quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

ARROZ SOLTO- SIMPATIA

ARTHUR SCHOPENHAUER- A FELICIDADE É UM SONHO


Sentimos a dor, mas não a ausência da dor; sentimos a inquietação mas não a ausência; o temor, mas não a tranquilidade. Sentimos o desejo e a aspiração, como sentimos a sede e a fome; mas, apenas satisfeitos, se acabam, como o bocado que, uma vez engolido, já não existe para o nosso paladar. Enquanto possuamos os três maiores bens da vida, saúde, mocidade e liberdade, não temos consciência deles, e só com a perda deles é que os apreciamos, porque são bens negativos. Somente os dias de tristeza é que nos fazem recordar as horas felizes da vida passada. À medida que os prazeres aumentam, nossa sensibilidade diminui; o hábito já não é um prazer. As horas passam lentamente quando estamos tristes; correm rapidamente quando são agradáveis; porque a dor é positiva e faz sentir sua presença. O aborrecimento nos dá a noção do tempo e a distração nos faz esquecer. Isto prova que a nossa existência é mais feliz quando menos a sentimos: de onde se deduz que mais feliz seríamos se nos livrássemos dela. Uma grande alegria, assim não a julgaríamos se ela não viesse atrás de uma grande dor. Não podemos atingir um estado de alegria serena e duradoura. Esta é a razão porque os poetas são obrigados a rodear seus protagonistas de tristes ou perigosas circunstâncias, para no fim os livrar delas. No drama e na poesia épica, o herói sofre mil torturas: nos romances os heróis lutam pondo em relevo os tormentos do coração humano. “A felicidade não passa de um sonho – dizia Voltaire, tão favorecido pelo destino? – a única realidade é a dor”. E acrescenta: “Há oitenta anos que a experimento e nada faço senão resignar-me e dizer a mim mesmo que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas, e os homens para serem devorados pelos desgostos”.

ASSINAR REVISTAS É COISA DO PASSADO: APOIE PROFISSIONAIS LIBERAIS DA INFORMAÇÃO por Ricardo Bordin. Artigo publicado em 21.02.2018



A virada do século trouxe consigo uma inovação tecnológica que viria, após muita polêmica sobre desrespeito à propriedade intelectual, a libertar os consumidores de música da obrigatoriedade de adquirir álbuns inteiros de seus cantores favoritos?—?sem possibilidade de pagar por cada faixa avulsa.

Tudo começou com o ilícito Napster, progrediu para o download legalizado de músicas “no varejo” e culminou nos dias atuais, quando já é possível pagar uma mensalidade e ouvir tudo o que queremos— praticamente um all you can eat da indústria fonográfica.

Toda essa evolução foi turbinada pela insatisfação das pessoas diante da impossibilidade absolutamente incontornável (sem apelar para a pirataria, ao menos) de comprar apenas trechos específicos de CDs ou fitas?—?o que permitiria, com o mesmo dinheiro, levar para casa apenas o melhor (na avaliação subjetiva de cada indivíduo) de cada artista.

A natureza sempre acha um jeito, e toda demanda tende a encontrar sua correspondente oferta cedo ou tarde. As novas gerações já estão crescendo sem saber que mundo era aquele onde a venda casada era a regra nas lojas de discos.

Aliás, elas sequer tiveram a chance de adentrar um estabelecimento do tipo?—?os que existem hoje procuram atender ao público saudosista.

Os músicos, a seu turno, adaptados ao novo cenário, dão preferência ao lançamento de singles e atingem um número de admiradores outrora inimaginável. E todo mundo, uma vez ultrapassados os solavancos típicos da assimilação, acabou saindo satisfeito do outro lado do túnel.

Pois estamos todos, neste momento, presenciando uma metamorfose do mesmo gênero tomando lugar, desta feita no mercado da comunicação: tudo leva a crer que vender informação e opinião em pacotes (jornais ou revistas) é atividade comercial que não deve acordar para ver a luz do dia por muito tempo?—?e a internet, uma vez mais, é a grande força motriz desta mudança de paradigmas.

