O deputado João Aníbal morreu, mas jamais será
esquecido. Não pelos projetos e trabalho árduo, coisa que desconhecia, mas sim
pelos vinte e cinco imóveis de luxo deixados à família; doze amantes pagas
mensalmente com galhardia pelo dinheiro dos contribuintes; milhões de dólares em paraísos fiscais e
trezentos e onze processos abertos contra ele. Podemos dizer sem medo de errar
que deixou este mundo um homem exemplar na lista dos grandes filhos da puta que
a nação deu ao mundo.
sábado, 14 de julho de 2018
PAULO CROCODILO
No Parque do
Everglades Paulo Crocodilo descansava ao sol sonhando dar umas crocodiladas
à noite. Por trás dele chegou sorrateiramente Josefa, sua comadre e mulher do
lendário Pé Grande. Mandou o porrete na cabeça de Paulo, que estremeceu e
entrou na estrada do fim, mas não sem antes perguntar:
-Por que isso comadre?
-Perdão compadre, digo que a vaidade é cruel,
preciso de uma bolsa e de um sapato novo.
O VELHO INÁCIO E O DIABO
Noite escura e temporal daqueles, luzes piscando e
o vento zunindo. O velho Inácio está sozinho em casa. Batem. Ele atende, na
porta está um sujeito vermelho, com chifres e rabo.
-Inácio Brandão?
-Sim.
-Sou o diabo, vim para levá-lo.
-Você disse quiabo? Que nome estranho!
-Não é quiabo, é diabo!
-Pois é o que estou dizendo, quiabo! Mas que tipo
de quiabo?
-Você não vê que sou vermelho, tenho chifres e rabo
pontudo?
-É fantasia? Muito bem feita.
-Velho tonto, eu venho do inferno, o reino do fogo
eterno.
-Entendo que o senhor vem do inverno, e inverno é
fogo mesmo. São Joaquim?
-Duro de entender, não é?
-O quê?
-Que sou satã.
-Maçã? São Joaquim terra da maça? É isso? Mas o que
é que o senhor quer aqui em São Paulo? Está vendendo maçã?
-Deixa para lá. Vai para o céu seu velho filho da
puta!
E o diabo se mandou enquanto grossa chuva caía.
A MULA SIBA E DOLORES EMA
Pastava
Siba Mula numa campo aberto, degustando o capim delicioso, absorta em seus
pensamentos quando se achegou a ela Dolores Ema.
-Boa
tarde!
-Boa
tarde!
-O
capim está bom?
-Muito
bom.
-Eu
sou Dolores Ema, e você?
-Siba
Mula.
-Mula?
-Sim,
Mula.
-Mas o
que é vem a ser uma mula?
-Ora,
filha de uma égua com um jumento.
-Pois
veja só, eu não sabia disse. Sem conhecer pensei que você era um burro, digo,
uma burra.
-Eu
também não nunca tinha visto uma como você.
-Sou
Dolores Ema.
-Ema?
-Sim,
estamos por aí na América do Sul. Alimentamo-nos de frutas, sementes, folhas de
grandes árvores, lagartos, moscas perto de carne em decomposição, cobras,
moluscos, peixes entre outros.
-Puxa!
Que cardápio!
-Pois
sim.
-Conte-me
Dolores, você tem família?
-Não
amiga, estou só no mundo.
-Tenho
uma ideia. Que tal nós visitarmos a Fada da Gruta Dourada e pedirmos para ela
nos transformar em humanos? Poderíamos conhecer o mundo todo!
-Pode
isso?
-Pode
sim, eu mesmo conheci vários animais que se tornaram humanos.
-Vamos
logo cara Siba, vamos logo!
Após dias de viagem e cansaço foram ao encontro da
Fada da Gruta Dourada para fazer o pedido. Foram bem recebidas e aceitas a
transformação das duas em moçoilas de muita beleza. Porém antes de tudo feito a Fada disse que a
transformação teria uma contrapartida, pois de graça nem mesmo injeção na
testa: como humanas elas seriam venezuelanas e amantes de Nicolás Maduro. Elas
se entreolharam, agradeceram e decidiram voltar aos campos.
REUNIÃO DE LENDAS
Casa de aroeira dentro da mata, fogo de chão, coral
de insetos, corujas guardiãs, reunião das ditas lendas brasileiras. Comandando
estava o Saci-Pererê, ladeado pela Mula-Sem-Cabeça. Presentes o Bicho-Papão;
Curupira; Boitatá; Lobisomem e a bela sereia Iara. Conversa vai, conversa vem,
comes e bebes. De repente ouviram alguém batendo:
-Toc! Toc! Quero entrar!
