sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

CÍRCULO INFERNAL

Dez horas da manhã, segunda feira. Entro num bar para tomar café, e lá num canto de pouca luz estava um homem ainda jovem, bem vestido bebericando sua cerveja acompanhada por goles de aguardente. Sem estabelecer julgamento fico pensando na dura dependência e no sofrimento que causa a si mesmo uma pessoa dominada pelo vício. Sim, pois quem bebe nesta hora numa segunda-feira senão um viciado? Como será que passa as demais horas do dia? Como será no trabalho? Como está sua relação com os familiares? A esposa não estará cansada de aturar o santo bafo de todos os dias? Será que têm filhos? E eles, como reagem? Só sei que o vício causa decadência e tristeza. A vontade é superior à inteligência, portanto todo cuidado é pouco para não entrar nesse círculo infernal.

A GALINHA E O URUBU

Uma galinha viu-se só num lugar ermo e seco, e por falta d’água e alimento foi definhando. Estando quase desfalecida ainda lutava para viver quando percebeu que um urubu aguardava sua morte. Gritou com todas as forças restantes:
“Irmão de cor, ajude-me!”
“Irei ajudar-te irmãzinha!”- disse o urubu.
“Que fareis irmãozinho?”
“Irei te comer vestida.”- E atracou-se nela sem tirar as penas.

MOLUSCO

Não é normal, podemos chamar de aberração, mas existe Lula com rabo. E que rabo grande! Como é grande o seu rabo!

CHUVA

Na sua recente viagem ao Uruguai avisaram Dilma que haveria uma chuva de meteoros. Ela prontamente correu a comprar um guarda-chuva.

DISSE O NÁRIO PEDRA- ANTAVÍRUS- A Dilma com gripe.

"Ser infeliz é fácil: Basta viver de comparações." (Mim)

“Andando sozinho um sujeito mal-educado só tende a piorar.” (Mim)

“Rio, porque chorar sempre é mais caro.” (Mim)

“Faço sexo pensando na reprodução das pílulas.” (Mim)

“Nem todos os parentes são chatos. Mas é garantia morar bem longe.” (Mim)

“O tempo passa e até o relógio fica velho.” (Mim)

DEGENERADOS

Explorados aos olhos dos vermelhos
Os torpes não desejam esperar pelos frutos do trabalho
Assim atacam de surpresa
Quem estiver no seu caminho
São vermes que anseiam pela colheita sem nada ter plantado
Reaplicando a violência contra inocentes em sua rotina
São degenerados com crachás de vítimas da sociedade.

ANTES GATO

Quando jovens temos a ilusão
De que  o tempo não passará
E que a juventude não fugirá como as corredeiras de um rio
Porém a realidade bate
Quando as garotas que antes te chamavam de gato
Agora te chamam de tio.

VINGANÇA

Os peludos ratos entraram na despensa e começaram a fuçar. Na escuridão outros olhos estavam à espreita. Eram bichinhos brancos, outros amarelados, cheirosos e com muitos furinhos. Quando os ratos pensaram estar seguros para comer, eles atacaram sem dó, acabando com todos em poucos segundos. A Era da Vingança havia chegado; foi o primeiro ataque conhecido dos Queijos Assassinos.

NO PARQUE

Calixto, embriagado entrou no parque em plena tarde e foi urinar sobre flores, sem importar-se com os passantes, sendo que havia um banheiro no local. Com todos os documentos ao vento, sentia-se em casa. Duas vespas não gostaram do banho de urina e foram aos testículos do mal-educado mostrando a força da natureza. Pois ele ficou com o antes murcho maior que a própria cabeça, não conseguindo caminhar. Estirou-se ao chão gritando de dor, maldizendo a mãe das vespas. O SAMU foi acionado para atendê-lo, enquanto esperava o desavergonhado foi rodeado por populares que gritavam ‘bem feito!’ Fez cara feia, mas a dor o impediu de reagir. Enquanto era medicado, a outra parte da força natureza chegou e meteu-lhe quatro picadas no entre nádegas como parte das suas lembranças eternas.

