sábado, 23 de março de 2019


CHOVEU NO INFERNO

Bilhões de pessoas torrando dia após dias no fogo do inferno por séculos e séculos, sem cessar o sofrimento. Ontem, porém desceu um toró que não foi dos diabos e apagou tudo. Nadica, nem um foguinho para esquentar água para o café. A enxurrada levou até os diabos morro abaixo. O inferno acabou. O povo feliz cantava e dançava e queria agradecer a Deus pela bendita quando um vivente disse que não fora Deus que fizera a graça. Apontou o dedo para um magrelo que Lúcifer deixara entrar no reino com uma bicicleta e um rádio transístor. Fora ele que fizera a máquina de chuva. Apareceu então sorridente no meio da multidão um sorridente louro usando casado de couro. Seu nome: MacGyver.


ALUNOS

Os jovens canadenses Sam e Stuart, ambos com 19 anos, naturais de Toronto, resolveram fazer o curso superior para corruptos na Universidade de Malandragens Públicas da Venezuela.  Terminado o curso foram instados pelo professor para dizer onde iriam demonstrar suas aptidões. Os dois responderam o Brasil. O professor ficou rindo por alguns minutos e após matriculou os dois num curso de pós-graduação. Justificou-se dizendo que o Brasil não é para iniciantes.



Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
-Gilmar Mendes!
-Valha-me Deus! Antes fosse o demo em carne e osso!



MENINO OBEDIENTE

Renatinho é um menino obediente. A mãe o mandou comprar marshmallow.  Não encontrou no supermercado perto de sua casa e seguiu em frente, sempre procurando. Andou que andou e nada.  Isso faz quinze dias. Foi visto ontem em Miami com um pacotinho na mão. Contam que está retornando ao Brasil a nado.



DONA MEIGA


Filha de Bastião Louco e Eldorina, Dona Meiga nasceu e viveu por mais setenta anos em Barra do Sarapião. Teve uma infância normal brincando entre algumas dezenas de cadáveres de inimigos do pai. Adulta, um doce era Dona Meiga. Um pote de mel era menos doce que sua saliva.  Vivia da lavoura e nas horas de folga matava alguns conterrâneos em troco de uns cobres. Não judiava é verdade, somente matava a tiros como manda o bom figurino. Mas era na matança muito delicada e deveras tão gentil que alguns até agradeciam por estar entrando na bala.



MOSCA NO POTE
Sexta-feira. Uma pequena mosca distraída entrou num pote de vidro vazio. Deu uns rasantes, deslizou também na superfície lisa.  Logo veio alguém que fechou o pote sem observar que a pequena mosca estava dentro. Presa, estou presa, disse ela para si mesmo.  Ficou pensando em como escapar, será que não existe um pequeno orifício na tampa?  Quantos dias terei de vida? Gritou ainda pedindo ajuda do Chapolin Colorado e nada.   O que pode ser pior que uma prisão envidraçada? O que pode? Então após horas dentro do vidro e um pouco zonza não percebeu quando a tampa foi aberta e o recipiente foi cheio de sal grosso. Seu corpo foi encontrado no domingo.

                                          


MARIA
Maria não queria João, queria Paulo. O pai de Maria não queria Paulo, queria João.  Maria mulher objeto desejava ter amor, voz, vida, luz, liberdade. A mão pesada dos costumes desceu sobre Maria que soluçava pelas noites geladas na solidão da cama, desenhando no chão de areia pássaros livres, tentando resignar-se com seu destino e aceitar o determinado pelo pai. Porém algo dentro dela era mais forte, pois corria por suas veias o sangue da insubmissão e do desejo de todos os mortais de ser feliz. Os dias de Maria eram de tristeza, sabendo que o futuro lhe reservava a mesma vida inglória de diversas outras Marias de sua aldeia. Então quando teve certeza que nada mudaria o contrato acertado da troca de uma mulher por cabras e algum dinheiro, foi ao rio. Lá calmamente se deixou levar pelas águas, entrando num transe de paz, conquistando a liberdade tão almejada.


“A Nona usa tanto laquê que só de passar perto até os meus cabelos ficam duros. ” (Nono Ambrósio)


“ Quem é esse asqueroso do Maia? Granputa de um vadio! Garanto que não presta nem para fazer sabão! ”  (Nono Ambrósio)


NONO AMBRÓSIO



“Pórco e Pórco! Tenho sonhado muito com o demo. Será que ele está me chamando? ” (Nono Ambrósio)

NONO AMBRÓSIO,UM VELHO PODRE


“Campeão de reumatismo e impotente. Pórco can! E ainda dizem que é a melhor idade. Imagine se não fosse! ” (Nono Ambrósio)