domingo, 16 de outubro de 2016

Os sabotadores



Autor- Carlos José Marques




A qualquer cidadão parece elementar o controle de gastos como forma de fazer caber seus compromissos no orçamento mês a mês. Isso vale para as despesas domésticas. Isso vale para as despesas de um País. Mas existe uma casta especial de políticos que não pensa assim. Muitos deles se habituaram nos últimos tempos a locupletar-se do poder. Praticaram o populismo barato enquanto desviavam gordas somas aos cofres do partido e ao próprio bolso. Inventaram o que foi batizado de “contabilidade criativa” e quebraram a economia. Deram ao dinheiro público ares de recurso infinito como se bastasse girar a maquininha para ele aparecer. Passaram a viver no mundo da fantasia, bancando farras estatais, distribuindo concessões, desembolsando sem planejamento. Queriam liberdade para usar a verba do Estado ao bel-prazer. 

De acordo com as conveniências e interesses. E para tanto o orçamento não poderia viver no cabresto. A presidente deposta, Dilma Rousseff, pregava que o gasto público não devia ter limites. Abusou da crença e foi ao extremo da irresponsabilidade praticando as criminosas pedaladas fiscais que levaram ao seu impeachment. Nem precisa relembrar o desastre decorrente de tamanha insensatez. Doze milhões de desempregados, recessão aguda e inflação fora de controle falam por si. No período em que o PT manteve-se no poder a despesa federal aumentou ao ritmo de 6,2% ao ano acima da inflação e deu no que deu. Todos estão pagando o pato. Nem as constantes remarcações de impostos, mordendo cada vez mais o contribuinte, resolveram. 

Para conter a escalada e a voracidade dessa prática é que o presidente Michel Temer enviou ao Congresso a chamada PEC 241, que estabelece um teto às despesas da União. E faz isso de maneira elementar: fixa uma espécie de congelamento dos gastos públicos, a serem corrigidos apenas pela inflação de um ano ao outro. O regime deve valer pelas próximas duas décadas. Quem poderia se opor a tal disciplina?Naturalmente, como era de se esperar, arrivistas da pior espécie, sabugos do poder que lograram êxito em quebrar o País, órfãos das mamatas e distintos participantes de alianças fisiológicas logo se posicionaram contra. 

Teve ainda um bloco corporativista da pesada no time de sabotadores da PEC. Integrantes de movimentos sociais, políticos de oposição e instituições que não querem perder seus privilégios partiram ao ataque. Vários estavam dispostos a sabotar qualquer medida de rearrumação do estrago deixado lá atrás. Petistas que historicamente foram contra a assembleia constituinte, contra o plano real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e contra qualquer avanço de interesse nacional lideraram o movimento. Não por questões ideológicas. Pelo simples prazer de ver o circo pegar fogo. Junto com o PC do B, a agremiação de Lula & Cia. foi ao Supremo para tentar suspender a tramitação da proposta. 

Em vão. O ministro Luis Roberto Barroso rejeitou de maneira peremptória as alegações do recurso. Disse que “responsabilidade fiscal é fundamento das economias saudáveis” e concluiu apontando que não há qualquer violação à separação de poderes, como pregavam os autores da ação. Em movimento paralelo, a Procuradoria-Geral da República havia sustentado justamente essa tese para alegar a inconstitucionalidade da PEC. Coube a outro ministro do Supremo, Gilmar Mendes, rechaçar a hipótese. Ele disse não saber qualificar “o absurdo dessa divagação do Ministério Público”. O Governo ainda respondeu energicamente, afirmando que a matéria não traz tratamento discriminatório e não ofende a autonomia dos poderes. 

O debate alcançou o estágio de delírio quando petistas passaram a vender então a falsa alegação de que a PEC traria corte nos investimentos em educação e saúde. O novo regime, ao contrário, protege e garante um piso mínimo para desembolsos nessas áreas. No Congresso o vale-tudo mostrou até onde essa turma é capaz de ir para atingir seu intento. Além de PT e PC do B, deputados do PSOL e Rede buscaram obstruir a pauta na plenária da Câmara no dia da votação da PEC. Não conseguiram. A força aliada do Governo aplicou uma surra com 366 votos a favor da medida e impôs uma nova relação de poder – sem toma lá da cá, sustentada no programa “Ponte para o Futuro”. Novos capítulos de votação estão previstos e planos de resistência são armados. 