NOÉ

Noé construiu uma arca. Ele carregou os bichos. Choveu pra mais de metro e o grande barco navegou. Noé naquela ociosidade chuvosa tinha que fazer algo. Noé então inventou os Jogos dos Bichos para passar o tempo e faturar algum. Quando as águas baixaram a Arca de Noé estava no Rio de Janeiro. E deu.

ANITA, A FLORISTA

Anita era uma florista de muito sucesso. Simpática, atenciosa, bons preços, uma fada! Não havia ser vivo naquela avenida que não amasse Anita. Porém tudo acabou para ela quando o povo descobriu que o seu principal fornecedor era o cemitério.

SEM PAPO

O caixeiro viajante Gregório chegou a Plantk, uma cidade estranha quase no fim do mundo, pois ninguém ali abria diálogo com ele, apenas monossílabos. Abastecendo seu automóvel observou pela primeira vez que todos tinham alguma deficiência física. Sem orelhas; sem queixos; sem mãos; sem braços; sem pernas; mancos; cegos; estrábicos e outros. Não tentou vender nada, já que o povo não queria papo com gente estranha decidiu seguir em frente. Na saída viu um senhor corcunda capinando a beira da estrada e decidiu arriscar: “Boa tarde! O senhor poderia me dizer por que o povo da cidade evitou falar comigo?” O homem um pouco receoso respondeu em tom baixo: “É que o senhor não é normal. Assusta um pouco.” Então se afastou e continuou a capinar.

ÉRCIO

Ércio, tímido, desde rapaz fora apaixonado por Filomena, porém nunca teve coragem para contar-lhe. Passados quarenta anos ela morreu. Ércio foi ao cemitério levar flores e declarou-se de joelhos. Depois em sua casa pendurou-se pelo pescoço.

Clipismo — A adoração do momento. Será uma indireta divina? Dê seu palpite... e seu dinheiro.

ATHEUS-NET

DEUS E SÃO PEDRO

Por mera curiosidade Deus pergunta para São Pedro:
-Pedro, temos algum político brasileiro aqui no paraíso?
-Nenhum chefe. Se não me engano temos dois no purgatório e o restante no foguinho.

