quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

“Religião é algo que quando não arrebenta o bolso faz estragos na mente.” (Pócrates)

“Não que seja impossível. Mas é muito difícil ser feliz só comendo pão seco.” (Pócrates)

"O sol nasce para todos. A insolação também." (Pócrates)

“Há males que vêm para o bem. Se fossemos eternos não existiriam coveiros." (Pócrates)

“Meu passado está limpo. Lavei com OMO.” (Pócrates)

PRECOCIDADE

Precocidade é isso. O menino de dez anos chegou da escola, jogou a mochila no sofá e disse aos pais: Tenho um segredo para contar! Os pais olhando um para o outro: Conte-nos! Então disse: sou casado, e faz um bom tempo. Os pais não deram importância e tudo ficou por isso. No dia seguinte ele chegou da escola trazendo a mulher e dois filhos.

BICHO DA GOIABA

Era uma vez um bicho da goiaba que nasceu para ser bicho da goiaba, mas não queria ser bicho da goiaba. Certo dia fugiu da goiaba, apanhou um besouro táxi e foi para dentro da casa de uma senhora que fazia tricô. Andou para lá e para cá até penetrar num novelo de lã que pensou ser um enorme pêssego. Seu sonho era ser um bicho do pêssego até amadurecer, procriar, morrer e ir para o céu. Morreu de fome solitariamente o bicho da goiaba que sonhava ser um bicho do pêssego. Mas pelo menos tentou.

JEAN

Jean rapaz; ele não estuda; ele não trabalha; ele não projeta o futuro, vive o presente aprisionado por pesadelos e fantasmas. Caiu no poço da desgraça faz tempo, não consegue sair. Grita ”meu pai me ajude, minha mãe me ajude!” Porém onde eles estão não podem mais ouvi-lo e os amigos de outrora estão na mesma situação de desespero; presos ou então mortos. Encostado numa calçada imunda, fedendo a suor reciclado no próprio corpo, entre uma crise e outra compra uma pedra. Consegue o alívio que dura pouco, o sofrimento retorna dobrado. Assim são os seus dias de vidador. Não há luz, somente escuridão-sofreguidão. Mas ele quer não quer continuar assim. Fácil foi entrar nesse labirinto de perdição, difícil é encontrar a porta de saída quando a força maior do vício não deixa. Algumas mãos já passaram pela sua frente oferecendo ajuda e foram enxotadas. Uma pena; a vida de Jean está ficando sem tempo.

MULHER-MARAVILHA NÃO SERVE COMO SÍMBOLO DE “EMPODERAMENTO” FEMININO DA ONU POIS É MUITO PEITUDA!

