quarta-feira, 4 de março de 2015

João Cesar de Melo-Socialista Morena, minha perversão

Socialista Morena, minha perversão

filtro de barro
Venho confessar uma perversão: eu acompanho o blog Socialista Morena! Eu li uma vez e ri. Li outra vez e gargalhei. Desde então, não consigo mais me libertar desse prazer. Lendo seus textos, eu sempre me lembro do programa Alienígenas do Passado. É quase a mesma coisa. Os delírios, as distorções da realidade, as leituras tendenciosas da história, a convicção nas teorias mais malucas e, claro, aquela velha soberba intelectual. “Eu sou uma pessoa honesta! Acredite!”, imagino a autora gritando diante do espelho.
Cynara Menezes (responsável pelo blog) tenta nos mostrar o caminho da paz e da prosperidade por meio dos ensinamentos socialistas. Giorgios Tsoukalos (apresentador do programa Alienígenas do Passado) tenta nos mostrar o caminho da paz e da prosperidade por meio dos ensinamentos extraterrestres. Diferem entre si apenas na apresentação. Ele atua. Ela é ela mesma. “Este é um blog de ideias e notícias com viés esquerdista. Socialista, comunista & bolivariano”, se apresenta, cheia de orgulho. Cynara é mais honesta e muito mais engraçada do que Giorgios. Além de confessar o que realmente é, Socialista Morena (a graça já começa no nome) nos brinda com um talento notável para criar conteúdo a partir do nada.
Dias atrás, ela publicou um texto denunciando a conspiração capitalista internacional para destruir o gosto popular pelos… filtros de barro! Socialista Morena escreveu: “Uma das maiores sacanagens do capitalismo, em minha opinião, é criar necessidades” − Maldito capitalismo que criou nossa necessidade de creme dental, analgésicos, eletricidade, computador e telefone celular!
Fiquei tentado a comentar, mas me lembrei que seu blog não aceita comentários. Num exercício de levá-la a sério, eu lhe diria: “Socialista Morena, o capitalismo não cria necessidades. O capitalismo oferece alternativas para demandas que já existem”. Antes dela ler e responder, muitos de seus discípulos já teriam me condenado ao paredón em comentários nada elegantes, para meu sarcástico deleite.
Mais adiante no texto sobre o filtro de barro, Socialista Morena justifica: “…a partir da década de 1990, fomos convencidos do contrário: que o filtro de barro era ineficiente e até mesmo ‘cafona’, e que a melhor água para o consumo humano é a engarrafada, pela qual desde então pagamos dinheiro, em vez de utilizar a que vem da torneira, pela qual também pagamos, e 2 mil vezes mais barato”, justifica.
1° – Os socialistas, aqueles que vivem tentando nos convencer sobre um monte de absurdos, realmente enlouquecem quando alguma empresa ou setor nos “convence” a utilizar certo produto ou serviço. Só eles, socialistas, podem nos convencer de alguma coisa, pois só eles têm a sabedoria e a iluminação espiritual.
2° – Socialista Morena parece desconhecer que a maioria das casas NÃO utiliza garrafões de água mineral, mas sim filtros acoplados nas torneiras ou pequenos filtros pendurados na parede.
3° – Socialista Morena (sim, eu adoro repetir esse nome) tenta nos fazer crer que o filtro de barro por si mesmo filtra qualquer água suja que adentre seu interior, que deve ter origem socialista.
Socialista Morena prossegue afirmando que caímos num “truque” capitalista liderado pela Nestlé, que lucra bilhões por ano apenas (apenas!) retirando água do solo. A socialista-comunista-bolivariana também nos brinda com um valioso histórico da fabricação dos filtros de barro no Brasil, enaltecendo uma empresa que venceu a competição pela preferência dos consumidores − olha Mises aí gente! − e que desde a década de 1980 vinha praticamente como a única fabricante do produto. Socialista Morena chega a ilustrar seu texto com a imagem de um cartaz publicitário da empresa!
Depois de suspirar de amor pelo filtro, ela lamenta que ele tenha perdido mercado para a água engarrafada – insistindo que a grande maioria da população brasileira consome aqueles galões de 20 litros −, mas volta a demonstrar satisfação ao ver esta empresa privada se reerguendo por meio de exportações para 48 países. “8 deles na África”, faz questão de salientar.
Socialista Morena continua sua saga contra o capitalismo focalizando a grande conspiração da Nestle para transformar todos os habitantes da galáxia em vorazes consumidores de água engarrafada. “É chocante ver como o chairman da Nestlé, o austríaco Peter Brabeck-Lemathe, fala com jeito de galã e voz melíflua sobre a ‘importância’ da água para o planeta como se fosse um ambientalista, enquanto a empresa explora o líquido para gerar lucro”, denuncia.
(Pausa para gargalhadas)
Algumas perguntas que eu gostaria de fazer a Socialista Morena:
1° –  A fabricante do filtro de barro não visa lucro?
2° – A água que alimentaria os filtros de barro viria de onde? De marte?
3° – Se algum dia a humanidade seguir seus conselhos e decidir consumir apenas filtros de barro, toda essa argila viria de onde? Do seu quintal revolucionário?
4° – Se algum dia a tal fabricante de filtros de barro convencer os consumidores sobre a qualidade de seu produto, conquistando, portanto, o controle do mercado, você escreverá um texto denunciando-a?
5° – Já parou para pensar nos pequenos fabricantes de filtros de barro dos países africanos que são prejudicados pela “invasão” dos filtros da fabricante brasileira?
6° – Você, sendo uma digna socialista-comunista-bolivariana, não deveria cobrar que os governos dos países que hoje importam filtros brasileiros criem subsídios para os fabricantes locais, preservando empregos e o mais importante, as tradições locais?
7° – Que espécie de socialista-comunista-bolivariana é você que fica pregando o sucesso de uma empresa privada?
Marina Morena… Ops, foi mal! Confundi. Socialista Morena, sua sorte é viver no colo do capitalismo, o sistema que lhe possibilita ganhar dinheiro escrevendo tanta besteira. Continuarei acompanhando seu blog porque realmente é muito divertido.
Algumas pessoas veem novela e Big Brother. Outras assistem Faustão e Globo Esporte. Eu vejo Alienígenas do Passado e acompanho Socialista Morena.
Arquiteto, artista plástico e escritor. Escreveu o livro “Natureza Capital”.