AS FALÁCIAS SOCIALISTAS, A “CLASSE DO ÓCIO” E A IDEALIZAÇÃO DA INVEJA

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Por Roger Scruton*
Esse cenário, segundo o qual os frutos do trabalho humano, essencialmente, não têm dono até o Estado distribuí-los, não é meramente a posição padrão do pensamento de esquerda. Foi idealizado dentro da universidade nos departamentos de Filosofia Política de modo a tornar-se praticamente inatacável a partir de qualquer ponto da disciplina.
A ideia de que a riqueza já vem ao mundo marcada pelo título do direito de propriedade, que só pode ser cancelado em violação aos direitos do indivíduo, não tem espaço na visão de mundo da esquerda progressista.
O Estado socialista não “redistribui” um ativo comum da sociedade. Cria renda sobre os ganhos dos pagadores de impostos e a oferece aos seus clientes privilegiados. Esses clientes garantem os seus rendimentos votando naqueles que os providenciaram.
Testemunhamos assim, como na Grécia, a criação de uma nova “classe do ócio” que se utiliza do Estado a fim de obter o seu ganho do restante da sociedade.
A verdadeira perversão é uma falácia peculiar que vê a vida em sociedade como aquele em que todo sucesso de um é o resultado do fracasso de outrem. Segundo essa falácia, todos os ganhos são pagos pelos perdedores. A sociedade é um jogo de soma zero em que existe um equilíbrio entre os cursos e os benefícios, e a razão da vitória do vencedor é a derrota dos perdedores. Tal falácia do “jogo de soma zero” se tornou uma afirmação clássica na teoria da mais-valia de Marx, que pretendia mostrar que o lucro do capitalista é resultado do confisco da força de trabalho do proletário.
Parece-me que essa falácia do jogo de soma zero está na base da crença generalizada de que igualdade e justiça são ideias equivalentes – crença que parece ser a posição padrão dos socialistas e programada como tal nos cursos universitários de Filosofia Política.
Para certo tipo de mentalidade igualitária, não importa que Jack tenha trabalhado para construir a sua riqueza e que Jill apenas descansava em uma ociosidade voluntária; não importa que Jack tenha talento e energia, ao passo que Jill não tenha nem um nem outro; não importa que Jack mereça o que tem, enquanto Jill nada mereça: a única questão importante é a classe e as desigualdades “sociais” que dela se originam.
É fácil assegurar a igualdade na área do ensino: basta remover todas as oportunidades para um aluno ir além e se destacar, para que nenhuma criança jamais tenha êxito em aprender o que quer que seja.
Um sistema que oferecia aos filhos de famílias pobres uma oportunidade de progredir sozinhos pelo talento e pelo esforço foi destruído pela simples razão de dividir os bem-sucedidos e os malsucedidos.
Contudo, o novo conceito de justiça “social” veio para salvar os igualitaristas e permitiu-lhes mostrar a sua maldade contra os bem-sucedidos como uma espécie de compaixão em relação aos demais.
E não há dúvida de que o ressentimento desempenhou um importante papel na atitude que hoje prevalece perante a desigualdade. Não vejo outra solução para o ressentimento generalizado que não a postura tradicional norte-americana existente nos Estados Unidos – investir a riqueza e dar ao maior número possível de pessoas uma parte dessa aplicação bem-sucedida, adotando, entretanto, aqueles “estratagemas” para conter a inveja investigados por Helmut Schoeck.
Há uma tentação, que os intelectuais de esquerda sentem mais intensamente, de substituir o indivíduo imperfeito pela abstração pura, de reescrever o mundo humano como se este fosse formado por forças, movimentos, classes e ideias, todas se movendo em uma estratosfera de necessidade histórica a partir da qual as realidades desordenadas foram excluídas.
Hoje podemos ver isso claramente, visto que o mundo ocidental emerge da Guerra Fria e do pesadelo comunista. Mas a “tentação totalitária”, como a denominou Jean-François Revel, ainda está lá – a tentação de remodelar a sociedade para que a igualdade seja imposta de cima para baixo pelo benigno Estado socialista, cujas boas intenções nunca podem ser questionadas, pois ninguém sabe como seria caso fossem realizadas.
* Trechos do capítulo “A verdade no socialismo”, de Como ser um conservador.