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“A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem.” (Adam Smith)
A batalha da Mulher-Maravilha na Organização das Nações Unidas (ONU) por igualdade de gênero acabouprecocemente.
Apontada há quase dois meses como embaixadora honorária da ONU para o empoderamento de mulheres e meninas, a super-heroína das histórias em quadrinho foi cortada do cargo nesta terça-feira (13) após a indicação ter sido recebida negativamente.
Os críticos da nomeação da Mulher-Maravilha dizem ser preocupante o fato de o organismo ter escolhido uma personagem “explicitamente sexualizada” para representar uma campanha pela prevenção da violência de gênero.
“Embora os criadores da Mulher-Maravilha possam ter buscado representar uma ‘guerreira’ forte e independente com uma mensagem feminista, a realidade é que a representação atual da personagem é de uma mulher branca, de seios grandes, com proporções impossíveis”, afirma uma petição online assinada por quase 45 mil pessoas.
Para o mundo que quero descer! Estamos vivendo em tempos muito estranhos, ridículos, patéticos. Um resultado de décadas de feminismo radical, de “marcha das minorias oprimidas”, de “revolução das vítimas”, de ditadura do politicamente correto. Gente chata, recalcada e rancorosa descobriu seu poder numérico e pretende intimidar todos até que aceitem seus padrões “igualitários”. É a tirania dos losers!
Há até quem se recuse a falar a palavra “loser”. Não pode. É “ofensiva”. Todos precisam ser vencedores. Todos são especiais. Todos são campeões. Só há um pequeno problema nisso: se todos são vencedores, então ninguém é. Algo que serve para descrever a totalidade do conjunto não diz absolutamente nada de relevante. É como dizer: somos todos seres humanos. Ok, isso já sabemos. Mas a separação, a discriminação com base nas categorias diferentes é fundamental, e é isso que está sob ataque pelos “igualitários”.
As feministas se mostram cada vez mais odientas. Elas não suportam as belas mulheres, e também adorariam destruir o homem. São movidas pelo ódio, pela inveja, tudo mascarado como “justiça social” e “igualdade”. Falam em “empoderar” as mulheres (argh!), mas no fundo querem é impor um padrão único baseado nas piores, nas mais feias, nas recalcadas. Pondé, em sua coluna desta segunda, espetou com ironia essa turma patética ao reconhecer a força da beleza feminina:
E se a beleza for uma forma de desigualdade social que deve ser combatida em nome da justiça? Sem dúvida ela é, uma vez que poucas nascem belas. Claro, com dinheiro, compra-se uma razoável dose de beleza, e, por isso mesmo, muitos poderão considerar, quem sabe um dia, que ser feia é a única forma de garantia de igualdade social plena. Um mundo de feias seria seguramente um mundo sem guerras? Apesar do que pensavam Górgias (484 a.C.-376 a.C.) e Protágoras (490 a.C.-415 a.C.), Helena foi uma grande causa para a destruição de Troia.
Se ficarmos ainda na Grécia antiga, entenderemos que Ulisses, em seu retorno a Ítaca após a guerra de Troia, se fez amarrar no mastro do seu navio enquanto seus homens taparam os ouvidos com cera porque queria ouvir e ver a beleza mortal das musas e sereias. Isso quer dizer que homens normais preferiam passar a vida indiferentes a fim de jamais encontrar a beleza em carne e osso?
[…]
Seria verdade aquilo que se fala por aí? Que mulheres bonitas são caçadas a pauladas no mundo corporativo? Sendo este um fragmento perfeito do mundo, a distopia perfeita da realidade, provavelmente sim. No mundo real, desconfia-se da mulher bonita. Seu sucesso sempre será atribuído à facilidade com que seduz homens de poder. Da universidade ao tribunal, a beleza será sempre objeto de desconfiança.
A beleza deixa o coração em brasa na mesma medida em que congela o olhar. O simples modo como submete aquele que a enxerga já deveria ser o suficiente para combatê-la em nome da paz.
Segundo Camus (1913-1960), um fio de cabelo de uma mulher vale mais do que a metafísica. Pelo menos nisso Platão estava, sim, errado.
A Mulher-Maravilha é linda, corajosa, forte e luta pela paz, contra as pessoas ruins. Mas isso não basta mais como ícone do feminismo. Ela é, afinal, muito bela, ostenta seios fartos e convidativos, lábios sedutores, cabelos estonteantes e tez clara. Que horror! Assim, ela vai apenas despertar a inveja de uma multidão, que se sentirá “ofendida” com tamanha superioridade (esquecendo que se trata de uma personagem de ficção, uma heroína). E sabemos que ninguém mais pode se sentir “ofendido” nos dias de hoje. Ninguém pode se deparar com sua real inferioridade. É preciso buscar a igualdade plena.
A “justiça facial” vem aí, como na distopia do escritor inglês L. P. Hartley. A novela se passa no futuro, depois de uma Terceira Guerra Mundial, e as pessoas eram divididas de acordo com o grau de aparência. A meta era obter uma igualdade facial, pois a igualdade material não era suficiente para acabar com a inveja: alguns sempre terão algo que os outros não têm e invejam. Havia um Ministério da Igualdade Facial, e a extirpação dos rostos tipo Alfa, os mais belos, não bastava, pois os rostos tipo Beta ainda estavam em patamar superior aos do tipo Gama. Enquanto todos não tivessem a mesma aparência, não haveria justiça. Ninguém poderia ser “desprivilegiado facialmente”.
Eis o sonho das feministas raivosas. Eis o pesadelo de qualquer ser humano decente, que preza as individualidades e as diferenças entre nós.
PS: Um amigo meu fez a pergunta mais relevante: “A ONU vai pedir que ela use burca como símbolo do empoderamento feminino?”. É só o que falta mesmo…
Rodrigo Constantino

