terça-feira, 31 de outubro de 2017

O FORTE E VALENTE


Turíbio era muito forte e valente como nenhum outro. Na verdade, não tinha mais adversários na sua região. Derrubou todos que estiveram em seu caminho. Seus amigos o convenceram de sair no braço com um leão, na porrada. Pois os tais conseguiram um leão, e colocaram os dois frente a frente numa jaula enorme . O valente foi todo pintado pra batalha, uma mistura de ninja, apache e soldado em guerra na floresta. E o dito leão por ser um bicho burro e desinformado, não sabia quem era Turíbio, o forte e valente. E assim sendo um animal totalmente por fora. comeu o valente ainda no primeiro round.

MESTRE YOKI

“Mestre, por que os pardais são felizes?”
“São felizes por que não cantam bosta nenhuma e sua cor é sem graça. Caso fossem coloridos e canoros seriam perseguidos e encarcerados.”

MESTRE YOKI, O BREVE


“Mestre, para que serve o Título de Eleitor?”
“Quase sempre para fazer merda.”

SOBRE O MARIDO SABER

"O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca." (Nelson Rodrigues)

PAIXÃO

"Sem paixão não dá nem para chupar picolé." (Nelson Rodrigues)

FATOS

"Se os fatos são contra mim, pior para os fatos." (Nelson Rodrigues)

NOSSAS INSTITUIÇÕES NÃO FUNCIONAM? QUEM DERA NÃO FUNCIONASSEM! por Percival Puggina. Artigo publicado em 30.10.2017

O maior problema das nossas instituições é que elas funcionam. Seria melhor para o país se não funcionassem porque, então, o colapso provocaria as necessárias mudanças. Infelizmente não é assim.
Ao funcionar, elas fazem exatamente isso que se vê. Você acha que é fácil conseguir um Congresso Nacional com o perfil do nosso? Faz ideia de o quanto é trabalhosa uma construção institucional capaz de recrutar lideranças com esse perfil?
Só um modelo muito ruim produz o que vemos no Brasil
Não é qualquer modelo que consegue fazer de um Barroso, de um Toffoli, de um Facchin, de um Lewandowski ou Rosa Weber, ministros do STF. Não, meu caro. Você precisa de décadas de non sense constitucional, de tolice legislativa e de irracionalidade política para dar dois mandatos presidenciais a alguém como Lula. E vai necessitar do efeito corrosivo desses oito anos para atribuir outros dois mandatos a uma pessoa como Dilma Rousseff.
Assim como um bom automóvel precisa de muita tecnologia embarcada, um país precisa de muita burrice e criminalidade instaladas para compor governos como os que têm regido os destinos do nosso país (resguardadas, com indulgências, as honradas exceções).
Instituições são como sementes férteis. Uma vez plantadas em solo adequado germinam e fornecem seus bens conforme sua natureza. É tão impossível obter de um modelo institucional algo diferente daquilo que está em sua genética, quanto colher maçãs plantando semente de laranja, ou morangos de uma semente de pimenteira.
Instituições são pedagogas em vários sentidos
Por outro lado, elas, as instituições, não são a origem de todo o bem, nem de todo mal na vida dos povos. Inúmeros fatores também exercem influência. Poderíamos gastar páginas discorrendo sobre eles, e um bom espaço seria dedicado ao desenvolvimento social e aos valores morais da sociedade. Ambos são de longa maturação, mas a mudança institucional seria boa porta de entrada num jogo de ganha-ganha. As instituições são pedagogas, para o bem e para o mal; influenciam positiva ou negativamente na conduta moral da sociedade e um bom modelo serve melhor ao desenvolvimento social do que um mau modelo. Este último, exatamente por seu mau, sempre pode piorar com facilidade.
Vou exemplificar. Nossas sucessivas constituições republicanas insistem em adotar o presidencialismo e, com ele, entregam a uma mesma pessoa, eleita em pleito majoritário direto, a chefia do Estado, do governo e da administração. Com isso, partidariza o Estado (que é de todos e não deveria ter partido) e a administração (que serve a todos e, igualmente, deveria ser politicamente neutra). Como se faz para piorar isso? Dê tempo de rádio e TV, mais um milhão de reais por ano, a cada partido que se forme e compareça à mesa das barganhas; autorize aos parlamentares a dispor de um determinado valor em emendas parlamentares; estabeleça inusitadas prerrogativas financeiras e defina irrestritas e irremovíveis isonomias; conceda privilégios de foro. E por aí vá.
Um modelo melhor ou um príncipe encantado?
É de nosso hábito queixar-nos de tudo e a nada mudarmos, como se a cada diagnóstico disséssemos - "Está mal, mas não mexe!". E algo mais vai, aos poucos, apodrecendo. As principais mudanças institucionais que levariam o Brasil a um outro patamar de racionalidade política seriam a adoção do sistema parlamentar de governo, separando a chefia de governo da chefia de Estado; a eleição parlamentar por voto distrital puro ou misto; mandato de dez anos e escolha pela cúpula das carreiras jurídicas para os ministros do STF; privilégio de foro apenas para as chefias dos poderes.
Mas a nação continua pensando que as instituições "não funcionam" e que seja possível, então, a um príncipe encantado eleito em 2018, fazê-las funcionar. Como se de uma pimenteira se pudesse colher morangos...
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