ENQUANTO COMANDANTE DO EXÉRCITO DIZ QUE É “COISA DE MALUCO” PEDIR INTERVENÇÃO MILITAR, GENERAL FAZ ALERTA CONTRÁRIO

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O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que há “chance zero” de setores das Forças Armadas, principalmente da ativa, mas também da reserva, se encantarem com a volta dos militares ao poder. Admite, porém, que há “tresloucados” ou “malucos” civis que, vira e mexe, batem à sua porta cobrando intervenção no caos político.
“Esses tresloucados, esses malucos vêm procurar a gente aqui e perguntam: ‘Até quando as Forças Armadas vão deixar o País afundando? Cadê a responsabilidade das Forças Armadas?’” E o que ele responde? “Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto”.
Mas hoje há um artigo no Estadão, do General de exército Rômulo Bini Pereira, que foi chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa, alertando para os perigos crescentes de um clamor popular por tal “solução”. Ele argumenta que o sistema democrático pode ir para o “brejo” caso as elites insistam em virar as costas para o povo, com esse “politicamente correto” cansativo e os abusos de poder, roubalheiras, medidas inconstitucionais etc. Diz ele:
No Legislativo, sabemos agora que a Câmara dos Deputados não é um cartório, e sim que três centenas de deputados fizeram “emendas à meia-noite” a desvirtuar as medidas anticorrupção propostas pelo povo brasileiro. O presidente do Senado, considerado réu pelo STF por acusação de peculato, confrontou e desobedeceu a uma decisão monocrática de juiz da Suprema Corte, fato que fere qualquer sistema dito democrático. E para agravamento do quadro político, é grande o número de parlamentares envolvidos em processos judiciais. Uma “desgraça” sem precedentes.
No Judiciário os brasileiros ainda depositam esperança, graças ao corajoso desempenho dos juízes de primeira instância. Nas instâncias superiores o quadro é diferente. O esdrúxulo direito de foro privilegiado acarreta uma sobrecarga de processos no STF, o que lhe dá uma pauta extensa e criticada e indesejável morosidade. Com a transmissão de suas sessões pela TV, constata-se que são graves as divergências pessoais entre alguns de seus membros. E a presença da política partidária faz-se notar. A divulgação de altos salários no Judiciário – ditos legais, mas imorais –, o “fatiamento” de artigo da Constituição aprovado pelo ex-presidente da Corte no processo de impeachment e o desgastante e inédito processo envolvendo o presidente do Senado afetaram a imagem e a credibilidade da instituição.
No Executivo, a situação econômica indefinida, o possível envolvimento da equipe governamental em atos de corrupção, o desgastante processo das tratativas parlamentares para a aprovação de propostas úteis para o País e uma oposição agressiva são aspectos que, gradativamente, fragilizam e deixam acuado o governo. Já se fala em novas eleições e até mesmo em deposição. A atual oposição esqueceu-se de que foi a única responsável pela calamidade que tomou conta do País. Governou durante 13 anos, deixou-o na bancarrota e instituiu uma imoralidade sistêmica. Está em pleno processo de “vitimização” e já defende, histericamente, as manifestações radicais de rua com ações e depredações. É o mesmo modus operandi de passado recente.
É nesse cenário de “desgraças” que as instituições maiores e seus integrantes deverão ter a noção, a consciência e a sensibilidade de que o País poderá ingressar numa situação de ingovernabilidade, que não atenderá mais aos anseios e às expectativas da sociedade, tornando inexequível o regime democrático vigente. O aludido brejo é significativo. É um caso, portanto, a se pensar.
Desse modo, se o clamor popular alcançar relevância, as Forças Armadas poderão ser chamadas a intervir, inclusive em defesa do Estado e das instituições. Elas serão a última trincheira defensiva desta temível e indesejável “ida para o brejo”.Não é apologia ou invencionice. Por isso, repito: alertar é preciso.
Sim, alertar é preciso. E o alerta foi dado. Espera-se que jamais cheguemos a tal ponto. Cabe aos líderes políticos, à imprensa e à elite em geral compreender o que está em jogo, para lutar pelo fortalecimento de nossas instituições democráticas, não sua destruição completa.
Rodrigo Constantino

“Poderes do Estado começam a extrapolar seus limites e invadir a jurisdição do outro”, diz Lamachia


O editor procurou ontem o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, tudo com o objetivo de buscar sua opinião sobre a decisão do ministro Luiz Fux sobre a votação das "10 Medidas Anticorrupção". 

O presidente da OAB não quis fulanizar nada, mas disse o seguinte:

-  A crise institucional brasileira chegou a um estágio perigoso, em que os Poderes do Estado começam a extrapolar de seus limites e invadir a jurisdição do outro. Não são fatos isolados que levam a essa avaliação, mas atos recorrentes, que envolvem os três Poderes. A Constituição determina que sejam independentes e harmônicos, o que pressupõe que cada qual cumpra o papel que lhe está determinado e que cultivem amplo diálogo. Não está ocorrendo, e o ambiente de confronto fragiliza o Estado democrático de Direito.

Qual o conselho de Claudio Lamachia ?