ITÁLIA “MUDA TUDO” PARA QUE TUDO CONTINUE O MESMO: NÃO PARECE ATÉ O BRASIL?

Fonte: Folha

Fonte: Folha
O novo premiê italiano, Paolo Gentiloni, indicado pelo presidente Sergio Mattarella para formar um governo após a saída de Matteo Renziescolheu, nesta segunda-feira (12), um gabinete que se aproxima muito do de seu antecessor.
Gentiloni manteve alguns postos-chave, como Pier Carlo Padoan como ministro de Economia e Finanças, e, em outros casos, apenas mudou os nomes entre as pastas —como Angelino Alfano, antes ministro do Interior e que agora assumirá o ministério de Relações Exteriores, cargo deixado por Gentiloni.
Também foram confirmados Roberta Pinotti para a Defesa, Giuliano Poletti no Trabalho e Andrea Orlando na Justiça. Maria Elena Boschi, uma das responsáveis pelo fracasso do referendo constitucional que levou à saída de Renzi, deixou o ministério para as Reformas para assumir um cargo mais estratégico: de vice-secretária da Presidência do Conselho de Ministros.
A oposição criticou o novo governo, classificando-o como uma cópia do de Renzi. Para o Cinco Estrelas e o xenófobo Liga Norte, Gentiloni é uma “marionete” do ex-premiê.
Ao ler essa notícia lembrei da máxima de Lampedusa, em O Gattopardo, em que o personagem Tancredi, ao decidir se alistar nos exércitos garibaldinos, explica ao tio sua lógica: “Se nós não estivermos presentes, eles aprontam a república. Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”.
A casta no poder se mexe, troca de lugar, simula reformas, mas continua por lá, sempre a rondar o estado como urubus em volta da carniça. A confusão do modelo italiano é total: cada hora vem um governo novo. O que não muda é o fardo do estado, o excesso de burocracia, de impostos, de privilégios.
Adriano Gianturco, o italiano liberal que é professor no Ibmec-BH, fez um breve resumo da esculhambação geral da política de seu país de origem:
Renzi se demitiu, agora está se formando o governo Gentiloni.
É o 4º Presidente do Conselho escolhido dentro do parlamento (sem uma indicação clara do povo) em 5 anos.
É o 64º Presidente do Conselho escolhido dentro do parlamento (sem uma indicação clara do povo) desde o 1948. 
64 governos em 18 legislaturas, uma média de 3,4 governos cada 5 anos, uma duração de 1,1 ano cada governo. 
O governo mais longevo foi o Berlusconi II, 1412 dias entre 2001 e 2005.
É sempre instabilidade política, ingovernabilidade, paralisia legislativa, jogos de palácio. São uns 20 anos de crise econômica e 20 anos que não se consegue fazer duas reformas de bom senso.
Parlamentarismo multipardiario é isso, não é o chá das 5 com a rainha da Inglaterra, lá o parlamentarismo é bipartidario. A Inglaterra é a Inglaterra por outros motivos e não só pelo sistema político.
Nada contra, muitas vezes é bom que o governo não consiga governar, é tudo perfeitamente democrático, mas se lembre disso a próxima vez que reclamar do presidencialismo de coalizão. É a velha historia do copo meio vazio. Em política não há soluções perfeitas, há sempre e só trades\offs.
O realismo se impõe sobre as utopias. O mundo real é feito de trade-offs mesmo, de trocas, de escolhas imperfeitas, de alternativas menos piores. Aqueles que sonham com a mudança de sistema como se a sua preferência fosse solucionar tudo como num passe de mágica precisam amadurecer, acordar para a vida.
Parlamentarismo ou presidencialismo? República ou monarquia? São ótimos debates, e tenho cá minhas preferências. Mas não sou bobo a ponto de achar que basta trocar o sistema para resolver as questões pendentes. O buraco é bem mais embaixo. Tem a ver com cultura, com identidade nacional, com instituições sólidas ou não, com as ideias disseminadas entre a população, com os valores enraizados.
Coloca a rainha da Inglaterra e a Constituição Americana no Brasil ou na Itália (uma espécie de Brasil da Europa) amanhã e verá que pouca coisa mudará. O conteúdo é mais relevante do que a forma. E mexer no conteúdo é algo mais profundo, leva mais tempo, exige muito mais esforço. Os brasileiros costumam preferir sonhar com os atalhos, porém, mas eles não levam ao lugar desejado. Resta continuar metendo o pau em tudo e em todos, nos políticos em geral, e no “sistema”…
Rodrigo Constantino

