quinta-feira, 12 de julho de 2018
AS RAZÕES DA MISÉRIA E A MORTE DO GRILO FALANTE por Percival Puggina. Artigo publicado em 12.07.2018
Você sabe por que o Brasil não consegue solucionar o problema da miséria? Porque, de um lado, deixamos de agir sobre os fatores que lhe dão causa, e, de outro, nos empenhamos em constranger e coibir a geração de riqueza sem a qual não há como resolvê-la. Os fanáticos da política, os profetas de megafone, os "padres de passeata", para dizer como Nelson Rodrigues (ao tempo dele não existiam as Romarias da Terra), escrutinando os fatos com as lentes do marxismo, proclamam que os pobres no Brasil têm pai e mãe conhecidos: o capitalismo e a ganância dos empresários. Em outras palavras, a pobreza nacional seria causada justamente por aqueles que criam riqueza e postos de trabalho em atividades desenvolvidas sob as regras do mercado.
Estranho, muito estranho. Eu sempre pensei que as causas da pobreza fossem determinadas por um modelo institucional todo errado (em 2017, o 109º pior entre 137 países, segundo o World Economic Forum (WEF). Pelo jeito, enganava-me de novo quando incluía entre as causas da pobreza uma Educação que prepara semianalfabetos e nos coloca em 59º lugar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), entre 70 países. Sempre pensei que havia relação entre pobreza e atraso tecnológico e que nosso país não iria longe enquanto ocupasse o 55º lugar nesse ranking (WEF, 2017). Na minha santa ignorância, acreditava que a pobreza que vemos fosse causada, também, por décadas de desequilíbrio fiscal, gastos públicos descontrolados tomados pela própria máquina e inflação. Cheguei a atribuir responsabilidades pela existência de tantos miseráveis à concentração de 40% do PIB nas perdulárias mãos do setor público (veja só as tolices que me ocorrem!). E acrescento aqui, se não entre parêntesis, ao menos à boca pequena, que via grandes culpas, também, nessas prestidigitações que colocam nosso país em 96º lugar entre os 180 do ranking de percepção da corrupção segundo a Transparência Internacional.
Contemplando, com a minha incorrigível cegueira, os miseráveis aglomerados humanos deslizantes nas encostas dos morros, imputava tais tragédias à negligência política. Não via como obrigatório o abandono sanitário e habitacional dos ambientes urbanos mais pobres. Aliás, ocupamos a 112ª posição no ranking, entre 200 países, no acesso a saneamento básico. Pelo viés oposto, quando vou a Brasília, vejo, nos palácios ali construídos com dinheiro do orçamento da União, luxos e esplendores de uma corte dos Bourbons.
Mas os profetas do megafone juram que estou errado. A culpa pela pobreza, garantem, tampouco é do patrimonialismo, do populismo, dos corporativismos, do culto ao estatismo, dos múltiplos desestímulos ao emprego formal. Não é sequer de um país que, ocupando a 10ª posição entre os países mais desiguais do mundo, teve a pachorra de gastar, sob aplauso nacional, cerca de R$ 70 bilhões para exibir ao mundo sua irresponsabilidade na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. No entanto, os Pinóquios da política, das salas de aula, da mídia e dos púlpitos a serviço da ideologia, fanáticos da irrazão, asseguram-nos que existem pobres por causa da economia de empresa e dos empreendedores.
Um dos fenômenos brasileiros deste início de século é o silêncio das consciências ante toda falsidade. É a morte do grilo falante.
* Este texto atualiza dados de um pequeno trecho do meu livro “Pombas e Gaviões”, publicado pela AGE em 2010.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
LEONARDO BOFF
Leonardo Boff é um grande defensor do corrupto Lula. Gostaria de saber o que passa na cabeça desse animal dito racional, pois não sei qual adjetivo usar para nomear esse elemento que pisa no bom senso e na verdade.
DONA EUFRÁSIA
Já viúva, Dona Eufrásia (62) não era mole. Dava
laço e tiro em qualquer marmanjo, não tinha medo de tamanho e nem de cara feia.
Atirava também como poucas. Quando Neco
engravidou a filha Jurema e não quis casar Eufrásia deu um jeito. Quebrou ele a
pau e fez o bonito se casar com ela, a sogra. Criaram o menino na mesma casa,
porém o assanhado só se deitava com a velha.
Mais tarde Jurema arrumou um marido e trouxe-o para morar sob o mesmo
teto. Pois Neco teve que aturar a sogra até ela morrer aos oitenta e cinco
anos. Longa pena. Isso sem contar que a cada trimestre tomava uma tunda da
velha para bem se lembrar da sem-vergonhice.
