mero acidente: o lado trágico da vida. Traz conforto pensarmos que foi pela vontade de alguém que o mal caiu sobre nós, alguém que você pode culpar e punir, aliviando sua dor. Assim, o judeu foi apenas o opressor da vez naquela ideologia.
Agora, mudemos de ideologia. Se você ler Marx (e eu não li o bastante), você fica com a impressão de que burgueses são tão culpados por qualquer coisa quanto proletários, afinal, antes do comunismo, vivemos todos conforme a necessidade. Não atingimos uma sociedade livre. Bom, se isso fizer sentido, o burguês pode ser o explorador, mas não é propriamente culpado por isso. Porém, isso não impediu seguidores de Marx de terem eleito o burguês como seu bode expiatório. E lá está todo o ódio, todo o ressentimento de classe. "Não é por causa do sistema que eu vivo assim: é por sua causa, seu burguês!"
Andando mais um pouquinho, encontramos o ódio racial. Sabiam que todo brasileiro branco descende de senhores de engenho escravagista? Pois é, parece que, na sociedade escravagista, não havia ferreiros ou sapateiros brancos livres. Ninguém tem o direito de dizer: "meu trisavô não teve nada a ver com o que fizeram com seu tetravô, por favor, não me odeie assim". Inclusive, todos os brancos chegaram ao Brasil antes do fim da escravidão, não é? A verdade é que não importa o que os meus antepassados de fato fizeram com os seus e o quanto eu me beneficiei e você sofreu por isso. O importante é ter alguém in concreto para culpar por sua situação!
E, agora, chegamos aos libertários. (Sim, pensaram que eu ia poupar minha própria ideologia de minha divagações?) De acordo com a ideologia libertária mais radical, não há justificativa para a cobrança de impostos. E parece que alguns garotos deduzem disso que, se eles não pagassem impostos, eles simplesmente seriam mais ricos do que de fato são, de modo que eles são os explorados e, quem vive de dinheiro de impostos, o explorador.
Tudo que a teoria econômica por trás do libertarianismo sustenta, porém, é que o planejamento estatal é um modo menos eficiente de gestão de recursos, de tal maneira que, em uma sociedade de livre mercado, haveria uma maior probabilidade de um fim randomicamente escolhido ser realizado. Em outras palavras, o livre mercado otimiza o número de fins realizáveis. Mas isso não quer dizer que você, Joãozinho pagador de impostos, seria beneficiado no livre mercado.
O livre mercado também depende da possibilidade sempre presente de que fins sejam frustrados. É um jogo de risco. Por exemplo, se você é um empresário já estabelecido, em um ambiente de autêntico livre mercado, seu negócio estaria muito mais ameaçado do que sob um Estado que atua a todo momento para criar barreiras para novos entrantes no seu mercado, sendo os próprios impostos uma barreira do tipo. Não há nenhuma garantia de que um empresário não seja um beneficiado pelo Estado, o mesmo valendo para seus empregados. O mesmo Estado que cobra impostos da padaria da esquina da minha casa também me proíbe de vender bolos na minha calçada, ameaçando sua hegemonia.
Portanto, é falso afirmar que apenas pessoas que recebem dinheiro do Estado, seja em troca de trabalho ou como benefício social, sejam privilegiadas pela situação injusta de cobranças de impostos. Talvez, elas sejam as prejudicadas, pois não sabemos o que seria delas nesse universo paralelo em que vivemos no livre mercado. Talvez, elas tivessem oportunidades melhores, que lhes foram privadas no mundo real estatista, onde há um cão de guarda no portão de cada mercado. Aqueles que pagam os impostos dentro dos portões podem, convenientemente, não perceber como esse cão lhes serve bem, e é mesmo pago para isso.
Enfim, seja lá como for, é preocupante que a ideologia libertária propague-se com um discurso de ódio semelhante às demais: o ódio ao funcionário do Estado, no caso. Como vimos, é psicologicamente muito útil para a propagação da doutrina que elejamos um bode expiatório. Mas a história recomenda, pelo menos, cautela. Quando um grupo elege outro como seu opressor, basta que ele seja forte o bastante para que ele passe das palavras de rancor às vias de fato da punição. Leiam Minha Luta!

