sábado, 25 de fevereiro de 2017

DEUS ARON

No deserto do Saara de uma mistura de areia, restos secos de um camelo e baba de lagarto sob o apadrinhamento do deus Monu, nasceu Aron, o poderoso. Aron nasceu com vinte anos de idade e carregando toda sabedoria e poder do mundo. Começou transformando cactos em laranjais e todo grão de areia em grama para felicidade dos povos nômades e das cabras. Inventou um bichinho devorador de grama para deixa-la sempre aparada. Teve a feliz ideia do Minha Casa, Minha Vida e do Programa Bolsa –Família. Fez chover todos os dias pelo menos duas horas seguidas, isso água e depois uma pequena garoa diária de pasteizinhos se brigadeiros. Como todos ficariam obesos após as guloseimas ele criou academias e minou o deserto de vendedores de produtos para emagrecer. Criou também bordeis e templos para diversões e enganações não nesta mesma ordem; manicures e farmácias para vender preservativos e tratar doenças venéreas. Mas Aron também era duro, proibiu a cobrança do dízimo e loterias assim como a reeleição para políticos. O povo saía às ruas todos os dias para ovacionar o Deus Aron, cantando louvores de pé, agradecendo por tantas maravilhas, sendo que Aron humilde proibiu que ficassem de joelhos para evitar futuros problemas de meniscos e patela. E assim ao fim de sete dias Aron terminou o seu trabalho e foi descansar em Mônaco de onde nunca retornou, pois segundo ele tudo na vida é relativo, inclusive o saber viver.

“Amanhã será um novo dia. Sim, e poderá ser pior que o dia de hoje.” (Limão)

ENTRE QUATRO PAREDES

O Barão Helmes e a Baronesa estavam transando loucamente quando ele sofreu um infarto. Prontamente ela recorreu ao vibrador que descansava sobre o criado mudo. Enquanto o Barão morria ela conquistava mais um orgasmo. E mais não houve.

“Jamais me encontro. Sou um perdido crônico.” (Mim)

QUEM JÁ FOI NÃO SENTE O PERFUME

O morto aí está,
Mudo como todo defunto,
Não sentindo mais a vibração da vida em suas veias.
Hoje você trouxe flores para o velório,
Belas flores por sinal,
Mas agora fica uma pergunta:
Quando ele estava entre nós
Você também lhe dava flores?

NADAS

 Somos insignificantes para o universo,
Um nadas diante do todo.
Mas diante de alguns valores da sociedade humana,
Alguns serem se embriagam na fonte da vaidade,
E vão construindo pela vida castelos de areia
Que se desmancham com o sopro da morte.

O MORDOMO OTO

O mordomo Oto amava o amo,
Amava a ama também,
E na separação dos amos
Ficou o Oto sem um vintém.

JÁ PENSOU?

Acordar pela manhã
E estar livre para ir e vir,
Levantar-se da cama
E carregar dentro de si a alegria da esperança de dias melhores.
Caminhar pelas ruas e poder falar mal e contar anedotas sobre o governo sem correr o risco de ser preso.
Um cubano não pode,
Mas você ainda pode,
Portanto não permita que  comunistas
Destruam nossos sonhos.

NÓS E OS ALGORITMOS por Maria Lucia Victor Barbosa. Artigo publicado em 24.02.2017

