sexta-feira, 20 de setembro de 2019

OUTRA VIDA

“Estou convicto da não existência de outra vida para nós humanos. Para os suínos sim; deixam esta vida e se tornam presuntos, salsichas, mortadelas e afins.” (Climério)

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- sábado, maio 31, 2008 COMO UM FANTASMA

Foi inaugurada ontem, no parque el Retiro, em Madri, a 67a. Feira do Livro. Deve ser uma feira para jovens. De meu hotel até o parque foram dois quilômetros. Verdade que os poderia ter feito por metrô. Mas preferi caminhar. O que nao sabia é que tinha de caminhar mais um quilômetro parque adentro para chegar até a feira. Que consta de 336 stands, alinhados em duas filas por mais um quilômetro. Um de ida e outro de volta. Ou seja, meu apreço aos livros custou-me uns bons cinco quilômetros de caminhada. Ou seja, subir Toledo a pé foi café pequeno.

Livros demais. A Espanha publica 70 mil títulos por ano. Quase duzentos por dia. Passei entre eles como um fantasma. Para começar, minha maleta que pesava 6,5 k ao sair do Brasil, já está pesando quase vinte, com os livros que comprei em Paris e Madri. Por outro lado, há mais de vinte anos nao leio ficçao, logo mais da metade dos livros da Feira estavam descartados. Muitos lançamentos recentes sobre stalinismo e guerra civil espanhola. Mas sobre estes temas tenho bibliografia mais que suficiente em minha biblioteca.

Assim, fiz dois quilômetros de feira sem maiores entusiasmos. Mas nao consegui resistir ao dicionário etimológico de Joan Coromines. Nao resisto a étimos. Minha mala que se espiche.

Em anos anteriores, a feira era organizada junto ao Paseo de Recoletos. Ao menor sinal de sede, ali ao lado estavam os divinos Gijón e El Espejo. Agora, precisei de fazer mais uns dois bons quilômetros para chegar a meus bebedouros diletos. Em verdade, nao vejo ultimamente muito sentido em feiras do livro, afinal estes estao eternamente à disposiçao dos leitores nas generosas livrarias destas capitais européias, onde podem ser curtidos com muito mais vagar.

Fomos jantar, eu e minha companheira, às 11h30. O leitor que nao conhece Madri nao terá idéia do que é a luta pela comida numa meia-noite de sexta-feira. Restaurantes todos lotados, gente se amontoando junto aos balcoes em lista de espera. Mesa livre só por milagre. Enfim, o milagre acabou acontecendo, mais precisamente na Cerveceria Alemana, que de alemana nao tem nada.

Mas dura é a luta pela vida numa noite de sexta-feira, nesta cidade encantada.

O PORQUINHO

Eunício morava numa chácara e gostava de poupar. Seus o pais o aconselharam a colocar moedas no porquinho. Diariamente ele então colocava moedas no porquinho. Porém um dia o porquinho estava de rabo ardido e não aceitou moedas. Acabou mordendo Eunício que acabou no hospital. O porquinho fugiu em grande disparada, mas parava volta e meia , erguia o rabinho e descarregava alguns reais. Nunca mais foi visto.
O NOVO HUMANO


A raça humana foi exterminada por Deus. Resolveu ele iniciar com um novo modelo. Fez a mulher de barro, soprou e a ela deu vida. Uma formosura! Depois tirou um pedaço da bunda da beleza e fez o homem. Tudo pronto analisou suas obras e disse para um anjo que o acompanhava:  ”Acho que agora vai!”

O ENVIADO

Quando ainda um ser amorfo no ventre da mãe o danadinho nasceu de repente e surpreendeu o mundo. Recém-saído da barriga da mãe num banco de coletivo pulou sobre uma poltrona e começou seu discurso falando da mediocridade geral, das crenças em verdades absolutas feitas para idiotas, do nada imperativo nos bilhões de mentes vãs. Explodiu de emoção falando da importância da ciência e não de futilidades mágicas. E já começando a ficar sem fôlego, ficou feliz quando viu um jovem gravando suas palavras num celular. Encerrando disse: “Eu vim por pouco tempo para dizer muito, sou luz que ilumina mentes encerradas nas trevas do saber, crentes de uma vida eterna paradisíaca ou infernal, ou seja, são bestas, porque eu sei daquilo que falo, vim de onde ninguém nunca foi, nasci no amanhã e voltei pelas mãos da ciência para dizer que Deus não existe e que tudo é propaganda barata.” E caiu morto.