Salta! Pula! A multidão reunida no centro da cidade ansiosa aguardava lá embaixo pelo último ato do suicida. Finalmente ele se jogou do telhado. Os mais sensíveis fecharam os olhos antes do choque fatal. Então antes de espatifar-se no chão Leocádio abriu suas belas asas e alçou voo para navegar sob o resplandecente azul do céu. Antes contornou e fez um rasante mostrando a língua para os abutres que pediam por sangue.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
LEOCÁDIO
Salta! Pula! A multidão reunida no centro da cidade ansiosa aguardava lá embaixo pelo último ato do suicida. Finalmente ele se jogou do telhado. Os mais sensíveis fecharam os olhos antes do choque fatal. Então antes de espatifar-se no chão Leocádio abriu suas belas asas e alçou voo para navegar sob o resplandecente azul do céu. Antes contornou e fez um rasante mostrando a língua para os abutres que pediam por sangue.
ROBERTO
O vento forte, o mar revolto, sentado na ponta do trapiche, Roberto sem forças. Suas lágrimas misturadas ao sal, o frio que doía bem menos que o tridente cravado em seu coração. Sem rumo, sem foco, sem nada, esperando o tempo ficar velho. Então acobertada por uma chuva formidável, veio navegando sobre uma onda brava uma bela sereia. Toda cheia de encanto e ternura carregou Roberto em seus braços mar adentro no caminho da mansidão.
CERTEZA
A vida corre
A morte nos
espera
Somos ínfimas
partículas
Filhas
longínquas da grande explosão
Então mesmo
sabendo
O que nos
aguarda no fim
Vivemos com
pressa
Como se a
morte
Fedorenta e
fria
Não fosse nos
esperar.
COMUNISTAS
Vislumbra-se
no horizonte
O juntar das
correntes vermelhas
Prontas para
encarcerar corpos e ideias
Dentro da
maligna utopia socialista
Diante da
incerteza da liberdade
E de um
porvir de esperança
Açoita-nos o
medo
De um futuro
que é passado
De horror e
miséria.
COMPLICADO
Está complicado o relacionamento
Com minha adorada de outrora
Quando falo em partir
Ela chora
Se decido ficar
Voam minhas roupas porta afora.
NADA
“Mais de cem bilhões de humanos já passaram pelo planeta. Ninguém voltou do nada. Pois é o existe depois da morte, o nada.” (Filosofeno)
PIORA
“Há países únicos em determinada singularidade. Nos brasileiros temos a infeliz propensão a piorar a cada quatro anos os nossos dirigentes.” (Filosofeno)
AINDA DILMA
A podre tonta
excluída do poder
Ainda tem a
petulância de dar palpite
Soltando seus
perdigotos inúteis
Entre
descerebrados mortadelas
Quando aqui e
acolá já sabem
Do seu
fenomenal anacronismo
Quando o
certo seria
Acaso tivesse
pejo
Recolher-se
eternamente ao mutismo.
BATATINHA
Batatinha quando nasce
Esparrama-se pelo chão
Mamãezinha quando dorme
Têm pesadelos
Pois o filho é maconheiro.
NATURAL E NÃO SOBRENATURAL
Mais de cem bilhões já passaram pelo
planeta
Desses nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural.
QUEM SOU EU?
Uma pequena luz surgiu e ele começou a ter consciência de si. Perguntas fazia sem ter noção de como aprendeu a fazê-las... Quem sou eu? Que lugar é este? O que estou fazendo aqui? O que é mãe? Onde está a minha mãe? Tenho pai? Quem é o meu pai? Tenho um nome? Qual será o meu nome? Apertado dentro da casa queria sair correndo, mas como correr se não tinha pernas, se estava dominado por cordas? Sentiu um pulsar de um coração, bem próximo, alguém o tirando do sufoco da casa, deixando-o menos apertado e sufocado. Viajou pelo ar e quedou-se dentro de um enorme lugar escuro, de cheiro um pouco azedo e viu que lá existiam outros como ele, mas silenciosos, não faziam qualquer movimento ou barulho. Na escuridão fazia mais perguntas , queria saber...Que cheiro é esse? Por que ninguém fala comigo? Deus existe? Por que este lugar é tão abafado? Quem é Madona? Estou desesperado, quero sair daqui! Impostos, o que são impostos? Jesus, cadê Jesus? Serei ateu? Por que tenho quatro furos no peito? As perguntas não cessavam e acabaram irritando um zíper de calça jeans que também estava no mesmo cesto de roupa suja. O zíper foi duro: ‘Cale-se imbecil! Você é apenas um botão de quatro furos que agora raciocina, vivendo sua vidinha miserável numa camisa de flanela xadrez! Basta!’
QUEM PROCURA ACHA
Erni procurava lugar para bebericar de graça, mas já estava muito bêbado. Entrou então numa capela onde se realizava um velório e aprontou o maior rebuliço. Mesmo sem ouvir música alguma achou que era uma festa e foi tirando a viúva para dançar. Não contente foi para cima do defunto derrubando velas e castiçais. Levou uns petelecos e foi atirado num canto pelos parentes do morto. Quando apareceram os homens da Brigada Militar não se conteve e gritou: Viva! Finalmente o conjunto chegou! Levou mais dois sopapos e acordou detrás das grades já curado do porre. Foi então liberado e já na primeira esquina tomou uns goles e aprontou novamente, ofendendo os presentes e querendo briga com o dono do boteco. A boca em que se metera era brava, levou dois tiros e virou finado.
A PIOR TEMPESTADE ESTAVA POR VIR
O céu ficou escuro e houve uma sensação de pânico geral. As nuvens ruidosas pareciam cair sobre as casas. Ventos enfurecidos revoltavam as melenas cobertas de poeira e faziam arder os olhos. Pequenos galhos e folhas já corriam pelas ruas sem lugar para ficar. Placas publicitárias de pernas fortes voavam como penas. As gentes fechavam suas casas, cães e gatos eram recolhidos para lugares abrigados. Apressei o passo para chegar logo em casa e fugir das nuvens ameaçadoras. Algumas lesmas pegaram carona em pneus de bicicletas, enquanto outras eram rápidas em seus patinetes. Entrei em casa a tempo de observar pela janela o mandatário- mor da cidade passar voando em sua cadeira de trabalho. A secretária sentada em seu colo fazia anotações e ajeitava os cabelos negros. Não muito distante dali a primeira-dama já sabendo do fato, visto por centenas de olhos da comunidade, tirava do baú um chicote de três tentos e dava lustro num cassetete de aroeira.
NA FRUTEIRA
- Você é um mamão?
-Não, não sou mamão.
-Não é mamão?
-Não. Sou melão.
-Nunca ouvi falar.
-E você o que é?
-Banana caturra.
-Nunca ouvi falar.
-Sou artista, eu canto.
-Eu também. Canto até em
espanhol.
-El dia que me quieras?
-Sim.
-Vamos cantar em dupla?
-Vamos!... Acaricia mi ensueño
El suave murmullo
De tu suspirar.
Como ríe la vida...
Nisso se intromete na conversa o
abacate.
-Vocês podem ficar quietos, estou
tentando dormir.
-Dormir agora durante o dia?-
pergunta o melão.
-Sim, ainda estou verde, preciso
amadurecer.
Nisso uma distinta senhora passa
pela fruteira e leva os dois artistas para sua casa, alegrando por hora o verde
abacate que cochila entre macias palhas.
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