O BICUDO PERGUNTA: O CRIME NÃO COMPENSA? Supremo extingue pena do mensaleiro José Genoino

“O povo arreganhou e o PT botou sem dó. Eu avisei.” (Mim)

“A Petrobras é uma empresa estatal usada diuturnamente para fins particulares.” (Eriatlov)

“Quando o PT assumiu o governo disseram para eles: Aqui está a Petrobras e o petróleo é nosso. Eles entenderam 'o petróleo é vosso'. Deu no que deu!” (Mim)

“A Petrobras está tal e qual pia de água benta. Todo mundo que passa mete a mão.” (Mim)

"O Brasil é um país que está indo àquele lugar." (Mim)

VISITAS PROGRAMADAS

Minha amiga viajou para suas férias dizendo: “Irei visitar o Paulo em Porto Alegre; visitarei o Anselmo em Salvador; irei também visitar Maria Joana em Belém. Depois quando voltar para casa irei visitar o Serasa.”

Amar é... Dar para ela em 2015 um marido melhor.

Amar é...Não dar no aniversário dela uma calcinha que só seria usada pela sua nona.

“Possuir um grande escritor equivale para um país ter outro governo. Eis por que nenhum governo gostou dos grandes escritores, mas só dos pequenos.” Harrison E. Salisbury

“Se o SOCIALISMO fosse o encarregado de criar vida no planeta ainda estaríamos no início da Era das Minhocas.” (Eriatlov)

“Desejo para meus inimigos vida longa, prosperidade e distância.” (Climério)

MIRE-SE NUM ESPELHO, Ó MEDÍOCRE!- Crise política se agrava e Dilma vai à TV defender governo

JABUTI PRESS- Produção industrial acumula queda de 3,5% em doze meses

“Desconfie da seriedade do lugar onde só trabalham mulherões. Salvo se for um bordel de luxo.” (Climério)

Lucas Berlanza-A presença da liberdade pelo mundo e por que é tão urgente defendê-la

