quarta-feira, 23 de novembro de 2016

OS VELHOS E A VELA

O velho e velha Antiok resolveram sair de casa para visitar o grande amigo Sirtuk que estava acamado. Quando tinham dados poucos passos na rua a velha se lembrou que havia deixado a vela por apagar. Voltaram os velhos para apagar a vela e saíram. Novamente eram alguns passos porta afora e o velho disse que precisava voltar para pegar seu isqueiro. Voltaram. Sem precisar da vela o velho achou seu isqueiro. Nisso a velha percebeu que estava sem calcinha e acendeu a vela para procurá-la. O velho segurava a vela enquanto a velha procurava por sua calcinha. Achada e posta a calcinha o velho apagou a vela sem não antes tropeçar e derrubar a velha e a vela. De pé os velhos saíram deixando a vela no escuro. Mais tarde quando retornaram para casa os velhos perceberam que a porta havia ficado aberta. O velho disse que entraria sozinho por segurança, a velha ficaria na porta aguardando. O velho então entrou, mas não encontrou a vela para verificar como tudo estava. A velha ansiosa resolveu entrar para procurar pela vela também. A vela não foi encontrada, e não havia outra na casa. O caso é que a vela fora roubada, e o velho e a velha dormiram no escuro com saudade da prestimosa vela.

METAMORFOSE

Não importava o sol abrasador que torrava os miolos. Não importava o odor terrível que emanava daqueles latões de lixo, tanto que até urubus passavam por perto usando máscaras. Mas Demétrio não se importava; lá estava todos os dias mexendo em tudo, fedendo ele próprio mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há anos não sabia o que era uma carícia das águas que não fosse da chuva. Carregava moscas pelo rosto todos os dias, como se fosse um lotação de insetos, sendo algumas também embarcadas nas orelhas. Vivia, comia e dormia na imundície, lugar mais sujo impossível. O corpo adornado de perebas já nem se importava mais. Assim foi por muitos e muitos anos. Porém um dia acordou sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para algumas ratazanas com segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora os gostos de um rato, bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim, transformara-se num rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de Kafka, o Demétrio rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns dias até ser comido por um gato esfomeado.

POR LIVRE OBRIGAÇÃO

Paulino corria pelo campo aberto e de vez em quando olhava para trás. O suor descia pelo rosto, os pés doíam, os dedos faziam força para fugir dos sapatos. O sol ardia na pele, as bochechas estavam em brasas. Uma pequena brisa amainava um pouco o mal-estar do calor. Quando subia uma pequena elevação pedregosa teve que esquivar-se de uma cobra cascavel. Adiante se deparou com um encontro de escorpiões, tendo que dar saltos acrobáticos para escapar ileso. Passou por uma cerca de fazenda e foi recebido a tiros pelos peões. Vomitou de medo e cansaço. Depois atravessando um milharal foi corrido por porcos do mato. Olhou para trás e viu à distância homens montados em velozes cavalos vindos em sua direção. Não demorou muito para desmaiar diante de um muro de pedra. Foi logo alcançado pelos cavaleiros, medicado e levado de volta à cidade. Após ser lavado, vestido e perfumado, foi entregue à noiva na porta da igreja.

VILA TRISTEZA

Na terra de gente triste, tristeza é o material que não falta. Pelas ruas de Vila Tristeza não se ouve sorrisos de crianças e o cantar dos passarinhos. Música é algo que não se escuta. Não se ouve também a bola quicar nos campinhos de terra e o alegre tagarelar das comadres no final de uma tarde de verão. Andorinhas não voam perto dela, temendo perder seu trinar. Na Vila Tristeza como o nome já diz, uma tristeza chorosa tomou conta de todos; até as flores são aborrecidas e sem cores. Um viajante que por ali passe, não receberá por certo um comprimento de bom dia ou um sorriso amável; apenas o frio distanciamento de seres que vivem num mundo estranho e sem nenhum calor humano. Quando a noite chega, todas as janelas e portas se fecham, o mundo coletivo que pouco existe durante o calor do sol deixa de existir por completo, é cada um por si. Na pequena vila impera o orgulho e todos são donos da verdade.