-Quem é?-perguntou o Saci-Pererê.
-É o Sapo Barbudo Honesto. Desejo participar da
reunião. Vim de longe, eu também sou uma lenda, tenho direito.
Saci fez sinal com os olhos para os companheiros
que assentiram. O Sapo Barbudo Honesto entrou na casa para fazer parte com
todos os méritos das lendas brasileiras.
MATILDE
Mesa de bar. A fumaça dos cigarros deixa o ambiente
sombrio. Baralho, tagarelas em ação, a língua se solta. Envolvido pela
embriaguez o verme abre sua caixa de segredos para companheiros de aguardente.
Conta à história da esposa Matilde que há anos foi embora, mas que na verdade
não foi, tranco na cabeça, jaz enterrada num lugar ermo. Todos riem, acham
brincadeira, mas um deles leva a sério. No dia seguinte ele conta o segredo
para um amigo, que também tem um amigo policial e antes da seis da tarde o
crápula já estava encarcerado contando tudo. Oito anos se passaram do fato, os
timbós verdejantes balançam ao vento, máquinas em ação, cavouca aqui e ali, então
quase desaparece o timbozal, tantos buracos na paisagem. Uma multidão acompanha
e aguarda. No segundo dia surgem ossos, um vestido vermelho e uma sandália de
couro cru. Matilde ali posta, Matilde morta, Matilde agora ossos e pó
finalmente terá sua justiça.
ALFREDO E OFÉLIA
Alfredo bom de bico, manco e dependendo da
previdência social arranjou uma amante na mesma rua em que morava. Ofélia era o
seu nome. O marido saía para o trabalho,
cama ainda quente lá pousava o manco Alfredo. A mulher nada via, pois também
saía para trabalhar na maior santa inocência. Idas e vindas o marido foi
apresentado ao chifrado como primo mui querido de longa data não visto. Não
demorou o pobre corno comprou um automóvel mesmo não tendo habilitação, então
foi o Alfredo que era habilitado colocado como motorista da patroa para compras
e passeios. Nos finais de semana pescava com o marido, além de levar o casal
para festas e outras atividades sociais. Apresentou Ofélia para sua esposa como
prima de tal; amigas ficaram para visitas semanais, anedotas, rezas e
salgadinhos. Grande família. O marido
não desconfiava de nada, tinha o falso primo da esposa no maior conceito e os
amantes gozavam de uma felicidade radiosa.
Mas como nada é para sempre um dia Ofélia engravidou e a casa caiu. O marido era estéril. Foi o fim do reinado
naquela casa de Alfredo, o manco. A mulher o abandonou quando soube e como o
marido traído queria fazer um pandeiro do seu couro liso, fugiu para outra
cidade. De Ofélia se soube que perdeu a criança e que hoje trabalha numa
esquina de má fama.
PACIÊNCIA ESGOTADA
Dentro do supermercado um menino de aproximadamente
cinco anos esperneava, gritava e chorava em altos brados sob o olhar
complacente da mãe. Já havia ingerido algumas guloseimas e estragados outras,
mas não estava satisfeito. A mãe dizia algumas palavras mornas e o pestinha só
fazia espernear ainda mais. Alguns clientes já estavam ficando incomodados
outros agoniados com a falta de atitude de quem deveria zelar pelo pequeno. Os
minutos transcorriam em balbúrdia e irritação. Nisso veio pelo corredor um
senhor bem idoso, vestido de maneira simples, tirou o cinto e deu três pegadas
firmes nas pernas do moleque que aí sim berrou com vontade. Foi para cima da
mãe do garoto e mandou o cinto no lombo dela por mais de oito vezes. O idoso
era bem forte, ela ficou imobilizada. Ninguém interveio. Vendo a mãe apanhar o
menino parou de chorar e começou a rir. O idoso pensou consigo: “deve ser coisa
da educação moderna.” Saiu do estabelecimento aplaudido.
O PAI DA CRIANÇA
Médico e enfermeira na sala de parto. A parturiente
sofria, Romualdo, o pai, que nunca fora um marido exemplar andava de um lado
para outro sem parar. Olhava à mulher e o relógio, tinha a impressão que o
tempo tinha parado, suava de nervoso. Pediu licença e saiu da sala para fumar,
mas não ficou nisso. Correu ao estacionamento e roubou o automóvel do médico
que cuidava do parto, automóvel este que usou para fugir com seu amante, que
era o marido da enfermeira. Foram vistos pela última vez curtindo praia em
Porto Seguro.
