segunda-feira, 20 de março de 2017

DONA MAYSA

Chico Melancia ouviu falar que Dona Maysa tinha mãos mágicas, curava enfermidades, inclusive psicológicas. A consulta era trinta reais, uma pechincha para quem sofria, pois diziam pelas ruas que era cura na certa. Chico não tinha problemas de saúde, e os familiares estranharam quando ele pediu à irmã que obtivesse uma vaga para ele. No dia e hora aprazado o cliente entrou na sala da quase santa e foi direto com ela: “Dona Maysa, paguei a consulta, porém não tenho nada, meu problema é dinheiro”. Então sacou do bolso um volante da mega e pediu para ela marcar os seis números.

NORILSK

O pequeno solitário Wladimir de oito anos brincava na neve nos arredores de onde existiu um campo de trabalhos forçados à época de Stalin, em Norilsk. Ao mexer uma pequena pedra aconteceu um estrondo e o lampejo de um raio e milhões de gritos lamuriosos foram ouvidos, saídos da fenda que estava sob a pedra. Gritavam fome! Frio! Dor! Tortura! Queremos liberdade! O pequeno caiu para trás assustado. Enquanto Wladimir tentava entender o que estava acontecendo, os espíritos martirizados pelos comunistas naquele Gulag transformaram-se em pequenos pássaros azuis e saíram batendo asas libertas, felizes finalmente. Cada pássaro que saía da fenda deixava cair uma pena azul que aos poucos formou no branco da neve a frase “Jamais esqueçam quem cometeu essa ignomínia.” Wladimir não sabia porque, mas sentia-se feliz. Ergueu suas pequenas mãos e acenou para os pássaros, que fizeram um bailado em agradecimento e após seguiram para o infinito.

SINÉSIO

Sinésio era um homem revoltado com a violência, principalmente gratuita. Escrevia até artigos para o jornal local. Faz pouco desentendeu-se com um vizinho por causa de duas folhas caídas no seu quintal. Matou o vizinho. Deve ter sido pela causa, ora pois. 

FORTE E VALENTE

Turíbio era muito forte e valente como nenhum outro. Na verdade não tinha mais adversários na sua região. Derrubou todos que estiveram em seu caminho. Seus amigos o convenceram de sair no braço com um leão, na porrada. Pois os tais conseguiram um leão e colocaram os dois frente a frente numa jaula enorme . O valente foi todo pintado pra batalha, uma mistura de ninja, apache e soldado em guerra na floresta. E o dito leão por ser um bicho burro e desinformado não sabia quem era Turíbio, o forte e valente. E assim sendo um animal totalmente por fora, comeu o valente ainda no primeiro round.

SEM ELA NÃO DÁ

Às vezes em frente à tela branca,
dá um branco no negro,
mesmo no branco e no amarelo,
ou seja,
escafedeu-se a inspiração.
“Eu sei que sou um cão. Não entendo porque alguns me tratam como seu eu fosse uma criança. Você já viu alguma criança erguendo a perninha para mijar?” (Bilu Cão)
“Quando eu nasci minha avó beata queria me exorcizar com solvente. Fui salvo por uma vizinha ateia.” (Assombração)

UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS

-Filho, pega a coisa.
-Coisa?
-Sim, vamos lavar o carro.
-Pegar o lava-jato?
- Puta que pariu, não fala essa palavra maldita!