PELANCAS

A beleza sofre a ação do tempo
E é saudável aceitar esta verdade
Pois apesar dos esforços da medicina estética
Um dia as pelancas vencem.

ASSIM É

O tempo é senhor de tudo
De tirar a vestimenta da mentira
De expor a face da verdade.
Porém o que o tempo não faz
É trazer de volta os mortos
E desfazer as dores sentidas.

REMORSOS

Vivo os meus dias com alegria
Mas não sou imune aos remorsos
Dos muitos erros que cometi
Só me resta aprender com a dor
Que a consciência traz à tona
Nos silenciosos momentos de reflexão.

REI TOLO

Para quem pensa somente em si e no poder
Pouco importa como será o amanhã dos outros
Assim sendo a total desconstrução da nação
O abraço dado na mediocridade
Em detrimento da qualidade e sapiência
Faz fugir os sábios do embate
E subir ao trono o tolo dos tolos
Manipulado pelos bajuladores
Crendo ser ele o iluminado
E mais esperto que Maquiavel.

A PEC é um antibiótico Autor: Gil Castello Branco

Instituto Millenium

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em recente palestra em Brasília afirmou: “A responsabilidade fiscal é fundamento das economias saudáveis e não tem ideologia”. De fato, diversos países com diferentes regimes políticos adotaram regras fiscais baseadas na contenção das despesas do setor público, com resultados positivos.

No Brasil, entretanto, a responsabilidade fiscal é discutida como uma questão política. Nos últimos anos, a intenção de conter o avanço exponencial das despesas surgiu com os ex-ministros Antônio Palocci e Paulo Bernardo, quando a Casa Civil era ocupada por Dilma Rousseff. À época, Palocci sustentava que o gasto público não deveria subir mais do que o crescimento do PIB e que o ideal seria a obtenção de superávit fiscal de 4,5% por dez anos. A ex-ministra Dilma Rousseff, contudo, desqualificou a proposta, classificando-a de “rudimentar”. E acrescentou: “Gasto público é vida”. No ano passado, o assunto voltou à baila. O então ministro Nelson Barbosa propôs estabelecer limite percentual para as despesas no Plano Plurianual (PPA), que seria convertido em um valor máximo na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Uma vez mais, porém, a ideia não teve consenso, tanto na cúpula como nas bases do Partido dos Trabalhadores e seus aliados.

No nosso país, lamentavelmente, os “partidos de esquerda” consideram a responsabilidade fiscal parte do ideário neoliberal. Para este segmento, trata-se apenas de um discurso com fundamentos econômicos falsos, construído para favorecer os detentores da dívida pública e os integrantes da “elite gananciosa” interessados em aumentar os seus rendimentos. Infelizmente, é nesse ambiente de Fla x Flu que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria teto para os gastos vem sendo discutida.

O contexto econômico, é trágico. Entre 2008 e 2015, a despesa do governo federal cresceu 51% acima da inflação, enquanto a receita evoluiu apenas 14,6%. Essa defasagem foi financiada por meio de aumento de impostos, crescimento da dívida pública e aceleração da taxa de inflação. Essas fontes, porém, se esgotaram. Entre os países emergentes, o Brasil tem a maior carga tributária (35% do PIB), a maior relação entre a dívida pública e o PIB (70,7%) e uma das maiores taxas de inflação (11% em 2015). Nesse cenário, perdemos o grau de investimento e caminhamos para o calote.

PEC dos gastos
A PEC tem por objetivo interromper essa dinâmica. Pela norma, respeitado o teto, determinadas despesas poderão subir mais do que a inflação, desde que outras cresçam menos. A questão crucial será definir quais serão as despesas que passarão a crescer menos do que vinham crescendo anteriormente.

É óbvio que a PEC só terá eficácia se valer para as grandes “funções orçamentárias” que são Saúde, Educação, Trabalho, Assistência e Previdência Social, as quais somam três quartos da despesa primária. Esses segmentos, entretanto, possuem fortes grupos de pressão organizados.

