terça-feira, 22 de novembro de 2016

MELANCIANAS

“Minha avó não gosta de banho. Se puder no mês enforca trinta.” (Chico Melancia)

“Um urubu. O canário da minha avó é um urubu.” (Chico Melancia)

“Estou procurando um emprego para ganhar bem e trabalhar pouco. Encontrei muitos, mas estão todos ocupados.” (Chico Melancia)

“Tenho muitos primos encarcerados.  Só não fui ainda porque ando disfarçado de garçonete.” (Chico Melancia)


"A vida começa aos quarenta. Sim, começa a ir embora." (Mim)

CERTEZA

A vida corre
A morte nos espera
Somos ínfimas partículas
Filhas longínquas da grande explosão
Então mesmo sabendo
O que nos aguarda no fim
Vivemos com pressa
Como se a morte
Fedorenta e fria
Não fosse nos esperar.

NOSSA VIDA

Num dia chovem rosas
Noutro cadáveres
O bem e o mal são finitos
Para nossa alegria ou tristeza
Depende apenas do momento que vivemos.

NADAS

Somos insignificantes para o universo
Um nada no todo      
Mas diante de alguns valores da sociedade humana
Alguns seres se embriagam na fonte da vaidade
E vão construindo pela vida castelos de areia
Que se desmancham com o sopro da morte.

Existe uma onda protecionista recente no mundo? E Trump é o culpado? Por Adolfo Sachsida

Vários analistas tem alertado para uma recente onda de crescimento do protecionismo no mundo, e sugerem também que a eleição de Trump pode aumentar ainda mais esse fato. De maneira curta e grossa digo: ESTÃO ERRADOS!
Não existe absolutamente NADA de recente na onda protecionista. Pelo contrário, essa onda contra o livre mercado não é nova, e só vem crescendo nos últimos 20 anos. Por exemplo, vamos pegar os últimos 3 candidatos republicanos antes de Trump: Bush, Mcain, e Romney. Nenhum deles defendia uma redução ampla dos subsídios ou um incremento substancial da abertura comercial nos EUA. A única diferença entre Trump e eles é que Trump fez uma defesa aberta onde os outros três fizeram uma defesa velada. Claro que isso é um sinal ruim, mas longe de significar que Trump tem pensamento diferente deles. Você se lembra qual foi o último presidente americano que defendeu abertamente reduzir os subsídios e aumentar a abertura comercial na América? O simples fato de você não saber a resposta já mostra que essa onda protecionista é antiga.
Então quem é o responsável pela baixa popularidade do livre comércio? Os primeiros responsáveis são os professores de economia de Harvard, Princeton, Yale, Chicago, e outras universidades de ponta em economia. Há muito tempo que não aparece um único livro de economia dizendo que a liberdade econômica gera crescimento. Os economistas são bons em recomendar mais educação, instituições melhores, e dão uma serie grande de sugestões. Contudo, a esmagadora maioria se cala na hora de dizer que pouco disso importa se o país não tiver abertura econômica. No meu livro “Fatores Determinantes da Riqueza de uma Nação” procuro mostrar (mesmo que com evidencias mais pontuais) que sem liberdade e abertura econômica pouco adiantam outras recomendações para o crescimento econômico. Qual foi o último economista que você leu defendendo que a principal recomendação de politica econômica deve ser a abertura econômica?
Ao contrário, os economistas hoje adoram culpar a globalização pelo aumento da desigualdade de renda. E se esquecem de dizer que essa mesma globalização é a responsável pela redução na pobreza. Qual é o livro de economia mais vendido dos últimos anos? É justamente o livro de Piketty que critica o capitalismo acusando-o de concentrar renda. O que Donald Trump fez foi ouvir esses economistas. Agora esses mesmos que se calaram por anos, que tinham vergonha de defender o liberalismo econômico, são os mesmos que reclamam que Trump ira diminuir a abertura comercial.
Atenção: fechar a economia é um erro. Eu canso de dizer isso. Mas vamos fazer um teste. Vá no departamento de economia da UnB, da USP, da FGV-SP, da PUC-RJ, e da EPGE e pergunte aos professores de economia o seguinte: 1) o senhor concorda que um pais deve abrir a economia mesmo que de maneira unilateral (isto é, mesmo que os outros países não abram suas respectivas economias); e 2) o senhor acha que o governo deve acabar com as políticas industriais e regionais? Você verá que mais de 70% desse grupo de professores responderá NÃO as duas perguntas acima. Isto é, os departamentos mais liberais em economia do Brasil concordam ao menos em parte com Donald Trump (apenas não tem coragem de assumir isso).
A complacência – ou a ignorância, ou o fato de discordarem honestamente dos efeitos benéficos do livre mercado – dos professores de economia é responsável direta pela onda protecionista que tem assolado o mundo. Se os economistas fossem enfáticos em sua defesa do livre mercado, e da abertura econômica, dificilmente tal onda protecionista teria crescido tanto. Mas se os próprios economistas não defendem o livre mercado, o que esperar de sociólogos, cientistas políticos, advogados, jornalistas, e palpiteiros em geral?