A senadora Gleisi Hoffmann, que virou ré em processo, quer atrasar mais uma vez a edição do teto de gastos exigindo que ele passe por uma comissão presidida por ela. A pergunta que fica é por que esses parlamentares, em nome do dever cívico, não caem em si sobre a urgência necessária ao projeto. Não existem alternativas fora do teto aos gastos públicos depois da farra desmedida. O caixa quebrou e está na hora de perceberem isso, pelo bem geral da Nação.

Foto: Givaldo Barbosa/Ag. O Globo

THE SANANDUVA POST- A Embrapa também eles fizeram cráu!

O PT não se contentou em quebrar a Petrobras e a Eletrobras durante os governos Lula e Dilma. Esfacelou também a Embrapa, referência em pesquisas agropecuárias. E, pior: o partido continua administrando a estatal.A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) sempre foi considerada uma ilha de excelência técnica. Depois de mais de 13 anos sob administrações petistas, transformou-se em mais uma estatal que o PT teve a proeza de desmantelar. E essa não é a única má notícia para os que zelam pela aplicação correta dos recursos públicos. A ascensão de Michel Temer à Presidência não impediu que os petistas permanecessem até hoje no comando dos postos-chave da estatal. Ou seja, o horizonte é ainda mais nebuloso. Documentos obtidos por ISTOÉ retratam um cenário caótico. Desde dívidas tributárias milionárias, devido a uma péssima administração, a denúncias graves por desvios de recursos. A unidade da Embrapa em Brasília, por exemplo, até hoje paga parcelas de uma multa milionária por descumprir a legislação tributária. Uma auditoria interna do órgão também apontou que o dinheiro obtido com a venda das safras de milho cultivadas anualmente simplesmente tem desaparecido. O desfalque pode chegar a quase R$ 6 milhões.

Leia mais...stoe.com.br/destruicao-do-ultimo-reduto-petista/

“O álcool só é amigo dele mesmo.” (Filosofeno)

GAZETA DO IMPÉRIO DO EU NÃO SABIA DE NADA- 18 ministros da era petista são investigados

“Sou ateu. Se acreditasse numa outra vida jamais comeria gazelas, deixaria para comê-las depois, no paraíso.” (Leão Bob)

“A maioria dos leões são católicos. Já as hienas são evangélicas. Dá para perceber pelo barulho que fazem.” (Leão Bob)

“Tenho pena de algumas mulheres pelos maridos que têm. Começando pela minha.” (Climério)

Noite. Uma rua solitária na periferia. Um gato malhado salta entre os telhados enquanto cães ladram ao vento. O excesso de lixo saltou para fora das latas e escorreu pelo chão de terra. Baratas passeiam fugindo dos pés dos meninos que brincam de bola na via. Mães e irmãs mais velhas chamam para dentro os garotos de pés encardidos. É hora do banho e do jantar. Crianças recolhidas, já é tarde, agora chegam automóveis com ocupantes que procuram nas esquinas pelos empresários do pó. A lua e as estrelas observam o movimento. Dinheiro para cá, pó para lá. Negócio feito lá e vão os loucos em busca de alucinações, enquanto os empresários da farinha perigosa contam as notas. O inferno para ambos os lados é logo ali.

A VISITA DO FANTASMA

Faz vinte anos que sou um fantasma. Hoje resolvi visitar meu túmulo, matar saudade da última morada do velho corpo. Encontrei vasos quebrados e intacto ainda um vidro de Nescafé que outrora carregava flores. O reboco se deteriora, porém ainda se lê ‘Ana esteve aqui’, isso escrito com carvão. Não sei quem é Ana, talvez uma que namorou sobre o meu túmulo. Gramíneas e outras ervas nascem ao redor, uma borboleta amarela pousa e sai rapidamente, pois formigas não dão folga. As letras de bronze que diziam quem eu era foram roubadas. Bem, a verdade é que há anos não recebo visita. Não adianta reclamar do abandono, assim é, o tempo passa, todos morrem e chega o dia em que somos completamente esquecidos.