1917. E O MUNDO MUDOU PARA PIOR. por Percival Puggina. Artigo publicado em 19.03.2017

Se o czarismo não dava origem ao melhor dos mundos, o movimento revolucionário que mudou o regime em 1917 causou à sociedade russa um dano incalculável. E não se deu por cumprido. Levado pelo imperialismo russo, o comunismo viria a estender fronteiras, impondo-se sobre nações até então livres e irradiando genocídio, miséria e servidão. O simples registro ou narrativa dos fatos que se desenrolaram a partir do velório da Rússia czarista não podem silenciar ante o simultâneo surgimento, ali e então, do primeiro, modelar e mais letal dos coletivismos totalitários que infernizaram o século XX. O nazismo e o fascismo aprenderam do comunismo. Deveríamos estar falando mais sobre isso, sempre que mencionados os fatos ocorridos às margens frias do Rio Neva, há exatos cem anos.
 As mulheres e os grevistas que a elas se juntaram para marchar nas ruas de Petrogrado, no dia 8 de março daquele ano fatídico, pedindo pão e paz, cantavam a Marselhesa e não podiam imaginar a intensidade das forças que desencadeavam. Talvez sequer soubessem que reproduziam o mesmo hino entoado na tomada do Palácio das Tulherias, quando, nos desdobramentos da Revolução Francesa, se liberavam as forças do Terror e a guilhotina fazia rolar três cabeças a cada dois minutos. A caixa de Pandora aberta em Petrogrado seria infinitamente mais maligna. Mas é bom relembrarmos: para cada Robespierre ou Saint-Just, a Revolução Russa iria, ao longo das décadas seguintes, mundo afora, disponibilizar multidões de sanguinários ditadores e monstruosos agentes políticos. Gerações de revolucionários e intelectuais, partidos e militantes se sucederiam para disseminar uma ideologia perversa na concepção e comprovadamente ainda mais perversa na execução, em todas as suas experiências históricas.
 Talvez convenha, aqui, lembrar o velho Winston Churchill, porque é sempre uma saudação à inteligência fazê-lo. Enquanto a chapa esquentava em Petrogrado, naquele março de 1917, Lênin estava exilado na Suíça. O curso dos eventos muito o agradava, mas não podia comandá-los através, apenas, das cartas que escrevia. Ele precisava chegar ao palco. Hábil que era, conseguiu negociar com os alemães autorização para cruzar o país em direção à Suécia. Foram oito dias em companhia de outros camaradas, dentro de trem blindado, até Estocolmo e, dali, para a Finlândia e Petrogrado. Churchill, referindo-se a essa inusitada travessia de um grupo de cidadãos russos, sendo a Rússia adversária da Alemanha na guerra, comentou que tal viagem se dera "num vagão lacrado como bacilo de peste". A frase e o lacre se justificavam plenamente.
Para Lênin, a Primeira Guerra Mundial era um conflito entre interesses imperialistas com o qual nada tinha a ver. Interessava-o aproveitar as consequências da guerra na vida das pessoas para fazer eclodir o que via como fundamental - o embate entre as classes sociais com vistas à ditadura do proletariado. Foi com tal visão que convenceu os alemães a lhe darem passagem e foi com essa perspectiva que chegou ao poder supremo no final do mesmo ano. E sobreveio o Terror. E nasceu o organismo dele encarregado, a Cheka, que viria a inspirar, menos de vinte anos depois, as SA e as SS nazistas, e os camicie nere fascistas. Alguém dirá que a política não é lugar de muito bons modos, que nunca foi domicílio da verdade e que, em maior ou menor grau, a repressão, ativa ou inativa, está sempre em seu estoque de meios.
O que só o coletivismo comunista e seus dois filhotes - nazismo e fascismo - fazem, porém, é uma política em que os adversários não são pessoas ou facções divergentes. São estes também, mas, principalmente, são grupos sociais inteiros passíveis de eliminação: burgueses, proprietários, etnias, nacionalidades. E tudo (...) O final do artigo pode ser lido em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/noticia/2017/03/1917-e-o-mundo-mudou-para-pior-9750819.html
 

LEVADO

“Sempre fui muito levado. Minha mãe já usava algemas comigo quando eu tinha quatro anos.” (Chico Melancia)

ANÁLISE

“Fiz análise por alguns anos. Parei quando o meu analista ficou biruta.” (Chico Melancia)

ESTUDANTE

“Estudar? Para você ter uma ideia, estudar estudei muito. Fiquei seis anos na quarta-série.” (Chico Melancia)

Sapiência

“Sapiência? Sapiência acredito ser a ciência dos sapos.” (Chico Melancia)

No princípio era o verbo

“No princípio era o verbo, depois os substantivos, adjetivos, pronomes e toda uma ordem de normas gramaticais. Depois de tudo colocado pelo professor veio um zero, enorme e colorido zero. “ (Chico Melancia)
“Eu procurando emprego e os caras só me oferecem trabalho. É ruim!” (Chico Melancia)

FOFUCHO

“Ganhei muitas coisas em dezembro último. Peso então, nem se fala!” (Fofucho)

CORPO PERFEITO

“Essa coisa de corpo perfeito já está enchendo o saco. Tenho pegado alguns turistas, carne e gordurinha nada, só ossos.” (Leão Bob)

É O QUE NOS RESTA

“Já que classe política está difícil de melhorar vamos ver se conseguimos melhorar os eleitores.” (Mim)

NÉIA

“Há o lobisomem. E existe também a Néia, minha prima, conhecida com lambehomem.” (Chico Melancia)

“Água mole em pedra dura tanto bate até que chega a seca e acaba com ela.” (Climério)

NADA

Quando Eder acordou no hospital o médico disse-lhe que esteve morto por cinco minutos. Sacanagem! Nada do outro lado! Quando saiu do hospital a primeira coisa que fez foi dar um pau no pastor da sua igreja, além de exigir a grana do dízimo de volta.E prometeu ir atrás do padre da sua infância e do professor de religião.