Desde quando começamos nossa formação escolar – ou ao menos essa foi a minha experiência pessoal -, é costume sermos bombardeados com a propaganda da democracia, da liberdade de expressão e das liberdades individuais. Infelizmente, em geral, essas ideias são “lançadas” de forma vaga e, posteriormente, esses mesmos termos são instrumentalizados e, associados a uma abstrata “justiça social”, empregados para dizer o contrário do que efetivamente significam. Garantir esses bens passa a exigir o concurso de medidas que, ao fim das contas, acabam por aniquilá-los. Seja como for, em uma fase inicial, às vezes temos a impressão de que a constituição da sociedade de forma liberal-democrática, com essas estruturas básicas como Estado de Direito e império da lei, é um modelo amplamente aceito e aplicado pelo mundo, e que, no próprio Brasil, ele é uma realidade perfeitamente concretizada. Caso ampliemos nossos horizontes de percepção, de pronto percebemos quão distante isso está da realidade.
As ideias liberais-democráticas, associando uma maior participação dos cidadãos no processo decisório dos rumos nacionais, mas, ao mesmo tempo, resguardando prerrogativas individuais e preservando o Estado em limites em que ele não avance tiranicamente sobre elas, são resultado de um longo processo de elaborações culturais e filosóficas que as fizeram chegar ao estado em que chegaram, passando, por exemplo, pelas ricas experiências nas sociedades da Grécia e de Roma. Como realidades concretas, com os moldes com que hoje as compreendemos, no entanto, são bastante recentes, a se considerar o tempo de existência da humanidade. Desde os povos primitivos, em que sequer a ideia de Estado e organização social complexa fazia sentido; passando pelos impérios da Antiguidade, nos quais os governantes eram divinizados e a escravidão, comum; até a servidão do feudalismo e o absolutismo monárquico, séculos e gerações se passaram sem que uma grande parte da humanidade conhecesse, na prática, os conceitos de uma democracia liberal. A partir do Liberalismo clássico, com as reflexões de pensadores como Locke, essas ideias e as tensões internas entre elas começaram a ser discutidas e a se incorporarem no dia-a-dia de várias sociedades. Ainda existe um profundo legado antiliberal e coletivista que embasa resistências e preconceitos, embora geralmente apresentados sob a forma de doutrinas modernas que se propõem a resolver os problemas da sociedade com mais eficiência, rompendo com as preocupações realistas dos liberais e apostando em delírios opressores e sangrentos.
Consultando hoje os índices de liberdade de imprensa no mundo – um dos pilares da liberdade, a partir do qual a população pode fiscalizar e criticar seus governos -, anualmente compilado pela organização Repórteres sem Fronteiras, constatamos que os países classificados com “situação satisfatória” ou “boa” se concentram na América do Norte, na parte mais ocidental da Europa, no sul da África e na Oceania, com algumas poucas exceções. Todo o resto do mundo está compreendido em uma faixa que vai de “situação muito séria” até “problemas visíveis”. Em relação à liberdade econômica, que pensadores como Hayek consideram ser essencial para que haja liberdade política, as economias consideradas “livres” ou com “boa liberdade” pelo ranking do Index of Economic Freedom, daHeritage Foundation, que analisa 178 países, somam apenas 34. São 56 os países com “moderada liberdade”, 61 os com “pouca liberdade” e 27 os considerados “repressores”. Já o índice de democracias pelo mundo da revista The Economist, avaliado em 2012, contabiliza muito poucos regimes dentro da categoria que eles consideram como sendo “democracias plenas”, a partir de critérios como processo eleitoral e participação política. Da África para o Oriente, abundam regimes autoritários na classificação, sendo que ela dá conta de que a Venezuela de tiranetes como Chávez e Maduro, por exemplo, seria apenas um “regime híbrido”.
Está claro, pelos números de indicadores importantes para definir as posições institucionais dos países quanto aos princípios liberais-democráticos, que ainda há muito a ser feito, que essas ideias são recentes, foram abraçadas como tradições sólidas por poucos países e segue havendo o que lutar para que sejam preservadas e se aprimorem. Mais claro fica se tornarmos tudo isso mais concreto, fazendo uma breve e genérica excursão pelo planeta em que vivemos.

“Mulheres feias não me querem pensando em conseguir algo melhor. E as belas não desejam amar um dragão pobre.” (Assombração)

“Comparado a um elefante eu sou um faquir.” (Fofucho)

“Nunca olho à mulher do vizinho com outros olhos. Sempre com os mesmos.” (Climério)

Coisa de inglês

-Como você pode dizer se um francês esteve em seu quintal? 
- Seu lixo está desaparecido e sua cadela está grávida!

