quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

MATUSALÉM

“Não verei um país melhor, não verei. Matusalém foi único.” (Mim)

PERGUNTA QUENTE

O fogo do inferno é mantido com madeira de reflorestamento?
“Será Deus quem paga as despesas operacionais do inferno? Será que o diabo também tem receitas? (Mim)
“Nunca fui de bater em outros. Minha especialidade sempre foi apanhar.” (Mim)
“Deve ser o clima. Como nascem corruptos neste país!” (Mim)
“Sonhar é bom, mas para realizar sonhos é preciso sair da cama.” (Mim)
“A bater nos acostumamos fácil, já o aprendizado na arte de apanhar e bem mais demorado.” (Mim)
“Nada é o que se parece. Nem o nada.” (Mim)
“Quem bate, esquece. Quem apanha, fica com manchas.” (Mim)
“Poder dormir no trabalho e ganhar bem é o emprego dos sonhos. Pena que dura pouco.” (Mim)
“Não dá para ficar só reclamando da vida. Já perdi e também já achei dinheiro.” (Mim)

AS COBRAS

A cobra macho Sspy entrou na casa para curtir uma sombra e deu de cara com uma cobra de areia colorida que cobria o vão inferior da porta. Ainda não muito experiente nas coisas mundanas de amores e agarramentos ficou vidrado na arenosa e não mais saiu de perto até ser morta a pauladas pelo dono da casa que desejava apenas enxotá-la, porém não teve outro jeito. Morreu no piso frio da despensa com os olhinhos cheios de paixão, sabendo da pior maneira possível que toda distração é mortal.

ABUTRES SURPRESOS

Dois abutres armados rondavam por horas as casas no Belvedere. Estacionaram o automóvel e ficaram observando como agiam os proprietários. Quem entrava e quem saía, se descuidado ou não descuidado. Então naquela tarde uma mulher deixou o portão aberto. Os abutres entraram de armas nas mãos. Vasculharam todas as salas, não encontram vivalma. Acharam um pouco estranho, mas seguem em frente. Procuram pelo cofre até encontrá-lo. Um dos gatunos é especialista, em poucos minutos consegue abri-lo. No cofre não encontram joias e nem dinheiro, tampouco documentos importantes. Dentro do cofre há apenas fotos da progenitora dos meliantes dando de mamar para dois marmanjos no corredor de um bordel.

FUMANTE

Breno tinha ojeriza de cigarro. Ninguém podia fumar dentro e nem fora de sua casa, dentro do seu carro ou perto dele, mesmo se estivesse na rua. Na sua empresa não contratava fumantes, não os queria por perto. Caso visse um fumante na mesma calçada, atravessava. Mas o destino às vezes é cruel, pois o mimo de Breno, filha única, seu dengo, sua paixão, filha amada adorada da qual fazia toda e qualquer coisa para agradar, apaixonou-se por um fumante inveterado. Então agora vemos Breno, o detestador de fumantes, no meio da fumaça da sala deixando sempre limpo o cinzeiro do futuro genro e o seu, afinal nada melhor que um cigarrinho para acalmar os nervos.

O INSUPORTÁVEL

Radamés era mesmo insuportável; arrogante, mesquinho, oportunista, mau colega, mau vizinho, péssimo marido e pai. Mas ele demorou em tomar consciência disso, como demorou. Somente quando morreu ficou sabendo quem realmente era, confrontado com a visão que tinha de si no replay da vida. Indignado com o que viu, foi o primeiro a cuspir no defunto e abandonar o próprio velório.

CARÁTER

O lodo pode estar em todo lugar
No salão de mármore e ouro
No áspero chão de fábrica
Ter ou não ter os bolsos cheios
Não altera o caráter do ser.


DA PAZ, PERO NO MUCHO

Brasileiro cordial
País da paz
Foi nisso que acreditou uma pombinha imigrante
Ao vir para o Brasil fugindo da Venezuela
Pois nem bem chegou ao Rio de Janeiro
Recebeu uma bala no peito
Prêmio de um traficante
Que comemorava mais um dia de boas vendas.

CONFRONTO

Podemos fugir por um tempo
Dar desculpas esfarrapadas
Mas do confronto interno
Não há como escapar
Chega o dia
De ouvir o nosso eu
Encarar as nossas falhas
E saber que justificativas talvez possam consolar
Mas não resolverão os nossos problemas.

SOU DAQUELE TEMPO

Sou do tempo das galochas
Das calças de brim Coringa
Também de veludo e cotelê
Da Conga azul com bico de borracha
Das camisas de Volta ao Mundo
Sou do tempo que chamávamos meias de carpim
Dos campinhos de terra
Da bola de borracha
Do chiclete ping-pong
Dos padres de batina
Sou do tempo se chamava motorista de chofer
Em que os rapazes tinham vergonha de pedir preservativo na farmácia
E de quem engravidava moça de família se casava por livre obrigação
Fui menino na época da novela Antônio Maria
Do avião turboélice da Sadia
Da avenida Getúlio coberta de macadame
Sou sim daquele tempo
E confesso que fui um dos muitos meninos
Que tinha medo de tomar vacina de pistola
E que por muito pouco não fugia da escola no dia de vacinação.

NO CORAÇÃO PARA SEMPRE

Naquele dia voltando do enterro
Vi a cadeira de papai vazia
Seu Motorádio desligado
O silêncio ao lado da janela onde ele ficava sem reclamar da cegueira
Sempre contando para quem chegasse notícias novas do dia com um grande prazer
Entendo que a vida é mesmo assim
Existem partidas e chegadas
E só o que resta aos que ficam
É fazer da saudade uma bela lembrança.