Adolfo Sachsida

Doutor em Economia (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) orientado pelo Prof. Walter Enders. Lecionou economia na University of Texas - Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia.

A PEC 241 é pouco: é preciso diminuir o gasto, liberar a economia e privatizar ilimitadamente Por Roberto Rachewsky



O governo federal aumentou os gastos de cerca de 10 para cerca de 20 por cento do PIB em pouco mais de 20 anos. A PEC 241 diz que em 2017 esses gastos podem aumentar no máximo 7,2%. Ou seja, somando esse aumento e considerando a recessão da economia que diminuiu o PIB, os gastos federais deverão resultar em 22,1% do PIB.

Em 2018, com a projeção atual para o crescimento do PIB e a inflação, os gastos do governo federal serão de mais de 23% do PIB. Vejam a manchete que o site Spotnik destaca num artigo que deve ser lido: “Michel Temer pretende gastar R$ 30 mil em um jantar no Palácio da Alvorada para alguns poucos senadores com intuito de convencê-los de que é preciso fazer o governo gastar menos.”

Aí a falácia está clara. A PEC não fará o governo gastar menos, ela determina um limite para o aumento do gasto do governo e não uma diminuição no gasto. Se a recessão durar mais 5 anos e o Brasil crescer 20% nos próximos 10 anos e a despesa seguir a inflação que deve aumentar porque o governo terá que expandir a moeda para cobrir o endividamento e a queda real na arrecadação, é possível que cheguemos a mais de 25% de gastos do governo com relação ao PIB.

É óbvio que limitar gastos é melhor do que não fazê-lo, mas uma sociedade que aceita apenas isso e acha que com isso vai resolver seu problema, está fadada ao colapso. Não existem apenas duas alternativas, aumenta até um limite ou aumenta sem limites. Há outra alternativa cuja necessidade é imediata: diminuir o gasto. Sem falar na necessidade premente de liberar a economia e privatizar ilimitadamente.

Dizem que no longo prazo o resultado a ser obtido com a PEC 241 será positivo. Invoco aqui o pai dos movimentos inflacionários e insuflador dos gastos de governo, Keynes, para dizer que no longo prazo estaremos todos quebrados.

IBGE: Brasil tem 22 milhões de desempregados

O País tem hoje 22,9 milhões de pessoas desempregadas, subocupadas ou inativas, mas com potencial para trabalhar. O resultado significa que, no terceiro trimestre de 2016, estava faltando trabalho para todo esse contingente de brasileiros, segundo os dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa composta da subutilização da força de trabalho - que contabiliza a taxa de desocupação, taxa de desocupação por insuficiência de horas trabalhadas e da força de trabalho potencial - ficou em 21,2% no terceiro trimestre. No segundo trimestre, o resultado foi de 20,9%, alcançando 22,7 milhões de pessoas. No terceiro trimestre de 2015, a taxa era consideravelmente mais baixa: 18,0%.