NA LOJA DE BEBIDAS
Um
uísque Passport puxa conversa com uma Caninha 51.
-E aí
irmã, quente não?
-Não
sou sua irmã!
-Como
não?
-Você
é uísque, eu sou cachaça.
-Então
não somos irmãos?
-Não.
-Melhor
assim.
-Melhor
por quê?
-Não
sendo irmãos podemos namorar.
-Sai
fora,! Não gosto de estrangeiros. Ainda
mais se vier com gelo.
-Preconceituosa
então, só me faltava essa.
-Sou
mesmo assim.
-Nem
uma bitoquinha?
-Sem
chance.
-Magoei.
Tomara que você caia dessa prateleira e se quebre toda!
-É
praga é? Então tomara que gelem você com gelo de xixi.
E
daquele dia em diante não mais se falaram. Ela não caiu da prateleira e foi
vendida para um churrasqueiro. Ele foi gelado com cubos de água de coco e
desapareceu feliz.
PORCA E PARAFUSO
PARAFUSO-Estive no Bar do Zé. O papo que rola por
lá é que tu estás dando mole para um alicate novo na praça. Todos sabem que te
adoro e aí zombam de mim.
PORCA-Tu estás é doido. Bem sabes que quem me
aperta além de tu é somente a chave de boca que é lésbica.
PARAFUSO-Estou desconfiado, andas com muito
desgaste nas beiradas.
PORCA-Basta! Faço minhas malas e volto pra casa de
mamãe. Onde está o respeito?
PARAFUSO-Não me engana, nunca foste santa.
Lembre-se da história do imã nosso vizinho que te deu uns amassos?
PORCA- Eu era jovem, coisa do passado, melhor
esquecer.
PARAFUSO-Passado sim, mas quem carrega os chifres
até hoje sou eu.
PORCA-Quer saber? Irei dar uma volta por aí, quem
sabe eu encontre mesmo esse novo alicate bonitão dando sopa por aí.
Dito isso saiu arrumou-se e saiu porta afora. O
parafuso doente de paixão jogou-se dentro de um tambor de óleo.
O QUARTO
Genivaldo veio do interior do Ceará para morar em
São Paulo. Arrumou um quarto para morar que na verdade não era nem um terço.
Para conseguir abotoar a camisa ele precisava sair para o lado de fora ou nada
feito. Dormir e sonhar nem pensar; o sonho ficava do lado na rua em frente.
Arranjou uma namorada, mas ele namorava um dentro e ela no sereno ou na chuva.
Genivaldo ficou um mês e se cansou daquele cubículo. Aborreceu-se e foi morar
dentro de uma caixa de fósforos. De graça.
HERNILDA MOSCA
A família de Hernilda Mosca chegou à festa e sobrevoou a mesa repleta de delícias. Alvos escolhidos, atacaram em massa pousando nas guloseimas com suas patinhas imundas. Porém sofreram um contra-ataque rápido ...Vapt! Vapt! Vapt! Fim da jornada . Não contaram para elas que era uma festa de sapos.
DIA RUIM
Ele acordou dentro do ataúde fechado. Acendeu o
isqueiro e viu que relógio havia parado. Droga de relógio falsificado! Ninguém
mandou fazer economia, ralhou consigo mesmo. Que horas serão? Dia ou noite?
Apanhou uma bala de hortelã para dar um lustro no bafo que estava horrível.
Bateu o pó do smoking, fechou os botões e foi abrindo a tampa do caixão bem
devagar. Percebeu que era noite e respirou aliviado. Foi à geladeira para tomar
seu copo de sangue diário. Porra! Sangue azedo! Faltara energia, a geladeira
estava descongelada. Cuspiu diversas vezes querendo tirar o gosto, mas por azar
cuspiu em cima do sapato novo. Irado, transformou-se em morcego e foi batendo
asas rumo ao Banco de Sangue em busca do desjejum. Saiu esbravejando:
- É uma merda ser vampiro!
ASSOMBRAÇÃO
“Entre farináceos perfumados, cremes etéreos e
loções indescritíveis, a minha feiura se esvanece”. (Assombração)
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BABY LAMPADA Coisa própria da juventude; o afobamento, o medo do futuro, não ter o apoio da família; tudo isso faz do ser inexperiente ...