quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Russo conservado

Entrevista na TV russa com um cidadão centenário:

-- Conte-nos, Sr. Ivanov, como está tão bem conservado aos 167 anos?

-- Bem, na Grande Revolução de outubro...

-- Olha, é melhor contar-nos algo sobre o Lenin!

-- Durante a Grande Revolução de outubro...

-- Por que não nos conta algo sobre Dostoievsky?

-- Deixe-me explicar! Durante a Grande Revolução de outubro a baderna era tanta que alguém acrescentou mais cem anos na minha carteira de identidade!

Problema de nível

-Por que Lenin usava sapatos e Stálin - botas?

- É que na época do Lenin, a Rússia estava na merda somente até o tornozelo.

Quê?

Um socialista, um capitalista e um comunista marcaram um encontro. O socialista chegou atrasado.

-- Desculpem pelo atraso, tive de enfrentar uma fila para comprar salame.

-- O que é fila? -- perguntou o capitalista.

-- O que é salame? -- perguntou o comunista.

Rodrigo Constantino-As falhas intrínsecas do comunismo



comunismo
“O comunismo não foi uma boa idéia que deu errado; foi uma má idéia.” (Richard Pipes)
Nenhuma ideologia trouxe tanta desgraça ao mundo como o comunismo, influenciado pelas teorias marxistas. Não obstante este fato, muitos ainda defendem, em diferentes graus, idéias que remetem ao comunismo. Alegam que o comunismo “verdadeiro” jamais existiu, e que houve “apenas” um problema de implantação do regime. Os homens falharam, em suma, e não a própria ideologia. O historiador especialista em Rússia, Richard Pipes, demonstra o contrário em seu livro O Comunismo, onde discorre de forma simplificada pela trajetória comunista no século XX.
O cerne da teoria comunista, conforme resumida por Marx e Engels no Manifesto Comunista, é a abolição da propriedade privada. A tentativa de adotar esta idéia leva, inexoravelmente, ao terror, miséria e escravidão. O ideal de uma Idade de Ouro sem propriedades é um mito. Como explica Pipes, “todas as criaturas vivas, das mais primitivas às mais avançadas, para sobreviver, devem ter o acesso ao alimento garantido e, para assegurar esse acesso, reivindicam a posse do território”.
Mao escreveu: “Em uma folha de papel em branco, sem nenhuma marca, as letras mais frescas e belas podem ser escritas, os quadros mais belos e frescos podem ser pintados”. Ao tratar o homem como uma “tabula rasa” e tentar criar um “novo homem”, os comunistas conseguem apenas tingir essa folha de vermelho, do sangue que escorre das suas vítimas. Os herdeiros do comunismo ignoram toda a experiência comunista, afirmando que os fins utópicos ainda são válidos e ignorando que os meios para tanto não podem levar a outro lugar que não aquele experimentado pelos soviéticos, chineses, norte-coreanos, cubanos etc.
O principal caso apresentado por Pipes é, naturalmente, o soviético. Ele afirma que o “totalitarismo soviético desenvolveu-se a partir das sementes marxistas plantadas no solo do patrimonialismo czarista”. Lênin teve um papel fundamental na revolução que instalou a ditadura comunista. Filho de um alto funcionário na hierarquia russa, Lênin devia nutrir um sentimento de culpa em relação aos privilégios que gozava, algo comum na época. Seu irmão, um radical acusado de estar envolvido num atentado contra o czar, foi assassinado pelo regime czarista.
Lênin pagou um alto preço por isso, sendo punido com a expulsão da universidade por uma infração insignificante, por ser identificado como o irmão de um terrorista. Foi forçado à inatividade por três anos, e desenvolveu forte ressentimento em relação tanto ao czarismo como à burguesia. Tornou-se um revolucionário fanático disposto a destruir a ordem social vigente. Foi motivado por um anseio de vingança, e Struve, um antigo colaborador seu, escreveu anos depois que a principal característica da personalidade de Lênin era o ódio.
Muitos são os que condenam a crueldade de Stalin, mas esquecem de Lênin, considerado por Molotov, funcionário de confiança que serviu a ambos, o mais severo dos dois. Lênin demonstrou uma frieza monstruosa quando se opôs à ajuda humanitária aos camponeses famintos em 1891 no Volga, argumentando que a fome servia para a causa comunista. Quando tomou o poder, fez de tudo para transformar a guerra em guerra civil, útil para seus planos revolucionários. Pipes reconhece que os “bolcheviques tomaram o poder na Rússia para fazerem a guerra civil”. Lênin defendeu a morte de todos os “especuladores” e ordenou o enforcamento de centenas dekulaks, pequenos proprietários de terra, de forma que todos pudessem ver. O comunismo sob o comando de Lênin conseguiu em poucos meses matar mais gente do que o regime czarista em décadas!
Com a morte de Lênin, Stalin assumiu o poder, instalando em seguida o Grande Terror, que chegou a executar cerca de mil pessoas por dia, mandando outros milhões para os campos de concentração, já introduzidos por Lênin. O slogan da luta de classes foi abandonado por Stalin, que lançou a Rússia em um nacionalismo semelhante ao de Hitler. Stalin considerava que conflitos e guerras eram os maiores aliados do comunismo soviético e, seguindo este raciocínio, de 1920 a 1933 a União Soviética envolveu-se em colaboração secreta com os militares alemães para que pudessem evitar as provisões do Tratado de Versalhes.
Em 1932, Stalin ajudou Hitler a chegar ao poder, proibindo comunistas alemães de se aliarem aos social-democratas contra os nazistas nas eleições parlamentares. Assinou ainda um tratado de não-agressão com Berlim em 1939, que incluía um protocolo secreto dividindo a Polônia entre a Rússia e a Alemanha. Molotov, o confidente mais próximo de Stalin, chegou a declarar que aceitar ou rejeitar o hitlerismo é uma “questão de opinião política”. Em 1940, quando Hitler esmagou os exércitos aliados na França, Stalin fez aliança com a Alemanha nazista, fornecendo alimentos, metais e outros materiais escassos.
Tanto o nazismo como o comunismo tinham um inimigo comum – a democracia liberal com seus direitos civis e propriedade privada de fato. Além disso, ambos consideravam os seres humanos meios descartáveis para a construção de uma nova ordem e um “novo homem”. Curiosamente, muitos ainda acreditam que Stalin e Hitler, ou o comunismo e o nazismo, eram diametralmente opostos desde sempre.
Os soviéticos defendiam a “globalização”, mas não a democrática de livre mercado como conhecemos hoje, e sim a exportação do regime revolucionário comunista. Em 1919 fundaram a Terceira Internacional, ou Comintern, com a missão de infiltrar-se e assumir o controle de todas as organizações de massa nos diferentes países. Lênin deixara claro que, em caso de necessidade, era para “recorrer a todo tipo de ardil, astúcia, expediente ilegal, dissimulação, supressão da verdade”. Os comunistas de Moscou, de fato, exportaram o regime para inúmeros países em vários continentes. A Guerra Fria foi fruto dessa estratégia comunista.
Em todos os casos em que os americanos não interromperam a escalada comunista, sem uma única exceção, o resultado foi a miséria, a escravidão e muitas mortes desnecessárias. Um dos casos de maior atrocidade foi o de Camboja, onde os líderes do Khmer Vermelho, que aprenderam sobre o marxismo em Paris, instalaram um regime que trucidou sem piedade quase um terço da população, tudo em busca da igualdade marxista.
Apesar da propaganda comunista, que chamava de “fascista” tudo que não era comunista, inclusive os social-democratas europeus, o próprio fascismo teve influência comunista. Benito Mussolini, o ditador italiano, bebeu da fonte leninista, e em um discurso de 1921, afirmou que existia uma afinidade intelectual entre fascistas e comunistas. A grande diferença estaria no fato de os comunistas pregarem o Estado centralizado por meio do conceito de classe, enquanto os fascistas o faziam pelo conceito de nação. O próprio Hitler declarou ter tido forte influência de Marx.
O filósofo Nietzsche descreveu bem o socialismo em vista de seus meios: “O socialismo é o visionário irmão mais novo do quase extinto despotismo, do qual quer ser herdeiro; seus esforços, portanto, são reacionários no sentido mais profundo. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como até hoje somente o despotismo teve, e até mesmo supera o que houve no passado, por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual ele vê como um luxo injustificado da natureza, que deve aprimorar e transformar num pertinente órgão da comunidade”. E continua: “Por isso ele se prepara secretamente para governos de terror, e empurra a palavra ‘justiça’ como um prego na cabeça das massas semicultas, para despojá-las totalmente de sua compreensão”.
Para Richard Pipes, a idéia básica do marxismo, de que a propriedade privada é um fenômeno histórico transitório, é completamente falsa. A propriedade privada, na verdade, é “uma característica permanente da vida social e, como tal, indestrutível”. A noção marxista de que a natureza humana é infinitamente maleável é igualmente falha. Essa realidade faz com que o regime comunista tenha sempre que apelar para a violência como meio rotineiro de governar. Os comunistas esquecem que a abstração chamada “Estado” é composta por indivíduos que também seguem seus interesses particulares. O comunismo sempre evolui, portanto, para a criação de uma nomenklatura poderosa, uma casta privilegiada que coloca fim ao ideal de igualdade presente no comunismo. Como Pipes explica, “a contradição entre fins e meios está inserida no comunismo e em todo país em que o Estado é o dono dos bens de produção”.
Logo, tanto a liberdade como a igualdade, fins presentes na ideologia comunista, são totalmente inatingíveis através dos meios adotados pelo regime. O comunismo não passa de uma pseudo-religião, dogmático e rígido, e sua meta – a abolição da propriedade privada – leva inevitavelmente à abolição da liberdade. Tal utopia já sacrificou algo como cem milhões de vidas inocentes. Seria loucura adotar os mesmos meios e esperar um fim diferente. O defeito do comunismo não se encontra apenas nos comunistas revolucionários, mas nas próprias premissas do comunismo. São essas que devem ser veementemente abandonadas, tal como foram no caso do nazismo.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