Políbio Braga

Artigo, Tito Guarniere - O apego ao Estado

O APEGO AO ESTADO
Francamente, não sei se há no mundo país em que tanta gente acredita no primado do Estado, que tudo media, provê e resolve. A superstição não é popular apenas entre os simplórios que engolem tudo, como os beneficiários do Bolsa Família. A ideia é dominante na academia, os docentes do nível superior de ensino, que têm urticária quando se fala de produtividade, mérito, eficiência, esses valores “da direita”. E mesmo no andar de cima, para usar a expressão de Elio Gaspari, há uma faixa do alto empresariado, adepta do capitalismo de fancaria, que não sobrevive senão no colo generoso do Estado, de onde emanam financiamentos a juros subsidiados, sobrefaturamentos, licitações viciadas, desonerações fiscais e favores de toda sorte e origem, no mais das vezes ilícitos.
As causas de um tal apego, pegajoso e incurável, não têm explicações finais, senão aquelas ligadas à nossa formação histórica.
Nos sistemas totalitários, como o fascismo, o nazismo e o socialismo real (comunismo), a opressão dos opositores - que logo se transformam em inimigos -, das etnias vítimas do ódio racial, dos grupos sociais incômodos, dos suspeitos de sempre, se fez invariavelmente através do Estado e em seu nome. O lema fascista resumia a ideologia estatal: “Tutto nello Stato, niente contro el Stato, nulla al di fuori dello Stato” - “tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”.
Definitivamente, o apego ao Estado não se dá pelo apego à liberdade, pois o Estado e a liberdade são, no limite, antagônicos. Tanto é maior o espaço de domínio Estatal, mais asfixiante ele se tornará, e mais exíguo será o espaço (da liberdade) da sociedade. “O poder é a possibilidade de fazer o mal” (Shakespeare).
Também não posso crer que a idolatria se dê porque o Estado seja mais eficiente. Nem o mais empedernido defensor se atreverá a defendê-lo – ao menos o Estado brasileiro - como exemplo de organismo capaz de atender as demandas do povo com razoável presteza e eficiência.
É verdade que os defeitos do Estado, as suas inaptidões, a vocação invencível para a mediocridade e o imobilismo, tudo isso passa ao largo dos seus prosélitos e defensores, quando estão no governo. Agora, com Temer, as mazelas do Brasil parecem ter sofrido um agravamento repentino, pois até então tudo corria bem. Os pneus que hoje queimam nunca foram queimados nos governos de Lula e Dilma.
Talvez tenha tanta gente a defender o Estado por uma razão mais prosaica.
Quem faz a apologia do Estado de algum modo está ligado a ele. Os beneficiários do Bolsa Família dele dependem para receber o benefício e ainda esperam ansiosamente que algo mais lhes seja oferecido. O empresariado que vive dos favores estatais não quer perder a boca rica. Os servidores públicos de todas as instâncias, ao defender o Estado, defendem o seu meio de vida, os seus salários e regalias, como a estabilidade e aposentadoria precoce e a valores cheios.
Estes, embora alegando razões nobres e altruístas, talvez de forma inconsciente, apenas defendem seus próprios interesses, como o mais comum dos mortais.
titoguarniere@terra.com.br

OS CONDENADOS

Em 1184 surge no Languedoc (sul da França) um grupo de inquisidores prontos para julgar hereges e outros acusados de bruxarias. Os irmãos Jean e Rene são presos acuados de praticar medicina com o apoio do demônio, isso porque salvaram uma criança com algumas ervas do campo. Também responsabilizavam os irmãos por pestes, diversas doenças e miséria social. Julgados e condenados culpados foram ao tronco amarrados para serem queimados vivos. Quando a tocha já estava acessa para colocar fogo na lenha e queimá-los, uma chuva descomunal teve início. Era tanta água que ninguém conseguia enxergar um palmo a frente. Raios, trovões e tudo o mais caiu do céu naquela tarde. Em pouco tempo um rio de lama se formou e varreu o povoado do mapa. Amarrados ao tronco, somente se salvaram os condenados. O chefe dos inquisidores morreu com um crucifixo espetado dentro da boca. Os demais e o povo apoiador em geral acabaram afogados na lama. Os irmãos apesar de todo o sofrimento que sofreram não postaram fotos dos inimigos mortos no facebook.

EDUCADO

Antero abriu o guarda-roupa e deu de cara com o amante da mulher nu. Bem educado como sempre, ofereceu para ele uma camiseta, cueca e bermuda. E ainda recomendou ”Tome cuidado, pois minha mulher costuma ter piolho-do-púbis.” O amante agradeceu e saiu depressa para comprar Neocid.