APRECIADOR DE HÓSTIAS

“Na juventude fui sacristão. Gostava de comer hóstias com ketchup.” (Fofucho)

PARA PROVAR O INEXISTENTE

“Tudo o que não existe requer planos detalhados e decorados, além de muitas explicações estapafúrdias. Por exemplo, Deus.” (Pócrates)

OUVINTE

“Não sou um bom ouvinte. Não consigo desabafar nem comigo mesmo.’ (Climério)

CORAGEM

“Coragem? Coragem é o que não me falta... à mesa!” (Fofucho)

CONVERSA DOCE

CONVERSA DOCE

Ante as artimanhas
Que chega embarcada na conversa doce
Urge erguer os escudos da desconfiança
Para não ser mais um enrolado otário.

CONTORCIONISTA

Giselda é uma contorcionista sensacional, não há na parecido com ela no planeta. Então treinando para um novo número em sua casa conseguiu entrar numa caixa de fósforos; dureza total, quase ficou presa. Sair depois ela saiu, mas já faz um mês que anda com a cara nos pés e as nádegas no lugar do rosto. Nunca vi ninguém ganhar tantos ois e beijos na bunda.

CAMELO

O homem santo disse: “É mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus. Pois o teimoso camelo Anselmo tentou, tentou e não conseguiu passar no buraco da agulha. Furioso mandou o homem santo à merda e que fizesse bom proveito da agulha costurando uma nádega na outra.

“Todo jogo é de azar, menos para o banqueiro.” (Climério)

“A última tentação de Cristo foi o baralho.” (Climério)

"Trabalho num chiqueirão. Meu perfume é o Porco Rabane." (Climério)

“O mundo acaba para quem morre. O resto é propaganda enganosa.” (Climério)

“Meu casamento mais duradouro é com as dívidas. Estou nas bodas de ouro.” (Climério)

“Bons são os outros. Eu sou apenas mais ou menos.” (Climério)

“Meu velho marido não é um iludido. Ele sabe que o meu amor é pelo seu cartão de crédito.” (Eulália)

O QUE FAZER QUANDO O CENÁRIO POLÍTICO É DESOLADOR?

