
segunda-feira, 29 de maio de 2017
ESQUELETOS
Meia-noite.
Uma lua de prata brilhava no céu estrelado. Pisava eu com meus sapatos quarenta
e dois por uma estradinha deserta, rumando para casa. O vento soprava manso,
mas mesmo assim mexia com pequenos arbustos. Tudo calmo na noite, nem um pio da
coruja se ouvia. Nisso pensava quando percebi passos atrás de mim, só ouvidos
por causa do silêncio absoluto, tão leves eram. Parei para ver quem caminhava
junto comigo naquele lugar ermo, ainda mais por aquelas altas horas. E vi:
cinco esqueletos completos estavam lá e caminhavam em fila indiana na minha
direção. Usavam chapéus, riam e batiam seus dentinhos. Como nunca acreditei em
fantasmas, segui o meu caminho sem pressa. Não parei mais, mas podia ouvi-los
dizendo: espera, espera aí! Chegando em casa soltei da coleira os meus quatro
cachorros. Saíram como loucos. Olhei pra estradinha e ainda consegui ver no
clarão da lua um dos esqueletos correndo com uma perna só.
BLECAUTE
Vivíamos
a Era do Sangue. A capital da República Federativa de Ignorabis, Ailisarb,
ficou às escuras por muitas horas aquela noite de verão. Um inexplicável
blecaute tomou conta de toda área urbana provocando um medonho caos. Acidentes
de trânsito, assaltos, quebra-quebra nas lojas, estupros e outras violências.
Corruptos e corruptores até saíram dos seus esconderijos. Alarmes da polícia e
gritos da população se misturavam. A polícia não conseguiu atender nem metade
dos casos, para desespero dos cidadãos. Também milhares de presos-vampiros
foram liberados por seus parceiros dos seus caixões-celas e saíram às ruas em
busca de alimento. Muitas pessoas indefesas foram atacadas pelos
humanos-morcegóides em suas próprias casas fechadas. Nem mesmo mendigos
escaparam de ter caninos cravados nos seus pescoços. A desgraça só não foi maior porque todos os
Bares de Sangue permaneceram abertos por toda noite. Existiram baixas nos dois
lados. O que se sabe é que muitos vampiros morreram de indigestão por excesso
de sangue de corruptos e corruptores. Tipos assim não possuem sangue bom. Com o
nascimento do sol a vida voltou ao normal.
O VOO
Tomas dormia
durante o voo. A aeronave estava em velocidade de cruzeiro quando ele acordou.
Após olhar detalhadamente em volta percebeu algo estranho. Naquele voo pareciam
estar reunidas inúmeras pessoas famosas já falecidas. Ao seu lado, por exemplo,
estava o Mahatma Ghandi. Do outro lado do corredor viu com clareza Airton Senna
gargalhando ao brincar com amigos. Alguma coisa diferente acontecia naquele
voo, o que seria? Quando foi ao banheiro deu de frente com uma pessoa muito
conhecida aos católicos, o Papa João Paulo II, usando crachá de copiloto.
Quando Madre Tereza de Calcutá uniformizada de aeromoça passou com o carrinho
de lanche pelo corredor Tomas ficou pálido e perguntou ao senhor ao lado o que
estava acontecendo naquele avião. O ancião olhou rindo para ele e respondeu:
- Acorde
tonto, você está sonhando!
O GUARDA-COSTAS DE DEUS
Fundamentalistas
islâmicos saíram do inferno carregados de bombas e entraram sorrateiramente no
paraíso para destruir o trono do Senhor. Disfarçados de anjos buscavam o melhor
lugar para colocá-las quando tiveram uma surpresa desagradável e voltaram
correndo para o inferno sem fazer nada; o guarda-costas de Deus era ninguém
menos que John Wayne e seu revólver de duzentos tiros.
SEU TUPI
Seu Tupi era
um cão muito fino que diariamente levava seu homem chamado Lúcio para passear.
Muito belo o homem, de roupinha colorida, coleira de prata e tudo mais. Porém
senhor Tupi nunca levava o kit cocô e o seu homem de estimação era pródigo em
defecar nos gramados e calçadas. Faz alguns meses seu Tupi andava só por uma
dessas calçadas de sua rua quando resvalou num cocô, bateu a cabeça e morreu.
Que lástima! Lúcio triste e com sentimento de culpa entrou em depressão. Deixou
de comer e até de mostrar a língua. No momento o pobre Lúcio mora num Homil
para homens loucos.
TENHA CALMA
Entrando em
sua casa na maior solidão e ouvir vozes estranhas, antes de assustar-se e
pensar que está ficando louco ou a casa mal-assombrada, verifique se o rádio
não ficou ligado.
LÃ E CARNE
Genara era
uma ovelha descontente que resolveu fugir dos campos e ir à cidade para cortar
sua lã, pois sofria com o calor e principalmente queria ver como era o mundo
longe da verde relva. Após muito andar chegou à terra do cimento e aço. Obteve
informações e correu até o primeiro barbeiro. Lá chegando perguntou:
-O senhor
corta lã de ovelha?
Respondeu o
barbeiro um pouco espantado:
-Não só corto
a lã como também degusto a carne.
E dito isso
deu uma paulada na ovelha Genara que morreu no ato. O barbeiro foi para casa feliz
levando nas costas o futuro assado da noite do seu aniversário.
POR DENTRO
-O senhor é a favor da eutanásia?
-Nem a favor, nem contra. A verdade é que eu nem conheço
a moça.
NA FARMÁCIA
Na juventude quando a gente entrava na farmácia com
aquela cara de anteontem, franzindo a testa e arqueando as sobrancelhas para o
farmacêutico, ele já sabia
“Então teu tio pegou gonorreia novamente? Venha aqui atrás que vamos dar uma injeção nele."
