quarta-feira, 11 de abril de 2018


"A alma do homem, ao contrário do que diz Oscar Wilde, não é socialista."
Paulo Francis

"A vida é muito mais variada, anárquica e imprevisível do que sonham os ideólogos."
Paulo Francis

SAUDADE DE MAMÃE


Meu pai sempre me quis na linha e minha mãe sempre falou para eu estudar e trabalhar, ser um menino do bem, porém eu fui atrás do ganho fácil e aqui estou dentro dessa cela num ambiente hostil, dormindo quase dentro de uma privada com ratos pulgas e baratas na cama e arriscando tomar um golpe de estilete além das surras.  Isso não é vida é um inferno em terra e lamento e choro a falta da boa comida, de lençóis limpos e banho quente, carinho e amor, tudo o que eu tinha e desprezei achando que era muito pouco, queria andar de carrão, roupas de grife muitas mulheres ao meu lado, tudo isso sem esforço e disciplina, só na base do pó.  E o que ganhei foi ficar anos aqui chaveado e entreverado com a bandidagem de primeira linha e ficar até feliz que ninguém ainda quis pegar a minha bunda.  Todos os dias chega gente nova, um pior que o outro, não dá para encarar sem correr risco. Espero os anos voem para que possa sair daqui.

O PAI DA CRIANÇA


Médico e enfermeira na sala de parto. A parturiente sofria, Romualdo, o pai, que nunca fora um marido exemplar andava de um lado para outro sem parar. Olhava à mulher e o relógio, tinha a impressão que o tempo tinha parado, suava de nervoso. Pediu licença e saiu da sala para fumar, mas não ficou nisso. Correu ao estacionamento e roubou o automóvel do médico que cuidava do parto, automóvel este que usou para fugir com seu amante, que era o marido da enfermeira. Foram vistos pela última vez curtindo praia em Porto Seguro.

PACIÊNCIA ESGOTADA


Dentro do supermercado um menino de aproximadamente cinco anos esperneava, gritava e chorava em altos brados sob o olhar complacente da mãe. Já havia ingerido algumas guloseimas e estragados outras, mas não estava satisfeito. A mãe dizia algumas palavras mornas e o pestinha só fazia espernear ainda mais. Alguns clientes já estavam ficando incomodados outros agoniados com a falta de atitude de quem deveria zelar pelo pequeno. Os minutos transcorriam em balbúrdia e irritação. Nisso veio pelo corredor um senhor bem idoso, vestido de maneira simples, tirou o cinto e deu três pegadas firmes nas pernas do moleque que aí sim berrou com vontade. Foi para cima da mãe do garoto e mandou o cinto no lombo dela por mais de oito vezes. O idoso era bem forte, ela ficou imobilizada. Ninguém interveio. Vendo a mãe apanhar o menino parou de chorar e começou a rir. O idoso pensou consigo: “deve ser coisa da educação moderna.” Saiu do estabelecimento aplaudido.


ALFREDO E OFÉLIA


Alfredo bom de bico, manco e dependendo da previdência social arranjou uma amante na mesma rua em que morava. Ofélia era o seu nome.  O marido saía para o trabalho, cama ainda quente lá pousava o manco Alfredo. A mulher nada via, pois também saía para trabalhar na maior santa inocência. Idas e vindas o marido foi apresentado ao chifrado como primo mui querido de longa data não visto. Não demorou o pobre corno comprou um automóvel mesmo não tendo habilitação, então foi o Alfredo que era habilitado colocado como motorista da patroa para compras e passeios. Nos finais de semana pescava com o marido, além de levar o casal para festas e outras atividades sociais. Apresentou Ofélia para sua esposa como prima de tal; amigas ficaram para visitas semanais, anedotas, rezas e salgadinhos. Grande família.   O marido não desconfiava de nada, tinha o falso primo da esposa no maior conceito e os amantes gozavam de uma felicidade radiosa.  Mas como nada é para sempre um dia Ofélia engravidou e a casa caiu.  O marido era estéril. Foi o fim do reinado naquela casa de Alfredo, o manco. A mulher o abandonou quando soube e como o marido traído queria fazer um pandeiro do seu couro liso, fugiu para outra cidade. De Ofélia se soube que perdeu a criança e que hoje trabalha numa esquina de má fama.