BUNDA DE BÊBADO
Um copo vazio sobre a mesa. A mão firme ergue o
copo e pede mais uma. O cérebro aos poucos vai ganhando leveza, logo se
esquecendo dos problemas e ficando cheio de euforia. Mais uns goles da malvada
e as palavras saem da estrada. Agora os amigos são mais amigos e os inimigos
mais inimigos. O pobre diabo se acha o maioral e está pronto para enfrentar a
vida. Mais uns tragos e nada parece impossível. Cambaleando sai do boteco para
ir para casa. Anda uma centena de metros e caia na sarjeta. De arrasto vai em
frente assustado, não desiste de maneira alguma, pois sempre ouviu dizer que
bunda de bêbado não tem dono.
IRADO
O escritor, a cadeira dura, o computador, a tela
branca e a inspiração que falha. Ele precisa escrever um conto para pagar suas
contas (maldito trocadilho) e não há uma só ideia batendo à porta. Caminha,
fuma, bebe e fuma, força o pensamento e nada de interessante se apresenta à
mente. Sai da casa (que fica no interior, lugar sossegado) e olha para o grande
verde em volta cheio de cantares, admira a limpidez d’água do riacho pedregoso
que corre ali pertinho onde sempre que pode pesca jundiás. O nada criar acirra
a ansiedade, os cigarros entram e saem dos lábios com maior rapidez. Há
pequenos mosquitos incomodativos que ele espanta com fumaça solta em espiral.
Sentado num tronco observa a chegada da noite e fica pensando como será o seu
amanhã. A lua no céu olha para ele e ri com brilho. Na mente enumera assuntos
para ver se algum deles responde ao chamado. Nada, nada, nada... Entra na casa
novamente, vai até quarto e abre a última gaveta da cômoda. De lá retira um
estojo de madeira e o coloca sobre a cama. Retira a arma do estojo, carrega
cinco projéteis e então alisa o revólver. Fica absorto por alguns minutos com
os olhos no Taurus. Então vai a busca de sua potente lanterna, apanha umas
iscas no latão e sai para pescar.
Na trilha olha para trás e grita: foda-se a
inspiração!
O MAL DO MAU
Fazia-se carnaval na cidade de Jaboticabal. O homem
mau não se cansava de fazer o mal, pois achava tal atitude fenomenal. Morava
ele na rua do canal, no prédio Imperial e pagava aluguel para um casal. Na
mesma rua havia uma árvore monumental, na qual vivia um pardal sensacional.
Numa noite de temporal, recebeu o mau a visita de um homem bravo que o trançou
a pau para se vingar de todo o mal feito com sua família antes do
carnaval. Todo quebrado, inclusive o
osso femoral, foi levado para o Hospital Municipal e atendido pelo doutor
Aderbal. Teve também dentes quebrados e
acabou precisando de tratamento de canal. Esse homem mau se chamava Percival,
sendo filho de tal Juvenal, que morreu na cadeia por matado um animal protegido
por lei ambiental. E a historieta vai terminal porque o leitor já deve estar
passando mal de tanto ler essa história sem sal. Ponto final. Que tal?
MONTEIRO
Monteiro está sentado à beira do abismo. Suas
pernas balançam no ar chutando bolas invisíveis. Não se encontra mais consigo
mesmo, é o dia de maior desespero. Olha para suas mãos calejadas, suas unhas
sujas de terra e grita silenciosamente se tudo que fez valeu a pena. Retira do
bolso da camisa e relê o telegrama que trouxe a notícia da morte de seu filho
único. O punhal é cravado de novo, mais fundo. Não suporta. Basta. Deixa seu
corpo pesado cair no abismo em busca da leveza da vida sem dor.
NA FRUTEIRA
-
Você é um mamão?
-Não,
não sou mamão.
-Não
é mamão?
-Não.
Sou melão.
-Nunca
ouvi falar.
-E
você o que é?
-Banana
caturra.
-Nunca
ouvi falar.
-Sou
artista, eu canto.
-Eu
também. Canto até em espanhol.
-El
dia que me quieras?
-Sim.
-Vamos
cantar em dupla?
-Vamos!...
Acaricia
mi ensueño
El
suave murmullo
De
tu suspirar.
Como
ríe la vida...
Nisso
se intromete na conversa o abacate.
-Vocês
podem ficar quietos, estou tentando dormir.
-Dormir
agora durante o dia?- pergunta o melão.
-Sim,
ainda estou verde, preciso amadurecer.
Nisso
uma distinta senhora passa pela fruteira e leva os dois artistas para sua casa,
alegrando por hora o verde abacate que cochila entre macias palhas.
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