DIFÍCIL ENTENDER

Tantas coisas boas
O homem com sua evolução e inteligência construiu
Aprimorou a convivência e a tolerância
E inumeráveis maravilhas mais
Porém ao ler algumas notícias do dia
Daquilo que no mundo atualmente ocorre
Pergunto para meu cão:
Retornamos às trevas?

DEUS E PEDRO

-Pedro, me traga Adão e Eva. Já criei um novo planeta. Vamos tentar de novo, agora sem frutos proibidos, liberdade total.
-Mas senhor...
-Calado! Ou irei transformar você na serpente tentadora!

PREFEITOS, PUTZ!

Assumiram centenas de prefeitos bizarros em 2017, como acontece de quatro em quatro anos.  Deveriam ser mandados para casa já no primeiro dia. Teve um que disse entregar as chaves da cidade para Deus. Melhor entregar mesmo ao capeta, pois esse não cobra dízimo.

BAILE DE MÁSCARAS

“Não há baile de máscaras em Brasília, pois máscara faz parte do uniforme oficial da politicalha nacional.” (Eriatlov)
O povo vota, escolhe e tem os políticos que merece ou somos azarados?

QUEM SOU EU?

Uma pequena luz surgiu e ele começou a ter consciência de si. Perguntas fazia sem ter noção de como aprendeu a fazê-las... Quem sou eu? Que lugar é este? O que estou fazendo aqui? O que é mãe? Onde está a minha mãe? Tenho pai? Quem é o meu pai? Tenho um nome? Qual será o meu nome? Apertado dentro da casa queria sair correndo, mas como correr se não tinha pernas, se estava dominado por cordas? Sentiu um pulsar de um coração, bem próximo, alguém o tirando do sufoco da casa, deixando-o menos apertado e sufocado. Viajou pelo ar e quedou-se dentro de um enorme lugar escuro, de cheiro um pouco azedo e viu que lá existiam outros como ele, mas silenciosos, não faziam qualquer movimento ou barulho. Na escuridão fazia mais perguntas , queria saber...Que cheiro é este? Por que ninguém fala comigo? Deus existe? Por que este lugar é tão abafado? Quem é Madona? Estou desesperado, quero sair daqui! Impostos, o que são impostos? Jesus, cadê Jesus? Serei ateu? Por que tenho quatro furos no peito? As perguntas não cessavam e acabaram irritando um zíper de calça jeans que também estava no mesmo cesto de roupa suja. O zíper foi duro: ‘Cale-se imbecil! Você é apenas um botão de quatro furos que agora raciocina, vivendo sua vidinha miserável numa camisa de flanela xadrez! Basta!’

QUIETO E VIVO

Tirson chegou de madrugada, tomou banho, foi para o quarto e acendeu a luz. Na sua cama ao lado de sua mulher dormia o Zecão Pavoroso com o revólver na mão. Zecão acordou e pediu o que ele queria. Tirson disse que veio ver se ele precisava de algo, talvez um suco ou uma cerveja. Pediu até se ele não queria trocar de travesseiro. O Pavoroso disse que só queria dormir, nada mais. Tirson pegou então um colchonete, apagou a luz e foi dormir no canil do Tupi.

O INVENTOR

Carlotto era inventor. Inventou a lâmpada que não acende, isso para poupar energia. Inventou o ralador que não rala, a maquina de fatiar que não fatia, e o espremedor que não espreme. Também criou a famosa caixa de joias que só se abre por dentro; uma vez fechada, babau! Ontem fez a demonstração da sua última invenção: o ventilador nuclear supersônico. Funcionou. Tanto funcionou que arrancou sua cabeça e derrubou o prédio onde morava. Uma perda lastimável para a ciência nacional. E como.
“Já não consigo mais ler sobre política nacional sem ficar doente dos nervos. É muita sujeira de todos os lados, é muita podridão. Ao invés de melhorar nossos quadros pioram.” (Eriatlov)
“O Brasil é um caso de polícia, literalmente.” (Mim)

SEM ESTRAGO

Não sou exagerado no consumo etílico
Tenho respeito pelo monstro
Pois já o vi dominar inteligências
Destruindo suas vidas
E dessas observações da vivência
Há outra que não me escapa
Que é bom acordar no dia seguinte
Sem ter no corpo o estrago da ressaca.

DIA APÓS DIA

Ando que ando
Trôpego cambaleante
Entusiasmado delirante
A sabedoria do viver
É juntar saber todos os dias
E aos poucos ir preenchendo os vazios
Do notável baú cachola.

AMEDRONTADO

Ainda criança fui amedrontado por demônios
Inoculados na mente pela santa madre igreja
Tendo no medo da morte dos pais
Todo o terror da danação eterna tão declarada
Não foram poucas as noites
Que esse pensar levou o sono embora
Trazendo para meu leito  inquietude e sofreguidão
Enquanto isso lá na paróquia
Dormiam serenos os mentirosos de batina
Inclusos na boa vida
Enquanto a mentira que pregam reinar.

VIOLÊNCIA

Da violência que poda vidas nas ruas e estradas
Trazendo dor sem fim para os que ficam
Nomeamos de acidentes
Quando na verdade os acidentes são poucos
O mais das vezes é um bruto inconsequente
Que por ter tão pouca coisa no cérebro
Não consegue atinar o quão importante é uma vida.