- É hora de reconciliarem-se entre si – e com a sociedade, que tem dado mostras eloquentes de sua insatisfação. A conjunção de crise política e econômica agrava o quadro e pede providências imediatas por parte dos que têm o dever de manter a paz social. O Conselho Federal da OAB, no seu papel de porta-voz da sociedade civil, clama por bom senso e diálogo. Não é hora de medir forças, mas de somá-las em prol da restauração da credibilidade das instituições. Sem ela, a democracia não se sustenta e abre-se espaço para a ação nefasta dos agitadores e dos que investem no caos.

CORREIO DO BUGIU DE HORIZONTINA-Silas Malafaia é conduzido pela PF acusado de “lavar dinheiro” de corrupção

“É preciso uma revisão geral do custo da máquina”, afirma Fernando Gabeira

Para sair desta maré
Seria uma longa reflexão, menos urgente do que pensar algumas ideias para sair desta maré. Maré brava que desafia a imaginação coletiva, mas que pode começar na cabeça do indivíduo, por mais precárias que sejam nossas ideias ou mais ingênuas que possam parecer. Considero um passo inicial ter os dados exatos sobre o impacto da corrupção nos últimos governos, sobretudo os que surfaram na onda do petróleo. Essa necessidade me pareceu mais necessária ainda quando recebi o bilhete de um amigo lembrando que a missão da sonda Juno, que começou em 2011 e deve terminar em 2017, custou US$ 1,1 bilhão. A sonda viajou 2,3 bilhões de quilômetros e no momento está na órbita de Júpiter. Na mesma época, o Rio implantou a linha 4 do metrô, com 16 quilômetros de extensão e cinco estações. A linha custou US$ 3 bilhões, quase o triplo da Missão Juno.
Era preciso um balanço geral. A Lava-Jato e outras operações policiais trataram até aqui de corrupção em obras da Petrobras e de Angra 3. O único político do PMDB preso era Eduardo Cunha, também por seu papel nacional. Existe uma operação, a Saqueador, que poderia puxar um dos fios da meada. O empresário Fernando Cavendish já oferece um anel de R$ 800 mil, mas ainda não esposou a delação premiada. Com a prisão de Sérgio Cabral talvez se possa ter uma visão aproximada do peso que a corrupção teve nos últimos anos e também da fração de recursos que possam ser restituídos ao Rio.
Custos
Pesquisas divulgadas esta semana mostram que a Assembleia do Rio custa mais caro que a de São Paulo e que o Judiciário custa uma vez e meia o do estado de Minas. Minas tem 853 municípios, o Rio, 92. É preciso uma revisão geral do custo da máquina. Ela passa pelos salários, mas envolve outras dimensões, sobretudo o sistema estadual de aposentadoria. Se as instituições mostrassem o quanto se perdeu com a corrupção e o governo demonstrasse que ajustou os custos da máquina à realidade de um estado quebrado, talvez pudesse surgir daí uma centelha de legitimidade. Esta centelha é a única esperança de conduzir um processo pacífico. É evidente que não existe projeto de reconstrução que não desperte protestos, mas num clima mais produtivo.
Se o estado, em todos os níveis, se ajusta à sua realidade falimentar, o diálogo com os funcionários torna-se menos áspero e a própria confiança da sociedade talvez reacenda. Esta semana li uma longa entrevista de Henry Kissinger porque queria saber de sua visão sobre o futuro da política externa americana. No meio do caminho, deparei-me com uma frase em que ele diz que todas as sociedades humanas, num determinado momento de sua história, decaem. É uma arrogância supor que os Estados Unidos escapariam desse destino. Mas observa em seguida: a perda de confiança em si próprio é um sintoma que pode precipitar a decadência.
Embora tenha feito as escolhas políticas, não foi a sociedade, mas os dirigentes que jogaram o Rio neste buraco. De um lado, a exuberância do petróleo, de outro, o estímulo federal para que o estado se endividasse. E, no meio, a corrupção. Não há razão para que ela perca a confiança em si própria. O que faliu foi uma visão política, o que se vive é uma ressaca do petróleo, a descoberta de uma caríssima e incapaz máquina de governo. O corte decisivo nos gastos públicos, a punição dos corruptos, a canalização dos recursos salvos do desastre para a saúde e a educação podem ser um roteiro geral. Sem falar na urgência de manter programas como o aluguel social e restaurante popular.
O estado vive uma situação tão grave que aquela frase de Kennedy, tantas vezes citada, por força da realidade, aplica-se aqui: não me pergunte o que Rio pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo Rio. Desde que haja confiança de que um outro rumo está sendo trilhado. Não vejo outras saídas, exceto a energia e a criatividade das pessoas, sobretudo quando as coisas estão desmoronando. Uma época chega ao fim e os que estão por cima são incapazes de iniciar uma nova.
É apenas uma opinião na esperança de que a intensa troca de ideias possa nos ajudar a sair dessa maré. Estamos sós, o cenário é desolador, mas é preciso prosseguir. Mesmo sem saber precisamente para onde e por que, é preciso prosseguir.
Fonte: O Globo, 20/11/2016.