As mobilizações estão em curso. Em Brasília, no caminho do aeroporto, foi fincado enorme outdoor com os dizeres “Diga não à Reforma da Previdência”. Quase mil escolas foram invadidas por estudantes. Em pelo menos 15 estados, estão ocorrendo manifestações frequentes contra a proposta. Para completar, funcionários públicos de dezenas de categorias, que já possuem estabilidade no emprego e salários maiores do que os da iniciativa privada, reivindicam aumentos reais, antecipando-se à correção apenas nominal das suas remunerações.

Se essas manifestações corporativas forem recepcionadas, os investimentos, já tão minguados, serão uma das poucas válvulas de escape para a perseguição do teto. Vale ressaltar que em 2016, no período de janeiro a outubro, os investimentos da União somaram apenas R$ 31,5 bilhões, um dos menores valores dos últimos dez anos.

Retomada do crescimento
A implantação da PEC é essencial para restabelecer a confiança dos agentes econômicos no reequilíbrio das contas públicas brasileiras. Por outro lado, a emenda, por si só, não será suficiente para promover a retomada dos investimentos e o reaquecimento da economia, de forma a ampliar a arrecadação e favorecer o equilíbrio fiscal. Sem mudanças radicais na Previdência, a PEC será inócua. Além disso, em se considerando a penúria do Estado, as privatizações, o aperfeiçoamento da modelagem e a maior celeridade nos projetos de concessões, outorgas e parcerias público-privadas (PPP) precisam vingar.

O déficit do setor público consolidado (governo central, estados, municípios e estatais) para este ano está previsto em R$ 153,9 bilhões, mesmo com os R$ 50 bilhões da repatriação. A dívida bruta ultrapassou R$ 4 trilhões. Nos estados, receber salários em dia é um privilégio. Quase 80% dos municípios estão com as contas no vermelho. As empresas estatais, com os investimentos em queda, estão implementando programas de demissões voluntárias e podem necessitar de aportes da União.

É neste contexto que a contenção de gastos deve ser discutida. A PEC não é um vinho para ser degustado com prazer. A PEC é um antibiótico, com largo espectro e efeitos colaterais, indispensável no momento para tirar a economia da UTI. A irresponsabilidade fiscal também não tem ideologia, mas tem limites.

Fonte: Contas Abertas, 22/11/2016.

VADIAGEM

"O vírus da vadiagem contemporânea está disseminado. O negócio agora é deitar, esperar o tempo passar enquanto se aguarda o dia de passar no banco para receber. O feijão? Não pensei nisso. Boa pergunta: Quem irá plantar e colher o feijão?"

COMUNISTAS

Os judeus são espertos! Para si próprios inventaram o sionismo. Para os outros  o marxismo.(http://selin.tripod.com/An-jud.htm)


Rabinovitch foi expulso do Partido por 3 motivos:

a) O secretário do Partido entrou no escritório do Rabinovitch, viu na parede os retratos de Khruschev e Brezhnev e perguntou:

-- Por que você ainda não se livrou do retrato deste imbecil?

E o Rabinovitch respondeu: -- De qual deles?


O secretário perguntou ao Rabinovitch por que ele não compareceu à última reunião do Partido. E ele respondeu:

-- Se soubesse que era a última eu iria!

MUDANÇAS

“Na juventude somos gatos. Na meia-idade gaviões. Na velhice somos provadores de pílulas.” (Mim)

CONFIANÇA

“Temos partidos demais e confiança neles de menos.” (Mim)

MINTO

“Minto, logo sou político.” (Deputado Arnaldo Comissão)

DEVEDOR

"Devo, não nego, pago quando Jesus voltar." (Climério)

LULA E DILMA-DEFINIÇÕES

Lula, uma língua imensa e incoerente. Dilma, o vazio estapafúrdio.

GRAVIDEZ INESPERADA

Casaizinhos transam sem cuidado tantas vezes que até a pele solicita arrego. E aí falam que aconteceu “uma gravidez inesperada.” Arre!

FILHO DE BOLIVARIANO, BAH!

-Papá, quando Maduro irá começar a feder?
-Por que essa pergunta filho?
- Ora, porque todo morto fede!

INDO

No hospital:
Enfermeira doce para paciente idoso e muita mal:
-Não esquenta não, vovô. Amanhã o senhor já sai daqui!
-Deitado, eu sei. O cemitério é longe?