O que é ruim sempre pode piorar. Ou: Brasil cai ainda mais no ranking de liberdade econômica

O leitor sabe o que é “neoliberalismo”? Nem eu. Nunca vi, só ouvi falar. E, segundo nossos colegas de esquerda, esse grande fantasma que passou mais longe do Brasil do que Plutão da Terra é o responsável por todos os males que assolam nosso país. Pode perguntar a (quase) qualquer professor de história!
Salários baixos? Culpa do tal “neoliberalismo”. Muita desigualdade? “Neoliberalismo”, claro. Favelas, violência, desemprego? Pode colocar tudo na conta do “neoliberalismo”. É assim que os professores “ensinam” seus alunos, desde cedo. É esse também o discurso do PSOL, do PT e das esquerdas em geral.
Mas que raio de “neoliberalismo” é esse, gente? Bem, se por “neoliberalismo” se entende uma economia capitalista de livre mercado, austeridade fiscal (ó céus, que horror!), império das leis isonômicas (igualmente válida para todos), abertura comercial e respeito aos contratos e à propriedade privada, então podemos afirmar sem receios que o Brasil é tudo, menos “neoliberal”.
Na verdade, segundo o Índice de Liberdade Econômica que o Heritage Foundation calcula todo ano, nós somos praticamente socialistas! Isso mesmo: nossa liberdade econômica é quase inexistente, uma das menores do mundo! E como tudo que é ruim pode sempre piorar, eis que nossa posição no ranking de 2015 caiu ainda mais!
Estávamos no 114o lugar em 2014, e este ano passamos para o ainda mais vergonhoso 118olugar no ranking. Estamos competindo com países como Honduras, Mali, Nigéria e Paquistão! Mas um otimista poderia apontar, justiça seja feita, que estamos melhores do que o Quênia, o Egito, Moçambique e a Índia. E também damos goleada na Venezuela, que colou em Cuba e Coreia do Norte na rabeira do ranking, para honrar os países comunistas.
Brincadeiras à parte – até porque rimos só para não chorar muito – o fato é que o Brasil, sob o governo Dilma, vem asfixiando cada vez mais as liberdades básicas da sociedade. Os gastos públicos crescentes e descontrolados, as intervenções estatais nos investimentos e na economia em geral, e a corrupção escancarada fazem com que o Brasil perca posições a cada nova avaliação.
Pontuação do Brasil vem caindo com Dilma. Fonte: Heritage
Temos governo demais, mercado de menos. Não temos regras claras do jogo, válidas igualmente para todos, e sim muitos privilégios distribuídos arbitrariamente pelo governo. Somos uma das economias mais fechadas do mundo. Possuímos uma das maiores cargas tributárias do planeta, além da mais complexa de todas. A burocracia é asfixiante. As leis trabalhistas são engessadas, rígidas. O governo se mete em tudo por aqui, controlando meticulosamente nossas vidas e as trocas no mercado.
No topo do ranking temos Hong Kong, Cingapura, Nova Zelândia, Austrália e Suíça. Esses, sim, poderiam ser “acusados” de “neoliberais”. Não por acaso são desenvolvidos, ricos, com elevada renda per capita. Mas nossos “intelectuais” de esquerda preferem condenar o capitalismo e o livre mercado por todos os males do mundo, aplaudindo sempre as intervenções estatais e atacando o capitalismo.
Se continuarmos assim, quando formos tão “livres” quanto a Venezuela a nossa esquerda ainda estará culpando o tal “neoliberalismo” por nossas desgraças, que certamente serão muito maiores…
Rodrigo Constantino

John Galt já está em Miami



Por Paulo Figueiredo Filho, para o Instituto Liberal
Na política, dizem que não há melhor pesquisa qualitativa do que uma conversa com um taxista. A minha versão pessoal é o meu cabelereiro – ou barbeiro, na tradução heterossexual. Talvez por isso eu converse com tanto interesse com o sujeito que apara minha cabeleira há uns 15 anos em um salão bacana na orla do Rio. Em nosso último bate-papo, chamou-me a atenção que ele se queixava da perda de vários clientes fiéis por um motivo: estavam todos se mudando do Brasil.
O mesmo assunto dominava o jantar no fim de semana na casa de um amigo na Barra da Tijuca. Dos presentes, entre executivos, empresários e escritores, quem não estava de mudança do Brasil invejava os demais. E assim tem sido, de forma cada vez mais frequente: amigos, fornecedores e até concorrentes me confidenciam que deixarão o Brasil, sem data para voltar. O motivo principal varia, muitos citam a violência, outros a bolivarização do ensino e da mídia, e tantos mais mencionam o inóspito ambiente para negócios, mas o pano de fundo é sempre o mesmo: a completa falta de esperança no Brasil.
O fenômeno, inclusive, parece generalizado, mas, para evitar o terreno subjetivo, sinto-me obrigado a citar exemplos reais. Em meu ramo, mesmo com toda a pujança, recebi a notícia de que a Host Hotels (dona de diversos hotéis no mundo, inclusive os da rede Marriott no Brasil), ao final do ano passado, fechou o escritório do Brasil e cuidará de seus interesses remotamente, de Miami. Algo parecido aconteceu com a gigante Starwood Hotels (dona das marcas Sheraton, Meridien, W, dentre outros), que também cerrou seu escritório de desenvolvimento no Brasil.
Ainda digna de nota foi a verdadeira história recente de outro projeto de hotelaria de altíssimo luxo, cujos investidores – que estão habituados a projetos no Caribe, Angola e Senegal – deixaram o país e encerraram os seus investimentos por aqui com a melancólica frase: “Fuck Brazil!”. Preferiram abandonar as obras pela metade e assimilar um prejuízo multimilionário a permanecer no país que, ainda nas palavras deles, “tem o ambiente de negócios mais hostil que já viram na vida”.
Independentemente de exemplos pontuais, desafio o leitor a examinar sua rede de relacionamentos e me jurar que não conheça alguém que esteja deixando o Brasil. O destino geralmente é Miami (“o Rio de Janeiro que deu certo”), mas pode variar. O importante é que, em minha vida, não consigo me lembrar de um fenômeno deste tipo e nesta magnitude, incluindo o grande êxodo de cariocas após a onda de sequestros no início dos anos 90.
Mas o que me causa grande preocupação não é propriamente a quantidade de pessoas que têm ido embora, mas a qualidade do material humano que nos deixa. Estamos perdendo alguns dos nossos melhores empresários, advogados, engenheiros, cientistas e até intelectuais. Em outras palavras: estamos perdendo aqueles que carregam o Brasil nas costas.
É impossível não estabelecer um paralelo com o livro da filósofa Ayn Rand, A Revolta de Atlas(também publicado com o título “Quem é John Galt?”). Para quem não leu o romance (leia!), trata-se de uma distopia onde, em um país controlado pelo governo e em uma sociedade dominada pelo relativismo e pelo coitadismo, todos os melhores cidadãos produtivos resolvem desistir de seus ramos e se exilar secretamente em um território inalcançável. Não estarei estragando nenhuma surpresa ao dizer que a massa que fica passa a pedir mais intervenção do governo, que é, naturalmente, inútil. Não restava mais ninguém de quem a riqueza pudesse ser sugada e todo o sistema entrava em colapso.
Nada disso aparece em alguma estatística do IBGE, nas projeções do IPEA ou mesmo no relatório Focus do Banco Central. Entretanto, metas de inflação, ajustes no orçamento, PACs, estímulos pontuais a setores, empréstimos do BNDES, regulamentações, programas de distribuição de renda e todas as ações que o governo brasileiro conseguir inventar não surtirão nenhum efeito se aqueles que carregaram o Brasil nas costas até hoje não estiverem mais aqui para fazê-lo. Como andam dizendo, o último que sair não precisará apagar a luz, pois já não haverá energia elétrica.