A farsa das “classes sociais”


Luta+de+classesHá uma diferença gritante entre o discurso da militância pró-PT e dos partidos ditos “sociais” e o logos dos liberais, dos conservadores e daqueles com uma visão individualista do destino do homem através de suas escolhas.
Os primeiros, quando no poder e se tornando situação, gritam: “Chora, coxinha!”, “aceitem as urnas”, “agora vou rir da classe média tendo horror ao filho do pedreiro viajando de avião” (como se a reclamação de alguma pessoa no país ao PT fosse que ele está deixando os pobres muito ricos e ninguém gosta disso), “agora os reaças vão ter de fugir para Miami”, “Dilma sambou”, “Dilma lacrou”, dentre outros rios de comentários impublicáveis.
Já os liberais, conservadores e defensores da liberdade individual, desatrelando o destino humano de um plano de poder estatal, quando estão no poder, não gritam “chora, pobraiada!”, “vou rir da cara dos meus empregados e botá-los na rua”, “agora os petistas terão de fugir para Cuba” e afins, fora alguns casos isolados de psicopatia.
Isto se dá porque, ao contrário do que nossa educação, nossa imprensa e nossa cultura coletivista fazem crer, os liberais não são inimigos dos pobres – pelo contrário: muitos deles são pobres – e, sobretudo, liberais crêem no poder da iniciativa individual. Se há alguém que sofre com um governo liberal, este alguém é quem está ganhando muito sem produzir hoje – e quem faz isto tomando dos outros é quem vive de política. São os políticos e os parasitas da burocracia, portanto, os únicos de quem os liberais riem quando convencem a sociedade a seguir seu caminho.
Em outras palavras, nenhum trabalhador de fato tem algo a perder com uma aproximação ao liberalismo, ao contrário de toda a propaganda socialista travestida de “isenção” que é vista no país. Os liberais, afinal, querem os pobres se tornando ricos – e não os xingarão quando eles viverem com as próprias pernas, sem mais vender sua necessidade em troca de obediência eleitoral e poder político.
Já o militante da “política social” e seus partidos vermelhos vive de tomar o que outras pessoas produziram com o trabalho delas através de impostos, supostamente para corrigir a desigualdade, e portanto tem um horror visceral a qualquer idéia defendendo que as pessoas trabalhem e fiquem com o fruto de seu trabalho para si, e não nas mãos controladoras dos burocratas e dirigentes da sociedade.
Esta propaganda travestida de análise científica, portanto, falha graças a um de seus pressupostos mais basilares: tem uma fé cega na existência de “classes sociais” que, como já visto na teoria mais famosa da esquerda política, estariam em “luta” – e tal luta não apenas seria freqüente, como seria o próprio motor da história.
Esta teoria que tanto anima a esquerda é radicalíssima em sua essência. Entretanto, hoje fazem crer que ela está ultrapassada e não é mais usada, quando todo o jornalismo (não apenas o oficial), a academia e a cultura a seguem pari passu.
O problema se inicia no auto-reconhecimento. Como fazia sempre o diplomata José Osvaldo de Meira Penna a seus alunos em Brasília, urge primeiro descobrir a que classe a pessoa que afirma tal discurso pertence. Alguém que jura que existam classes sociais, que a análise da história, da sociedade e mesmo da consciência seja dependente de uma “classe” intransponível, deve, no mínimo, saber a que classe ele próprio pertence.
Os alunos de Meira Penna, quando interpelados com esta pergunta facílima, sempre escorregavam – ainda mais tentando macaquear a posteriori o ultrapassadíssimo linguajar do início da esquerda no séc. XIX. Consideravam-se “burgueses”, “aristocratas” ou até mesmo “proletários”, sem perceber que, na taxonomia forçada do criador do pensamento “classista”, eram da burocracia.
Para o pensador pai da esquerda radical, pertencer a uma classe social determina até mesmo nossas sinapses, valendo mais do que qualquer cultura, nacionalidade, criação, valor, vontade, história individual ou educação.