O PAI

Quando chovia ele bebia água, pois havia uma goteira sobre a cama. Não comia para não ter que sair da cama para ir ao banheiro. Banho já se sabe que nunquinha. Para o xixi tinha um galão 3.6 que outrora carregara tinta automotiva, salvo às vezes que preferia fazer nas calças. Quando estava cheio jogava o conteúdo pela janela que ficava ao lado da cama. O quarto era uma imundície só; ratos e baratas sentiam-se em casa. A tinta das paredes apagada, o reboco falho e caindo aos pedaços, uma paisagem deprimente. O fedor era tanto que até o Jesus Cristo do quadrinho pendurado tampava o nariz. E assim nessa situação lamentável, verdade seja dita por escolha própria, foram os últimos dias do pai da preguiça.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, outubro 28, 2007

TRIBUTAÇÃO SEGUNDO SWIFT


Nestes dias em que se discute a CPMF e reforma tributária, sempre é bom evocar Swift e seu relato sobre a Academia de Lagado, em Balnibarbi:

Vi dois acadêmicos a discutir com calor o meio de criar impostos sem que os povos murmurassem. Um, sustentava que o melhor método seria impor uma taxa sobre os vícios e as paixões dos homens, e que cada um seria coletado segundo o juízo e a estima dos seus vizinhos. O outro acadêmico era de um sentimento inteiramente oposto e pretendia, pelo contrário, que era preciso coletar as belas qualidades de corpo e de espírito de que cada um se orgulhava, e coletá-lo mais ou menos segundo os seus graus, de maneira que seriam os seus próprios juízes e fariam a sua declaração. A maior taxa seria imposta sobre os cultores de Vênus, os favoritos do belo sexo, proporcionalmente aos favores que tivessem recebido, e devia reportar-se ainda, sobre este assunto, à sua própria declaração.

Era preciso também coletar fortemente o espírito e o valor, segundo a confissão que cada um fizesse das suas qualidades; mas com respeito à honra, probidade, saber, modéstia, isentavam-se essas qualidades de qualquer taxa, visto que, sendo muito raras, não dariam lucro algum; que não se encontraria ninguém que não quisesse confessar que as encontrava no seu próximo e que quase ninguém teria o arrojo de as atribuir a si próprio.

Do mesmo modo se deviam coletar as senhoras em proporção da sua beleza, dos seus atrativos e das suas graças, conforme ao seu próprio juízo, como o que se fazia com relação aos homens; mas pela fidelidade, sinceridade, bom senso e bondade natural das mulheres, visto que disso não se ufanam, nada deviam pagar, pois tudo o que pudesse receber-se daí não bastaria para cobrir as despesas do governo.

NÃO TEM COMO

“Hoje me acordei num azedume só. Sonhei com Dilma e com a dita Erenice Guerra. Não tem como não azedar-se!” (Limão)

“Você tem um segredo? Pois então, mas se já o contou para alguém já está sem nenhum. “ (Mim)

“Uma esposa ou marido nunca vem só. Sogra é um acessório obrigatório.” (Climério)

PRECOCE

Precocidade é isso. O menino de dez anos chegou da escola, jogou a mochila no sofá e disse aos pais: Tenho um segredo para contar! Os pais olhando um para o outro: Conte-nos! Então disse: sou casado, e faz um bom tempo. Os pais não deram importância e tudo ficou por isso. No dia seguinte ele chegou da escola trazendo a mulher e dois filhos.

PAULINHO, O ENJOADO

Morador da favela do Zulu, Paulinho chega  da escola e pede uma laranja. A mãe:
-Não temos laranja!
-Mamão?
-Não temos!
-Presunto tem?
-Não!
-Mortadela?
-Também não!
-Pão?
-Não!
-Arroz?
-Não!
-Salame?
-Não!
-Bolachas?
-Não!
-Pão seco?
-Neca!
-Não temos nada para comer nesta casa?
-Temos sim! Você é que é enjoado! No forno temos lagosta ao molho branco, bobó de camarão e costeletas de carneiro ao molho de tomate. Na fruteira há tâmaras, damascos, abricós e um pouco de chokecherry. Na despensa há Caviar Almas e outros. Por favor, largue mão de enjoamentos!