CADA ANIMAL CUIDA DE PROMOVER O SEU ALIMENTO PREFERIDO- Governo cria o DIA NACIONAL DO MILHO

O Dia Nacional do Milho, destinado a estimular e orientar a cultura do milho, será comemorado anualmente, em todo o território nacional, na data de 24 de maio.

IMB- Por que os serviços do setor privado parecem ser mais caros

Imagine que você seja um excelente mecânico e queira abrir uma nova oficina no seu bairro. O seu objetivo é ofertar serviços básicos de manutenção e conserto de carros para pessoas de baixa renda. E sua intenção é cobrar preços realmente bem acessíveis.

Para isso, você iria cobrar o mínimo possível por sua mão-de-obra, e utilizaria peças de reposição de segunda mão (mas decentes).

Esse seu serviço seria excelente para aquelas pessoas que querem apenas manter seus automóveis funcionando por alguns anos a mais — ou seja, seu empreendimento não seria nada muito chique, apenas funcional.

Imagine agora que o seu vizinho, vendo que o seu modelo foi bem-sucedido, também decida abrir uma oficina mecânica. Só que ele tem em mente um modelo diferente de negócios. Ele, por meio de um insistente lobby, conseguiu persuadir o governo local de que o acesso a serviços básicos de oficina mecânica é um "direito humano natural", de modo que tal serviço deve ser ofertado gratuitamente para todos os cidadãos.

Dado que ninguém é capaz de ter lucro ofertando serviços mecânicos gratuitos, torna-se necessário alguma maneira de financiar esse serviço "gratuito". Sendo assim, o governo e seu vizinho criam o seguinte esquema: o governo irá criar a "taxa da manutenção automotiva" e irá cobrá-la de absolutamente todas as pessoas que tenham carros no seu bairro, independentemente de se elas queiram ou não utilizar a oficina do seu vizinho. O dinheiro coletado será repassado para o seu vizinho.

Ato contínuo, seu vizinho abrirá a oficina e anunciará a todos que está ofertando serviços básicos de manutenção e conserto de carros gratuitamente a todos que queiram.

Agora você tem um problema. Mesmo que você esteja cobrando o mínimo por sua mão-de-obra e esteja utilizando as mais acessíveis peças de reposição — de modo que, por exemplo, você cobre apenas $50 para trocar um pára-choque —, você ainda sim estará cobrando muito mais caro do que seu vizinho subsidiado pelo governo, que cobra $0 pelo mesmo serviço.

Você pode tentar baratear ainda mais seu serviço não cobrando nada por sua mão-de-obra. Mas, mesmo não cobrando nada por sua mão-de-obra, você ainda tem de pagar pelas peças de reposição que você compra no mercado de usados. Esse é um custo que você tem, e você tem de repô-lo, caso contrário irá à falência. Ou seja, no longo prazo, você terá de ter alguma fonte de renda. Logo, você não pode ofertar sua mão-de-obra gratuitamente para sempre.

Portanto, reduzir o preço do seu serviço não irá torná-lo menos competitivo perante seu vizinho. Você tem de ofertar algo diferenciado, algo que atraia aquelas pessoas que estejam dispostas a pagar por serviços bons. Você pode continuar tentando ofertar serviços automotivos básicos, mas aí você terá de superar seu vizinho oferecendo serviços superiores aos seus clientes. Por exemplo, você pode tentar ser mais educado e mais cortês do que seu vizinho; você pode ofertar serviços mais rápidos; você pode dar algumas garantias a mais por seus serviços etc.

Mas a questão permanece: será que seus clientes valorizariam tanto esses benefícios extras ao ponto de estarem dispostos a pagar, digamos, $50 por eles? Talvez alguns até estejam, mas é mais provável que a maioria prefira receber um serviço inferior, mas gratuito, a um serviço superior, mas que cobre $50.

Lembre-se de que seus clientes são pessoas que querem apenas funcionalidade, e não coisas de primeira. Elas não ligam muito para os penduricalhos extras que você está disposto a oferecer.

Nesse ponto, você irá perceber que tem de mudar o enfoque. Você terá de se concentrar em outro nicho de clientes. Você agora precisa de pessoas que não estejam satisfeitas com os serviços do seu vizinho, ainda que eles sejam gratuitos. Seu objetivo será cortejar pessoas com carros mais novos, que queiram peças novas instaladas, e que também valorizem coisas como cortesia, pontualidade e conveniência ao ponto de estarem dispostas a pagar por elas.

É claro que esse novo tipo de serviço será mais caro do que aquele serviço simples e austero que você estava planejando inicialmente. Você irá abandonar seus planos de ofertar serviços básicos e, em vez disso, irá abrir uma oficina sofisticada e avançada, que ofereça serviços de alta qualidade a clientes dispostos a pagar mais caro.

Agora existem duas oficinas mecânicas no seu bairro: a do seu vizinho, que oferece serviços básicos a preço zero, mas que é sustentada com o dinheiro "taxa da manutenção automotiva" criada pelo governo e que incide sobre todos do bairro; e a sua, que oferece serviços superiores a clientes que estejam dispostos a pagar bem.

Qualquer um que olhe para essa situação sem saber de nada do que se passou durante o processo de tomada de decisão irá acreditar que a sua oficina privada é inerentemente mais cara por puro motivo de ganância, e que você é um elitista que se recusa a ofertar serviços a clientes mais pobres.

No entanto, é claro que essa é uma interpretação incorreta. Conhecer o processo de tomada de decisão que ocorreu nos bastidores, mas que ninguém viu, nos ajuda a entender que o surgimento da oficina sustentada por impostos obrigou a oficina privada a abandonar seus planos de ofertar serviços baratos. Mais ainda: empurrou a oficina privada para o mercado de serviços mais caros.

Nesse exemplo, a oficina privada não era inerentemente cara. Sua capacidade de ofertar serviços baratos é que foi impedida pelo surgimento da oficina financiada por impostos.

Utilizei um exemplo de uma oficina mecânica, mas é óbvio que a mensagem é muito mais geral. Esse raciocínio pode ser aplicado a absolutamente todos os produtos e serviços, e os resultados seriam similares. [Nota do IMB: entenda aqui como a existência do SUS encarece a medicina privada e os planos de saúde].

A existência de serviços básicos financiados por impostos expulsa a oferta privada do mesmo (ou até de um melhor) serviço, e estimula os empreendedores privados a se concentrarem em uma clientela de mais alta renda. Isso faz com que os serviços privados aparentem ser inerentemente mais caros. Mas essa é apenas uma impressão superficial. Entender a lógica das escolhas humanas que levam a esse resultado nos faz entender por que não podemos nos deixar enganar por essa impressão superficial.