O MENTIROSO

Luiz gostava de mentir, estava no sangue. O pai também fora um emérito gabola queimador de campo. Certa feita Luiz disse ter encontrado um diminuto marciano cru dentro do seu frango assado e depois mil dólares dentro de um Kinder Ovo. Já na reunião do partido disse ser descendente de Robespierre. Quando menino fez gazeta e contou à mãe que a escola tinha sido devorada por cupins e que aulas só no ano seguinte. Já adulto matou a própria avó doze vezes em diversos empregos para conseguir folga. Um crápula, sem dúvida; foi noivo de seis moças ao mesmo tempo na cidade em que morava, mentindo sempre mais para justificar sua ausência nos encontros marcados. Nada é para sempre e um dia o feitiço vira contra o feiticeiro. Numa roda de desconhecidos no boteco gabava-se que era dono de inúmeros imóveis, que vivia de renda, a carteira sempre recheada. Pois foi assaltado no caminho de casa, levou um pau federal, entortaram ele no cassetete, pois sua carteira tinha apenas vinte e cinco centavos e uma conta de energia de trinta reais em atraso.

SEM PAPO

O caixeiro viajante Gregório chegou a Plantk, uma cidade estranha quase no fim do mundo, pois ninguém ali abria diálogo com ele, apenas monossílabos. Abastecendo seu automóvel observou pela primeira vez que todos tinham alguma deficiência física. Sem orelhas; sem queixos; sem mãos; sem braços; sem pernas; mancos; cegos; estrábicos e outros. Não tentou vender nada, já que o povo não queria papo com gente estranha decidiu seguir em frente. Na saída viu um senhor corcunda capinando a beira da estrada e decidiu arriscar: “Boa tarde! O senhor poderia me dizer por que o povo da cidade evitou falar comigo?” O homem um pouco receoso respondeu em tom baixo: “É que o senhor não é normal. Assusta um pouco.” Então se afastou e continuou a capinar.

MARCIO CARACOL

No último dia do ano Márcio Caracol resolveu ver os festejos humanos tão aguardados de perto. Viu tantas coisas absurdas que entrou em depressão, voltou para dentro de sua casinha e não saiu mais nem para comer.

NA SAVANA

Marcio estava caçando leões na savana africana. Separou-se do grupo, foi em frente sem temer o pior. Depois de caminhar por meia hora deu de cara com um leão de juba enorme, não mais que vinte metros dele. Preparou a arma e disparou ‘clack’ falhou. O leão quieto olhando para ele. Disparou de novo ‘clack’, nada. O peludo não se conteve, ficou de barriga para cima rindo debochadamente do caçador. Quando Marcio estava se preparando para correr o leão disse: Alto lá! Não vá embora antes de fazermos uma foto com sua cabeça dentro da minha boca! Marcio voltou ao Brasil antes dos companheiros. Segundo se soube veio a nado.

INVASORES

Surgiram desenhos nos trigais e milharais em Tongoland. Apressados determinaram que fossem extraterrestres que vieram a brincar. Especialistas chegaram da capital do estado para dar seu parecer. Jornais estampavam manchetes, havia até gente que dizia ter vistos homenzinhos verdes nos campos. Rádios fizeram alarde; talvez uma possível invasão alienígena se aproximasse? Beatas acenderam velas e realizaram novenas; crianças desenharam monstrinhos de mil tipos dando cara aos visitantes. Um tarado afirmou ter feito sexo com uma alienígena no próprio milharal enquanto ela devorava meio dúzia de espigas, coisa de louco. O comércio faturava em cima dos motivos desenhistas invasores. Enquanto isso tudo acontecia, Anselmo e Jonas esquentavam o corpo com uísque no Armand. Esses dois velhos bem humorados e espertos caíam na gargalhada planejando aonde iriam agora aprontar com seus desenhos.