REUNIÃO DE LENDAS



Casa de aroeira dentro da mata, fogo de chão, coral de insetos, corujas guardiãs, reunião das ditas lendas brasileiras. Comandando estava o Saci-Pererê, ladeado pela Mula-Sem-Cabeça. Presentes o Bicho-Papão; Curupira; Boitatá; Lobisomem e a bela sereia Iara. Conversa vai, conversa vem, comes e bebes. De repente ouviram alguém batendo:

-Toc! Toc! Quero entrar!
-Quem é?-perguntou o Saci-Pererê.
-É o Sapo Barbudo Honesto. Desejo participar da reunião. Vim de longe, eu também sou uma lenda, tenho direito.

Saci fez sinal com os olhos para os companheiros que assentiram. O Sapo Barbudo Honesto entrou na casa para fazer parte com todos os méritos das lendas brasileiras.


MATILDE


Mesa de bar. A fumaça dos cigarros deixa o ambiente sombrio. Baralho, tagarelas em ação, a língua se solta. Envolvido pela embriaguez o verme abre sua caixa de segredos para companheiros de aguardente. Conta à história da esposa Matilde que há anos foi embora, mas que na verdade não foi, tranco na cabeça, jaz enterrada num lugar ermo. Todos riem, acham brincadeira, mas um deles leva a sério. No dia seguinte ele conta o segredo para um amigo, que também tem um amigo policial e antes da seis da tarde o crápula já estava encarcerado contando tudo. Oito anos se passaram do fato, os timbós verdejantes balançam ao vento, máquinas em ação, cavouca aqui e ali, então quase desaparece o timbozal, tantos buracos na paisagem. Uma multidão acompanha e aguarda. No segundo dia surgem ossos, um vestido vermelho e uma sandália de couro cru. Matilde ali posta, Matilde morta, Matilde agora ossos e pó finalmente terá sua justiça.

ASSUSTADOR


Brasilino Almeida caminhava distraído por uma rua escura quando se abriu um buraco no chão e ele caiu diretamente no canal do esgoto. Um fedor dos diabos, escuridão total e guinchar de ratos. Ouviu vozes então gritou “Quem está aí?” A resposta: “Não fique assustado, é o PT.” Como não? Brasilino assustou-se sim e caiu seco.

DONA MAYSA


Chico Melancia ouviu falar que Dona Maysa tinha mãos mágicas, curava enfermidades, inclusive psicológicas. A consulta era trinta reais, uma pechincha para quem sofria, pois diziam pelas ruas que era cura na certa. Chico não tinha problemas de saúde, e os familiares estranharam quando ele pediu à irmã que obtivesse uma vaga para ele. No dia e hora aprazado o cliente entrou na sala da quase santa e foi direto com ela: “Dona Maysa, paguei a consulta, porém não tenho nada, meu problema é dinheiro”.  Então sacou do bolso um volante da mega e pediu para ela marcar os seis números.


PRECOCIDADE


Precocidade é isso. João Carlos de dez anos chegou da escola, jogou a mochila no sofá e disse aos pais: Tenho um segredo para contar! Os pais olhando um para o outro: Conte-nos! Então disse: sou casado faz um bom tempo. Os pais riram e não deram importância e tudo ficou por isso. No dia seguinte ele chegou da escola trazendo a mulher e dois filhos.

“Minha sogra adora me dar cordas de presente. Algumas até coloridas e já pronto o nó dos enforcados.” (Climério)


“As religiões não passam de clubes de hipócritas.” (Mim)

MESTRE YOKI



“Mestre, quando o Brasil estava literalmente voando com Lula o senhor pensava em quê?”
“Em comprar um paraquedas.”

MESTRE YOKI, O BREVE


-Mestre, qual o melhor remédio para o Brasil atual?
-Creio que um purgante. Tem muita coisa ruim para expelir.

NOTÍCIAS VIAJAM


“Não conheço o Brasil. Mas fiquei sabendo que lá tiveram uma anta presidente.” (Leão Bob)

NÃO SELETIVOS


“Nós leões não somos seletivos quanto a religiosos. Comemos também muçulmanos com grande prazer.” (Leão Bob)

LEÃO EVANGÉLICO


“Tenho um irmão que agora é evangélico. Antes de devorar qualquer animal ele faz uma oração.” (Leão Bob)

CARNE RUIM


“Mandem o Lula aqui pra savana que eu darei um jeito nele.  Estou acostumado com carne ruim.” (Leão Bob)