DONA EUFRÁSIA

Já viúva, Dona Eufrásia (62) não era mole. Dava laço e tiro em qualquer marmanjo, não tinha medo de tamanho e nem de cara feia. Atirava também como poucas. Quando Neco engravidou a filha Jurema e não quis casar Eufrásia deu um jeito. Quebrou ele a pau e fez o bonito se casar com ela, a sogra. Criaram o menino na mesma casa em três, porém o assanhado só se deitava com a velha. Mais tarde Jurema arrumou um marido e trouxe ele para morar sob o mesmo teto. Pois Neco teve que aturar a sogra até ela morrer aos oitenta e cinco anos. Longa pena. Isso sem contar que a cada trimestre tomava uma tunda da velha para bem lembrar-se da sem-vergonhice.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- quarta-feira, janeiro 11, 2006 CHEIRO DE BRASIL



Tomei um trem de Bruxelas para Paris. Atrasou vinte minutos. Ao chegar na Gare du Nord, vejo alguém distribuindo folhetos aos que desciam. Que é isto? - perguntei. É um formulário. E para quê? Para pedir sua indenização pelo atraso.

Em Madri, peguei um AVE para Toledo. Normalmente, o trem rápido deve chegar em 35 minutos. Chegou em 25. Com um detalhe: se o trem atrasar cinco minutos, você recebe o preço da passagem de volta.

Ainda em Madri, tomei um vôo Varig para São Paulo. Antes mesmo de chegar ao Brasil, já senti o gostinho de Brasil. O vôo atrasou duas horas. Muitos passageiros perderam sua conexão para Buenos Aires. Conselho de um comissário de bordo a um passageiro preocupado: entre com ação na justiça.

Do Brasil, se sente o cheiro de longe.

DELÍRIO

Aranhas na parede do quarto
Jason de máscara e facão na porta
Esqueletos no armário
Zumbis sob a cama
Sangue nas torneiras...
O passageiro contumaz da viagem etílica
Agora segue num passeio delirante
Com passagem só de ida
Pedindo com urgência um esquife para se deitar.


JOÃO BABA

Jurunupanu, nordeste seco. Poeira dos infernos. Árvores secas, animais mortos de sede e água para o povo somente de caminhão pipa. Então o prefeito ouviu falar de tal João Baba que morava na região dos lagos, um desperdício. Trouxe o homem com um emprego bem remunerado na prefeitura para o setor de recursos hídricos. Pois deu certo. Em seis meses João Baba babou tanto que se formaram três rios em Jurunupanu, ninguém mais passou sede e os moradores até uma praia de água doce ganharam. Quando houve ameaça de enchente compraram um babador para o João e tudo se resolveu.