Tudo se resume a uma “consciência de classe” (Klassenbewusstsein) que analisa a inteireza do tecido da realidade pelo prisma de um “interesse de classe” – a classe burguesa tentando “explorar” a classe proletária, que só teria sua própria força de trabalho (e sua prole) para vender ao outro que ficaria com o produto do trabalho sem ter trabalhado.
Restaria então a tal proletário (ou camponês, embora não houvesse a crença no poder de mobilização do trabalhador do campo) retomar sua “consciência de classe” tomada dele pelo mecanismo da “alienação do trabalho”.
Toda a alienação viria da superestrutura e da infraestrutura da sociedade, que confundiriam o proletariado, fazendo-o acreditar que seus interesses são compatíveis com o do burguês capitalista. Para a esquerda, não se pensa sozinho: é a estrutura de uma classe que pensa por nós. É o materialismo histórico-dialético em sua essência.
Não existiria, portanto, o homem, esta entidade una, indivisível, com destino e escolhas próprias, e sim apenas o trabalhador, espoliado de sua natureza original pela aberração da cultura burguesa. Toda a família, a religião, a moral, os valores, os símbolos, a cultura e o pensamento burguês, já que a História é a luta de classes, seriam apenas fingimentos e disfarces para que todo burguês proteja seus interesses egoístas e exploradores e avilte e humilhe o trabalhador com sua iniquidade.
Todos os burgueses seriam estes monstros a serem eliminados pelo socialismo, exceto o burguês que criou a teoria e aqueles que a seguiram, claro.
Este é o chamado “pensamento classista”, tão ensinado por “entidades de classe”, ou seja, sindicatos, ONGs e ferramentas de tomada de poder político que dizem representar não alguém que lhes delegue poder via representação, mas simplesmente toda uma “classe” escolhida a dedo – e falando em nome dela, supostamente.
É o que liberais chamam de “coletivismo”, os seres humanos tratados como um rebanho de figuras anônimas, que apenas seguem a manada de sua “classe” – sem que se perceba que quem declara isso, tentando enxergar “valores de classe média”, “vontade popular” ou outros conceitos radicalíssimos tratados com normalidade, são invariavelmente pessoas que pertencem a uma classe mais abastada, mas que tem empatia com uma classe distinta – todavia, continua pregando que todos os que pertencem a uma “classe” só têm interesse em proteger a sua própria classe, e que apenas ele, por milagre ontológico na nervura do real, acabou escapando à repetição do círculo.
Seriam os velhos radicais, que, segundo a visão corrente da história, copiada por jornalistas, intelectuais e outros bem-pensantes “críticos”, tiveram um papel menor na política nacional e internacional em tempos recentes – justamente quando vários de seus asseclas tomaram o poder nas últimas duas décadas.
Contudo, o pensamento classista hoje deixou de ser coisa de radicais antiquados, sempre chamando genocídios de “outro mundo possível” – ou mesmo de “luta contra a ditadura” e até “democracia”, quando convém.
Hoje, julgar motivações, vontades, interesses, movimentos e até pensamentos de alguém por sua “classe” virou rotina no jornalismo, na academia, no governo. Sobretudo nos últimos anos.
Fala-se em “classe trabalhadora” (visto que “proletário”, além de ter saído de moda, se provou uma palavra datada tentando definir como arauto do fim do capitalismo justamente a classe que o capitalismo tratou de enriquecer e fazer deixar de existir) contraposta à “classe média” – como se esta não trabalhasse – em estudos de sociologia, em discursos presidenciais, em análises jurídicas e econômicas, em qualquer discussão onde se espera uma certa normalidade sem tiroteios amalucados de conceitos maluco-beleza – e não se atina nunca para o fato de que tais vocábulos são, por si, mais extremistas do que o próprio Lenin.
Pior: pela taxonomia biológica, que organiza os seres vivos por características em comum, temos Reinos (Monera, Protista, Fungi, Plantae, Animalia), filos, classes, ordens, famílias, gêneros, espécies (nesta ordem). A comparação iniciada pela esquerda de pensar que existam “classes sociais” faz crer que seres humanos sejam mais capazes de trocar de espécie, de gênero ou de família do que de “classe”. Classe social, então, seria uma condição mais estanque, delimitadora e fatalista do que suas palavras equivalentes fora da taxonomia biológica.