A SALVAÇÃO PELO TORRADO- Tomar 3 ou 4 xícaras de café por dia pode prevenir infarto

Tomar três ou quatro xícaras de café por dia pode diminuir o risco de infarto por obstrução arterial. A revelação é de um estudo publicado nesta terça-feira no periódico Heart.

TROMBETA DOS FISIOLÓGICOS- Por Orçamento, Dilma garante R$ 10 milhões a deputados novatos

“Visite empreendedores brasileiros antes que a voracidade do estado acabe com eles.” (Mim)

“Quem produz neste país está sempre em estado de ‘coma’ perante o estado.” (Pócrates)

“O ‘Estado’ é um bordel, e as putas somos nós, os contribuintes.” (Mim)

“O ‘Estado’ é um boca grande, cínico devorador de impostos.” (Pócrates)

O milagre do emprego: a importância da flexibilidade dos salários

“O poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar.” (Hayek)
Qualquer liberal entende que, por mais bem intencionada que seja, uma lei que tenta estabelecer um patamar artificial de retorno está fadada ao insucesso. É justamente este o caso do salário mínimo. Parece natural que as pessoas de bem observem os baixos salários de certas funções e fiquem revoltadas, defendendo que o governo passe a intervir para desfazer tal injustiça. Infelizmente, o inferno está cheio de boas intenções, e este é apenas mais um caso onde a boa intenção não consegue alterar a lógica econômica. O tiro sai pela culatra.
Todo preço será definido pela lei da oferta e demanda, não há como escapar disso. O salário é mais um preço, e segue o mesmo princípio. Os empresários assumem um risco pela incerteza do futuro, e antecipam parte dos ganhos aos trabalhadores, através de salários fixados independente do lucro do negócio. Em outras palavras, os empresários estão reduzindo as incertezas dos trabalhadores, definindo a priori seus ganhos, enquanto o resultado dos acionistas é totalmente incerto, podendo variar de um prejuízo que leva à bancarrota até um lucro extraordinário. Neste ambiente de riscos e incertezas, os empregadores procuram pagar o mínimo possível aos empregados, e este preço será basicamente dependente da produtividade do trabalho. Por outro lado, os empregados estarão buscando maximizar seus ganhos, como qualquer indivíduo. No encontro dessa oferta de trabalho com essa demanda pelo trabalho, ocorrerá uma troca voluntária, significando que aquele preço estabelece uma transação mutuamente benéfica, dado as circunstâncias. Fica claro que quanto maior a demanda por trabalho, ou seja, quanto mais competição houver entre empregadores, mais alto tende a ser o preço do salário. Em contrapartida, quanto maior for a oferta de trabalho, menor tende a ser o salário.
Com isso em mente, fica mais fácil entender porque o salário mínimo não ajuda os mais pobres. Ele costuma ser definido sempre acima deste nível de mercado, caso contrário não faria sentido existir. Mas isso faz com que empregadores desistam de contratar empregados com baixa produtividade, pois passa a não ser vantajosa tal contratação. Em A Solução Liberal, Guy Sorman trata do tema, explicando que “os que trabalham e não querem dividir construíram em torno da cidadela uma muralha, a mais alta possível: ela se chama ‘salário mínimo’”. Os trabalhadores ficam assim protegidos contra todos aqueles cuja produtividade não vale o salário mínimo, isto é, os mais jovens e os menos qualificados. Ele continua: “Os sindicatos só protegem os sitiados que constituem sua clientela principal, não os desempregados, que não militam e nem são contribuintes”. Além disso, “esses defensores dos direitos dos trabalhadores criaram uma técnica que mantém os sitiantes à distância: o seguro-desemprego”. Quanto mais alto for este, menos os assaltantes mostram agressividade. Em resumo, o salário mínimo seria uma conquista dos sindicatos e seus aliados à custa de todo restante, principalmente dos desempregados que aceitariam trabalhar por um pouco menos.
