terça-feira, 10 de setembro de 2019


Antigamente queria mesa farta e variada
Hoje basta-me ao lado dela um bom papo e o necessário.



NEM O INFERNO ESCAPA

Sexta –feira Satanás estacionou seu carro e foi diretamente ao Centro Administrativo do Inferno. Muitos afazeres, projeto de ampliação em andamento. Entrou e só encontrou a secretária Dona Erotildes; todos os demais burocratas e parasitas ausentes. Que diabos? –Perguntou.
-Hoje é dia de Assembleia do PT. Então o senhor já sabe, não é?



SOLIDÃO
Mochila nas costas, aposentado e feliz com a própria solidão, o bombeiro Inácio caminhava na madrugada por uma estrada erma e poeirenta, curtindo a natureza e buscando um novo projeto para enriquecer o viver. Ouviam-se alguns sons na mata e o ladrar de cães de moradas distantes. A lua brincava sem vergonha de esconde-esconde entre nuvens claras. Sem demora topou com um rio estreito e de corredeiras bravas. Sentou-se à beira e aguardou o amanhecer. Quando o sol mostrou sua face jogou-se n’água e nadou até o outro lado. Nada temeu, pois, era um bicho de rio. Então entre árvores separadas fez uma fogueira e esquentou um enlatado de feijão. Após ferveu água do rio e matou sua sede em paz. Antes do meio-dia admirou o céu muito azul, encontrou uma trilha e seguiu pela mata. Pássaros coloridos fazendo belos trinados, micos e esquilos saltitando encantavam o caminhante. Mais adiante observou de entre arbustos alguns jovens acampados, que bebiam, ouviam música alta de péssima qualidade e faziam brincadeiras sem graça e brutais. Meneou a cabeça, ficou mais um pouco onde estava, voltou à trilha e seguiu acariciando seus ouvidos com encantadores trinados e seus olhos com plumagens de muita cor.





GODOFREDO
Godofredo, pelo ruivo e já passando dos trinta tinha um narigão. Desde criança era motivo de piadas, mas não se importava, levava na boa.  Troçavam que podia fumar na chuva ou aspirar todo oxigênio do mundo, nada disso o tirava do sério. Isso até o dia que o Zeca Maconheiro pediu para ele esconder um quilo da erva dentro das tocas do nariz. Que abuso! Pois foi que Godofredo surtou e fora de si acabou matando Zeca Maconheiro num beco, a narigadas e golpes de tamanco.  Não escapou da justiça. Hoje cumpre pena na Penitenciária Estadual e ninguém ousa sequer olhar para o seu poderoso nariz e fazer gracinhas.



Dos meus muitos erros
Tirei sofridas e educadoras lições
E não desejo que meus filhos passem por isso
Só espero que me ouçam.



Criança sem disciplina
Dia menos dia
Faz os pais gastar com advogados.




São poucos os políticos que valem um tostão
O mesmo vale para seus eleitores
Prefiro os pardais e os fiéis cães.


Quem anda de mãos com o mal
Tanto procura que um dia acha
A corda que irá enforcá-lo.



A esquerda no poder
É tudo que um país com potencial
Não precisa.

LEÃO BOB


“Minha mãe ficou fã de Elvis depois que comeu um turista que usava uma camiseta estampada com a foto dele. ” (Leão Bob)

TED THOMPSON- BRIGA DE CASAL


Verão, céu azul, sol da tarde quase indo embora. Ted caminhava pela praia de Palmas tomando água de coco, admirando gaivotas, quando observou um casal que chamava a atenção dos presentes pelos gritos e sopapos que trocavam. Alguns estultos pediam mais violência. Ele foi para perto e pediu gentilmente que parassem, no que não foi atendido. Falou para eles que briga de casal deveria ser resolvida entre quatro paredes e não em público, coisa vergonhosa. Foi o que bastou para ser insultado. Como sempre acontece em suas encrencas, tolerância zero. O pau comeu para o casal. Com as mãos espalmadas bateu na face dos briguentos com vontade, deixou suas orelhas vermelhas, deu mais algumas rasteiras, tirou suas roupas, surrou as nádegas e os mandou para casa. Quando alguém disse que iria chamar a polícia por causa da surra ele falou: “Diga antes que quem está aqui é Ted Thompson; eles me conhecem e sabem de que lado estou”.

GINA


Gina, dezoito anos, bela e frágil, meiga e prestativa. O pai Ernesto era um cavalheiro. A mãe Andradina uma caninana. Certa amanhã Gina acordou tossindo e vomitando pétalas de rosas. A mãe não se aguentou- “Ainda vomitasse dólares ou euros.” Gina morreu no outro dia, seu corpo exalava um maravilhoso perfume. Foi o velório mais cheiroso do mundo. Até hoje a ciência ainda não conseguiu uma explicação. Os pais de Gina ainda vivem. Ele, culto e aberto ao mundo; ela; caminhando pra lá e pra cá matando grama com cuspe.

PERU INÁCIO


Dezembro estava chegando e o peru Inácio não queria morrer. Rezava que rezava para ser poupado nas festas de natal e novo ano. Já não dormia mais, sua angústia era visível. Suas colegas galinhas tentavam consolá-lo dizendo que a vida é mesmo assim; hoje uns e amanhã outros. O galo médico receitou até um ansiolítico. O padre Bode João rogava-lhe que tivesse esperança. Inácio olhava para o ceú azul e não sentia nenhuma alegria, sua única visão era ele bem bronzeado sobre uma farta mesa, rodeado de arroz, saladas e de pessoas embriagadas. O caso é que dezembro chegou e o bom Inácio foi ao forno. Ficou bem moreninho como ele mesmo imaginara; sem dúvida um belo peru. As galinhas amigas agora rezam por sua alma, orientadas pelo Bode João.

BANANAS

Aconchegadas na fruteira
São elas irmãs verdes deitadas
Ouvindo as conversas da casa
Em absoluto silêncio
Enquanto esperam pelo amarelo doce do amadurecer.


SILÊNCIO
As noites são silenciosas nos cemitérios
Porque os fantasmas não falam
Só usam mímica.

GOVERNO

Quando ao governo eu apoio e também faço crítica construtiva quando necessário. Não quero a esquerda de volta ao poder. Temos um tremendo time de ministros, tem tudo para dar certo. E penso que os filhos do presidente deveriam se afastar do poder; uma ação vale mais do que mil palavras.