Predrag Rajsic é pós-doutorando no Departamento de Agricultura, Alimentação e Recursos na Universidade de Guelph, Ontário, Canadá.

LEANDRO NARLOCH- Trocando em miúdos o balanço da Petrobras

Como seria o texto do balanço da Petrobras se eliminássemos eufemismos e o traduzíssemos para o português? Minha tentativa vai abaixo – aceito sugestões nos comentários.

A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.
Seguinte: teve uma roubalheira danada por aqui, como vocês estão cansados de saber. Agora (ai que vergonha!) a gente vai ter que estimar quanto roubaram.

No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”. Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.
Gente, mas isso é difícil demais! Envolve matemática. Ninguém aqui na Petrobras sabe patavina sobre preço real das coisas. Na verdade tinha uma senhora que sabia, mas ela era meio chatinha e a mandamos pra Cingapura. Até pensamos nuns jeitos de calcular, mas já era 16h30, fim de expediente, daí desistimos. Ia dar um trabalho… 

O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado.
Resolvemos perguntar para a dona Maria, a senhora que traz café aqui na sala do conselho. “Diga um número, dona Maria!” Ela disse 88, o que a maioria dos conselheiros achou razoável e de boas vibrações. Mas 88 milhões ou bilhões? Passamos duas horas discutindo isso, até decidirmos que 88 bilhões soava mais natural para uma empresa do nosso tamanho. Pra ficar verossímil, quebramos para 88,6 bilhões. 

No entanto, o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta “proxy” adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente, quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital), mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados, mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia e suprimento).
Mas depois de meia hora tentando fazer os cálculos, percebemos que seria um trabalho chato demais da conta. Esses cálculos são pura loucura, cheios de variáveis, taxa de câmbio, desconto, preço, insumos, salários e mais um montão de coisas pra complicar, além da barbeiragem dos engenheiros. 

Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC).  
Enfim, empurramos o problema com a barriga. Poxa, CVM e SEC , deem uma ajudinha! 

O LEÃO DO JABUTI MANCA- Arrecadação federal tem primeira queda desde 2009

CHUPINS EM AÇÃO- Movimento no PSB indica reaproximação do governo

LE BOST- Cerveró mantém silêncio em depoimento à Polícia Federal

LA MERD- Petrobras perde R$ 13,9 bi em valor de mercado em um dia

Ações da petroleira recuaram mais de 10% na Bovespa nesta quarta após divulgação de balanço sem considerar perda com corrupção.

“Fidel sempre teve discursos longos e enfadonhos. Tão sonolentos que até mesmo ele dormia de olhos abertos.” (Cubaninho)

VELHO ASNO

“Raul Castro não é pior que Fidel Castro. Ninguém pode ser pior que Fidel, é humanamente impossível. Os discursos intermináveis ao sol a que nos submetia torraram minha tolerância para com este asno vermelho.” (Cubaninho)

“Em Cuba somos todos livres para conversar em voz baixa com o nosso eu interior.” (Cubaninho)

“Não crio limo, estou sempre pulando de cachorro em cachorro. Já morei com um gato, mas o abandonei quando ele começou a usar inseticida. Vida insegura.” (Pulga Lurdes)

"Acordar com os cascos atacados pelo reumatismo. Não tem preço." (Nono Ambrósio)

"Já fui o Terror das Domésticas da Vila Sapo. Hoje não passo de um reles Conde Drácula da Terceira Idade, não traço ninguém, só beijo e mordo pescoço." (Nono Ambrósio)

"Tenho a mente tão aberta que às vezes entra poeira.” (Pócrates)

Deu pra nós

DEU PRA NÓS
A morte?
A morte não é o começo de nada
A morte é o fim de tudo
E uma grande alegria para os vermes
Salvo se uma cremação não estragar a festa.

Instituto Liberal- A falta de postura da impostura

Dilma participa de cerimônia no Porto de Suape
Não faz muito tempo que cheguei aqui no Instituto Liberal, mas já mostrei serviço. Semana passada, quando comparei Dilma ao personagem Wally, afirmei que ela estava sumida, provavelmente escondida em algum porão de algum palácio do governo. Repito-me. Repito-me demoradamente:
”Dilma virou o nosso Wally. Aécio Neves quer saber onde ela está. Eu também quero. Os pagadores de impostos idem. Certamente se escondeu em algum lugar do Palácio do Planalto, cercada de assessores em quem ela pode descarregar aquela sua educação costumeira sem ser contestada.”
Acertei na mosca. O ressurgimento de Dilma se deu no Palácio do Planalto, dando uma descompostura em um assessor qualquer em meio a Reunião Ministerial. Foi o que captou o meu amigo Leandro Ferreira, editor do excelente blog Teleguiado. Na ocasião, Dilma dizia uma patacoada nacionalista qualquer quando, talvez apressada pela vontade inescapável de sumir novamente, se adiantou à velocidade do Teleprompter. Culpou o técnico responsável pelo funcionamento do aparelho, instando-o a fazer a coisa funcionar com uma velocidade compatível a capacidade dela de mentir.
O trogloditismo de Dilma é notório. Tão notório quanto o trogloditismo de seu ventríloquo. A grossura de Lula já foi narrada em livro, pelas penas dos jornalistas Leonêncio Nossa e Eduardo Scolese, no revelador “Viagens com o Presidente”. As de Dilma são contadas nas colunas que tratam dos bastidores da política. Em um de seus arroubos, ela fez até José Sergio Gabrielli chorar. Segundo matéria do jornal O Globo, publicada em 2009, “Dilma não poupa adjetivos quando o trabalho realizado não lhe satisfaz. Imbecil é uma das palavras mais usadas por ela ao ver ordens não cumpridas”. Duvido que o técnico do teleprompter presidencial seja mais imbecil do que muitos dos ministros presentes na reunião.
A severidade com que Dilma trata os pequenos serviçais é inversamente proporcional à complacência que ela dispensa aos grandes oligarcas que se servem do governo. É mais fácil exigir rapidez no texto que aparece no telempropter do que nas obras do PAC que aparecem atrasadas no calendário. O técnico, afinal, é um mero proletário que pode ser chutado de modo a não envergonhar a mandatária da administração popular.  Já os oligarcas e os grandes barões do capitalismo de Estado, esses são por demais importantes para que lhes seja dirigida uma cara feia, uma carranca, um olhar intolerante de poucos amigos, ainda que quando flagrados com a boca na cumbuca pública.
Ser chefe de governo é serviço para quem se talhou não só com preparo administrativo e político, mas também com postura no trato. A postura de Dilma foi ornada enquanto se embrenhava nos matagais companheiros dos idos de VAR-Palmares. A postura de Lula, por sua vez, o foi nos grotões, às custas de cabritas e outros prováveis quadrúpedes. Um país não pode ir para frente com quem tem tanto desapreço e faz tão pouco da faixa que recebeu dos eleitores. Dilma trata mal os seus subalternos, mas ainda pior a instituição da Presidência.
Adendos Importantes:
Confiram o vídeo em que Dilma faz carrancas para o técnico do Teleprompter: https://www.youtube.com/watch?v=Rka3OUTXQk4
Confiram o vídeo em que Dilma destrata a jornalista que a socorreu depois de uma alegada “queda de pressão” ao fim de um debate com Aécio Neves: https://www.youtube.com/watch?v=hbzTE8Pu284
Confiram o vídeo em Lula, na companhia do indefectível Sérgio Cabral, é grosseiro com um favelado carioca: https://www.youtube.com/watch?v=L-7_J_Oh8sY
Trecho da página 249 do livro “Viagens com Presidente”, onde é narrada uma ocasião onde Lula se recusa a ler um discurso. Leiam o trecho do livro tentando imitar Lula em sua fala:
Na suíte do hotel, recebe das mãos de assessores discurso sobre combate mundial à fome. Diante do ministro Celso Amorim e dos auxiliares do Planalto e do Itamaraty, folheia rapidamente a papelada e arremessa a metros de distância:
— Enfiem no cu esse discurso, caralho. Não é isso que eu quero, porra. Eu não vou ler essa merda. Vai todo mundo tomar no cu. Mudem isso, rápido.

