sábado, 9 de junho de 2018

ÁRIDA


De gole em gole
De bar em bar
O pobre homem presente o fim da vida
Sem na verdade saber por que esteve aqui.

SEMPRE ELES


Quando surge uma luz no fim do nosso túnel
Eles entram pelas urnas
Para roubar a nossa esperança
O mal não cessa
Renova-se o ciclo da torpeza
Mesmo entre nomes diferentes
Eles nos cansam.

NATURAL


Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Desses nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos acostumados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

PATUDO


“Não existe patudo maior que um ser que não responde a um cumprimento. Sirva o milho.” (Mim)

CIÊNCIA


“Salve a mente que corre e voa. Sem muletas, sem a sombra do sobrenatural. Que a ciência seja a luz que ilumine os caminhos!” (Mim)

NADA


“A única coisa eterna é o nada. Nada é para sempre.” (Mim)

FAÇA O MELHOR


“A boa comida não depende do prato no qual é servida. Faça o melhor onde estiver.” (Mim)

POIS É


“O Brasil está desse jeito: o último que ficou para apagar a luz roubou a fiação e tomadas.” (Mim)

O FUNDO DO POÇO


“Não sei se o fundo do poço ainda está longe, mas a corda já está cedendo.” (Mim)

DESOCUPADO


“Um desocupado sempre acaba ocupando outros.” (Mim)

DESARMAMENTO


“Decididamente sou favorável ao desarmamento... dos bandidos!” (Mim)

GLEISI MORREU


Gleisi Hoffmann morreu, fedeu e foi impedida de entrar no céu. Com tamanha ficha suja não foi possível. O anjo secretário disse que seria encaminhada para o inferno. Então deu a ela uma passagem rodoviária até a Venezuela.

SEM CARNE


Naquela noite Romualdo chegou a sua casa e disse para seus quinze filhos todos menores de idade e que estavam com muita fome:- “Não há comida, não há carne. Todos devem ir dormir agora.” Duas horas mais tarde entre salpicos de molho de hortelã, cravo e louro, quinze crianças lambiam os beiços enquanto o pai morto dourava espetado sobre um fogo de chão.


EREMITA


Numa grota perdida no sertão de Tocantins viveu recluso por trinta anos Anselmo Berg. Viveu todo o tempo de frutas, raízes e pequenos animais, sem contatar humanos. Ontem apareceu na capital, Palmas. Deus uma voltas, leu  jornais e voltou correndo para sua grota.

NA PORTA DA GELADEIRA


Orivaldo chegou em casa e ouviu gemidos no quarto. Do lado de fora perguntou:
-Quem está aí?
-É a tua mulher com o amante- respondeu ela.
Ele coçou a cabeça.
-É o Amâncio da padaria?
-É o Amâncio!
-Está bem, irei dar um volta por aí. Diga para ele que as contas de luz e água estão na porta da geladeira.
-Está bem, ele ouviu, até depois!




A CAIXA


Numa manhã de sábado apareceu naquela rua de macadame uma pequena e enigmática caixa de madeira marrom.  Não possuía brilho, opaca, acordou encostada ao meio-fio.  Muitos moradores e até estranhos tentaram ergue-la ou abri-la, mas ninguém conseguiu. Nem mesmo usando ferramentas foi possível.  Ficou lá por muito tempo até desaparecer numa noite de tempestade. Que caixa era aquela? O que poderia ter dentro? Quando a velha e sábia Noninha morreu deixou uma cartinha explicando o que a caixa continha. A caixa carregava o peso das consciências dos habitantes da cidade e dentro dela todos os seus segredos mais bem guardados.



UMA NOVA VIDA


Naquele dia Arnaldo estava um traste. O céu era marrom, a saliva tinha fel. Queria um abismo só para chamar de seu. Chegou em casa e foi direto para o canil. Mandou o Duque para dentro da residência e se deitou na casinha do cão. Espreguiçou-se, lambeu os beiços e passou a roer um osso. Antes da meia-noite já estava latindo para os passantes.
                                                                



VILA TRISTEZA


Na terra de gente triste tristeza é o material que não falta. Pelas ruas de Vila Tristeza não se ouve sorrisos de crianças e o cantar dos passarinhos. Música é algo que não se escuta. Não se ouve também a bola quicar nos campinhos de terra e o alegre tagarelar das comadres no final de uma tarde de verão. Andorinhas não voam perto dela, temendo perder seu trinar. Na Vila Tristeza como o nome já diz, uma tristeza chorosa tomou conta de todos; até as flores são aborrecidas e sem cores. Um viajante que por ali passe não receberá por certo um comprimento de bom dia ou um sorriso amável; apenas o frio distanciamento de seres que vivem num mundo estranho e sem nenhum calor humano. Quando a noite chega todas as janelas e portas se fecham, o mundo coletivo que pouco existe durante o calor do sol deixa de existir por completo, é cada um por si. Na pequena vila impera o orgulho e todos são donos da verdade.                                                                                                       


IGUARIA


“Tendo fome até pastel de rodoviária é iguaria.” (Climério)

O PIOR


“Não consegui fazer a Primeira Comunhão. Tirei zero na aula de catecismo.” (Climério)

FRUTO LINDO


“O Brasil é um fruto lindo. Uma pena que tenha tanto bicho.” (Climério)

FUGA


 “Minha patroa anda falando em comprar um rottweiler. Já estou até planejando minha fuga, pois não nasci para ser lanchinho.” (Bilu Cão)

VOTO CANINO


“Nós cães não votamos, mas acredito que faríamos melhor.” (Bilu Cão)      

BILU CÃO



“O tempo passa e tudo muda. Meus filhos saberão o que foi roer um osso?”. (Bilu Cão)



SAUDADE


Acho que é saudade
Não sei ao certo
Só sei que desde que você partiu
Meu coração não sai da janela
Olhando para o céu
Esperando pelo próximo avião.

JÁ ERA


A desgraça de um povo
Começa com a banalização da morte
E passa pela exaltação e perdão
De todo político ladrão.


JARDIM DE LEMBRANÇAS


Cemitério
Jardim de lembranças
E muito de ossos esquecidos
Pois o tempo
Esse ingrato desalmado
Não perdoa.

NOSSOS ERROS


Ninguém passa pela vida sem erros
Sejam eles grandes ou pequenos
Já que imperfeitos nós somos
De nada vale regurgitá-los
Na vivência da rotina diária
Pois tornará amargo o viver
O melhor é ser justo e fazer todo o bem possível
Assim acalmando a fera interior que tem a força para nos devorar.