quinta-feira, 23 de maio de 2019


UM HOMEM, UMA CADEIRA
Um homem, uma cadeira. Vinte anos se passaram.  Um homem, uma cadeira, um cargo. Um homem, uma cadeira, muitos conchavos, muitas mordomias e desvios. Uma cadeira, uma bunda colada, um sindicalista. Pois foi necessária uma junta médica para destronar o sacripanta. E houve choro e ranger de dentes, também presentes algemas e um delegado. Restou uma cadeira vazia aguardada por nádegas ansiosas.


DONA IOLANDA
Dona Iolanda sempre foi uma mulher reservada, mulher difícil. Demorou em aceitar o sexo. Quando aos setenta anos teve o primeiro orgasmo morreu de alegria.


CHOVEU NO INFERNO

Bilhões de pessoas torrando dia após dias no fogo do inferno por séculos e séculos, sem cessar o sofrimento. Ontem, porém desceu um toró que não foi dos diabos e apagou tudo. Nadica, nem um foguinho para esquentar água para o café. A enxurrada levou até os diabos morro abaixo. O inferno acabou. O povo feliz cantava e dançava e queria agradecer a Deus pela bendita quando um vivente disse que não fora Deus que fizera a graça. Apontou o dedo para um magrelo que Lúcifer deixara entrar no reino com uma bicicleta e um rádio transístor. Fora ele que fizera a máquina de chuva. Apareceu então sorridente no meio da multidão um sorridente louro usando casado de couro. Seu nome: MacGyver.



CONFINS

Casinha de sapê nos confins.
-Toc! Toc!
-Quem bate?
-Dilma.
-Não tem ninguém em casa.


CONFINS

Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Lula!
- Fugiu quando ladrão?!





CONFINS

Casinha de sapê nos confins.
-Toc! Toc!
-Quem bate?
- É o horário de verão!
-Vai embora filho, e volta mais não, volta mais não...



O PREGADOR

Renato tinha apenas dezoito anos quando saiu a pregar pelo mundo. Pregou em muitos lugares. Nos campos e cidades ele pregava. Pouco descansava, o trabalho de pregar lhe dava enorme satisfação. Mas infelizmente deixou de pregar por força maior antes mesmo dos trinta anos. Numa bobeira tremenda mexeu com mulher casada e não teve outra, foi para o caixão. Pregado!



BUNDA VERMELHA

Anacleto pintou a bunda com tinta vermelha e saiu nu a caminhar pelas ruas centrais da cidade causando alvoroço. O delegado Firmino muito gente boa mandou pegar o homem e levá-lo à delegacia. E o sermão.
-Onde já se viu Anacleto, andar com essa bunda vermelha pelas ruas da cidade? Denegrindo o nosso lugar?  Onde já viu? Pouca vergonha! E o respeito, onde fica?
Chamou o Cabo Bruno.
-Cabo Bruno, dê duas demãos de tinta ouro na bunda desse homem e depois pode soltá-lo. Ficará um luxo! E tire uma foto para colocar aqui na minha mesa. 


FOI

Quando Joel completou trinta e três anos viu uma luz e dentro dela uma voz que dizia ‘vá! ’. Ele foi, errou um degrau, caiu da escada e quebrou o pescoço. Foi mesmo.


PARQUINHO
Verde amarelo azul vermelho
Brinquedos que gritam e sorriem
Areia fofa
Árvores verde vida sombra
Pais atentos
Pequenos sem preocupações
O incerto futuro deles
Felizmente está distante.


ROMEU

Romeu vivia para ver o tempo passar. Um grande inútil.  Era o tal operário-perdão. Perdão por não fazer absolutamente nada. Mamava na aposentadoria da mãe. Para sua infelicidade o destino foi cruel.  Morreu jovem e descansado, quando o relógio da igreja matriz caiu na sua cabeça, enquanto parado nas escadarias observava o movimento da rua, deixando como sempre o tempo passar.


Fui criado para acreditar em todos
Mas os tombos foram tantos
Que esses todos hoje se contam nos dedos de uma só mão.



E AGORA?
Passava ele os dias brincando de estar vivo
Deixando o tempo correr solto
Porém desesperou-se diante do vazio futuro
Quando percebeu que o trem da vida já havia passado.



VÍCIO
O trago desce pela garganta continuado
A mente se desfigura
A rotina se torna um peso
E a vida lentamente escorre pelo ralo.

"Novos Russos"



Um NR encontra um russo "antigo" (apelido de dirigentes do antigo regime e diretores da indústria soviética). O "antigo" pergunta:

-- E como vai indo, Vássia?

-- Bem, a minha vida é uma monotonia, -- responde o NR, -- Estou cansado das Bahamas, dos restaurantes franceses, e das prostitutas de mil dólares por noite... Estas coisas já estão me enjoando... E quanto a você, meu velho?

-- Acredite, já faz três dias que não como nada, -- responde o "antigo" com voz enfraquecida.