EDNO E JARBAS

Dois irmãos, Jarbas e Edno. Jarbas colocou uma escada na parede e subiu no telhado. Lá ficou dançando por horas, por vezes numa perna só. Jarbas é louco. Edno tomou todas, pegou seu automóvel e saiu em disparada. Encontrou uma árvore no caminho e se arrebentou todo. Edno é burro.

Tiro livre, direto. Coluna Carlos Brickmann

Antes da era dos mísseis teleguiados, os combates marítimos obedeciam a uma fórmula consagrada: primeiro, os tiros eram disparados aos quatro lados do inimigo (enquadramento do alvo), e as colunas d’água levantadas pelos projéteis indicavam o movimento do mar e orientavam a mira. Davam também ao inimigo a chance de se render. O tiro seguinte era direto ao alvo, para afundá-lo ou pelo menos reduzir sua capacidade de combate.

É assim que a Justiça se aproxima de Lula: enquadrando o alvo.

1- Na quinta-feira, Lula se tornou réu pela terceira vez, agora em Brasília. Acusações: tráfico de influência, organização criminosa (mais grave que a antiga formação de quadrilha), lavagem de dinheiro e corrupção passiva nos negócios financiados pelo BNDES em Angola.

2 - No mesmo dia, a Receita suspendeu a isenção tributária de 2011 do Instituto Lula por desvio de finalidade: o Instituto pagou despesas de Lula e de sua esposa. Isso quer dizer que a entidade está sujeita a pagar os impostos de que era isenta, corrigidos, mais multa de uns R$ 2 milhões.

3 - Lula é réu duas vezes em Curitiba: por corrupção e lavagem de dinheiro no apartamento do Guarujá e por tentar atrapalhar as investigações sobre a Petrobras. Nos dois casos deve ser julgado por Sérgio Moro.

Se sofrer duas condenações, Lula não poderá se candidatar em 2018. Se for condenado num caso, e o recurso for rejeitado, vai para a prisão.


Do palácio à cadeia

Crime pelo qual foi condenado o senador Gim Argello: vender proteção na CPI da Petrobras (entre os compradores, confessos, os empreiteiros Léo Pinheiro, da OAS, e Ricardo Pessoa, da UTC). Pena determinada pelo juiz Sérgio Moro: 19 anos de prisão.

Curiosa figura, Gim Argello. Rico, tornou-se suplente do candidato Joaquim Roriz. Foi morar na Península dos Ministérios. Acordava cedo, vestia o agasalho e só saía quando a ministra-chefa da Casa Civil, Dilma Rousseff, iniciava sua caminhada. Por acaso, seus caminhos se cruzavam todos os dias. Caminhavam juntos, ficaram amigos, Dilma o ouvia. Quando Joaquim Roriz renunciou, o suplente Gim já assumiu como político poderoso. Subiu rápido, caiu rápido: as delações premiadas o jogaram no olho do furacão. Em 12 de abril foi preso. E agora, sabe-se lá quando sai.


Preso fica preso

A mudança está sendo pensada pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, a pedido do presidente Michel Temer: endurecer o cumprimento de penas de prisão. Hoje, um condenado pode ser solto depois de cumprir 1/6 da pena - o que significa que um condenado a 5 anos pode ficar livre após onze meses. A ideia é aumentar o tempo mínimo de prisão para metade da pena. E seria ótimo reestudar as "saidinhas", libertação de presos por um período curto. Algo como a autorização de saída de Suzanne von Richthofen para o Dia dos Pais: ela foi condenada por matar pai e mãe.


Nova força

O encontro entre Michel Temer e Fernando Henrique teve outros temas além de amenidades. Ambos começaram a conversar sobre uma aliança eleitoral entre PMDB e PSDB - nas condições atuais, uma composição imbatível. Mas não é simples: há rivalidades estaduais, haverá guerras por posições no partido. A disputa entre Renan Calheiros e Eduardo Cunha por pouco não impediu o impeachment. O PSDB já tem três candidatos à Presidência da República, os três de sempre, os três inconciliáveis. E. só para dar uma ideia do clima entre os tucanos, a vitória na maior cidade do país, no primeiro turno, gerou mais divergências do que festas.