O ANÃO DE JARDIM

Tudo via e ouvia o anão de jardim Pablo assim transformado pelo feiticeiro Dilmon por ciúmes de sua beleza e inteligência. Não sofria sede ou fome, mas penava horrivelmente por não poder fugir daquele corpo de pedra que o limitava. O feitiço duraria dez anos e ele apenas começara o quinto ano. Sob sol ou chuva ficava ele inerte observando a vida que corria ao seu redor com minúsculas e grandes criaturas; formigas e homens, grilos e lagartixas, cães e gatos, automóveis e bicicletas. Um dia um cão muito feio apareceu no jardim e fez xixi nele. Reconheceu que era Dilmon pelos olhos medonhos, transformado num cão por um adversário mais poderoso. Pablo riu tanto que sua alegria quebrou o feitiço infame e pode então sair correndo atrás do cão feioso, pois tinha intenção de lhe oferecer um belo osso ou um naco de ração.

O OUTRO LADO DO INDEPENDENCE DAY

Bob já embriagado foi para fora do bar dar um tempo. Nisso olhou para o céu e viu uma espaçonave enorme cobrindo a cidade e sua sogra beijando um alienígena sentada no capô de um automóvel no estacionamento. Voltou para dentro da balbúrdia e falou para o barman: A conta, por favor! Estou tendo alucinações, paro de beber agora!

BOTÃO NO POÇO

Hawkshead, Inglaterra, 1945. A pequena Carol (6) olha pela janela observando o poço. Ouviu dizer que se jogar uma moeda no poço e fazer um pedido ele se realiza. Carol não tem moeda. Será que um botão serve? Ela caminha até a borda do poço e joga o botão pego nas costuras da mãe na abertura do buraco, fecha os olhos e faz um pedido. Ao abrir os olhos vê seu amado pai descendo a colina voltando da guerra.

ESCURIDÃO

Rildo abriu uma porta dentro de um barracão abandonado na região do porto de Santos e caiu num lugar escuro abarrotado de entulhos, onde transitavam fantasmas; espíritos maus; pensamentos torpes e anacrônicos; superstições das mais diversas; milagres; astrólogos e videntes. Estar naquele lugar dava a impressão de carregar um pesado fardo nas costas, além da visão prejudicada e da mente confusa. Conseguiu achar o celular que havia perdido na queda e iluminando o ambiente observou uma placa que dizia- HABITAT DA MAMA IGNORÂNCIA. Ágil como um gato, Rildo saiu depressa daquele lugar para a luz do sol enquanto ouvia ao longe louvores a um ente imaginário.

LAÇANDO O VENTO

Raimundo e Anselmo, por sinal mui valentões e corajosos, decidiram agora na sexta de carnaval que iriam laçar o vento. Foram ao campo nos pampas munidos do melhor em corda e laço, também reforços nos punhos. Pois quando o dito arreganhou-se foram para cima dele. Não deu outra: Raimundo foi encontrado congelado no Everest e Anselmo caminhando sem rumo na Nova Zelândia.

VOCÊ IRÁ CONHECER O PARAÍSO

O menino Célio estava morrendo de uma doença rara, tinha ele apenas sete anos e não havia mais esperança de melhora. Num sonho apareceu um anjo e disse que ficasse tranquilo que após morrer iria morar no paraíso verde-amarelo onde tudo era maravilhoso. No dia 15 de novembro de 1915 Célio se foi. Chegando ao tal paraíso verde-amarelo a primeira coisa que disse foi- “ Anjo mentiroso .Paraíso? Isso aqui fede!”

OLAVO

Olavo sempre descontente, bufando infeliz pelos cantos, bebendo e jogando. Com trinta e cinco anos não havia ainda se encontrado; lugar algum era o seu lugar. Nada estava bom, azedume para dar e vender. Finalmente aos quarenta anos ele se encontrou, porém não deu certo, pois aí ele já era outro. Foi assim que Olavo morreu caduco.

GRAÇA ALCANÇADA

O pobre homem atravessou florestas, enfrentou desertos, venceu rios e subiu montanhas para encontrar no cume de uma delas o símbolo das madeiras cruzadas, tido como milagroso. Foi até lá para pedir graças e curar-se de doença terrível. Ajoelhou-se diante daquela cruz enquanto o vento zunia. Pois aconteceu que o pau podre sucumbiu ao vento e quebrando caiu sobre o homem tirando sua vida. Graça alcançada.