Instituto Liberal-A Tragédia (anunciada) Grega

A Grécia terminou 2014 em maus lençóis. Sua dívida pública corresponde atualmente aquase o dobro de seu PIB, o crescimento de sua economia foi negativo em 2013 e baixíssimo em 2014 (0,6% – sim, ainda assim maior do que o crescimento da economia brasileira). E a coisa tende a ficar pior.
Tudo isso porque neste domingo, 25/01, os eleitores gregos foram às urnas e optaram em boa parte pelo Syriza, partido cujas posições parecem ser a mescla de um socialismo trotskista com um populismo proto-bolivariano e uma forte retórica anti-União Europeia.
O Syriza fez diversas promessas ao longo da campanha que cativaram boa parte do eleitorando, que lhe deu 36,3% dos votos. O partido liderado Alexis Tsipras prometeu exigir a renegociação das dívida grega (eufemismo para ‘calote’), aumentar o salário mínimo e os benefícios sociais, e até religar a luz de domicílios que não tivessem pago sua conta. Tudo isso sem aumento de impostos (outra promessa de campanha).
Ao que tudo indica, devemos lamentar pelos gregos, que jogaram fora hoje a possibilidade de se recuperarem economicamente nos próximos anos ao elegerem um governo que tem tudo para afundar ainda mais o país. A Grécia chegou à atual situação de quase insolvência fiscal (governos não quebram, como bem sabemos) devido a anos e anos de gastança desenfreada. Talvez seja necessária uma queda ainda maior para que os gregos finalmente caiam na real e entendam que não se pode viver eternamente gastando além das suas possibilidades. Como afirmou celebremente Thomas Paine em seu “Common Sense”, “o tempo converte mais do que a razão”.
Eleger um governo socialista em meio a uma crise nas finanças públicas é algo que pode ser comparado a ir morar na Cracolândia para se livrar do vício em crack. Aliás, éaté pior, pois sempre se ouve falar da história de um ou outro viciado que se cura. Já exemplos de países que deram certo implementando medidas socialistas não conhecemos rigorosamente nenhum.
Ao longo dos próximos anos o povo da Grécia deverá aprender na prática que “o socialismo dura até que acabe o dinheiro dos outros”. A Grécia é um dos países mais pobres da Europa, mas ainda assim muito mais rica do que qualquer país latino-americano. Minha aposta, no entanto, é que a conta política de se tentar ignorar os ventos da realidade  venha antes mesmo de a Luciana Genro, tiete de Alexis Tsipras e do pessoal do Syriza, aprender a falar “austeridade fiscal” em grego.
Mas o pior é saber que, ao fim, a esquerda greco-brasileira colocará a culpa de mais essa tragédia socialista em uma suposta “deturpação de marx” ou no “neoliberalismo”. Como é fácil ser esquerdista!
Diretor de Relações Institucionais do IL
Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também estudou Economia. Graduado em Liderança para a Competitividade Global pela Georgetown University (EUA) e em Política e Sociedade Civil pela International Academy for Leadership (Alemanha). Mestre em Ciências Sociais/Ciência Política na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). É Diretor de Relações Institucionais do Instituto Liberal.

CORDIAL, PERO NO MUCHO

Brasileiro cordial
País da paz
Foi nisso que acreditou uma pombinha imigrante
Ao vir para o Brasil fugindo da Venezuela
Pois nem bem chegou ao Rio de Janeiro
Recebeu uma bala no peito
Prêmio de um traficante
Que comemorava mais um dia de boas vendas.

“Chorar em velório é fácil. Duro é doar um rim.” (Mim)

O tempo que temos

O tempo que temos
Na jornada da vida é finito
É preciso aproveitar o tempo que temos
Para deixar um recado
E dizer por que viemos.

Biografia: Booker T. Washington Postado em 28 de Janeiro, 2015. Autor Jim Powell

History_speeches_2001_booker_t_washington_race_relations_still_624x352

Booker T. Washington fez mais do que qualquer outra pessoa para ajudar os negros americanos a erguerem-se da escravidão. Fundou uma importante instituição, a Tuskegee (agora Universidade Tuskegee), que ajudou dezenas de milhares de pessoas a adquirir as qualificações de que precisavam. A universidade já formou pessoas vindas da África, de Cuba, da Jamaica, de Porto Rico e de outros países, assim como dos Estados Unidos. A pesquisa feita em Tuskegee, especialmente a do botânico George Washington Carver, ajudou fazendeiros pobres do sul.

A influência de Washington como educador vai muito além de Tuskegee. Ele dirigiu uma campanha privada que levou à construção de milhares de escolas primárias para negros. Como membro dos conselhos de administração da Universidade Howard e da Universidade Fisk, as duas principais instituições de ensino superior para negros, ele angariou centenas de milhares de dólares.

A inspiradora autobiografia de Washington, Up from Slavery “Elevado da escravidão”, foi traduzida para diversos idiomas e ainda está em catálogo. Embora tenha nascido escravo, Washington obteve uma boa educação e encontrou uma importante vocação, e ajudou outros negros a melhorar suas vidas apesar das leis discriminatórias. Ele acreditava que responsabilidade pessoal e espírito empreendedor são cruciais. Assim ele expressou sua visão de longo prazo: “Intelecto, propriedade e caráter para os negros resolverão a questão dos direitos civis.”

Ensinar comportamento moral e competência era o melhor modo de promover a harmonia entre as raças, pensava ele. Ele não acreditava que a salvação viria por meio do governo. Quanto mais os negros produzissem coisas de que os brancos precisassem, maior a probabilidade de que os brancos abandonassem os estereótipos raciais e mostrassem respeito. Para melhorar as relações entre as raças era necessário mudar os corações humanos, o que não pode ser feito através de leis.

Os esforços de Washington para atrair a boa-vontade da maioria branca, que controlava as legislaturas, os tribunais, as empresas, os jornais, as universidades e demais instituições, foram severamente criticados por intelectuais negros do norte como W. E. B. Du Bois, que defendiam táticas de confronto para combater a segregação racial. A historiadora Page Smith oferece a seguinte perspectiva: “Grande parte da discussão atual sobre a educação e a filosofia racial de Washington não leva em conta o fato de que ele não tinha alternativa. Em seu tempo e lugar, sua doutrina de que os negros devem conquistar a confiança e a amizade dos brancos para fazer progressos, mesmo que modestos, era indubitavelmente verdadeira. Aqueles que discordavam dele, quase sem exceção, não viviam no sul. No mínimo, não tinham que proteger uma instituição – Tuskegee – pela qual ele era o principal, se não o único, responsável.”

Até a publicação da biografia escrita por Louis R. Harlan, cujo primeiro volume saiu em 1972, poucas pessoas sabiam que Washington combateu a segregação racial secretamente. Usava os contatos que estabeleceu durante as longas viagens que fazia pelo norte e pelo oeste para arrecadar fundos. Insistia em permanecer anônimo ao financiar processos judiciais que desafiaram a exclusão dos negros do direito ao voto e dos júris, e a aplicação indevida da pena de morte.

Washington nunca se afastou de suas raízes. Segundo Harlan, “Em suas aparições públicas, ele se vestia como um camponês próspero, usando chapéu de feltro marrom em vez de cartola. Sua origem rural sulista também transparecia em seu modo de falar, jamais grosseiro mas sempre simples e direto... Ele andou a cavalo a vida inteira, caçava e pescava sempre que podia, e relaxava cultivando seu próprio jardim.” E mesmo assim ele se tornou um dos mais dinâmicos oradores públicos de sua época, viajando pelos Estados Unidos e pela Europa promovendo a responsabilidade individual, auto-ajuda, dedicação ao trabalho, austeridade, e boa-vontade. Sua ex-professora Nathalie Lord relembrou: “Consigo ver sua figura masculina, seu rosto forte e expressivo, e ouvir sua voz, tão poderosa e séria quando um pensamento o exigia, mas também gentil e terna...”