Sendo Guy Sorman um francês, ele escreve com conhecimento de causa. A rigidez das leis trabalhistas na França é enorme, e os sindicatos são muito poderosos. Recentemente, o desemprego entre os jovens estava na faixa dos 20%, e entre os jovens imigrantes chegava a 50%. O caso brasileiro também é muito útil para exemplificar esta teoria. Com leis trabalhistas que datam dos tempos fascistas, além de sindicatos muito poderosos, o desemprego é elevado e a informalidade chega a praticamente metade do total de empregos. É o resultado claro do excesso de encargos e privilégios artificiais, eufemisticamente chamados de “conquistas trabalhistas”. São conquistas sim, mas apenas daqueles dentro do sistema, que criam regras através do governo dificultando o acesso dos demais, mantidos no desemprego ou informalidade, sem benefício algum. Enquanto isso, as leis trabalhistas dos Estados Unidos são consideradas como uma das piores do ponto de vista de direitos legais, por serem flexíveis demais, e no entando os trabalhadores ganham muito mais que a média do resto do mundo.
Isso faz Guy Sorman concluir que “a chave do pleno emprego reside, pois, realmente na flexibilidade dos salários, o que não significa sua redução geral, mas sua adaptação, caso por caso, à situação da empresa”. Ele compara a situação no Silicon Valley, com muita flexibilidade e praticamente sem desemprego, com a de Detroit, com regras rígidas, mas 12% de desemprego na época que o livro foi escrito, na década de 1980. Ainda assim, Sorman separa a solução liberal em duas vertentes, a do velho liberalismo e a do novo. Para o velho, bastaria “demolir as paredes da cidadela do emprego, reduzir o seguro-desemprego, suprimir o salário mínimo, colocar de novo todo mundo na concorrência, e a flexibilidade geral dos salários restabelecerá automaticamente o pleno emprego”. Ele entende que isso está perfeito na teoria, mas considera politicamente absurdo, inalcançável. Os assalariados não teriam como ver de imediato os benefícios, e se organizariam para impedir tais mudanças.
Isso leva Guy Sorman à solução proposta pelo novo liberalismo, que seria defender uma espécie de “emprego para a vida toda”. Em outras palavras, uma participação dos empregados nos negócios. Os empregados passariam a aceitar que os salários fossem tributários dos resultados de cada empresa. Sorman acredita que esta talvez seja a única condição para que a flexibilidade seja aceita. Os empregados estariam mais claramente unidos aos acionistas no risco do negócio. Teriam que aceitar as maiores incertezas e, portanto, maior volatilidade dos ganhos também. De fato, nos Estados Unidos vem ocorrendo algo deste tipo, já que o capital das corporações é totalmente pulverizado entre milhares de empregados através dos fundos de pensão e plano de opções de ações. Trata-se nitidamente de uma saída liberal, decidida entre empregados e empregadores, independente do governo. Este, no fundo, passa a ser visto como o inimigo comum tanto de trabalhadores como patrões, tributando pesadamente os ganhos da empresa.
De forma geral, o mais importante é entender que o “milagre” do emprego não tem nada de milagre na verdade, tampouco através da caneta estatal. Ele é fruto de uma lógica econômica, e o melhor caminho para valorizar o emprego é torná-lo realmente valioso. Isso é possível pelo aumento da produtividade do trabalho, de uma ampla competição entre empresas e de grande flexibilidade das leis trabalhistas.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