Os principais periódicos brasileiros, seguindo uma tendência planetária, perderam assinantes ao milhões nos últimos anos. Entrementes, produtores independentes de conteúdo intelectual amealham novos fãs e seguidores incessantemente?—?muitos destes, aliás, dispostos a coçarem o bolso para ter acesso ao material por aqueles disponibilizado.

É a mesmíssima lógica que provocou um cataclismo no meio artístico há pouco tempo, e agora promete desafiar o jornalismo a seguir o mesmo rumo: ninguém quer mais bancar o salário daquele comunista, digo, colunista mala pra cacete, só para poder ler os artigos de seu escriba predileto que trabalha para a mesma publicação.

A relação custo-benefício é extremamente benéfica para os envolvidos na troca, mesmo neste estágio inicial do processo. Faça o teste: experimente cancelar a assinatura daquele folhetim (aproveitando que seu gato já aprendeu a usar a caixa de areia) e passe a apoiar alguns profissionais liberais do seu agrado neste ramo, por meio do Patreon ou outras plataformas de financiamento.

O resultado será o mesmo dispêndio de grana (ou menos) para patrocinar textos, vídeos ou podcasts que contribuem de fato com seu aprimoramento intelectivo, evitando desperdício de recursos com abobrinhas que costumavam vir de “brinde” das editoras.

O jornalismo tradicional, por óbvio, vai lutar com unhas e dentes até o último minuto contra esta onda dos novos tempos. Não não vender barato sua tão estimada reserva de mercado por décadas usufruída.

• Seus membros vão alegar que notícias que não contam com seu carimbo são fakenews?—?como se não fossem eles próprios os maiores propagadores de notícias falsas, muitas delas fabricadas sem contar uma única mentira (apenas omitindo, distorcendo ou torturando fatos até eles falarem o que corrobora suas narrativas);
• Vão alertar que, procedendo desta forma, selecionando cronistas e jornalistas a la carte, corremos o risco de isolarmo-nos em uma bolha onde apenas nossa visão de mundo é confirmada?—?como se essa não fosse a maior característica da maioria dos veículos de comunicação, os quais rezam sempre a mesma cartilha sem dela desviar-se uma única linha;
• Vão tentar limitar o alcance destes comunicadores da era moderna, instigando os gigantes do ciberespaço a suprimirem a veiculação de seu material?—?como fez o Facebook há algumas semanas quando alterou seu algoritmo para “ priorizar amigos e família”, e como Youtube, Google e Twitter, por meio de suspensões desarrazoadas e restrições de visualização impostas arbitrariamente, já deixaram claro que manobram.

Só que ninguém se importou se as gravadoras estavam felizes ou não com a revolução dos arquivos mp3. Da mesma forma, de pouco ou nada vai servir espernear contra esta nova maneira de saber e entender o que se passa no mundo. Aceitem que dói menos, como diz a sabedoria popular.

É claro que a maior prejudicada com este sinal dos tempos é a Esquerda, pois manter tudo como estava (leia-se: com repórteres doutrinados desde a faculdade monopolizando o setor) era de seu especial interesse no esforço de reescrever o passado, adulterar o presente e dominar o futuro.
Estranho, mas não muito: não são os marxistas aqueles que advogam a “socialização” dos meios de produção? Pois então: agora qualquer pessoa com um smartphone na mão pode virar empresário nesta área se assim decidir a audiência com sua preferência. Deveriam comemorar estes novos ventos, portanto. Mas algo me diz que a proposta de “regulação da mídia” do Luiz Inácio agrada bastante às redações Brasil afora.

Só que não tem jeito: quanto mais contribuições voluntárias os profissionais autônomos recebem, com mais independência passam a poder atuar, pois veem-se, gradativamente, livres dos grilhões do politicamente correto impostos pela turba “progressista” (mas reacionária quando lhe convém, como neste caso) cuja estrita observância costuma ser exigida por patrocinadores que ainda não entenderam que lucrar e lacrar até rimam, mas não combinam.