Na sua magistral obra, Homo Deus, Yuval Noah Harari trata de temas extremamente complexos e instigantes de forma compreensível ao senso comum. Entre outros assuntos ele mostra com clareza o que é um algoritmo, termo que vai entrando na moda, mas que é pouco entendido pela maioria:
“Um algoritmo é um conjunto metódico de passos que pode ser usado para realização de cálculos, na resolução de problemas e na tomada de decisões”. Como exemplo simples de algoritmo ele dá uma receita de sopa em que os “passos metódicos” são os ingredientes usados para fazer o alimento.
Acrescenta o autor do best-seller que já vendeu mais de dois milhões no mundo, “que os algoritmos que controlam os humanos funcionam mediante sensações, emoções e desejos”, justamente o ponto que desejo abordar nesse pequeno e modesto texto. Isto porquê, se a tecnologia é algo extraordinário, dependendo do uso que se faz dela pode ser usada não para o bem e sim para o mal como tudo que é humano.
Um dos usos perigosos é o aperfeiçoamento da manipulação, que sempre existiu, mas que agora é elaborada por técnicas cada vez mais avançadas. Sem perceber a maioria obedece aos interesses de governos, de partidos políticos, da mídia, do marketing, do mercado, da opinião pública, de outras entidades ou grupos. Isso se faz através de passos metódicos baseados em algoritmos que manipulam sensações, emoções e desejos.
A mídia, conforme, Jorge Moreira, tem o “setting, um tipo de efeito social que compreende a seleção, disposição e incidência de notícias sobre temas que o público falará e discutirá. “A agenda é pautada por diversas conveniências do governo e da necessidade de verba de publicidade dos meios de comunicação”. “O que um canal de TV, um jornal ou uma revista postam, todos seus concorrentes seguirão a pauta”.
Como exemplo concreto relembro que o uso da mídia e do marketing foi largamente usado pelo governo petista, muito além de outros governos. Desse modo, Lula se tornou intocável, inimputável, sempre encaixado no papel de vítima. Criticá-lo era sacrilégio, crime de lesa-majestade, algo politicamente incorreto.
Eleito presidente da República na quarta tentativa, foi reeleito malgrado o escândalo do mensalão e, para provar que detinha quase a maioria do povo elegeu e reelegeu sua sucessora, uma façanha política e tanto.
O PT, que se disse puro, ideológico, capaz de mudar o que os outros partidos faziam de errado, continuou elegendo correligionários apesar de ter institucionalizou a corrupção. Os petistas haviam finalmente encontrado um bom marqueteiro que fazia a mágica.
Entretanto, uma das características da vida e das sociedades é o dinamismo e por um processo ligado a uma série de fatores mudanças acontecem mesmo em sistemas autoritários e totalitários. Nas democracias a insatisfação popular manifesta livremente é um dos fatores de mudança e nenhum governo resiste quando a economia vai mal.
Os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil na pior recessão da nossa história. Como consequência aconteceu o impeachment na esteira da insatisfação popular. Atentos às suas necessidades de votos, parlamentares foram sensíveis à reivindicação de milhões de brasileiros que nas maiores manifestações já havidas no País foram às ruas pedir a saída de Rousseff.
O pior governo que o Brasil já teve esboroou com estrondo. Em vão o PT tentou chamar de golpe o que na verdade era resultado do inconformismo popular com o desemprego, a inflação, a inadimplência. Nas eleições municipais veio outro troco dos brasileiros: o PT perdeu 60% de suas prefeituras e Lula viu minguar seu prestigio.
Diante disto, lideranças petistas agora fazem cálculos para recuperar o enorme poder que já desfrutaram, mas sabem que só podem resgatá-lo mediante a volta à presidência da República do seu único candidato viável, Lula da Silva, em que pese este ser cinco vezes réu.
Apropriadamente surgiu uma pesquisa benfazeja mostrando Lula em primeiro lugar. Pesquisas podem funcionar como marketing, pois pessoas costumam votar em quem está no topo das escolhas para também sentirem vencedoras. O PT sabe disso e tem esperança de que seu líder volte a ser amado enquanto dirige o foco do ódio, que tão bem sabem manejar, para outras figuras como Temer, Alexandre de Moraes, a Polícia e até Trump, presidente dos Estados Unidos do qual não se deixa de falar mal um dia sequer.
Lula sabe instintivamente manipular sensações, emoções e desejos. Em 2018 tudo vai depender das circunstâncias, mas é bom lembrar do que escreveu Nicolau Maquiavel, em 1513, na sua eterna obra, O Príncipe: “Os homens são tão pouco argutos e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar”.
*  Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, autora entre outros livros do “O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a ética a malandragem” e “América Latina – em busca do paraíso perdido”.
mlucia@sercomtel.com.br

“Diante da imensidão do universo somos acáros.” (Mim)

BOTÃO NO POÇO

Hawkshead, Inglaterra, 1945. A pequena Carol (6) olha pela janela observando o poço. Ouviu dizer que se jogar uma moeda no poço e fazer um pedido ele se realiza. Carol não tem moeda. Será que um botão serve? Ela caminha até a borda do poço e joga o botão pego nas costuras da mãe na abertura do buraco, fecha os olhos e faz um pedido. Ao abrir os olhos vê seu amado pai descendo a colina voltando da guerra.

O OUTRO LADO DO INDEPENDENCE DAY

Ted já embriagado foi para fora do bar dar um tempo. Nisso olhou para o céu e viu uma espaçonave enorme cobrindo a cidade. Voltou para dentro da balbúrdia e falou para o barman: A conta, por favor! Estou tendo alucinações, estou parando de beber agora!

O REINO DAS LESMAS

Naquele tempo as lesmas dominavam o mundo. O homem estava extinto e somente seres rastejantes habitavam o planeta. Elas escravizaram os besouros e fizeram deles seu meio de transporte. As lesmas ricas tinham suas próprias plantações de alface e de outras guloseimas verdes. Os gastrópodes alcançarem um patamar na escala social nunca visto na história da humanidade, seguidas de perto pelas taturanas venenosas. Viviam numa fartura nunca vista e riam da vida miserável que levavam escorpiões, cobras e aranhas. Porém nem tudo é perfeito e no centésimo ano do reinado dos moluscos Stylommatophora a desgraça atacou a todos. Naquela tarde primeiramente o céu ficou vermelho, depois nuvens verdes e roxas cobriram o firmamento. Finalmente uma chuva de sal que durou dez dias pôs fim ao império das repugnantes.

GREVISTAS DO FUTURO

Ano de 2213, greve geral dos funcionários de todos os bancos de sangue do país. Uma classe que já tinha muitas mordomias e queria mais, ou seja, farinha pouca meu pirão primeiro. Vampiros humanizados morrendo de fome. O Presidente Drácula ordenou que os funcionários grevistas fossem mordidos e transformados. Assim feito não deu outra: acabou a greve. Como diria Brizola: “não era mais do intéresse da classe manter a greve.”

TRASTE

“Não sou belo por dentro e nem por fora, pois nasci assim, um traste completo.” (Climério)

O SUGADOR

“O tal Deus esteve grudado em mim por muitos anos como um carrapato. Sugou tempo e racionalidade.” (Pócrates)