Vazio existencial: quando a fuga do tédio é mortal

“O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza.” (Voltaire)
Suportar a angústia do desamparo existencial não é moleza. Para muitos, a religião é o que dá sentido à vida. Para outros, as artes e a filosofia. No meio do caminho, diversos tipos de fugas tornam a vida mais suportável. Esportes, trabalho, hobbies, todo tipo de estímulo para que o ócio não venha cobrar reflexões mais profundas. Poucos encaram com coragem o tédio. Especialmente nas gerações atuais…
Acostumados a estímulos ininterruptos desde muito cedo, à conexão virtual incessante, os jovens de hoje não aguentam nem cinco minutos sem nada fazer. É um desespero para a grande maioria. Ser obrigado a pensar na própria vida, mergulhar nos próprios pensamentos e angústias, torná-las fogo criativo para alguma coisa? Nem pensar! Um jogo imediatamente, um bate-papo nas redes sociais, um filme bobo, qualquer coisa! Um livro já é uma fuga mais rara, pois exige uma paciência cada vez mais escassa.
Em casos extremos, o vazio existencial é preenchido por estímulos mais perigosos, como as drogas. Se as religiões, os esportes e o trabalho historicamente afastaram jovens desse caminho, hoje os limites e os freios aos apetites destrutivos se encontram enfraquecidos em uma mentalidade que diz que o importante é dar vazão aos desejos, viver como se não houvesse amanhã, seguir os impulsos. Carpe Diem!
Falo tudo isso para chegar ao lamentável caso do aluno que morreu após beber 30 doses de vodca numa festa universitária. Ironia das ironias, ele tinha registrado em sua página do Facebook que é melhor morrer de vodca do que de tédio. Dito e feito, para a tristeza de seus amigos e familiares. Que tipo de angústia leva alguém a uma fuga tão desesperada? Francisco Razzo, professor de filosofia, fez uma boa reflexão em sua página de Facebook, com base em Pascal:
“Melhor morrer de vodca do que de tédio”, palavras encontradas no perfil do estudante da Unesp morto por ingerir uma quantidade absurda de vodca na festa da faculdade. A inevitabilidade de uma vida oca. A expressão “melhor morrer de vodca do que de tédio” assinala a vidinha pra lá de entediada dessa adolescência ontologicamente miserável. E nada melhor do que Pascal para definir essa doença de morte: “Tédio (Ennui): Nada é mais insuportável ao homem do que um repouso total, sem paixões, sem negócios, sem distrações, sem atividade. Sente então seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Incontinenti subirá do fundo de sua alma o tédio, o negrume, a tristeza, a pena, o despeito, o desespero. (Pascal, Pensamento 131). Para alguns, eis a sedução da vodca.
Muitos acham que algum tipo de entorpecente será inevitável para tornar a vida suportável. Outros alegam que a própria religião é um ópio, ou que também as artes servem ao propósito de entorpecer. Talvez. Mas convenhamos: há fugas e fugas. Quem vai comparar a “fuga” por meio da literatura clássica com um simples porre à base de vodca? Quem vai comparar a “fuga” por meio de uma sinfonia de Beethoven, ainda que regada com o néctar de Baco, ao consumo desenfreado de drogas sintéticas? Quem vai comparar uma “fuga” com base numa vida produtiva no trabalho com um baseado de maconha?
Um comentário final que gostaria de fazer sobre o lamentável episódio diz respeito à responsabilização pelo ocorrido. Automaticamente surge a demanda por bodes expiatórios. Querem culpados, mas não olham para aquele que tomou as decisões erradas, que fez as escolhas equivocadas. Hélio Schwartsman falou disso em sua coluna de hoje, usando como analogia o discurso da presidente Dilma culpando FHC pelo petrolão:
“A culpa é do FHC.” A escusa favorita de Dilma Rousseff, receio, está fazendo escola. Não que todos estejam incriminando o tucano por tudo de errado que acontece no país, mas parece cada vez mais prevalente a tendência de não assumir as próprias responsabilidades, preferindo imputar sempre a um terceiro os resultados indesejados de suas decisões ou atitudes.
[...]
Num exemplo concreto, o jovem estudante ingere voluntariamente 30 doses de vodca numa festa universitária, entra em coma e acaba morrendo. De quem é a culpa? Para o delegado que investiga o caso, o rapaz foi assassinado pelos organizadores da festa, que foram presos sob a acusação de homicídio com dolo eventual.
Não estou aqui afirmando que os organizadores não violaram nenhuma lei ou norma de segurança nem que não tenham de alguma forma contribuído para o trágico desfecho, mas não me parece que faça muito sentido equiparar sua atitude à de alguém que tira intencionalmente a vida de outra pessoa (homicídio doloso) ou mesmo à do sujeito que dá um tiro no rival mirando sua perna, com o objetivo de assustá-lo, mas acerta o coração e acaba por matá-lo (um caso mais clássico de dolo eventual, em que perigos concretos são conscientemente desprezados pelo agente).
As pessoas precisam assumir a responsabilidade por seus atos. A geração narcisista e mimada de hoje não só não suporta o tédio nem por cinco minutos, pulando de fuga em fuga desesperadamente, como ainda culpa os outros por todos os seus problemas. Melhor seria se tentassem encontrar um verdadeiro sentido mais elevado para suas vidas.
Rodrigo Constantino