A verdade dura é que ao contrário das sociedades de estamentos, de castas, de escravos ou outras formas de coletivismo inato, o capitalismo foi justamente o sistema econômico que destruiu o conceito de “classe”, tornando-o apenas uma faixa salarial temporária. Esta faixa é tão variável na vida conforme as escolhas do indivíduo que, num país de economia livre como a América, a maioria dos 20% que nascem em uma família da faixa salarial mais baixa pode fazer parte dos 20% mais ricos em uma década, conforme nos informa Thomas Sowell.
Quando falam em “classes” dentro do capitalismo, estão usando o conceito diametralmente oposto à realidade: é o único sistema econômico do mundo em que não há classes estanques, e sim variações salariais.
Tampouco é a classe “burguesa” (ou seja, comercial) a classe média, com a “classe alta” sendo dominada por nobres. Qualquer telespectador de Downtown Abbey sabe que há muito o capitalismo conseguiu tomar o lugar da nobreza, hoje muito mais simbólica e cultural, em países em que ela ainda existe.
Os homens mais ricos do mundo, ao contrário do que é ensinado nas nossas escolas, não são os bem nascidos: são os criadores de ideias, muitos que passaram anos numa garagem, que ganharam muito com seu trabalho inovador. A pobreza (e mesmo a riqueza) no capitalismo não são destino. Em todos os outros sistemas, e sobretudo no socialismo, são a condição fatal e única de toda a vida de um ser humano.
O conceito de classe foi sempre “retrabalhado”, para não soar ridículo, pela esquerda do século XX. Primeiro, invertendo a “superestrutura” com a “infraestrutura” do radical original, criando coisas como a Escola de Frankfurt. No meio do caminho tivemos pensadores como E. P. Thompson, que concluiu ser impossível diferenciar um burguês de um proletário, enquanto repaginadores mais modernos, como Ernesto Laclau, já sabem que apontar um grupo de inimigos escolhido a dedo como uma “classe” e nomeá-lo assim é que faz aquela classe “existir”. Exatamente o que acontece hoje no Brasil.
Quando o conceito de “classes sociais” é exposto em sua história, seus interesses próprios e suas premissas ocultas, soa sempre ultra-radical e ultrapassado – ainda mais atrelado a seus sub-conceitos, como “consciência de classe”, “interesse de classe” etc.
Todavia, ainda é a norma (e tratado, justamente, como normal, como se fosse um fato, tratando como extremista quem o nega) para se fazer análises de temas sociais.
E conceitos coletivistas, deterministas, fatalistas e criados por teóricos que promoveram o maior genocídio da história mundial ainda subsistem mesmo em análises as mais prosaicas.
Ou ninguém conhece hoje a forma como a população urbana julga pessoas com termos “denigritórios” como “coxinha”, analisa movimentos afirmando algo sobre a cor da pele, a faixa salarial ou o local de trabalho das pessoas (até termos como “traição de classe” são encontrados no jornalismo), ou ainda como universitários e intelectuais não enxergam seres humanos com sua dialética própria, mas sim apenas “classes” que, supostamente, deveriam se odiar e se matar para fazer a história andar – e, sempre, sem perceber que fazem parte da mesma classe que estão jurando de morte?
Enquanto o conceito de classe não cair, ainda será tratado como uma normalidade e um fato, simplesmente por pessoas demais repetirem as mesmas palavras. É a crença do vulgo, o novo ópio das massas – e um “intelectual” hoje costuma ser apenas alguém que sabe mover alguém com tais termos, usando-os como chicotes.
No dizer iconoclasta de Nietzsche, “nunca nos livraremos de nossos deuses enquanto não nos livrarmos de nossa gramática”.
Analista político, palestrante e tradutor. Escreve para jornais como Gazeta do Povo, além de sites como Implicante e Instituto Millenium. Em breve lançará seu primeiro livro pela editora Record.