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Por Thiago Kistenmacher, publicado pelo Instituto Liberal
Impeachment de uma presidente despreparada e integrante de uma máfia política; posse de um novo presidente; depois o nome dele citado em investigações; Trump X Hillary; Bolsonaro X Jean Wyllys; novela em torno do presidente do STF. Cansa ter que defender esta ou aquela posição. Cansa ver o debate entre esquerda x direita e as confusões que emergem dessa simplificação entre os posicionamentos políticos. Por fim, cansa até mesmo ouvir falar disso tudo, mas é exatamente quando a política não está boa que temos que pensar nela.
Se a esquerda revolucionária cansa, a direita moralista também; se a direita que quer falar latim até no café da manhã está vivendo um mundo paralelo, a esquerda que quer voltar ao bolchevismo vive em outro. Isso tudo satura. O que resta é nadarmos até as pequenas, mas ainda resistentes ilhas de sensatez que ainda não foram atingidas pelos tsunamis das paixões políticas.
Certa vez disseram a Russell Kirk que a política seria a preocupação ou o passatempo dos analfabetos. Assim, Kirk teria respondido que seria exatamente por isso que não poderíamos largá-la nas mãos deles. Concordo, e é por isso que tanta gente, ainda que veja a política como um mal necessário, continua brigando para evitar que os monomaníacos paranoicos destruam o que sobrou.
Gostar de política é um tanto quanto difícil e muitas vezes ela serve para preencher vazios existenciais de sujeitos que precisam diluir sua personalidade problemática em algum rebanho, seja ele qual for.
Enfim, dado esse cenário desolador cuja trilha sonora é um montante de slogans que são inadvertidamente repetidos por todos os cantos, pergunto: o que fazer?
Acredito que o que resta é continuar lendo e estudando os clássicos da política, e agora, também acompanhando aqueles poucos sujeitos, atuais formadores de opinião, que ainda conservam o bom senso. Mas o que seria isso? Bem, nem é preciso dizer que qualquer um que creia ter a solução para o mundo no seu blog ou perfil de Facebook não deve constar entre eles.
Sorte nossa que existam uns e outros com “estômago de aço” e com credibilidade que não cansam de refutar falácias e mais falácias, sejam elas econômicas ou não.
O que nos resta é ter paciência e, apesar de ser quase impossível pensar que as coisas irão melhorar, devemos admitir que o pensamento público e mesmo dos jovens estudantes têm mudado bastante. Não costumo ser um exemplo de otimismo, mas pessimismo absoluto quando vemos o liberalismo e até certo conservadorismo – me refiro ao de boa estirpe, como diria Constantino – emergindo entre a juventude, seria contrassenso.
É claro que liberais ou conservadores não vão salvar o mundo, mas pelo menos não farão esforços para destruí-lo.
Tenhamos paciência. Enfim, em meio a tantas discussões extenuantes, para tomarmos fôlego, ainda nos é possível recorrer à arte, à boa literatura, à filosofia. É preciso equilibrar as coisas, ainda que elas estejam caóticas e causem nojo. Aproveitemos o final do ano para isso, sem esquecer, evidentemente, que apaixonados políticos e sectários não tiram férias.