Booker Taliaferro Washington nasceu em uma plantação pertencente a James Burroughs, próxima a Hale’s Ford, no estado de Virgínia, provavelmente em abril de 1856. Sua mãe, Jane, quase certamente deu à luz em um chalé de madeira, sobre um chão de terra coberto por trapos. Ele nunca soube quem era seu pai. Sua mãe era a cozinheira da família Burroughs. Washington conta: “Ela roubava alguns momentos para cuidar dos filhos no início da manhã, antes de começar o trabalho, e à noite após terminar o trabalho do dia... Não me lembro de uma única ocasião de minha infância ou início de juventude em que toda a nossa família tenha se sentado à mesa... As crianças conseguiam comida de um jeito muito parecido com o dos animais. Era um pedaço de pão aqui, um resto de carne ali.”

Após a Guerra Civil, a família se mudou para Malden, em West Virginia, onde fábricas de sal e minas de carvão ofereciam trabalho. O jovem Washington tinha um enorme desejo de ler e escrever, mas as leis sulistas proibiam a alfabetização de negros. Sua mãe deu a ele uma cartilha, e ele começou a frequentar a escola dominical na Igreja Batista Africana, onde aprendeu com William Davis, um garoto de Ohio de dezoito anos que vivia com o pastor. Uma escola abriu na cidade próxima de Tinkerville, e Washington passou a frequentá-la enquanto trabalhava nas fábricas de sal.

Então Washington foi trabalhar como criado para Louis Ruffner e sua esposa, Viola, e aprendeu a fazer faxina de acordo com os padrões rígidos da Sra. Ruffner. Depois de aproximadamente um ano e meio, Washington partiu para uma escola da qual havia ouvido falar – o Hampton Normal and Agricultural Institute, em Hampton, na Virgínia, onde negros pobres podiam pagar suas despesas trabalhando no campus. Washington percorreu parte das 500 milhas até a escola de trem, depois de diligência, até que ficou sem dinheiro. Ele andou o resto do caminho, ocasionalmente pegando caronas em carroças que passavam. Quando chegou em Richmond, não tinha dinheiro algum, e teve de dormir sob uma passarela. Ele ganhou dinheiro para comer ajudando a descarregar lingotes de ferro de um navio, e continuou fazendo este trabalho até acumular cinquenta centavos, o suficiente para terminar a viagem.

Quando chegou à escola, suas roupas estavam esfarrapadas, e ele não tomava banho havia algum tempo. A diretora, Mary Fletcher Mackie, testou sua capacidade de trabalho pedindo a ele que limpasse uma sala de aula. Ele fez um trabalho minucioso, e ela o aceitou. Ele concordou em trabalhar como faxineiro para pagar suas despesas. “A vida em Hampton era um aprendizado constante,” relatou Washington, “Fazer refeições em horários regulares, em uma mesa com toalha e usando um guardanapo, usar banheira e escova de dentes, e também lençóis na cama, eram novidades para mim.” Washington foi apresentado à oratória por um professor que lhe deu aulas particulares de respiração, ênfase e articulação. Ele participou da sociedade de debates, que se reunia aos sábados à noite. A parte mais extraordinária de Hampton era seu fundador de trinta e três anos, Samuel Chapman Armstrong, um exemplo inspirador de integridade, responsabilidade e empreendedorismo.

Após se formar, em 1875, Washington foi convidado para dar aulas na escola Tinkerville, onde demonstrou considerável iniciativa. Ele ensinava noções de higiene, além de leitura, escrita e aritmética. Logo a classe tinha mais de oitenta alunos, e ele fundou uma escola noturna, que também atraiu cerca de oitenta alunos. Ele deu aulas de catecismo na Igreja Batista Zion e na fábrica de sal Snow Hill, fundou uma biblioteca pública e uma sociedade de debates, e mais tarde abriu uma escola noturna em Hampton.

Em 1881, Armstrong recebeu uma carta pedindo que recomendasse uma pessoa que pudesse ser um bom diretor para uma nova escola em Tuskegee, no Alabama, uma cidadezinha a cerca de cinco milhas da estação ferroviária mais próxima. A função da escola seria treinar professores primários. Armstrong recomendou Washington, e ele foi aceito. Quando chegou, em 24 de junho, descobriu que a escola ainda não havia sido construída ou financiada.

Washington decidiu que embora a escola fosse começar com algum dinheiro público, ele manteria o máximo de independência que pudesse. A nova escola, chamada Instituto Tuskegee, começou a funcionar na igreja Metodista Africana, em 4 de julho de 1881. Washington convenceu um homem da região a emprestar-lhe duzentos dólares para comprar uma fazenda abandonada que os alunos pudessem transformar em um campus, e o título da propriedade ficou em nome da escola, e não do estado. Amigos doaram jornais, livros, mapas, garfos e facas. Washington, o único professor, adotou uma disciplina muito parecida com a de Hampton, com inspeções diárias de roupas, quartos e instalações. O número inicial de alunos, cerca de trinta e sete, dobrou em dois meses, e Washington começou a contratar novos professores, em sua maioria formados em Hampton.

Ao longo dos anos, o contratado mais ilustre de Washington foi o botânico George Washington Carver (1861?-1943). Nascido escravo no Misouri, ele foi separado da mãe e nunca conheceu seu pai. Sustentando a si mesmo como empregado doméstico, lavador de roupas, cozinheiro de hotel e trabalhador rural, ele aprendeu tanto quanto pôde sobre plantas e animais. Conseguiu completar o ensino secundário quase aos trinta anos. Entrou na Simpson College, em Indianola, Iowa, e mais tarde se transferiu para o Iowa State Agricultural College, onde obteve o grau de bacharel (1894), e de mestre (1896). Em Tuskegee, ele assumiu o departamento de agricultura. O sistema de monocultura do sul havia exaurido o solo, e Carver incentivou os fazendeiros a restaurar o nitrogênio ao solo plantando soja, amendoim, e batata-doce. Como havia pouca demanda por esses produtos, Carver imaginou centenas maneiras novas de usá-los.

Com o comerciante George Marshall encarregado de administrar as finanças, Washington e a professora de Tuskegee Olivia Davidson (matemática, astronomia, botânica), começaram a fazer viagens pelos estados do norte para angariar fundos, chegando a levantar três mil dólares por mês. Então começaram a receber doações de fundos filantrópicos do norte, como o Slater Fund e o Peabody Fund. Washington organizou os Tuskegee Singers [“cantores de Tuskegee”], que fizeram turnês pelo norte arrecadando dinheiro. Uma viúva da Nova Inglaterra deu a Washington um relógio de ouro, que ele penhorou diversas vezes.

Em 2 de agosto de 1882, Washington casou-se com Fanny Smith, que havia sido sua aluna em Tinkersville e depois se formado em Hampton. Tiveram uma filha, Portia, nascida em 1883. Fanny morreu no ano seguinte, aos vinte e seis anos. Em 1885, ele se casou com Olivia Davidson. Tiveram dois filhos, Booker Taliaferro Washington Jr. e Ernest Davidson Washington. A saúde de Olivia, que era frágil, piorou após o parto, e ela faleceu em 8 de maio de 1889.

Quando fez uma palestra na Fisk University, Washington conheceu uma aluna do último ano chamada Margaret James Murray, que havia escrito para ele a respeito de uma vaga de professora em Tuskegee. Impressionado, ele a contratou para ensinar inglês. Logo ela se tornou supervisora de indústrias femininas em Tuskegee. Então ele a convidou para ser a diretora. Os dois acabaram casando-se. Ela assumiu mais e mais responsabilidades em Tuskegee, dando a Washington tempo para se dedicar à arrecadação de fundos e a questões políticas.

Em 18 de setembro de 1895, Washington discursou na Exposição Internacional dos Estados Algodoeiros. Ele observou que um terço da população do sul era negra, portanto o sul não poderia prosperar a menos que os negros prosperassem. Ele recomendou aos negros que “baixem seus baldes onde estão” e aproveitem todas as oportunidades disponíveis, e aos brancos que “baixem seus baldes entre esses homens [negros] que, sem greves ou rebeliões, araram seus campos, derrubaram suas florestas, construíram suas ferrovias e cidades e extraíram tesouros das entranhas da terra, e ajudaram a tornar possível esta magnífica representação do progresso do sul.” Então, em um apelo à paz racial, ele propôs o que se tornaria conhecido como a Conciliação de Atlanta: “Em todas as coisas puramente sociais, podemos ser tão separados como dedos, mas unidos como uma mão em tudo que for essencial ao progresso mútuo.”