SÍLVIA, A LESMA
Silvia era
uma lesma madura grudenta nojenta que vivia solitária num quintal minado de
folhas caídas. Podemos dizer que vivia sem problemas. Porém um dia aconteceu de
ver-se num espelho quebrado e ficou horrorizada com sua aparência. Entrou em
parafuso. No ápice do desespero acabou
por suicidar-se entrando dentro de um saleiro.
O GOLPISMO DAS CELEBRIDADES EM COPACABANA por Percival Puggina. Artigo publicado em 29.05.2017
Quando se trata de juntar gente para dizer que o povo comparece a seus eventos, a esquerda reúne companheiros de viagem, pilotos de vôo pelos ares da utopia, figurinhas carimbadas, cantores, atores, músicos e promovem grande espetáculo. Alguma conta no exterior paga os cachês ou o crédito fica gerado e certificado para futuros resgates.
Então, pequenas multidões são atraídas pela oportunidade de um show que seria totalmente grátis não fora o dever de escutar discursos políticos proferidos por pessoas cujo pouco conhecimento enche a paciência antes de encher uma xícara de cafezinho. Sem artistas e celebridades, vai-se o público. Cria-se, então, um insolúvel mistério: quem é que estava ali, mesmo? A permanência dessa dúvida nos eventos da esquerda é uma clamorosa denúncia do esvaziamento de suas pautas e de sua credibilidade.
A concentração ocorrida em Copacabana neste último domingo reuniu numa dessas aglomerações algo entre 10 mil e 30 mil pessoas. A turma do palanque queria diretas já. Ali estavam, pelo que li, Caetano Veloso, Criolo, Mano Brown, Maria Gadu, Milton Nascimento, Gregório Duvivier, Sophie Charlotte, Daniel Oliveira, Maria Casadeval, Antônio Pitanga, Bete Mendes e Zezé Motta. Não sei se alguém se deixa conduzir pelas posições políticas desse pessoal, mas o evento em si, misturando música, dança de rua e diretas já, como afirmei antes, tem o peso político de uma rolha.
Por outro lado, os oradores, ao apelarem para a ruptura com a ordem constitucional, alegam uma suposta ilegitimidade do Congresso para cumprir o preceito que determina eleição indireta se a vacância ocorrer depois da primeira metade do mandato presidencial. Ora, a legitimidade do Congresso só foi contestada pelo PT após o impeachment da presidente Dilma; e se ele é ilegítimo para cumprir o preceito constitucional e promover a eleição indireta, onde irá buscar legitimidade para alterar a Constituição e romper a periodicidade das eleições presidenciais?
Sublinhe-se: foi para evitar casuísmos golpistas, voltados a atender interesses de oportunistas como os que recheavam o palanque de Copacabana, que os constituintes de 1988 definiram a periodicidade das eleições como cláusula pétrea da Carta maior da República.
Mas não podemos querer que a turma daquele palanque entenda e se conforme com isso, não é mesmo?
________________________________
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
IRINEU
Irineu, dois
anos sem tomar banho. Ontem estava na calçada quando o caminhão do lixo passou
e levou ele. Não gritou, não esperneou, apenas no seu rosto viu-se um risinho
de satisfação.
A CANETA
Havia uma
bela caneta que só gostava de escrever coisas relacionadas ao amor. Porém por
essas coisas da vida foi parar nas mãos de um bruto cheio de ódio na Síria.
Certo dia já cansada de ver cabeças cortadas, bombas dilacerando inocentes e de
escrever discursos abomináveis contra a vida, transformou-se num pequeno
lagarto e enterrou-se na areia do deserto para sempre.
NADA
Quando Éder acordou no hospital o médico disse-lhe que esteve morto por cinco minutos.
Sacanagem pura! Nada do outro lado! Quando saiu do hospital a primeira coisa
que fez foi dar um pau no pastor da sua igreja, além de exigir a grana do
dízimo de volta. E prometeu ir atrás do padre da sua infância e do professor de
religião.
O FORTE E VALENTE
Turíbio era
muito forte e valente como nenhum outro. Na verdade não tinha mais adversários
na sua região. Derrubou todos que estiveram em seu caminho. Seus amigos o convenceram de sair no braço
com um leão, na porrada. Pois os tais
conseguiram um leão e colocaram os dois frente a frente numa jaula enorme . O
valente foi todo pintado pra batalha, uma mistura de ninja, apache e soldado em
guerra na floresta. E o dito leão por
ser um bicho burro e desinformado não sabia quem era Turíbio, o forte e
valente. E assim sendo um animal totalmente por fora, comeu o valente ainda no
primeiro round.
NÃO SE META
A ponte, o
rio veloz lá embaixo, a névoa e o desejo de saltar. O homem salta, bate n’água,
um barco que passava salva o suicida. O homem balança a cabeça, xinga o
pescador que o salvara, fica fora de si ,queria morrer. O pescador não se faz
de rogado; saca do revólver e o mata com dois tiros. Pegou quinze anos por
matar um suicida.
OS ROEDORES
Os ratos
atacam a família. Os ratos atacam o bolso dos cidadãos. Os ratos atacam o
ensino de qualidade. Os ratos bloqueiam a porta que leva ao futuro e à
modernidade. Os ratos roem as bases das instituições democráticas. Os ratos
urinam e defecam sobra a Constituição. Os ratos têm muito espaço na mídia, não
deveriam ter, pois já sabemos e estamos cansados de tanto rói e rói. Ou
destruímos os ratos ou eles destruirão o pouco que nos resta.
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