“THE CROWN”, DA NETFLIX, É SIMPLESMENTE IMPERDÍVEL, ALIMENTO PARA NOSSO CÉREBRO

blogBeleza, sofisticação e refinamento são como o Bis da propaganda: depois que você experimenta um, não consegue mais parar. Confesso ao leitor: estava em crise de abstinência após “Downton Abbey”, de Julian Fellowes. Por isso fui ver “Dr. Thorne”, em apenas quatro episódios, adaptado por ele da novela de Trollope, passado na era vitoriana. Não bastou. Fui, então, ler Belgravia, seu livro ambientado em mesmo cenário. Excelente, mas ainda não foi o suficiente.
Já estava, portanto, a babar pelos cantos, feito um adicto enlouquecido, mendigando por pedaços de beleza, por pequenas quantias de sofisticação, por um segundinho só de refinamento e inteligência. Aplacava a angústia com os filmes de super-heróis no cinema, com os 007s, os mutantes da Marvel, os espiões Bourne da CIA, tudo num estímulo frenético de cenas impressionantes possíveis por produções milionárias.
Era bom enquanto durava, admito. Naquelas duas horas eu era transportado a um mundo paralelo, sob uma chuva tão grande de imagens inacreditáveis que a realidade era esquecida. Mas o cérebro, em seu estágio mais elevado, ficava de fora. Não era alimentado devidamente. E pouco tempo depois lá vinha ela, a maldita crise de abstinência. “Preciso de beleza!”, gritava tal qual um lunático. “Me dê refinamento!”, bradava aos olhares suspeitos de minha mulher, inclinada a chamar logo os homens de branco e encerrar o delírio.
Até descobrir “The Crown”, da Netflix. Que alívio! A sensação de vício atendido foi imediata, como um corpo em delirium tremens que entra em contato com a primeira gota de álcool. Pulando de um capítulo ao outro dos dez da primeira temporada, como quem tenta degustar cada pedacinho do Bis restante, acompanhei a história da jovem rainha Elizabeth, elevada à Coroa após a morte do pai, que por sua vez fora catapultado ao cargo pela renúncia do irmão, que escolheu o amor de uma mulher em vez do reino.
Que diálogos! Que delicadeza nas cenas! Que fascinante a atuação de John Lithgow como Sir Winston Churchill, talvez a personagem mais marcante de todo o século XX. Peter Morgan nos legou um marco da televisão, que atualmente só a televisão tem sido capaz, com uma mensagem de viés conservador tão em falta no mundo moderno. O embate entre o antigo e o novo está lá; a tensão constante entre o “progresso” moral e a necessidade de se conservar tradições está lá; o dilema entre a dignidade e a eficiência, como colocava Bagehot acerca do papel da monarquia e aquele do governo executivo, também está lá. Nem tudo é “produtividade”.
Os pobres de espírito poderão argumentar que a história não é condizente com os fatos, que de perto a família real do Reino Unido não é tão fascinante assim. Pobrezinhos. Não entenderam que a imaginação moral é mais importante ainda do que o puro relato factual, que os símbolos devem ser preservados, que um dos principais papéis da arte é justamente o de superar a vida. Ninguém precisa acreditar nos pormenores relatados na série para capturar sua essência, o que representa a monarquia britânica, as tradições que ela sustenta, a importância dos mitos como cola do tecido social.
Se tamanha complexidade puder ser resumida em uma expressão, eis o que, arrisco dizer, essa fantástica série transmite: o fardo das elites. Sim, os idiotas podem, de longe, enxergar apenas as maravilhas das quais desfrutam os reis e rainhas, os aristocratas, os ricos e poderosos, os líderes em geral. Mas, por trás de toda a fantasia e aparências, jaz a responsabilidade de decidir, de fazer escolhas difíceis, de enormes sacrifícios pessoais em nome de algo maior.
Churchill, num ato de profundo simbolismo conservador, renuncia ao cargo poderoso quando se dá conta de que não é mais necessário, e ainda pede para o motorista parar o carro para que possa ir cumprimentar seu substituto, que chegava para ser recebido pela rainha. Aquele aperto de mão significa o respeito pelo que é perene e está acima do efêmero, do temporário, das vaidades pessoais, das disputas de ego e poder.
A rainha Elizabeth, por sua vez, precisa optar entre agradar sua irmã mais nova, que pretende casar com um homem divorciado, ou preservar a ordem e respeitar a Igreja da qual é chefe. Os românticos podem ficar chocados com um dilema tão ultrapassado, mas é porque acreditam que só o coração pode ditar regras, que todos devemos dar vazão aos nossos apetites como se nada mais importasse. As elites não podem se dar a esse “luxo burguês”, pois há mais em jogo do que alcançam nossos sentimentos imediatistas.
Enfim, é nossa alma, nosso espírito que acaba sendo alimentado por esse tipo de arte mais refinada. Nosso intelecto precisa de combustível desse tipo, caso contrário o cérebro definha, alienado, pronto apenas para reagir aos frenéticos e passageiros estímulos. Mal posso esperar pela segunda temporada. Já estou cá novamente a babar, a procurar programas semelhantes, a folhear meus livros, com mãos trêmulas, ou apertar os canais em busca de algo do mesmo nível. Sou um viciado, confesso. Preciso de beleza!
Rodrigo Constantino

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- segunda-feira, junho 30, 2008 ALGO DE PODRE NO REINO DOS SVEAS

Como todo ser humano, desde pequeno, tive minhas simpatias e antipatias. Há pessoas de quem gostamos e outras que não. É normal, faz parte da vida. Isso de amar o próximo é coisa de cristãos. Neste mandamento, tanto Nietzsche como Kierkegaard viram uma negação do sentimento de amizade. Se tenho de amar qualquer um, a amizade, que é uma eleição, deixa de existir. Conheço pessoas absolutamente insuportáveis e delas tomo distância. Perto de mim, só os seres que me aprazem. Se o tal de amor cristão não poupa ninguém, vou poupar pelo menos a mim mesmo.