ENTRE PONTOS E VÍRGULAS

Havia um escritor que tinha uma bela história para contar. Estavam lá letras, exclamações, dois pontos, hifens, parágrafos, pontos e vírgulas, além de outros da área, cada qual prontos para tomar o seu lugar. Mas aconteceu uma briga encardida entre pontos e vírgulas, e assim antes da história começar os pontos colocaram um ponto final em tudo.

SOLIDÁRIOS

Começo do século dezenove. Uma grande epidemia de gripe dizimou metade do povo brasileiro. Nas pequenas vilas do nordeste em que a ajuda não chegou a tempo, os mortos estavam nas ruas. Sem comida e sem remédios o povo fugia desesperado levando apenas algumas roupas... Saídos da pequena Maracéu no interior do Ceará vinte casais e seus filhos em fuga caminharam por meses em busca de um lugar seguro para ficar. Unidos, todos se ajudaram nos momentos difíceis de enfermidades e fome. Repartiam bolachas e grãos de feijão. Nas horas de desespero e abandono um casal apoiava o outro, solidários e cheios de afeto. Enfrentaram juntos temporais e o pranto de saudade dos queridos mortos. Diante da desgraça pareciam irmãos de sangue. Aconteceu então o dia em que a vintena de desterrados e seus rebentos entraram numa fazenda abandonada e encontrou além de cadáveres por todos os lados uma maleta com diamantes abandonada num canto. Felizes pelo achado enterraram os mortos e descansaram. Planejaram que quando estivessem em um lugar definitivo dividiriam o montante em partes iguais. Foram dormir com a esperança de um amanhã melhor, e sem dúvida seria um bom começo. Porém durante a noite dois lobos se apresentaram; enquanto todos os demais dormiam o casal Noronha partiu levando o pequeno tesouro da comunidade. Nunca mais foram vistos.

 MORAL- Feijão e pão seco são fáceis de repartir, o duro de repartir é a picanha.

O QUE É O ESTUDO

Cléber ordenhava vacas, elas não gostavam, pois ele tinha mãos ásperas. Quando ele chegava perto elas ficavam inquietas. Suas mãos duras machucavam os mamilos das amigas. O patrão observou a situação e então comprou luvas para ele e o problema foi resolvido. Cléber também tinha seguidamente arranhados no pênis. Nunca mais os teve. Olhava para a caixa de luvas sobre o armário e dizia para si: “Veja só o que é o estudo.”

BUNDA DE BÊBADO

Um copo vazio sobre a mesa. A mão firme ergue o copo e pede mais uma. O cérebro aos poucos vai ganhando leveza, logo se esquecendo dos problemas e ficando cheio de euforia. Mais uns goles da malvada e as palavras saem da estrada. Agora os amigos são mais amigos e os inimigos mais inimigos. O pobre diabo se acha o maioral, está pronto para enfrentar a vida. Mais uns tragos e nada parece impossível. Cambaleando sai do boteco para ir para casa. Anda uma centena de metros e caia na sarjeta. De arrasto vai em frente assustado, não desiste de maneira alguma, pois sempre ouviu dizer que bunda de bêbado não tem dono.

IRADO

O escritor, a cadeira dura, o computador, a tela branca e a inspiração que falha. Ele precisa escrever um conto para pagar suas contas (maldito trocadilho) e não há uma só ideia batendo à porta. Caminha, fuma, bebe e fuma, força o pensamento e nada de interessante se apresenta à mente. Sai da casa (que fica no interior, lugar sossegado) e olha para o grande verde em volta cheio de cantares, admira a limpidez d’água do riacho pedregoso que corre ali pertinho onde sempre que pode pesca jundiás. O nada criar acirra a ansiedade, os cigarros entram e saem dos lábios com maior rapidez. Há pequenos mosquitos incomodativos que ele espanta com fumaça solta em espiral. Sentado num tronco observa a chegada da noite e fica pensando como será o seu amanhã. A lua no céu olha para ele e ri com brilho. Na mente enumera assuntos para ver se algum deles responde ao chamado. Nada, nada, nada... Entra na casa novamente, vai até quarto e abre a última gaveta da cômoda. De lá retira um estojo de madeira e o coloca sobre a cama. Retira a arma do estojo, carrega cinco projéteis e então alisa o revólver. Fica absorto por alguns minutos com os olhos no Taurus. Então vai a busca de sua potente laterna, apanha umas iscas no latão e sai para pescar. Na trilha, olha para trás e grita: foda-se a inspiração!