-- Ora, homem, -- diz o NR, -- Eu já tive este tipo de problema. Você deve obrigar-se a comer!



Um NR entra na joalheria acompanhado de uma linda garota e pede para ver o melhor colar da loja. Depois de rejeitar jóias de menor valor, escolhe um colar de rubis de 1 milhão de dólares.

-- Embrulhe para ela, -- ordena, -- E desconte este cheque no meu banco na próxima semana.

O gerente da loja fica embaraçado e diz:

-- Desculpe, mas só podemos entregar o colar após descontar o cheque.

-- Esta loja tem normas estranhas, -- comenta NR, dando de ombros, -- mas você me garante que a entrega será feita imediatamente após o pagamento?

-- Com toda certeza, senhor, -- assegura o gerente.

-- OK, anotem o endereço da moça e entreguem o colar assim que for liberado o pagamento.

Na semana seguinte, o gerente da loja telefona para o NR:

-- Sr., lamento informar que o seu cheque voltou!

-- Não faz mal, -- responde NR, -- Eu já tive o meu maravilhoso fim-de-semana.


A desgraça canalha que hoje nos atrapalha
Quando governo teve ministro da pesca
Que só conhecia sardinha em lata.



SILVANIA ILVANETE

A hipócrita Silvania Ivanete passou a vomitar vermes monstruosos todos os dias. Remédios caseiros não resolveram. Assustada foi então ao especialista para conseguir solução. Exames feitos o médico deu o resultado: “Tudo certo Silvania Ivanete; você vomita vermes porque os vermes estão em ti. Fazem parte do teu ser, da essência do teu corpo e caráter. Até sua língua á um enorme verme.   Então, tudo normal. ”


IRINEU

Irineu, maduro pacas, dois anos sem tomar banho. Ontem estava na calçada quando o caminhão do lixo passou e levou ele. Não gritou, não esperneou, apenas no seu rosto viu-se um risinho de satisfação.



HRX, O ET VIAJANTE

“Nunca vi disso no universo todo. Estarei enganado?  Aqui são os próprios ladrões de dinheiro público que indicam seus julgadores? ”


SUJEITO FRIO
Lá dentro de sua casa hermética e quase sempre apertada é um sujeito frio e seco como todos os seus familiares. Para ir para rua precisa tomar banho, aí sim salta fora rapidamente.  Quando sai de casa muda de personalidade e se torna um feliz derretido. Seu nome: gelo.



MENTIR É PERIGOSO

Num jantar de esquerdistas uma boa mãe rezou: “Deus, abençoai este alimento conquistado com o suor do trabalho dos presentes. ” Na mesmo instante as panelas arderam e os alimentos foram reduzidos a pó.



PASSEIO DIVINO

Naquele dia Deus saiu a caminhar, na verdade um passeio pelo Brasil. Em São Paulo durante o passeio encontrou uma multidão de petistas que vagabundeavam como sempre. Perguntaram quem ele era. “Eu sou o Deus criador de todos. ”  Alguns petistas perguntaram: “O senhor Deus conhece Lula? ” Deus respondeu: “Lula está preso, babaca! ” E seguiu seu caminho voando entre as nuvens de saco torrado.


LEOCÁDIO

Salta! Pula! A multidão reunida no centro da cidade ansiosa aguardava lá embaixo pelo último ato do suicida. Finalmente ele se jogou do telhado. Os mais sensíveis fecharam os olhos antes do choque fatal. Então antes de espatifar-se no chão, Leocádio abriu suas belas asas e alçou voo para navegar sob o resplandecente azul do céu. Antes contornou e fez um rasante mostrando a língua para os abutres que pediam por sangue.



SÍLVIO

O pensamento em fogo de altas labaredas. O vento forte, o mar revolto, sentado na ponta do trapiche um Sílvio sem forças. Suas lágrimas misturadas ao sal, o frio que doía bem menos que o tridente cravado em seu coração. Sem rumo, sem foco, sem nada, esperando o tempo ficar velho. Então acobertada por uma chuva formidável, chegou navegando sobre uma onda brava uma bela sereia. Toda cheia de encanto e ternura carregou Sílvio em seus braços mar adentro, levando ele para o recanto da eterna mansidão.


DONA MEIGA


Filha de Bastião Louco e Eldorina Fumaça, Dona Meiga nasceu e viveu por mais setenta anos em Barra do Sarapião. Teve uma infância normal brincando entre algumas dezenas de cadáveres de inimigos do pai, cabeças empaladas e amigos acorrentados recebendo chibatadas. Adulta, um doce era Dona Meiga. Um pote de mel era menos doce que sua saliva.  Vivia da lavoura e nas horas de folga matava alguns conterrâneos por uns cobres ou pernas de salame. Não judiava é verdade, somente matava a tiros como manda o bom figurino. Mas era na matança muito delicada e deveras tão gentil que alguns até agradeciam por estar entrando na bala.