domingo, 15 de janeiro de 2017

“Que importa o que os outros pensam? Minha competição é comigo. Hoje ser melhor que ontem , e assim por diante.” (Mim)

FILOSOFENO

“Não louvo santos nem o tal Deus imaginário. Mas aplaudo de pé os seres que fazem o bem sem esperar recompensa.” (Filosofeno)

 “Quem não é capaz de rir de si mesmo por certo se acha o cúmulo da seriedade.” (Filosofeno) 

“Penso, então duvido.”(Filosofeno) “Algumas figuras públicas se lambuzam em vaidades e gabolices, se esquecendo de aprender a cada dia uma nova lição.”

(Filosofeno) “A felicidade é um bicho que ninguém consegue prender para sempre.” (Filosofeno) 

“Não deixe reinar a escuridão em sua mente. Busque todos os dias a luz do conhecimento e o espírito da alegria.” (Filosofeno)

“Quando o silêncio impera é o momento de nos ouvirmos.” (Filosofeno)

 “Os homens querem matar o silêncio. Deve ser por este motivo que está tão difícil encontrá-lo.” (Filosofeno)

 “A cada novo aprendizado me afasto um pouco mais do fantasma da ignorância.” (Filosofeno)

ASSOMBRAÇÃO

“Algumas mulheres lindas saem comigo somente para realçar ainda mais as suas formosuras.” (Assombração)

“Sou muito emotivo. Quando uma mulher bonita me joga um beijo eu desmaio.” (Assombração)

“Antes ser conhecido pela feiura que pela burrice.” (Assombração)

­“Sou tão feio que só ando de costas.” (Assombração)

“Serão os espelhos os meus carrascos?” (Assombração)

 

“A hipocrisia é essencial ao convívio social. Você não diz para uma mãe que o bebê dela é feio. Pois à minha mãezinha disseram!” (Assombração)

 

Você era belo quando criança? Sorte sua, pois eu já era feio. “ (Assombração)


“Meu atual emprego é de maquinista de trem fantasma. Assustar os outros é muito divertido.” (Assombração)

SABER

O que eu disse?
 O que eu deixei de dizer?
Alguém ouviu ou ouvirá minhas palavras?
Mesmo o mais sábio dos homens diante do universo é nada
Irei morrer com certezas e dúvidas
Pois sei que pouco sei
E que o saber é uma eterna evolução.

Bandido bom é bandido morto?│Luiz Felipe Pondé e Arlene Clemesha

O que é uma pessoa inteligente? - Luiz Felipe Pondé

O SUPERSTICIOSO

Virgulino era o cão de supersticioso. Sempre levantava da cama com o pé direito e não saía de casa sem antes consultar o horóscopo. Naquela manhã caminhava pela rua do comércio quando se deparou com uma escada erguida e um gato preto debaixo dela. Não pensou duas vezes: saiu da calçada e contornou pela pista. Mas levou azar o Virgulino: foi atropelado por uma carroça puxada por um burro. No hospital, com pernas e braços quebrados, ficou pensando se não era ele quem deveria estar puxando a carroça.

MONTEIRO

Monteiro está sentado à beira do abismo. Suas pernas balançam no ar chutando bolas invisíveis. Não se encontra mais consigo mesmo, é o dia de maior desespero. Olha para suas mãos calejadas, suas unhas sujas de terra e grita silenciosamente se tudo que fez valeu a pena. Retira do bolso da camisa e relê o telegrama que trouxe a notícia da morte de seu filho único. O punhal é cravado de novo, mais fundo. Não suporta. Basta. Deixa seu corpo pesado cair no abismo em busca da leveza da vida sem dor.

A VIAGEM

Viajar de avião. O medo assombrava José Gomes, 45, supervisor de grande indústria calçadista, de maneira anormal; diarreia, vômitos, febre e insônia. O voo a trabalho estava marcado para novembro e o mês de outubro já era um inferno. Dona Marli não sabia o que fazer com o marido, pois já tinha dado de tudo para acalmá-lo. Devastou plantações de erva-cidreira, gastou uma fortuna em calmantes e José continuava apavorado. Como ele não melhorava acabou José embarcando bem antes do previsto, de navio. O destino da viagem era Miami, saindo de Santos. Feliz da vida embarcou o viajante, tanto que logo ficou solto e avançou sobre canapés e doses cavalares de uísque. Conheceu uma loura dengosa que o fez esquecer por momentos de dona Marli. Conheceu também o doutor Negro, que lhe ensinou alguns truques para curar ressaca. Curtia à tarde à beira da piscina, dando uvas na boquinha da loura dengosa. Já estava nos olhares maliciosos, mão boba nas coxas, beijo nas mãos e sussurros no pé do ouvido. A bebida foi deixando solto o medroso José que logo pôs a gata no colo. Já sonhava com a noite que teria. Foi quando apareceram no deck Dona Marli e a mãe. João não hesitou em se jogar ao mar.