São muito raras as pessoas que entram em minha casa. São apenas aquelas por quem tenho muita estima. Se a estima ainda não existe, primeiro a gente se encontra no bar. Depois, veremos. O bar é uma forma de convívio interessante, uma ante-sala que não causa constrangimentos. Chego lá quando quero e saio também quando quero. Foi Kafka, creio, que imaginou uma casa onde todo mundo podia entrar quando quisesse e sair também quando quisesse. Ora, essa casa existe. Pelo menos no Ocidente. Por essas razões, continuamente recuso convites para festas em sítios, esta maison secondaire dos paulistanos. Como não tenho carro, viro refém de meu anfitrião. Quando alguém me convida para seu sítio, faço uma contra-oferta: “Escuta, faz um CD-ROM e eu curto teu sítio chez moi”.

O politicamente correto, pelo jeito, está correndo solto no reino dos Sveas. Um menino de oito anos de idade, em Lund, no sul da Suécia, está sendo acusado por não ter convidado dois de seus colegas para sua festa de aniversário. O caso foi levado ao Parlamento. É o que nos conta o Sydsvenskan. Segundo a escola da criança, ele teria violado o direito dos colegas excluídos. A Suécia está inovando em matéria de Direito. Temos agora a figura do colega excluído, isto sem falar no sagrado e inviolável direito de cada um de ir a uma festa particular.

O pai do menino fez uma reclamação formal junto ao ombudsman parlamentar. Ele argumenta que as duas crianças não foram convidadas porque uma delas não havia convidado seu filho para a sua festa e a outra havia brigado com ele. O menino distribuiu os convites durante o horário das aulas e quando o professor percebeu que dois alunos haviam sido excluídos, os convites foram confiscados. Um veredicto sobre o assunto deve ser anunciado em setembro.

Que veredito? Pretende o Parlamento obrigar alguém a convidar para uma festa pessoas que este alguém não quer como convidados? Pretenderá o Estado outorgar-se o direito de determinar quem alguém deve convidar em seu aniversário? O simples fato de o ombudsman parlamentar aceitar tal pleito tende a transformar uma residência particular em bar, estabelecimento público. Parafraseando o bardo: há algo de podre no reino dos Sveas.

PS - Falar nisso, na quinta-feira estou partindo para aqueles nortes. Entre coisas, quero degustar o podre. Não esta podridão politicamente correta, mas uma outra, culinária, la cuisine pourrie, como dizem os franceses. Falo do surströmming, um arenque do Báltico servido podre, muito apreciado no norte da Suécia. Em meus dias naqueles pagos, tentei degustá-lo e vomitei. Falta de educação palatar, certamente. Na época, eu não encarava nem camembert. Muito menos andouilletes, um embutido de tripa com tripas dentro. Hoje, uma de minhas motivações para ir a Paris são as andouilletes. É o primeiro prato que busco. Minha companheira da última viagem, ao provar um tequinho, quase teve minha mesma reação ante o surströmming em Estocolmo.

Só viagens educam o palato. Em Skellefeteå, no norte do país, há em agosto um festival anual do surströmming. Aos jornalistas estrangeiros, recomenda-se usar máscaras de gás. Mas se milhares de pessoas curtem o tal de peixinho podre, mau não há de ser. Verei.

“Quase 80% dos brasileiros gostaria de mamar no estado. O percentual restante já está mamando.” (Eriatlov)

“A maldade sempre encontra seguidores; às vezes por conveniência, às vezes por gosto próprio.” (Filosofeno)

“Quando a bajulação é exagerada, cuide dos bolsos.” (Filosofeno)

“A paixão tem seu lado perigoso. A paixão provoca cegueira.” (Filosofeno)