DA POBREZA AO ROMANÉE CONTI por Percival Puggina. Artigo publicado em 21.11.2016



Em 5 de outubro de 2002, véspera do primeiro turno da eleição presidencial, Lula, Duda Mendonça, Antônio Palocci e mais dúzia e meia de companheiros cujos nomes não ficaram registrados para a história jantaram na Antica Osteria Dell'Agnolo, em Ipanema. Nas libações do encontro, com mesuras que superavam, de longe, as prestadas ao candidato, Duda ofereceu a Lula uma garrafa do vinho Romanée Conti. A primorosa dádiva, à época, teve seu preço estimado em R$ 6 mil.

A notícia correu o Brasil. Remover uma rolha de Romanée Conti era e continua sendo gesto de suntuosidade. Coisa para milionários de hábitos espalhafatosos, dados a excentricidades. Políticos, em parte alguma do mundo, bebem de certas marcas, ainda que possam pagar por elas pois expressam um nível de consumo desalinhado dos padrões da sociedade com a qual procuram se identificar. O fato se tornou tão notório que o dono do restaurante criou uma espécie de memorial onde, em estojo de madeira, a famosa garrafa ficou entronizada, com a inscrição "Lula lá 05/10", até ser roubada, em 2009, durante incursão noturna de um larápio.

Nunca me pareceu convincente o discurso que procura escriturar, como bem das esquerdas, a sensibilidade face às carências alheias, a austeridade e o senso de justiça. Um mínimo conhecimento de História mostra o elevado padrão de vida que a nomenklatura dos países do Leste Europeu se atribuía, em total discordância com a escassez imposta ao restante da população. Quem vai a Cuba logo ouve falar dos que “tienem la heladera rellena” (geladeira cheia), ou seja, dos que gozam os privilégios de consumo concedidos à alta burocracia partidária, longe das restrições determinadas pela libreta (de racionamento).

Com isso não quero dizer que não existam, na esquerda, pessoas sinceramente preocupadas com questões sociais e que vivam segundo os valores que proclamam em seu discurso. Mas recuso totalmente a tese de que esses mesmos valores não sejam igualmente assumidos e praticados por pessoas de outras correntes ideológicas, ou mesmo sem ideologia alguma. Por outro lado, o caminho da maior prosperidade jamais passou pelos conceitos socialistas fundamentais - estatismo, luta de classes, negação da propriedade privada, planificação econômica. Por saberem disso, esses radicais que andam por aí fazendo discurso contra a liberdade de mercado e contra as empresas privadas, não lutam para implantar suas ideias com o intuito de trabalhar no chão de alguma fábrica. Nem pensar! O que eles querem é ganhar de presente a poltrona, o tapete e a adega do patrão. Ou, mais régio e mais adequado a tempos bicudos, a diretoria de uma estatal ou fundo de pensão.

Os anos seguintes vieram mostrar o espantoso surto de enriquecimento pessoal que acometeu grande parte da elite governante do país, hoje às voltas com a Justiça e à beira de um ataque de nervos. Os primeiros sintomas de que voraz organização criminosa se aproximava do poder, contudo, foram emitidos já naqueles primeiros momentos em que começou a faltar, aos vitoriosos, a virtude da moderação. Eles enriqueceram e o Brasil quebrou.

O poder é um vinho perigoso. Retirada a rolha pode trazer à tona verdades inconfessáveis.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Ali Babá e os milhares de ladrões. Coluna Carlos Brickmann



Ali Babá no Brasil não teria a menor chance. Nas Mil e Uma Noites derrotou 40 ladrões, mas como enfrentaria as fabulosas hordas de ladrões que conhecem a senha dos cofres públicos? Lula, que já naquela época não sabia de nada, orçou a ladroagem congressual em 300 picaretas (e, ao ganhar poder, aliou-se a todos). Errou feio ao subestimar o número. Mas, embora não seja chegado à leitura de filósofos e pensadores, compreendeu o pensamento de John Dalberg, o primeiro barão de Acton, "Todo poder corrompe". Abriram-se as porteiras e cada um tratou de garantir o seu.