BESTAS

Há dias em que a sombra cai
E o mundo se parece com um enorme pasto
Só consigo enxergar ovelhas e asnos
Além de alguns humanos bestas
Que dirigem como loucos
Pondo em risco a existência de outros
Bicho este que comumente
Adjetivamos com o pior que há na língua pátria.

GALHOS

O velho de bolso cheio
Com brotinho faceiro desfila
Pelas noites da vida
Se ciente que é apenas um momento de ilusão
Que o dinheiro pode comprar
Não deixa de ser um feliz
Porém acreditando em paixão
E no amor desinteressado da jovem
Será espoliado sem dó
Enquanto os chifres crescem.


NO BOLSO

Não parece doença
Mas é das brabas
Que toma o sujeito pela mente
E o conduz gentilmente
A ser um contribuinte compulsório
Dos procuradores do tal senhor onipotente
Que ninguém vê
Que  ninguém sente
Salvo o sentir no bolso mensalmente.

DIGNOS

“Meu pai tinha dois empregos para nos sustentar. Minha mãe lavava roupas para ajudar. Pobres e dignos, é isso aí.” (Eriatlov)

“Tenho todos os defeitos, mas jamais serei um parasita. Isso me repugna.” (Eriatlov)

“Deus não existe, os chupins são reais. Se Deus existisse por certo não existiriam sindicalistas e religiosos.” (Eriatlov)

“No socialismo todos os asnos são iguais.” (Eriatlov)

“O comunismo é como um remédio que nada cura e ainda deixa o doente pior que estava.” (Eriatlov)

“Ah PT, como não sinto saudade de você!” (Mim)

TRANCAFIADO

A chave que não prende o mau
Prende o bom em sua casa
Impossibilitado diante da maldade crua
De sair em paz à rua
Ausente de livre admirar o céu
Aborrecido por não poder namorar a lua.