Instantaneamente, Washington foi reconhecido como um líder negro, um sucessor de Frederick Douglass, que havia morrido sete meses antes. Foram tempos difíceis, porque as tendências continuaram a se mover contra os negros. Em 1890, o Mississippi havia sido o primeiro estado a negar aos negros o direito ao voto. A Carolina do Sul fez o mesmo em 1895. Três anos depois, Washington tentou impedir a Louisiana de seguir o exemplo. Não teve sucesso, mas venceu na Geórgia. A seguir, apesar de todos os seus esforços, o Alabama também negou o voto aos negros em 1900.

Washington fez tudo que pôde para influenciar opiniões políticas, chegando a fazer três palestras por dia. Em outubro de 1898, ele avisou dezesseis mil pessoas no Chicago Peace Jubilee: “Nós teremos, especialmente no sul do nosso país, um câncer atacando o coração da República, que um dia se revelará tão perigoso quanto um ataque de um exército externo ou interno.”

Por conta de suas muitas viagens, ele sofria de fadiga crônica, por isso seus patrocinadores do norte providenciaram férias na Europa para Washington e sua esposa. Na Holanda, ele ficou impressionado pela eficiência com que os fazendeiros extraíam um bom padrão de vida de propriedades pequenas. O casal foi tratado como celebridade em Paris e Londres; a rainha Vitória serviu-lhes o chá. Conheceram Mark Twain, Susan B. Anthony, e Henry Stanley (o jornalista britânico que havia encontrado o explorador e abolicionista David Livingstone na África).

De volta aos Estados Unidos, Washington contratou um escritor para ajudá-lo com suas memórias. O resultado, Story of My Life and Work “História de minha vida e obra”, foi publicado por uma empresa de Naperville, Illinois, que vendia livros por assinatura. Segundo os registros, setenta e cinco mil cópias foram vendidas. Então ele contratou o escritor Max Bennet Thrasher, do estado de Vermont, e Walter Hines Page, da editora Doubleday, concordou em publicar uma autobiografia melhor. O livro, Up from Slavery, saiu em 1901. Foi traduzido para o árabe, o chinês, o dinamarquês, o holandês, o finlandês, o francês, o alemão, o hindi, o japonês, o malaio, o norueguês, o russo, o espanhol, o sueco e o zulu.

Up from Slavery teve um enorme impacto nas arrecadações. Entre os que foram levados pelo livro a apoiar Tuskegee estão o empresário da fotografia George Eastmann, o sócio da Standard Oil Henry H. Rogers, e o empresário do aço Andrew Carnegie. Percebendo que os judeus também haviam sofrido muito, Washington fez apelos bem-sucedidos a empreendedores judeus como os banqueiros Jacob Schiff, Paul Warburg, Isaac Seligman e as famílias Lehman, Goldman, e Sachs. O executivo-chefe da Sears Roebuck, Julius Rosenwald, tornou-se um grande doador. Washington conquistou os corações desses empresários com sua austeridade e iniciativa. Após construir o Rockefeller Hall por menos do que havia sido previsto, Washington enviou a John Rockefeller Jr. um reembolso de US$239.

Washington se indignava com o fato de que todos tinham de pagar impostos para financiar a educação pública, mas quase nada deste dinheiro beneficiava os negros. A quaker da Filadélfia Anna Jeanes nomeou Washington para gastar um milhão de dólares para melhorar a qualidade dos professores das crianças negras do sul. Washington foi conselheiro de Julius Rosenwald, que começou a financiar a contrução de escolas para crianças negras por todo o sul. Ele ajudou a promover a educação universitária para negros quando fez parte dos conselhos das universidades Howard e Fisk, e usou sua influência com Carnegie para conseguir uma biblioteca para Howard. Washington também persuadiu Carnegie a doar US$25.000 à universidade Fisk. Washington e o advogado corporativo novaiorquino Paul Cravath se encarregaram de uma campanha de arrecadação de fundos para Fisk de US$300.000.

Por baixo dos panos, Washington ajudava a montar um contra-ataque jurídico aos esforços crescentes para negar aos negros suas liberdades civis. Ele pagou seu advogado pessoal de Nova York, Wilfred Smith, para levar dois casos do Alabama sobre o direito ao voto, Giles v. Harris (1903) e Giles v. Teasley (1904), à Suprema Côrte. Perderam. A seguir, Washington e Smith desafiaram a prática de excluir negros dos júris com mais um caso do Alabama, que eles levaram à Suprema Côrte em 1904. A Côrte reverteu a condenação de um homem negro que havia sido considerado culpado por um júri do qual negros haviam sido excluídos. Washington arrecadou dinheiro e contratou advogados que convenceram a Suprema Côrte a revogar leis que forçavam devedores a se tornar servos de seus credores.

Por ser uma figura pública tão conciliadora e lutar contra a segregação secretamente, Washington foi duramente criticado por intelectuais negros radicais do norte. Seu crítico mais persistente foi W. E. B. Du Bois, sociólogo nascido em Massachusetts, formado pela Fisk University, e com um PhD da universidade de Harvard. Suas críticas a Washington apareceram na revista Dial e no livro The Souls of Black Folk “As almas do povo negro”, entre outros. “O sr. Washington”, acusou ele, “representa, no pensamento negro, a velha atitude de adaptação e submissão.”

Em novembro de 1915, Washington começou a sofrer os sintomas de sérios problemas renais e hipertensão. Ele foi ao hospital St. Luke’s, em Nova York, e consultou os médicos de lá, mas não havia muito que eles pudessem fazer. Ele decidiu voltar para casa. “Nasci no sul,” disse, “vivi e trabalhei no sul, e espero morrer e ser enterrado no sul.” Sua esposa o ajudou a pegar o trem na estação Pennsylvania na sexta-feira, 12 de novembro. Ela providenciou uma ambulância para encontrá-los em Chehaw, a estação que ficava a cerca de cinco milhas de Tuskegee, por volta das nove horas da noite de sábado.

Washington tinha muitos motivos de orgulho. Tuskegee tinha cerca de duzentos professores treinando aproximadamente dois mil e quinhentos alunos em trinta e oito profissões. O campus tinha cem edifícios modernos. Tuskegee não tinha dívidas e possuía mais de dois mil acres de terra e um fundo de mais de 2 milhões de dólares. O mais importante legado eram os formandos, que, observou ele, “estão mostrando às massas de nossa raça como melhorar sua vida material, educacional, moral e religiosa.... [eles estão] fazendo os homens brancos do sul aprenderem a acreditar no valor de educar os homens e mulheres de minha raça.”

Washington chegou à sua casa, mas faleceu às 4:45 da manhã de domingo, 14 de novembro de 1915. Tinha cinquenta e nove anos. Um funeral simples foi organizado na quarta-feira, em Tuskegee. Ele foi enterrado no cemitério do campus, com um enorme pedaço de granito como lápide.

A auto-ajuda saiu de moda entre os intelectuais negros, que, como W. E. B. Du Bois, passaram a acreditar que melhorar a vida dos negros dependia de ação política e intervenção governamental. No entanto, embora os negros não tenham feito avanço político algum entre as décadas de 1890 e 1920, conforme Thomas Sowell escreveu em seu livro Race and Economics “Raça e economia”, “para a massa da população negra, esses foram anos de grande avanço econômico... e mesmo culturalmente, a década de 1920 foi um período de grande desenvolvimento, às vezes chamado de ‘renascença negra’ ou de surgimento do ‘novo negro’. Grandes números de negros ingressaram nas profissões industriais pela primeira vez durante a primeira guerra mundial, e começaram um movimento de migração em massa para o norte que transformou a história da América negra.”