Não seria má ideia, portanto, se você decidisse, agora mesmo, tornar-se mecenas de, pelo menos, uma meia dúzia destes emissários e analistas emancipados. Aproveite enquanto está (muito) barato…

INTERVENÇÃO MORAL por Márcio Coimbra. Artigo publicado em 22.02.2018



O Rio de Janeiro vive em estado de falência completa. Falência das instituições, dos quadros políticos, da sociedade em geral. É um aperitivo do processo de desconstrução pelo qual passa o Brasil. O método vai mais além. Inverte princípios, enaltece o crime e a malandragem, despreza o mérito e subverte valores basilares da constituição de uma sociedade fraterna, virtuosa e vitoriosa. O caminho trilhado há tempos somente tem um resultado, este que estamos vivendo, perplexos e aparvalhados.

O governo, ponto central do desequilíbrio, entrega benesses em troca de apoio para permanecer no poder. Grupos políticos revezam-se no comando das instituições com o intuito de saquear os cofres públicos. Mesmo com royalties do petróleo, Pré-Sal, investimentos internacionais, Olimpíadas e Copa do Mundo, que despejaram caminhões de recursos no Rio, o poder púbico foi incapaz de entregar reformas educacionais, melhorias no sistema de saúde, investir em segurança, modelos de organização urbana ou desburocratizar a máquina governamental para os empreendedores. Nada foi feito além de obras superfaturadas e maquiagens urbanas para ludibriar os olhos dos turistas e dos cariocas. Pão e circo.

Apenas entre 2014 e 2016 o Rio de Janeiro recebeu R$ 235 bilhões em investimentos. Não faltou dinheiro. Faltou competência e honestidade. O volume de recursos desviados pela organização criminosa chefiada pelo ex-Governador Sergio Cabral deixa evidente que o crime se infiltrou no Estado. A política fluminense está apodrecida. A Lava Jato, em seu capítulo carioca, pede o ressarcimento de 2,28 bilhões de reais aos cofres públicos. Até o momento conseguiu recuperar apenas R$ 451,5 milhões. O volume assusta, mas certamente é muito maior, pois somente na Operação Fratura Exposta são investigados desvios de mais de 300 milhões na área da saúde. Enquanto isso, o governo investe R$ 75 milhões no Carnaval e R$ 74 milhões na segurança pública. Um escárnio.

O Rio de Janeiro está entre os dez estados mais violentos no Brasil. Isto nos prova que o problema não se restringe ao seu perímetro. É um fenômeno sistêmico nacional. Se o objetivo é combater o crime organizado, as ações devem superar os limites fluminenses, mas tudo indica que o objetivo é simplesmente combater a desordem e fornecer maior sensação de segurança. Não está sendo atacado o cerne da questão.

Precisamos repensar o modelo de sociedade que desejamos para o Brasil. No desmonte dos valores, na degradação moral, na desconstrução ética. Estas são as bases que faltam atualmente. O brasileiro não é vítima, mas parte do problema. Já chegou o momento de darmos uma resposta, de nos perguntarmos que tipo de sociedade desejamos e trabalharmos para que surja desta reflexão um futuro melhor para nosso país. Do contrário viveremos de intervenção em intervenção, enxugando gelo, reféns de uma sociedade doente e políticos desonestos. A verdadeira intervenção que precisamos é de ordem moral e ética, dentro de valores que construam uma sociedade virtuosa, decente e honesta para nossas futuras gerações.

• Publicado originalmente no Diário do Poder

OS CORRUPTOS GANHAM BEM por Miguel Lucena. Artigo publicado em 22.02.2018



Alguém em sã consciência, a pretexto de defender melhorias para servidores, diria que defasagem salarial provoca atos de corrupção? Seria um argumento frágil, embora revestido de boas intenções, que enodoaria o segmento mencionado.

Corrupção existe em todos os setores. Se salários altos evitassem atos desonestos, não teríamos tantos parlamentares e governantes presos e envolvidos em esquemas de malversação de recursos públicos.

Atribuir a corrupção a salários defasados é o mesmo que acusar os trabalhadores brasileiros, em sua maioria ganhando pouco mais de um salário mínimo, de serem ladrões. Como vivem com tão pouco? Será que complementam a renda furtando?

Claro que a satisfação salarial e profissional faz o servidor pensar duas vezes antes de praticar um ato ilícito que prejudique sua carreira para sempre, levando-o à perda do cobiçado cargo. O desonesto, no entanto, por ser de sua índole, um dia cairá em tentação.