Sobre a liberdade e a pobreza das Srtas. Price por andreafaggion

Sobre a liberdade e a pobreza das Srtas. Price

por andreafaggion
No romance Mansfield Park, de Jane Austen, Fanny Price é uma jovem nascida em uma família pobre de muitos filhos. Mais do que com a carência de bens materiais, seu espírito profundo e delicado teria sofrido sobremaneira com a rudeza do meio em que nasceu, caso não tivesse sido generosamente resgatada dele pela família de uma tia, casada com um nobre.
Estando em tão tenra idade quando a transferência de lar se passou, sendo aquela sociedade tão profundamente desinteressada quanto à opinião de mocinhas sobre seu próprio destino, não se pode dizer que a Srta. Price tenha escolhido a troca. Viver de favor, da caridade alheia foi, simplesmente, algo que lhe aconteceu. Eis aí uma pessoa que nada possuía neste mundo além do próprio corpo. Assim sendo, ela cresceu diuturnamente lembrada de que, se ela ocupava um espaço sobre a terra, se usava um objeto qualquer, isso era por concessão da boa vontade alheia; nada a que ela fosse realmente intitulada.
A Srta. Price era livre? Vejamos. Ninguém encarcerava a Srta. Price em Mansfield Park. Não havia vigias, grades ou correntes. E quanto à coerção? Ora, coerção é diferente de restrição física aos movimentos do corpo. Uma pessoa é coagida quando outra pessoa a ameaça com consequências desagradáveis para uma dada escolha, tornando menos elegível uma das alternativas até então disponíveis. Naturalmente, é preciso acreditar que a ameaça tem como ser executada e que, caso seja executada, sofreríamos mais do que sofreríamos em caso de obediência àquele que ameaça. Assim, eu fico sob o controle da vontade do outro: ou o obedeço ou ele causa um dano ainda maior à minha vida. Mas não me parece ser essa a situação das Srtas. Price mundo afora.
Suponhamos que a Srta. Price não tivesse desenvolvido uma vontade tão submissa, tão disposta a se colocar em segundo plano diante de qualquer capricho dos donos da casa onde ela cresceu. Caso a Srta. Price se rebelasse, muito provavelmente, ela não seria açoitada ou algo que o valha. Ela “apenas” perderia a boa vontade dos tios. Em outras palavras, não se trata do que a família dos tios faria contra a Srta. Price, mas do que eles deixariam de fazer. Ora, parece muito exótico considerarmos que uma pessoa coage a outra por prometer não mais interferir na vida dessa outra, caso ela se comporte do modo indesejado: “se você não vier aqui hoje, não falo mais com você”.
É verdade que, aqui, também há a ameaça de uma consequência supostamente desagradável (“não falar mais com você”), tornando uma das alternativas menos elegíveis (“não vir aqui hoje”). Mas isso só nos mostra que algo ainda precisa ser calibrado na análise do conceito de “coerção”, não? Para que a ameaça conte como coercitiva, aparentemente, a consequência negativa não pode ser uma não interferência na vida do outro. Do contrário, estaríamos deixando de reconhecer qualquer diferença relevante ao conceito de “coerção” entre um dano positivamente causado e um benefício voluntário negado. O ônus dessa assimilação seria termos que aceitar que o padeiro, que se nega a entregar o pão, caso o cliente não entregue seu dinheiro (“se você não entregar seu dinheiro, eu não entrego meu pão”) estaria agindo de forma tão coercitiva quanto o ladrão que ordena que o padeiro passe o dinheiro do caixa para não morrer (“se você não entregar seu dinheiro, eu te mato”).
Mas, se aceitamos que há uma diferença entre as práticas do ladrão e do padeiro, diferença esta que é essencial ao conceito de “coerção”, temos que reconhecer que o mal de que a Srta. Price padece não é falta de liberdade. Agora, não nos enganemos, muito se ganha quando sabemos exatamente do que estamos nos queixando. Essa clareza nos leva a entender melhor em que termos devemos colocar o problema e, consequentemente, como pensar em remediá-lo, ainda que, como diria Herbert Hart, possa parecer pedante que lembremos a quem morre de fome que seu problema não é privação de liberdade [1].
No mínimo, com esse tipo de análise, ganhamos duas coisas. De um lado, podemos levar libertários moralmente sensíveis ao reconhecimento de que certos males podem assolar a humanidade, mesmo sem que haja qualquer coerção ou dano à liberdade. Com isso, podemos fazê-los ponderar se não seria até o caso de tolerarmos algumas medidas, de fato, coercitivas em algum grau, se isso fosse necessário e eficiente para amenizarmos esses outros males que nada têm a ver com carência de liberdade. Um mundo 100% livre, supondo que isso seja possível, pode não ser o melhor dos mundos humanamente possíveis, no fim das contas.
Já do outro lado, podemos fazer o defensor da justiça social consciente de que ele não pode tratar da mesma forma aquele que causa danos positivos e aquele que nega benefícios voluntários. Inclusive, neste ponto, é importante termos em vista que, sem a intervenção da família dos tios, ao que tudo indica, a Srta. Price apenas teria ficado em situação ainda pior. Por sinal, é o que ela parece descobrir quando é enviada pelo tio para visitar o miserável lar dos pais biológicos com o exato propósito de descobrir isso.
Na vida do lado de fora das páginas dos romances, descobrimos muita gente cheia de boa vontade disposta a apenas proibir ou, de alguma maneira, destruir relações com a forma similar à da relação de Fanny Price com os tios (“boicotem tal empresa que explora os chineses!”), como, afinal, se proíbe a muitas relações propriamente coercitivas, porém, sem que, faticamente, se possa oferecer algo no lugar para que as Srtas. Price reais não fiquem em situação pior sem esse tipo de relação da forma “se você não fizer x, então não te faço y”.
[1] HART, H. “Are There Any Natural Rights?”, The Philosophical Review, v. 64, n. 2, Apr. 1955, p. 175, n. 2.
Texto originalmente publicado no blog Estado da Arte, do Estadão.