Força crescente

Aos poucos, cresce a aprovação do presidente Michel Temer. Entre agosto 921%) e setembro (30%), a alta foi de nove pontos percentuais. A rejeição a Temer caiu no mesmo ritmo: de 68% em agosto para 60% em setembro. A pesquisa foi realizada pela Ipsos entre 6 e 16 de setembro, em todo o país. Temer tem muito a crescer: primeiro, porque obteve uma grande vitória política num tema complexo, a imposição de um teto ás despesas do Governo; segundo, porque ainda é pouco conhecido pela população; terceiro, porque está tratando agora de temas controversos, em que a população é majoritariamente contrária, mas metade dos entrevistados nunca ouviu falar de reforma da Previdência nem das leis trabalhistas.

Trata-se, portanto, de uma batalha de comunicação - e quem tem verbas mais abundantes para o, digamos, trabalho de convencimento?


Bob Nobel

Robert Zimmerman, ou Bob Dylan, esplêndido músico americano (Blowing in the Wind, Like a rolling stone), ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. E ainda bem que ainda desta vez o premiado não foi brasileiro.

Diante do que mostrou a Lava Jato, nosso Nobel seria Safadão.

O MELHOR DA LÍNGUA PORTUGUESA 2

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A GAZETA DO AVESSO- Contrapondo o Papa, Lúcifer entroniza no inferno da AMESUL o primeiro capeta genuinamente argentino.

“Estou beirando os oitenta. Minhas paixões agora são os analgésicos.” (Nono Ambrósio)

“De sexo a Nona não quer saber faz tempo. Tenho comigo uma caixa de preservativos adquirida em 1986.” (Nono Ambrósio)

“É bem mais fácil enumerar os males dos quais não sofro que fazer uma listagem daqueles que me afligem.” (Nono Ambrósio)

Não, não sou descendente de italianos! Mas já beijei algumas italianas e comi muita polenta!

Maledeto!

“Pórco can! Sonhei com pedras de diamantes e acordei com pedras nos rins.” (Nono Ambrósio)

“O tédio é um articulador de bobagens.” (Pócrates)

“Casei-me com uma mulher feia para não ter incômodos. Pois não adiantou, tornei-me um alce.” (Pócrates)

ATO ECONÔMICO

“A masturbação é acima de tudo um ato econômico.” (Pócrates)

ROCAMBOLE SOCIALISTA- Poder de compra dos brasileiros cai 9% em dois anos e volta ao nível de 2011

O MELHOR DA LÍNGUA PORTUGUESA

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A CABEÇA

Perdi a minha cabeça
Infelizmente não para uma louca paixão
Nem por insanidade
Ainda fosse numa discussão na taverna
Porém nada disso aconteceu
Perdi a minha cabeça
No fio de uma guilhotina fria
Numa tarde de sombras
E agora parto
Dentro de um cesto
Solitária sem meu corpo.

SPONHOLZ


VELHOS

“Nem todos os velhos aprenderam algo de bom com a experiência de vida. Muitos merecem até ganhar o Nobel da Estupidez Extrema.” (Mim)

BIFES

“Em alguns restaurantes servem bifes que só Wolverine conseguiria cortar. Devem ser de bois da Arca.”(Mim)

ESCALDADO

“Gato escaldado tem medo até de uísque com gelo.” (Mim)

Os governos brasileiros não copiam os bons governos mundo afora. Mas há uma tara crônica em copiar os falidos.

MESTRE YOKI, O BREVE

“Mestre, qual o grande legado socialismo à humanidade?”
“Defuntos.”

MESTRE YOKI, O BREVE

-Mestre, por que a pipoca estoura?
- Para não viver uma vida inteira como milho.

Em novo livro, Tostão revê passado e discute futuro

tostao-livro



Da FOLHA

Por NAIEF HADDAD

RESUMO

Campeão na Copa de 1970 e médico, Tostão, 69, lança o livro “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos”, em que combina reflexões sobre o futebol brasileiro e memórias de sua carreira nos campos e nos hospitais. O colunista da Folha cita autores que admira e comenta o ofício de escrever, que considera um artesanato.

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A sala do apartamento de Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, em Lourdes, bairro de classe média alta de Belo Horizonte, revela mais sobre o seu dono pelo que não mostra.

Maior jogador da história do Cruzeiro, Tostão foi titular da seleção no Mundial de 1970, naquela que é tida por muitos admiradores do futebol como a mais brilhante equipe a disputar uma Copa.