Os policiais civis, por exemplo, não são mais ou menos honestos do que eram antes. Estão, sim, desestimulados com a perda da paridade salarial com a Polícia Federal e a falta de efetivo, o que levou o governo a fechar 20 das 31 delegacias do DF à noite, nos finais de semana e feriados.

Quem consultar direito o dicionário vai ver que corrupção jamais poderá ser sinônimo de tristeza e depressão. Na falta de alegria, curemos esse mal com doses de esperança e coragem de mudar.

*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
** Publicado no Diário do Poder

SPONHOLZ

TRISTE RIO- SPONHOLZ

Pezão acabando com o Rio de Janeiro

O ENVIADO


Quando ainda um ser amorfo no ventre da mãe o danadinho nasceu de repente e surpreendeu o mundo. Recém-saído da barriga da mãe num banco de coletivo pulou sobre uma poltrona e começou seu discurso falando da mediocridade geral, das crenças em verdades absolutas feitas para idiotas, do nada imperativo nos bilhões de mentes vãs. Explodiu de emoção falando da importância da ciência e não de futilidades mágicas. E já começando a ficar sem fôlego, ficou feliz quando viu um jovem gravando suas palavras num celular. Encerrando disse: “Eu vim por pouco tempo para dizer muito, sou luz que ilumina mentes encerradas nas trevas do saber, crentes de uma vida eterna paradisíaca ou infernal, ou seja, são bestas, porque eu sei daquilo que falo, vim de onde ninguém nunca foi, nasci no amanhã e voltei pelas mãos da ciência para dizer que Deus não existe e que tudo é propaganda barata.” E caiu morto.

MUDANDO O MUNDO


O profeta saiu do interior e chegou ao poder supremo. Seu primeiro grito foi: “Agora vamos mudar o mundo!” E começou a mudar mesmo já nos primeiros dias, não bem o mundo que todos esperavam, mas o mundo de alguns. Comprou mansão, iate e carros de luxo. Arrumou algumas amantes e empregos bem remunerados no estado para compadres e parentes. O povo, este ficou chupando o dedo e às vezes um pirulito. E mais não conto que a história é velha e todos a conhecem.

EM BUSCA DA PAZ


Omar ajoelhado ao pé da montanha clamava de braços abertos ao senhor: “Senhor meu Deus, tenho sofrido tanto! Traga-me paz senhor!” O viajante Gabriel que dormia em paz na sombra de uma pequena caverna não gostou de ser incomodado pela gritaria; então rolou uma pedra que veio a matar Omar, pois atingiu a cabeça. Gabriel olhou para baixo e berrou: “Não sou Deus, mas consegui a tua paz! Agora que os abutres se regozijem!”

FÓSFOROS


Naquela minúscula caixa havia um fósforo meio depressivo, sem cabeça. Não conversava com ninguém, abatido, triste, um inútil. Numa fria manhã ele surtou. Riscou um irmão contra o outro até a caixa explodir num fogo só. Não sobrou ninguém, até o esmalte da tampa do fogão ficou marcado. Uma vez mais ficou provado que quem não tem cabeça age por impulso e queima até mesmo os seus irmãos.

A CALCINHA


O relógio dava a impressão de não andar. Claudio ansiava por chegar em casa e arrancar de vez a calcinha da esposa. Um marido tarado? Não era o caso. Claudio passou o dia com o fio da dita rendada atolada no rego numa situação incômoda. Aí é que você observa a importância de gavetas de roupas íntimas separadas e de não se vestir no escuro.

A ILHA DIVIDIDA


Existia no Pacífico uma ilha dividida entre homens bons e homens maus. Volta e meia os maus matavam um homem bom e a vida seguia seu curso. Porém com o tempo os bons foram todos mortos e só restaram os maus. Passaram então os maus a se matarem entre si e no fim de tudo não sobrou ninguém para apagar a luz.

ELA CONHECEU O PARAÍSO


Uma mosca foi engarrafada junto da cerveja. Após dois meses e gelada no ponto acerveja foi aberta em um bar no Leblon. Ai sair da garrafa ainda um pouco perdida a mosca declarou em voz alta: “Eu morri por um tempo e conheci o paraíso. Naveguei por suas águas, ele existe, está dentro desta garrafa.” E mais não disse por que foi esmagada por um ateu sóbrio.