NA VELHA URSS...

Toda manhã Rabinovitch chega na banca de jornais, examina a primeira página do jornal "Pravda" e vai embora sem comprá-lo. Um dia o vendedor lhe pergunta o que está procurando:

-- Procuro um necrólogo.

-- Mas, os necrólogos estão na última página.

-- O necrólogo que procuro, vai ser publicado na primeira.

DEPLORÁVEL BAJULAÇÃO

 “Somente uma coisa é necessária”… Que todo homem, por possuir uma “alma imortal”, tenha tanto valor quanto qualquer outro homem; que na totalidade dos seres a “salvação” de todo indivíduo um possa reivindicar uma importância eterna; que beatos insignificantes e desequilibrados possam imaginar que as leis da natureza são constantemente transgredidas em seu favor — não há como expressar desprezo suficiente por tamanha intensificação de toda espécie de egoísmos ad infinitum, até a insolência. E, contudo, o cristianismo deve o seu triunfo precisamente a essa deplorável bajulação de vaidade pessoal — foi assim que seduziu ao seu lado todos os malogrados, os insatisfeitos, os vencidos, todo o refugo e vômito da humanidade. A “salvação da alma” — em outras palavras: “o mundo gira ao meu redor”… — Friedrich Nietzsche

CENTRO DO MUNDO

A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem — de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico — parece galopar alegremente para o balaio das ilusões perdidas. O fato é que a vida do homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de significado. O que, no passado, deu a impressão de ser a principal preocupação e obra-prima dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um subproduto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem sentido desses mesmos deuses. — H. L. Mencken

VENCENDO A DOUTRINAÇÃO: A PRIMEIRA GERAÇÃO LIVRE PARA ESCOLHER por Ricardo Bordin. Artigo publicado em 19.03.2017

