domingo, 3 de setembro de 2017

A FILA

A fila ultrapassava cinco quarteirões. O passante curioso perguntou para o último dos esperançosos:
-Fila para emprego?
-Não. Estamos pegando senha para no futuro entrarmos no paraíso.
O passante ficou atônito:
- É grátis?
-Não! Duzentos reais.
-Bem caro- falou o passante. - Acho que irei aguardar pela fila do purgatório.

NO PARQUE NACIONAL DO SERINGUETI

Naquela tarde o sol se amansava quando bom masai Omara, sósia do Obama presidente, caminhava pelo Parque Nacional do Seringeti voltando para sua casa quando foi observado por um bando de leões. Os felinos foram chegando perto prontos para ataca-lo quando a líder parou e disse para suas companheiras:
”Vejam só, é o Obama!” –Todas em uníssono disseram- “Vamos embora. Socialista não dá para comer, putz!”

ENGAIOLADO

O domingo era de sol. Poucas pessoas estavam na praça naquela hora. Enquanto o pipoqueiro gritava, o guarda municipal dormia num banco sombreado. Um pombo manso catava milho pela calçada. Crianças brincavam na areia com seus baldes e pás. Era um domingo normal como outro qualquer já passado. Foi quando passou por mim um pássaro enorme com um homem engaiolado. O homem preso não gritava, não cantava. Através das grades de sua prisão vi apenas duas lágrimas caindo dos seus olhos. O pássaro proprietário parecia feliz.

CARLOS ROBERTO

Violento e machista, Carlos Roberto jamais conseguiu manter um relacionamento. Todos de curta duração, pois o homem é intragável. Na semana passada após a última surra sua mulher-inflável também pediu o divórcio.

ESQUECIDO

Guilherme é um sujeito muito esquecido. Esquece coisas nos lugares mais impróprios e jamais se lembra de ir buscá-los. Ontem fez doze anos que deixou a mulher na casa da sogra.

SEU NICÁSIO

Ainda caminhava para lá e para cá, conhecia todos na vila, apesar da idade avançada. Ninguém na verdade sabia sua verdadeira idade, o que todos tinham a certeza é de que Seu Nicásio era muito, mas muito velho. Pois Seu Nicásio morreu na tarde de ontem e nem foi preciso realizar a cremação: quando deixou este mundo já era pó.

O NOVO HOMEM

A raça humana foi exterminada por Deus. Resolveu ele iniciar com um novo modelo. Fez a mulher de barro, soprou e para ela deu vida. Uma formosura! Depois tirou um pedaço da bunda da beleza e fez o homem. Tudo pronto analisou suas obras e disse para um anjo que o acompanhava: ”Acho que agora vai!”

SETEMBRINO

Setembrino morreu no manicômio aos sessenta anos. Após sua morte os médicos especialistas o desmontaram para estudá-lo, mas não conseguiram juntá-lo novamente. Então ficou claro para todos que era verdade o que diziam dele: Setembrino tinha realmente um parafuso a menos.

BARRABÁS NA CRUZ

O ladrão Barrabás não se importava de ser crucificado, estava nem aí. Sua dor maior era estar pregado naquele calorão dos diabos, com um chato ao seu lado e não poder chupar nem um picolé ou beber uma mineral com gás.

MUNARO

Munaro era um homem pequeno que se tornou triste. Viúvo recente, não tinha mais prazer na vida. A depressão foi tomando conta do pequeno corpo dele; os remédios não o ajudaram. Por fim, no último domingo ele deu cabo da vida se enforcando num bonsai.

NOS CONFINS

Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Gilmar Mendes!
-Valha-me Deus! Antes fosse o demo em carne e osso!

O PEDIDO

O sujeito entrou no bar, sentou-se num canto e chegando o garçom fez o pedido: dois pasteis de graxa de motor elétrico, um litro de ácido de bateria e uma salada mista de arruelas temperada com pólvora e gasolina azul. Diante do olhar atônito do atendente disse:” sou o Super-Homem, portanto não esquente, hoje resolvi radicalizar na dieta.”

ROBERTO

O vento forte, o mar revolto, sentado na ponta do trapiche, Roberto sem forças. Suas lágrimas misturadas ao sal, o frio que doía bem menos que o tridente cravado em seu coração. Sem rumo, sem foco, sem nada, esperando o tempo ficar velho. Então acobertada por uma chuva formidável, veio navegando sobre uma onda brava uma bela sereia. Toda cheia de encanto e ternura carregou Roberto em seus braços mar adentro no caminho da mansidão.

LENO

Leno sempre teimoso, birrento, quebrando regras. Há dez anos passou próximo de um lago e na borda dele havia uma placa- “LAGO CONTAMINADO. PROBIDO BANHO.” Prato cheio para ele que tirou as roupas e se jogou n’água. Depois disso perdeu o emprego, todos os amigos e amigas, até parentes próximos. Somente os pais o suportam com galhardia. Faz dez anos que Leno cheira a merda.