Na sala de estar, logo na entrada do apartamento, ao contrário do que seria previsível, não há troféus, medalhas, molduras com camisetas de times. As paredes não expõem sinais dos cinco títulos mineiros consecutivos (1965 a 1969).

Tostão correu os campos por um período curto, que vai de 1963, aos 16 anos, a 1973, quando abandonou o futebol devido a um novo descolamento da retina esquerda –tivera a lesão pela primeira vez em 1969.

A partir de 1973, afastou-se do esporte para estudar medicina, atividade que desempenhou por mais de duas décadas. Tornou-se clínico geral e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte.

Na sala do apartamento, tampouco há diplomas de medicina.

O ambiente é elegante e sóbrio, com telas do pintor mineiro Carlos Bracher, 74, que se aproximam do expressionismo.

No cômodo vizinho, outra sala se divide em duas partes. De um lado, a mesa de jantar; do outro, o sofá e o aparelho de TV.

Nos dias com rodada, Tostão acompanha, com prazer de menino, até três jogos. Quando a entrevista foi feita, na quinta, 6 de outubro, no fim da tarde, ele assistia à primeira partida do dia, um Itália x Espanha válido pelas eliminatórias europeias para a Copa de 2018. O jogo acabou em 1 a 1.

No mesmo dia, ainda viu a vitória do Equador sobre o Chile por 3 a 0 e a goleada do Brasil sobre a Bolívia por 5 a 0, ambas pelas eliminatórias da América do Sul.

No intervalo de Itália e Espanha, pergunto a ele quem gostaria de ser no futebol, não fosse Tostão.

Pensa por alguns segundos. “Cruyff”, afirma. E solta uma risada, como se a simples menção a Johan Cruyff (1947-2016) já lhe trouxesse satisfação.

Trechos do recém-lançado livro de Tostão, “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos – Um Olhar sobre o Futebol” [Companhia das Letras, 200 págs., R$ 39,90], são dedicados ao holandês. “Cruyff, que teoricamente era centroavante, estava em todas as partes do campo. Foi um dos jogadores mais inteligentes da história do futebol e, depois, um excepcional técnico e crítico.”

E quem ele gostaria de ser fora do esporte? “Dom Quixote. É um dos livros mais marcantes da minha vida. O filme também é espetacular, já vi umas dez vezes.”

Ele se levanta do sofá e começa a busca pelo DVD nas gavetas sob a TV, enquanto tenta lembrar o nome do protagonista. “É com aquele ator compridão, que fez ‘Lawrence da Arábia’. Só podia ser ele, figura alta, esguia.”

Alguns segundos depois, lembra-se do nome, Peter O’Toole, e encontra o DVD de “O Homem de la Mancha”, filme de 1972 inspirado no livro de Miguel de Cervantes e dirigido por Arthur Hiller.

APELIDO

Com 1,88 m, O’Toole não era tão alto assim, e Tostão, com 1,71 m, não é exatamente um homem baixo, como o apelido pode sugerir. Logo no início do livro, ele lembra que passaram a chamá-lo desse modo quando tinha sete anos e jogava com meninos de idades entre 10 e 14 em um campo no bairro Lagoinha, na capital mineira.

Patrono do time de moleques, seu pai, Oswaldo Andrade, comprava bananas e distribuía aos meninos durante o intervalo.

Figura raríssima nas colunas que Tostão escreve para a Folha e outros jornais, seu pai surge em diversos momentos da obra.

Bancário de poucas palavras, Oswaldo foi de Belo Horizonte a Caxambu, no interior do Estado, para acompanhar um amistoso entre a seleção brasileira e o Cruzeiro, em 1966. Na primeira convocação, seu filho enfrentou justamente o time pelo qual se consagrara.

“Ele queria me ver e conhecer Pelé, que brincou muito com ele. Meu pai, emocionado, pediu um autógrafo e chorou. Não é todo dia que um súdito conversa com o rei”, escreve.

“Tempos Vividos” pode parecer um apanhado de memórias à primeira vista. Classificá-lo, contudo, não é simples assim. É como se Tostão se dividisse em ao menos três autores, cada um deles em busca da verdade ao seu modo.

Vem à tona o memorialista, aparece o escritor que enfeixa episódios em contexto histórico e há ainda o analista, conhecido pelas colunas.