Um ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, foi preso, acusado de receber R$ 224 milhões em pixulecos. No custo das obras, somavam-se 7%, dos quais, diz a força-tarefa da Lava Jato, 5 eram para Cabral, 1 para o assessor Hudson Braga e 1 para dividir entre alguns conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Fala-se também de uma mesada paga a Sua Excelência por empreiteiras. No presídio, encontrou outro ex-governador, que já foi aliado e hoje é adversário, Anthony Garotinho - cuja esposa é prefeita de Campos, cuja filha é deputada federal. Ambos foram, em épocas distintas, aliados e adversários do petismo. Os dois, aliás, não estão juntos no presídio, como talvez fosse educativo: adversários quando no poder, forçados ao mesmo destino. Uma decisão judicial superior autorizou Garotinho que fosse para um hospital particular e se trate lá.




Conto carioca



Em 2010, a Prefeitura do Rio investiu R$ 44 milhões em valores da época na Cidade do Rock, destinada ao Rock in Rio, com garantia de permanência. "Com o novo local", disse o empresário Roberto Medina, proprietário do evento, "o Rock in Rio poderá acontecer a cada dois anos".




Agora, decidiu-se erguer uma nova Cidade do Rock no lugar do Parque Olímpico. E os R$ 44 milhões (que hoje, corrigidos, dariam R$ 70 milhões)? E o que se gastou para erguer o Parque dos Atletas, que também deveria ser utilizado depois das Olimpíadas? OK, foi gasto da Prefeitura, não do Estado. Mas o prefeito Eduardo Paes faz parte do grupo político de Sérgio Cabral e do atual governador Pezão, do PMDB - no poder desde 2007. Talvez esse caso ajude a entender a crise financeira do Rio.




Cabral? Quem?



Dilma Rousseff não perde a oportunidade de perder uma oportunidade. E acaba de perder uma grande oportunidade de calar-se. Mas fez questão de se manifestar sobre a prisão de Sérgio Cabral: disse que ele jamais foi seu aliado. Mas foi, sim: há vídeos de ambos juntos em comícios, em 2010. fazendo campanha. E, quando o PMDB do Rio hesitou em apoiá-la, em 2014, foi Sérgio Cabral o primeiro a pedir votos para a candidata. Se é para mentir, e num caso em que sua opinião nem é tão solicitada, por que falar?




O de sempre




Parecia impossível, mas está acontecendo: os gastos sigilosos com cartões corporativos, no Governo Temer, são 40% maiores que os do Governo Dilma. Em seus primeiros cinco meses, Temer já gastou R$ 13 milhões, enquanto em seus cinco primeiros meses Dilma gastou R$ 9,4 milhões. Os números foram apurados pelo respeitado site Contas Abertas.




Carmen Lúcia...




A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, argumenta com números: "Um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil por mês, e um estudante de ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano. Alguma coisa está errada na nossa Pátria Amada". Vai mais longe: "Darcy Ribeiro fez em 1982 uma conferência dizendo que, se os governadores não construíssem escolas, em 20 anos faltaria dinheiro para construir presídios. O fato se cumpriu (...) Quando não se faz escolas, falta dinheiro para presídios".




...é isso aí




Carmen Lúcia apontou a solução a longo prazo, mas acha possível tomar providências imediatas. "A violência no país exige mudanças estruturantes e o esforço conjunto de governos e da União, para que possamos dar corpo a uma das necessidades do cidadão, que é ter o direito de viver sem medo. Sem medo do outro, sem medo de andar na rua, sem medo de saber o que vai acontecer com seu filho". E lembrou que, a cada nove minutos, uma pessoa é morta violentamente no Brasil. "Nosso país registrou mais mortes em cinco anos do que a guerra na Síria".




País tropical




A ministra só não disse o que leva tantos governantes a investir mais em cadeias do que em educação. É que muitos, depois de exercer o poder, não é para a escola que vão. João Bussab, decano da imprensa policial paulista, sugere que os políticos corruptos harmonizem seus interesses com os do país. Como quiseram construir um shopping exclusivo no Congresso, que façam um presídio exclusivo para políticos. Estarão cuidando do futuro.




comente: carlos@brickmann.com.br

MOEDA

“Na calçada, olhei peguei no chão. Descadeire-me. Uma moeda de cinquenta centavos. Duzentos paus para ficar bonzinho.” (Nono Ambrósio)