CLIMERIANAS

“Não tenho medo de adentrar em cemitérios. Durante o dia, deixo claro. Quando escurece me assusto até com calcinha no varal.” (Climério)

“Alguns vizinhos meus não tem apenas o rei na barriga. Engoliram também o trono.” (Climério)

“Desconfie da seriedade do lugar onde só trabalham mulherões. Salvo se for um bordel de luxo.” (Climério)

“A minha irmã para ser uma galinha completa só falta pôr ovos.” (Climério)

“Ando mais só que porco-espinho em festa de balão.” (Climério)

MEDO

Insônia. Passava da meia-noite quando Antenor foi à sacada do seu apartamento que ficava no oitavo andar para fumar. A esposa dormia. Sentou-se, acendeu um cigarro e ficou ouvindo o murmúrio noturno da cidade. Algumas frenagens, buzinas e sirenes, sons da madrugada na cidade grande. Enquanto observava a fumaça se dissipando no ar pensava na vida. Já completara 53 anos em boa forma, a vida familiar era harmoniosa, a loja de peças permitia uma vida digna, o filho Rafael de 15 anos tinha boa saúde, bom aluno e não incomodava os pais. O que estaria faltando? O que lhe tirava o sono? Dívidas e inimigos sérios não faziam parte do seu mundo. Ficou remoendo dentro do cérebro perguntas e mais perguntas tentando obter respostas. Fumou mais um cigarro, voltou para seu quarto, acordou a mulher que bem dormia e perguntou: “Amor, você também tem medo da velhice?”

BRINCADEIRA ANTIGA

Há sombras rondando a minha nova morada. Elas vêm todos os dias, sem hora determinada. São sombras silenciosas e rápidas, num piscar de olhos elas somem. Não tenho por elas nenhum sentimento, nem medo, nem amor. Saio do meu caixão, subo e me sento sobre um grande mármore escuro. O céu está limpo, consigo ver o sol, mas não o sinto. Vejo as sombras escondidas detrás de um jazigo. Grito para elas: -Basta! Vocês já não me assustam mais! Agora sou apenas um fantasma como vocês! Elas chegam até mim, se apresentam sorridentes e me contam como é a antiga brincadeira de assustar novos mortos. Digo, "estou dentro".

FUJÃO

Há anos Herneus anos era proprietário de funerária, na verdade herança do pai. Ele também era responsável por embelezar os mortos. Maquiava os corpos com estilo, deixando o morto com aparência de quase vivo; sem dúvida um artista dos cadáveres. Mas há acontecimentos inusitados mesmo para quem lida com gente que não berra. Estava ele na sala de ajustes maquiando um velho defunto que acabara de chegar, quando foi chamado ao telefone na outra sala. Quanto voltou minutos depois para dar continuidade ao trabalho, o defunto havia sumido. Entrou em contato com a família do dito para informá-los do ocorrido e chamou a polícia. Uma confusão sem tamanho, ninguém conseguia explicar o sumiço do corpo. A família, em vez de se preocupar com o morto fujão, falava em processar o dono da funerária por negligência. Mas quem iria roubar um defunto, ou, como um morto poderia fugir? Correndo? Voando? Horas depois tudo foi esclarecido: o hospital da cidade informara à polícia que cometera um engano: o defunto verdadeiro ainda estava no hospital aguardando para ser retirado. O que eles haviam mandado era um pobre homem anestesiado que aguardava por cirurgia. Que por sinal fora visto correndo pelado pelo interior do município.

HOTEL DOS OSSOS

É raro conhecer um humano, ainda mais vivo que tenha prazer em dormir serenamente no Hotel dos Ossos. Pois Melcíades era este homem, sempre fazendo apostas com os amigos e conhecidos que pernoitaria sobre as geladas tampas de mármores das moradas eternas. Entrava no hotel antes da meia-noite e saí às seis horas da manhã. Ficava lá mais sozinho que um outrora rico quebrado. E assim por diversas vezes fez apostas com diferentes pessoas, sempre vencendo e ganhando alguns trocados. Nem mesmo noites de louca tempestade o faziam desistir; duelava sem trégua contra raios e trovões. No Bar do Cide eram feitas provocações já com o objetivo traçado e dali saíam às apostas que terminavam sempre nos bolsos de Melcíades. No Hotel dos Ossos havia tumbas que traziam o desgaste provocado pelo corpo do inabalável corajoso, ousado cavaleiro dormente e não raras vezes também saltitante sobre repousos de mármore ou de tijolos sem alisamentos. Então numa noite que todos ainda recordam nas conversas miúdas na praça de Belvedere, nos botecos e nos chás de comadres, Melcíades entrou no cemitério valendo mais uma aposta e na manhã seguinte não saiu. Nunca mais foi encontrado. Na mesma noite sumiu a mulher do Cide. Até mesmo o Cide aposta que ela fugiu com ele. Pelo jeito não é só de ossos e apostas que Melcíades gostava.