Du Bois viveu por mais quase meio século após a morte de Washington, e sua crença na salvação através do governo teve grande influência sobre os intelectuais negros, embora a renda dos negros, relativamente à dos brancos, tenha caído durante o New Deal do presidente Franklin D. Roosevelt. Du Bois perdeu credibilidade ao aderir ao comunismo, e mesmo ao ditador soviético Josef Stálin.

Os negros, no entanto, continuaram a ajudar a si mesmos. Após a Segunda Guerra Mundial, quatro vezes mais negros migraram do sul para o norte do que nos anos 1920. “A segunda Grande Migração trouxe enormes melhoras na qualidade dos empregos ocupados pelos afro-americanos e em suas rendas”, relatam Stephan e Abigail Thernstrom em seu livro America in Black and White “América em preto e branco”. “Em muitos aspectos, o progresso foi mais rápido antes das leis sobre direitos civis do início dos anos 1960 e as políticas de ação afirmativa que começaram no final da mesma década, do que tem sido desde então.”

Booker T. Washington provou compreender como melhorar as vidas das pessoas, especialmente dos mais pobres, muito melhor do que Du Bois. Ele compreendeu que é possível fazer progressos espantosos, mesmo em um ambiente político hostil, se os indivíduos se educarem, trabalharem duro, e produzirem coisas que outras pessoas querem. Ele reconheceu que, em se tratando de avanço individual, não há nada que substitua responsabilidade, honestidade, austeridade e boa-vontade. O caráter faz o destino.



* Publicado originalmente em 06/03/2009.

“A inveja aos vitoriosos é o que motiva um comunista. Todos devem ser iguais para que a sua pequenez não seja reconhecida.” (Eriatlov)

“Se o dicionário é o pai dos burros a internet seria a mãe?” (Mim)

Portal Libertarianismo-A maldição de ter algo em troca de nada

N. do revisor: Este artigo foi escrito e publicado nos EUA durante a década de 1950.
O presidente do banco tem uma fé implícita na integridade do seu caixa. O caixa repentinamente desaparece com 50 mil dólares.
Um homem caminha apressadamente em meio à multidão da Times Square na virada do Ano Novo. Ele busca sua carteira. Ela se foi; roubada por alguém.
Uma família volta de férias. Sua casa foi saqueada. Objetos de valor foram levados.
Dois seguranças de um carro forte são mortos na entrada de um banco. Dois meliantes armados pegam os malotes de dinheiro e desaparecem.
Se você é um leitor regular de jornais, os eventos brevemente descritos acima deveriam soar familiares. Talvez, em algum momento, você pode ter pensado sobre como um adulto forte e saudável chega ao ponto de cometer tais crimes. Existem, pelo menos, duas verdades sobre tais ações que são óbvias, embora sejam frequentemente negligenciadas. A primeira delas é o simples fato de que uma pessoa que comete um crime similar aos supracitados deve planejá-lo.
Pergunta-se, então, “Como o pensamento de tais pessoas fica tão obscurecido ao ponto de leva-las, em ultima instância, ao caminho do crime?
A resposta a essa pergunta trata da segunda verdade óbvia sobre o comportamento criminoso anteriormente descrito. É essa: em cada um dos 4 casos mencionados, o vilão da ação tomou algo que não era seu; algo que não tinha obtido por seu trabalho; algo pelo que ele não estava oferecendo nada em troca; algo por nada.
Existe em quase todos nós, aquele velho sentimento, para não dizer sonho, de adquirir algo por nada; em pequenas ou grandes quantidades. Alguns de nós compram bilhetes de loteria em quase todas as oportunidades. Alguns de nós jogam o jogo do bicho. Alguns de nós secretamente esperam a morte de um parente rico, na expectativa de sejamos lembrados generosamente no seu testamento. Alguns de nós processam outros em busca de indenizações substanciais quando, na verdade, pouco ou nenhum dano foi causado. Alguns de nós ansiosamente buscam dicas sobre a bolsa de valores ou corridas de cavalos. Alguns de nós sucumbem à fascinação da máquina de caça-níqueis ou da roleta. E muitos de nós se recordam, com sentimentos nostálgicos, do encanto de nossa infância na crença do pote de ouro ao final do arco-írisE assim continua, num refrão interminável: Something for nothing, Something for nothing, Something for nothing (N. do Revisor: Something for nothing, em tradução livre, é algo como “Algo por/em troca de nada.” Os dois termos são utilizados no texto.)
Pensar constantemente sobre “algo por nada” pode levar a maquinações constantes sobre como conseguir “algo por nada”. Como resultado, todos os desejos de ganhar a vida através do seu trabalho desaparecem. E, se isso ocorrer, receber sem dar torna-se o método aceito de sobrevivência. Aqui está a resposta à questão de como o pensamento de algumas pessoas pode tornar-se tão obscurecido ao ponto de leva-las ao crime.
No entanto, somente um número relativamente pequeno de pessoas permite que o apelo de algo por nada as seduza a cometer atos criminosos. Outros, quase cometem crimes, permitindo seduzir-se pela vida de mendicância. Outros ainda desenvolvem uma facilidade de trapacear dentro da lei. E outros sucumbem somente à disposição de ser irresponsáveis ou preguiçosos, nunca entendendo realmente a razão de seu comportamento. Eles sabem unicamente que estão constantemente esperando que, de alguma forma, em algum lugar, a providência divina lhes dê o sustento, sem muito esforço.
A grande maioria das pessoas, todavia, parece sofrer pouco ou nenhum dano pessoal por praticar esse passatempo de esperar obter algo em troca de nada. Contudo, existe outro aspecto desse comportamento “algo por nada” que é muito mais sério do que um simples caso de roubo à mão armada.
A história está repleta dos destroços de homens e de nações que foram seduzidas à destruição pela tentação de algo por nada – seduzidas por apelos cuidadosamente focados nas tendências criminais que estão adormecidas e ignoradas em quase todas as pessoas. E a tentação teve sucesso somente porque sua verdadeira natureza estava inevitavelmente escondida sob o disfarce de uma propaganda moralista.
Pode ser verdade que a história esteja sendo sutilmente compelida a se repetir; talvez em uma escala maior e mais terrível do que antes. É provável que muitas pessoas já tenham sido iludidas para justificar que um historiador imparcial no futuro distante escreva um livro intitulado: “O Colapso da Civilização do Século XX – Uma Era de Algo por Nada.” Ele pode descrever com detalhes a maneira pela qual líderes públicos inescrupulosos e talentosos enganaram e forçaram inúmeros indivíduos justos de volta à miséria e escravidão com aquela velha história sobre o pote de ouro ao final do arco-íris – o arco-íris de César.
Talvez os historiadores do futuro dirão algo como:
Mesmo nos Estados Unidos, o qual era a última esperança do mundo em 1960, esquemas de assistencialismo colossais, cuidadosamente disfarçados por ambiguidades de nível acadêmico, já tinham corrompidos milhões de adultos maduras e capazes na crença de que seu bem estar pessoal era a responsabilidade do outro – que deveriam ser devidamente sustentados pelo produto dos esforços de outras pessoas, não dos seus!
Aqueles líderes liberais que tentaram revelar o grande embuste foram insultados e ridicularizados. Era tarde demais. Os inescrupulosos e talentosos já tinham obtido o manto da justiça para pregar seu evangelho profano de algo em troca de nada. E seu sucesso foi, em grande parte, instigado por intelectuais populares e levianos que asseguraram a quem quisesse ouvir que as pessoas, simplesmente por terem acesso às urnas, eram justamente merecedores de qualquer coisa que quisessem votar para si.
E assim, confundido pelas meias-verdades e pelas sutis, porém firmes mentiras, as pessoas foram persuadidas a esquecer que a utilidade pessoal é o único caminho que os homens podem tomar na busca da liberdade e da felicidade. Em substituição à verdade que foram enganados a esquecer, as pessoas foram sistematicamente persuadidas a acreditar que, se prestassem adoração no altar do onisciente governo, uma torrente constante de coisas por nada traria uma colheita de “segurança” para todos. De todos os crimes cometidos naquela imprudente e insensata era, esse foi o maior.
// Traduzido por Matheus Pacini. Revisado por Russ da Silva | Artigo original.

Sobre o autor

F. L. Maus foi diretor de treinamento industrial na década de 1950.