Dilma, as arenas vazias e os cartolas da FIFA

Dilma, as arenas vazias e os cartolas da FIFA

Copa_2014_FIFA_bons_negociosQue o PT estava enrolando os brasileiros com os discursos grandiloquentes acerca da “Copa das Copas”, todo mundo já sabia. Prova disso foram as passeatas multitudinárias de Junho de 2013. Os jovens e os inconformados saíram às ruas contra o modo petralha de governar e contra o clientelismo secular da República brasileira, levado ao paroxismo da sem-sem-vergonhice pela estrela vermelha lulopetista.
Durante a Copa, em 2014, Dilma não podia aparecer nos estádios, pois era sumariamente vaiada. E o evento foi encerrado com o lamentável 7 X 1 que deixou pelo chão a nossa autoestima futebolística.
Bom, a autoestima da Nação já tinha sido abalada com o Mensalão e quejandos. Ainda estava por vir o Petrolão para piorar as coisas.
A “Copa das Copas” foi um bom negócio, excelente negócio – para a FIFA, não para o Brasil. Vejamos.
Segundo informe enviado desde Zurique pelo jornalista Jamil Chade, para o jornal O Estado de São Paulo [“Brasil que se vire com as arenas vazias, diz FIFA”,[1]], “(…) a receita chegou a quase R$16 bilhões e os lucros superaram a marca de R$8,3 bilhões. A Copa foi o evento esportivo mais lucrativo da história.
Mas essa renda não voltou ao Brasil e apenas 2% da receita serão distribuídos em projetos sociais e de desenvolvimento do futebol no País. Enquanto isso, pelo menos seis dos 12 estádios estão com sérias dificuldades para se financiar, fecharam ou foram pegos no meio de escândalos de corrupção. Para a FIFA, porém, esse é agora um problema do Brasil.”
Um dos diretores da entidade futebolística, Walter Gregório, ao ser questionado sobre o que fazer com os estádios vazios, simplesmente declarou: Não tratamos do Brasil.
Outro alto dirigente frisou: “A Copa de 2014 é passado“. Claro, depois de te enchido as burras com o dinheiro que os brasileiros pagamos, a FIFA simplesmente não quer indagações.
É evidente, no entanto, que a opinião pública mundial não ficou tão satisfeita assim com a facilidade com que os cartolas da FIFA ganharam rios de dinheiro com tão pouco esforço e deixando para trás um rebanho dinossáurico de estádios vazios. A respeito, escreve o jornalista Jamil Chade:
“A FIFA viveu seu momento mais difícil entre 2013 e 2014 diante dos protestos no Brasil contra a Copa. O impacto das manifestações foi sentido em diversos países e governos europeus optaram por não se candidatar para sediar grandes eventos esportivos, temendo a reação popular. No Comitê Olímpico Internacional, uma reforma foi implementada para tornar os megaeventos mais transparentes”.
São lembradas as decisões da Suécia, de não sediar a Copa do Mundo de Futebol, e da Suíça, de não ser sede das Olimpíadas de Inverno. O motivo para ambos os países é o mesmo: não comprometer dinheiro público com um empreendimento de valor duvidoso para os cidadãos comuns que pagam impostos.
Antes dessa reação internacional, o Brasil, sob o comando do general Figueiredo, tinha tido o bom senso de não aceitar o canto de sereia da FIFA, em 1986, após a Colômbia não ter aceitado sediar a Copa. Para o general Figueiredo, o Brasil já tinha problemas suficientes com a alta dos preços do petróleo; além do mais, o valor dos ingressos sugerido pela FIFA seria incompatível com o poder aquisitivo da população.
A atitude dos cartolas da FIFA é de revanche, em face dos questionamentos que se levantaram pelo mundo afora, diante da pouca transparência com que foram tratadas as coisas em relação à Copa, tanto por parte da entidade futebolística quanto do lado do governo brasileiro. Não adianta dizer, como frisou um dirigente da FIFA, que “a realidade é que o problema é do Brasil, não do futebol”.
Claro que também é problema do futebol, pela forma ardilosa em que são tratadas as questões no seio da entidade internacional, como se fosse um superpoder que não deve prestar contas a ninguém. Claro que também é responsabilidade do governo brasileiro. As passeatas que ainda ocorrem nas nossas cidades são prova disso. É o Petrolão, mas é também a Copa.
Não houve uma prestação de contas adequada e a opinião pública espera por isso há meses. O cartola Walter de Gregório brincou dizendo: “Peguei outro dia o jornal e pensei que estávamos de volta na Copa”. Claro que os cidadãos brasileiros que saíram às ruas no dia 15 de março passado ainda estavam pensando no rombo orçamentário da Copa e protestavam também por este malfeito!
Os ratos, digo, os robôs começam a abandonar o barco do governo Dilma. Mas não porque a sociedade não tenha alternativas, segundo insinuava documento oficial. Como frisava Fernando Gabeira no seu blog: “Discordo de uma afirmação no documento vazado do Planalto: o Brasil vive um caos político. Dois milhões de pessoas protestam nas ruas sem um incidente digno de registro. Existe maturidade para superar a crise, sem violência” [“Os robôs abandonam o barco” (…)].
Com certeza, a pergunta de um dos cartolas da FIFA se colocou do lado das indagações dos brasileiros: “Ela (Dilma) fica até quando no poder?”
Professor de Filosofia da UFJF
Mestre em Filosofia (PUC/RJ). Doutor em Filosofia (UGF). Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas "Paulino Soares de Sousa". Coordenador do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos. Professor Emérito na Escola de Comando e Estado Maior do Exército.
N.E.: Artigo publicado originalmente no blog do autor