É esse último que apresenta a melhor reflexão já publicada no Brasil sobre o declínio do futebol do país, cujo ponto mais severo foi o 7 a 1 na Copa de 2014. Ele examina o empobrecimento do meio de campo nas últimas duas décadas, entre outros fatores.

Mas é o primeiro, o autor das memórias, que expõe as melhores surpresas ao leitor. Pela primeira vez, Tostão conta que, por muito pouco, não trocou o Cruzeiro pelo Milan, da Itália, em 1971.

Lembra ainda a visita à casa do técnico Vanderlei Luxemburgo para entrevista pela ESPN. “Nunca vi tanta vaidade e breguice.” Recordações curiosas como essa pontuam o livro do começo ao fim.

Os três Tostões se alternam, sem que sejam nomeados, o que não prejudica a leitura, já que a fluência é preservada.

Embora mencione no livro escritores que admira, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Jorge Amado e Fernando Sabino, a literatura deles não o influenciou na construção dessa estrutura –ao menos, não conscientemente.

“Fui misturando. Houve um momento em que me perguntei: isso não está muito anárquico? Depois comecei a gostar”, conta.

Tostão compara o processo de criação do livro ao artesanato. Como nas colunas, escrevia à mão capítulo por capítulo. Depois reescrevia duas, três vezes. Em seguida, enviava os trechos para um jornalista amigo, que os digitava. O trabalho de ourives se estendeu por um ano e meio.

A inaptidão para o uso do computador pode sugerir uma personalidade nostálgica. Não é o que aparenta, contudo, ao comentar sua atividade nos dias de hoje.

“Não sou um ex-atleta que escreve sobre futebol, sou um colunista que foi atleta”, diz. “Vejo ex-jogadores que se tornam técnicos ou comentaristas e ficam presos às lembranças e aos fantasmas da época de atleta.”

Aos 69 anos (completa 70 em janeiro), Tostão conta que foi tomado pela maior dúvida de sua vida no final da década de 1990, quando teve que escolher entre continuar na medicina ou voltar ao futebol, como comentarista de TV.

“Descobri que ainda adorava futebol e que ganharia umas 20 vezes mais do que recebia como professor da Faculdade de Ciências Médicas, em tempo integral. Outra razão era que, por ser muito detalhista e preocupado com tudo o que acontecia na enfermaria em que trabalhava e pela angústia de ver a morte de perto, eu estava mais tenso e com a pressão arterial aumentada”, escreve.

Trabalhou nas TVs Bandeirantes e ESPN, mas se cansou das viagens e da sua própria imagem na tela, “como se fosse invadido em minha privacidade”. Passou, então, a se dedicar só às colunas.

NA ARQUIBANCADA

Corre o jogo entre Itália e Espanha, Tostão critica uma, duas vezes o atacante brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa. Um jogador superestimado, segundo ele. De fato, até que fosse substituído no segundo tempo, o atleta pouco havia feito além de resmungar contra a arbitragem.

Em “Tempos Vividos”, Tostão recorda ex-atletas que, por sua vez, não receberam o reconhecimento merecido.

Um deles é Jairzinho, atacante na Copa de 70. A ênfase é ainda maior em relação a Gérson, também da seleção do tri mundial. “Cruyff, Gérson e Xavi são os três jogadores mais lúcidos e de maior talento coletivo que vi atuar […] Jogavam como se estivessem vendo a partida da arquibancada, com ampla visão do conjunto.”

O empenho em restaurar o prestígio de craques do passado não significa que Tostão aguarde o futuro à espera do pior. Na penúltima página, escreve: “O futebol brasileiro continua doente, mas a doença tem cura. Ele começa a melhorar”.

O texto de Tostão une a frieza das análises cirúrgicas e os sonhos, quixotescos ou não.

Do blog do Paulinho

O FILHO PRÓDIGO

Artur era um menininho levado de oito anos que vivia com seus pais num bairro de classe média alta em São Paulo e que um dia sumiu de casa; polícia, buscas, detetives, nada de encontrá-lo. Apesar da dor a vida seguiu seu rumo, sempre com ele no coração. Dez anos se passaram quando Artur bateu à porta. Bateu com uma marreta, derrubando-a, enquanto seus comparsas realizaram uma limpa geral nas joias e do dinheiro que havia no cofre. Educado, ele ainda deixou um bilhete: “Artur esteve aqui.”