(Publicado originalmente em https://bordinburke.wordpress.com)
Chamou minha atenção um artigo de David Nammo, publicado pela National Review, onde ele traz à tona dados de uma pesquisa conduzida pelo The American Culture and Faith Institute, os quais revelam a larga aceitação dos americanos pelo socialismo (em torno de 40%) e seu apoio a bandeiras da agenda “progressista”. O articulista, diante dos números, chega a adotar um tom alarmista, afirmando que o experimento bem sucedido implantado pelos pais fundadores da América estaria ameaçado, e que tanto os valores tradicionais quanto a consciência dos benefícios do livre mercado precisariam ser urgentemente resgatados, sob pena de o projeto que erigiu aquela nação vir a colapsar.
O autor acusa, em especial, os veículos de jornalismo e as instituições de ensino superior por esta mudança no ideário popular, alcançada por meio do uso de subterfúgios como a distorção da linguagem e a inserção de pautas ideológicas em obras de ficção. E este novo panorama seria, pois, capaz de orientar a adoção de políticas públicas e a elaboração de leis em sintonia com seus dogmas estatizantes e intervencionistas, bem como influenciar o Judiciário a interpretar as normas (e extrapolar de suas funções, desrespeitando o sistema de ckecks and balances) conforme esta postura mais à esquerda de parcela considerável do povo americano.
O principal aspecto desnudado pelas entrevistas realizadas é que o maior grupo de cidadãos identificado (58% dos consultados) diz-se politically moderate (o nosso conhecido “isentão”), e, no entanto, boa parte de seus preceitos coincidem com aqueles professados pelos “liberals”(ou leftists, traduzindo da novilíngua para inglês), tanto no aspecto econômico quanto no cultural. Ou seja, há um substancial número de esquerdistas involuntários nos Estados Unidos, os quais, sem nem mesmo perceber que viraram idiotas úteis, empurram o outrora lar dos bravos na direção da América Latina – muito por conta da propaganda e da patrulha politicamente correta.
Ao final, o escriba conclama a todos que amam a terra da liberdade a disseminarem os princípios que nortearam a construção de um dos países mais prósperos da história da humanidade. Trata-se de um apelo de inquestionável importância, mas que causa menos alarde, por certo, quando levamos em conta a idade dos indivíduos submetidos ao questionário: dezoito anos ou mais, isto é, nascidos antes de 1999.
O que remete, enfim, ao título deste texto. A chamada geração Z, que engloba os nascidos de 1995 até 2010, já usufruiu do privilégio de contar com a Internet durante todo seu processo educacional, desde a alfabetização até a faculdade. Eles ainda constituem um grupo, todavia, que foi submetido durante a formação de seu caráter ao conteúdo quase monopolista e enviesado ideologicamente da mainstream mídia, bem como exposto ao proselitismo político dos militantes disfarçados de professores – ambos movimentos intensificados após a revolução de costumes dos anos 1960 – sem contar com uma alternativa, com fontes de conhecimento e formadores de opinião que contrapusessem esta lavagem cerebral de moldes gramscianos.
É somente no decorrer da primeira década deste século que começam a despontar na grande rede mundial de computadores, em número relevante e em escala planetária, comunicadores autônomos que desafiam as informações e análises contaminadas pelo esquerdismo transmitidas por TV, rádio, jornais e revistas (e suas versões digitais). É quando o Infowars.com, os vídeos produzidos pela equipe de Dennis Praguer e muitas outras iniciativas similares começam a ganhar adeptos e a concorrer pela audiência outrora cativa da imprensa ordinária (no bom e no mau sentido).
É também neste mesmo cenário que a hegemonia do discurso dos “educadores” em sala de aula começa a ser questionada por meio de alguns poucos cliques no smartphone que direcionem às páginas do Instituto Liberal, do Mises Brasil, do Senso Incomum, dentre outros. Chega ao fim o reinado absoluto dos supostos arautos do saber que mais querem saber é de lobotomizar adolescentes.
O que levanta a questão: por desfrutarem da chance de crescer e desenvolver-se podendo comparar o que afirmou o “analista” da Globonews ou o professor de História vestindo uma boina estilo “Che” com o que tem a dizer, sobre o mesmo tema, pessoas como Alexandre Borges, Flávio Morguenstern ou Rodrigo Constantino, seria esta a geração que dispõe das ferramentas para, finalmente, romper os grilhões do pensamento e não mais deixar que George Soros pense por eles?
Aparentemente, sim. São cada vez mais frequentes os casos de estudantes que não deixam passar barato desonestidades intelectuais dos docentes, graças à fibra ótica. As empresas de jornalismo, vitimadas pela mesma conjuntura, vem perdendo seguidores junto com sua credibilidade para produtores independentes estabelecidos em websites (e que não dependem de verba de anúncios estatais nem de concessões governamentais para seguir operando) como nunca dantes constatado.
Não por acaso, existe um esforço coordenado para convencer os internautas de que notícias obtidas sem o “selo de autenticidade” da mídia tradicional são fakenews características de uma era denominada “pós-verdade” – a qual aprofundou-se com a vitória de Donald Trump combinada com o Brexit. Tentativas de dificultar ou até mesmo impedir o acesso do cidadão comum à banda larga também deixam claro que a conquista de espaços, corações e mentes movida a marxismo sentiu um baque inesperado. Até mesmo perfis humorísticos de redes sociais viraram alvo do “bater de pés” indignado daqueles habituados por tanto tempo a falarem sem sofrerem réplica. A bolha estourou e seu impacto foi sentido em toda parte – até na França.
Recentemente, o irmão de um amigo e uma tia fizeram-me a mesma pergunta: quem seria o governante capaz de melhorar a vida dos brasileiros? Bom, a maioria dos integrantes desta nova geração bem sabe que a resposta é nenhum, pois aprenderam, a partir da invenção de Tim Berners-Lee, que não se deve esperar nada do Estado senão que ele mantenha-se fora do caminho entre o indivíduo e sua felicidade. A tia e o irmão do amigo? Fazem parte de uma geração “perdida”, que absorveu coletivismo e paternalismo estatal demais, e não há muito o que fazer por estas pessoas em idade já avançada.
Já os membros da geração pós-monopólio da esquerda ainda tem muito o que construir e modificar no mundo. São eles os agraciados, desde a mais tenra idade, com os instrumentos para não se deixarem incorporar pela Matrix comuna. Sorte deles – e nossa. Uma hora esse processo teria de ser invertido mesmo, sob o risco de faltar comida e papel higiênico por toda a face da Terra. Se eles vão aproveitar a oportunidade ou não, só o tempo dirá.
Avante, geração “L”, de “Livres para escolher”. Nos livrem dessa, para o seu próprio bem!