O Antagonista- A pusilanimidade brasileira

A prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi criticou duramente a decisão do Itamaraty de se abster na votação sobre as violações de direitos humanos no Irã:
"Muitos defensores de direitos humanos no Irã estão surpresos pela abstenção do Brasil e por ter ficado em silêncio sobre esse assunto, especialmente quando o Irã tem centenas de prisioneiros de consciência, minorias religiosas enfrentam perseguições, sindicatos são reprimidos e as autoridades estão preparando a introdução de leis ainda mais discriminatórias contra as mulheres".
Ela disse também:
"Onde está a forte liderança que a presidente Dilma Rousseff mostrou no passado?"
O Antagonista já tratou do tema hoje à tarde, aqui: http://www.oantagonista.com/posts/o-acanalhamento-do-itamaraty
Mas a opinião de Shirin Ebadi, que dedicou sua vida à defesa das vítimas da opressão no Irã, vale muito mais.
Não se surpreenda, Shirin Ebadi

A coragem brasileira

O advogado brasiliense Fernando Tibúrcio está coordenando com a oposição venezuelana a ida de parlamentares brasileiros à Venezuela, no final de abril.
A idéia é que Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López, preso há mais de um ano, e Mitzy Ledezma, mulher de Antonio Ledezma, o prefeito de Caracas raptado pela polícia política bolivariana, venham antes a Brasília e São Paulo, para então voltar à Venezuela com a comitiva brasileira.
O grupo capitaneado por Fernando Tibúrcio quer visitar López e Ledezma na prisão militar onde estão trancafiados. Estão previstas, ainda, conversas com representantes do que restou da sociedade civil venezuelana e um encontro com a deputada cassada María Corina Machado, hoje proibida de deixar o país.
A Venezuela tem, hoje, 62 presos políticos. Tinha 63 até duas semanas atrás, quando Rodolfo González, acusado pelo governo de Nicolás Maduro de ser o "articulador logístico dos protestos de fevereiro de 2014" se suicidou numa das celas do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional.
O Antagonista

A Época publicou as imagens do dono de um posto de gasolina no Rio Grande do Sul pagando propina a um assessor da BR Distribuidora. É um episódio minúsculo perto daquele investigado pela Lava Jato, mas mostra como a Petrobras está podre de cima a baixo. (O Antagonista)

Leandro Narloch- O crescimento do PIB e os falsos defensores dos pobres

Por que nenhum blogueiro progressista, nenhum colunista que se diz a favor dos pobres repercute e lamenta o crescimento mixuruca do PIB?
Sempre que o IBGE divulga os números, eu fico atento para ver se eles comentam, mas nada: tratam como se o dado fosse relevante somente para economistas, e não a pior notícia que os pobres poderiam ouvir.
PIB patinando ou em queda significa menos vagas de trabalho e menor concorrência entre patrões por empregados. O camarada que se sente explorado pelo patrão fica sem a possibilidade de encontrar um emprego melhor e dar adeus ao chefe. O garçom e o vendedor de carros vão para casa com menos comissões do bolso, pois ninguém vai ao restaurante, ninguém compra carros.
Do contrário, PIB em alta é uma festa. Patrões concorrem entre si por empregados, oferecendo salário melhor, carteira assinada, menor carga horária e até alguns mimos (em 2010, construtoras ofereciam massagista para os pedreiros).
Por que, então, os blogueiros progressistas não lamentam a tragédia do PIB em baixa?
Minha razão preferida é esta: intelectuais de esquerda gostam de explicar a pobreza de uns pela riqueza de outros. A mensagem que mais lhes rende adeptos é a que culpa os ricos pela miséria do país.
Defender a alta do PIB não se encaixa nessa visão de luta de classes. Significa admitir que pobres e ricos estão no mesmo barco: todos se beneficiam com o crescimento da economia. O número de milionários dá um salto enquanto massas de miseráveis chegam à classe média.
Concordar com a importância do PIB também significa admitir que a melhor ajuda que se pode dar aos pobres é desimpedir o crescimento da economia: diminuir a burocracia nas contratações e na abertura de empresas. E intelectuais de esquerda jamais vão admitir que estar do lado dos pobres equivale a estar do lado dos homens de negócio.

“Não temos goteiras; temos chuveiros de telhas em nossa casa.” (Chico Melancia)

GAZETA DAS VELAS- Consumidor continuará a pagar a mais por energia em abril

“O ser do mal quando confrontado se faz de vítima.” (Filosofeno)

“Quem muito se lamenta só alimenta seu espírito de amargura.” (Filosofeno)