JOSEFINA PRESTES

“Homem por  aí não falta. Mas achar homem bom solto é ganhar na Mega Sena.” (Josefina Prestes)

“É claro que existem lésbicas entre religiosas, como em qualquer instituição de mulheres. Não posso negar que recebi algumas lambidas.” (Josefina Prestes)


NÃO LEVO MUITA FÉ

Executivo, Legislativo, Judiciário. O Brasil precisa vomitar, colocar para fora todo o mal que o atrasa. Mas com este povo querendo mais estado, conseguiremos?

A SALVADORA CONGA

Dedões espalhados
Pés encardidos e cascudos no macadame quente
Brincando de bola nos campinhos de terra
Atirando de caubói no timbozal da Marechal Bormann
Ou atacando de Três Mosqueteiros
Após a matinê no Cine Ideal
Catando pente de mico perto do riacho
Buscando araticum nas matas do palmital dos fundos
Enroscando-se nos carrapichos
Pisando nas rosetas e pedras pontiagudas
Tudo o que fazia o sofrimento dos pés
Foi acabado ou reduzido
Com chegada da salvadora Conga Azul.

PARADOXO

Vejam só como são as coisas
O defunto está deitado sobre uma cama de flores
Para ele agora pouco importa
O paradoxo fica por conta de quando vivo
Foi posto a dormir pelos mesmos floristas
Numa cama de espinhos.

DOMINAÇÃO

Dominação não é amor
É dor
Ato que subtrai do ser
O direito de escolha
E atropela a dignidade.

MADRUGADA

Gosto da madrugada
A madrugada nos subúrbios
Quase silenciosa
Não fosse pelos cães
Gatos
Galos
E alguns bêbados voltando para casa
A madrugada é o sono profundo da noite
E paradoxalmente é a companheira dos insones.

DONA MAYSA

Chico Melancia ouviu falar que Dona Maysa tinha mãos mágicas, curava enfermidades, inclusive psicológicas. A consulta era trinta reais, uma pechincha para quem sofria, pois diziam pelas ruas que era cura na certa. Chico não tinha problemas de saúde, e os familiares estranharam quando ele pediu à irmã que obtivesse uma vaga para ele. No dia e hora aprazado o cliente entrou na sala da quase santa e foi direto com ela: “Dona Maysa, paguei a consulta, porém não tenho nada, meu problema é dinheiro”. Então sacou do bolso um volante da mega e pediu para ela marcar os seis números.

ESTAMOS POR CONTA

Deus estava de saco cheio de tantos pedidos, de tantas orações, promessas e de gente medíocre que esperava cair tudo do céu. Eram católicos, evangélicos, cristãos de todos os matizes, e até alguns adoradores de satã. Seus ouvidos estavam inchados, todos os dias bilhões de pedidos, saturação total mesmo para o todo poderoso. O coração já doente, o corpo cansado de tantas horas diárias de trabalho. E o pior é que não dava para terceirizar, se é deus ou não é. Mandou ele Pedro fazer sua mala e na mesma hora se mandou para o Brasil; deus não existe mais, tá todo mundo por conta. Foi ele parar em Porto Seguro e passava os dias tomando cerveja num quiosque, admirando rabos esfuziantes e comendo frutos do mar. Logo fez um cartão premiado da mega da virada, encheu o bornal e partiu para Cancun. Lá entrou na roda da gandaia, pegando todas, comendo de tudo à mesa, bebendo todo o álcool possível e impossível. Pois mesmo sendo deus, estourou. A gordura e as doenças venéreas acabaram com ele. Sifu! Deus não gostava de comida saudável, não usava camisinha e não acreditava na Benzetacil.

VIOLÊNCIA

Da violência que poda vidas nas ruas e estradas
Trazendo dor sem fim para os que ficam
Nomeamos de acidentes
Quando na verdade os acidentes são poucos
O mais das vezes é um bruto inconsequente
Que por ter tão pouca coisa no cérebro
Não consegue atinar o quão importante é uma vida.