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, novembro 26, 2006 DIA DA SUEQUINHA

Diga-se o que quiser de Marx, não podemos negar que fosse um intuitivo. Viu o universo de ricos e pobres de suas época e nesta dicotomia encontrou as bases de seu pensamento. Deu-lhes nomes mais solenes - proletariado e burguesia - e criou a ideologia mais assassina do século XIX, que produziu no século seguinte nadas menos que cem milhões de cadáveres. A humanidade tomou vergonha, o Muro foi derrubado, a União Soviética desmoronou e o comunismo passou a ser cultuado apenas em ilhotas do Terceiro Mundo. Operários se deram conta de que era melhor conviver com patrões que lutar contra eles. Desmoralizada a luta de classes, os velhos apparatchiks se sentiram desempregados. Uma nova luta precisava ser criada.

O leitor que tiver acesso a bancos de dados de jornais poderá comprovar facilmente. Depois de 89, palavras como proletariado e burguesia começaram a minguar nos noticiários. Ao mesmo tempo, aumentou espantosamente a incidência de palavras como racismo, racista, ódio racial. Ou uma nova luta se estabelecia ou os velhos apparatchiks morriam de fome. Neste Brasil inculto, que elegeu e reelegeu um analfabeto como presidente, estes profissionais que só encontram lugar em países que vivem a reboque da História investiram tudo na nova luta. O senador Paim Filho, por exemplo, restabeleceu o conceito de raça, conceito este sempre negado pelos movimentos negros, e pretendeu instituir a carteirinha de negro.

Não bastasse isso, a lei 10.639, de 2003, instituiu o Dia da Consciência Negra e fez desta data um feriado nacional. O feriado mal havia sido notado por coincidir com sábados e domingos. Assim foi que, somente neste ano da graça de 2006 acabamos descobrindo que o racismo foi oficializado no Brasil. O racismo negro, bem entendido, pois jamais ocorreria aos brancos criar um Dia da Consciência Branca. E se o criassem, seriam imediatamente denunciados na Justiça como racistas.
Pouco de novo se tem a dizer a respeito desta história antiga. Mas a cada vez que a estupidez emerge, urge denunciá-la. O dia é uma homenagem a um dos símbolos da resistência negra no país: Zumbi de Palmares, que foi degolado em 20 de novembro de 1695. Até há bem pouco, a data celebrada pelos negros era o 13 de maio, quando, em 1888,a princesa Isabel decretou a libertação dos escravos.

Isso de branca libertar negros, ainda mais quando se tratava de uma princesa, não gera luta racial. Era preciso encontrar um negro, de preferência um mártir. Mesmo que nos quilombos existissem escravas brancas. Mas este dado, stalinisticamente, deve ser apagado da História. Não fica bem à imagem de um herói libertador de negros ter escravas brancas. Por outro lado, não vejo porque não unificar a grande Parada Negra às paradas gays de São Paulo. Afinal, Zumbi era chegado às práticas nefandas, como se dizia na época, tanto que mereceu o apelido de Suequinha.

Cerca de doze mil pessoas participaram, nesta última segunda-feira, da primeira Parada Negra, na avenida Paulista, região central de São Paulo. Após a parada ocorreu a 3ª Marcha da Consciência Negra. A festa já acontece em 232 municípios brasileiros. Agências bancárias e dos correios permaneceram fechadas nos municípios que decretaram feriado devido à data. Ai daqueles que um dia pensarem em uma parada branca. Serão imediatamente anatematizados e jogados no rol dos racistas, nazistas e fascistas.

Esta manifestação só serve para incentivar o racismo no país. Bem entendido, jamais teremos um dia da consciência mulata. Os negros racistas brasileiros, à semelhança dos negros racistas americanos, não aceitam a idéia de mulato. Aceitar o conceito de mulato significa admitir que no Brasil negros e brancos se miscigenaram sem maiores problemas, e isto significa dizer que no Brasil não há racismo, ou pelo menos não há um racismo mais pronunciado. Isto não serve aos velhos comunistas, sempre entrincheirados na antiga idéia de luta de classes.

É sempre bom lembrar que os negros não chegam a constituir seis por cento da população nacional. Os mulatos chegam a 38%. Até o Supremo Apedeuta já assumiu esta idéia de que estes mulatos não existem, e andou colocando o Brasil como segundo país negro do mundo, depois da Nigéria. Chamem como quiserem o 20 de novembro. Eu prefiro chamá-lo de dia da Suequinha. Quem quiser empunhar Zumbi como herói da libertação dos negros, terá também de empunhar outras bandeiras, que não sei se todo o pequeno contingente negro da população terá coragem de empunhar.