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BOLETOS


“Já fui o rei dos boletos. Eu abria o chuveiro e no lugar de água caiam boletos.” (Mim)

O VENDEDOR

A verdade é esta: ninguém é mais vendedor que Hermógenes, nem Sílvio Santos.  Já vendeu máquina para ensacar fumaça, calcinha furada da Cristina Kirchner, automóvel voador, jacaré ventríloquo, mulher com um furinho na cabeça para guardar moedas, passarinho que toca violão, cachorro que come usando garfo e faca e até dentadura para recém-nascido. Sua última proeza foi vender milhares de ingressos para entrar no céu sem precisar verificar os pecados, esquema dele com o porteiro. Vendeu tanto que até o dono da gráfica ficou rico.  Para se que se tenha uma ideia de quanto o homem é bom, até Satanás comprou doze ingressos e deixou seis de reservados. Preciso dizer mais?

O ASCENSORISTA


Naquele fim de tarde de sexta-feira o elevador dois do Edifício Gimenez estava lotado, inclusive com um padre e dois pastores evangélicos. Silêncio entre os presentes e ninguém notou o novo ascensorista que hora se apresentava. O elevador subia e descia e não parava em nenhum andar. Interpelaram o trabalhador que disse estar com um pequeno problema que logo seria resolvido. Por alguns minutos ninguém reclamou, mas depois... Após muitas indas e vindas reclamações, o elevador parou num andar não visualizado no painel, a porta se abriu e todos caíram diretamente no fogo do inferno. O ascensorista era o próprio Satanás Ferreira que resolvera começar o final de semana com uma brincadeirinha, digamos, bem quente.

ADEUS MUNDO CRUEL


Mauro não era propriamente um homem a quem podemos emblemar de bem com a vida. Casamentos desfeitos, bons empregos perdidos, duas sociedades em que fora passado para trás. Naquele dia saíra para procurar emprego e voltando para casa sem nenhuma novidade encontrou ela vazia. A mulher partira levando a mobília também. Ele foi então até o banheiro, levantou a tampa do vaso e se atirou dentro. Espremeu-se bem e com muito esforço conseguiu puxar a cordinha da descarga. Adeus mundo cruel!

A CANETA


Havia uma bela caneta mágica que tinha vida e que só gostava de escrever coisas relacionadas ao amor. Porém por essas coisas da vida foi parar nas mãos de um bruto cheio de ódio na Síria. Então certo dia já cansada de ver cabeças cortadas, bombas dilacerando inocentes e de escrever discursos abomináveis contra a vida, transformou-se num pequeno lagarto e enterrou-se na areia do deserto para sempre.

MARCOS


Marcos é um sujeito muito tranquilo. Ao chegar em sua casa e deparar-se com a mulher com outro homem na sua cama não gritou e nem prometeu matar; apenas vestiu o pijama e foi deitar-se no meio deles. Dois minutos depois já estava roncando. O amante da mulher perdeu a tesão e foi embora.

BUNDA VERMELHA

Anacleto pintou a bunda com tinta vermelha e saiu nu a caminhar pelas ruas centrais da cidade causando alvoroço. O delegado Firmino muito gente boa mandou pegar o homem e levá-lo à delegacia. E o sermão.
-Onde já se viu Anacleto, andar com essa bunda vermelha pelas ruas da cidade? Denegrindo o nosso lugar?  Onde já viu? Pouca vergonha! E o respeito, onde fica?
Chamou o Cabo Bruno.
-Cabo Bruno, dê duas demãos de tinta ouro na bunda desse homem e depois pode soltá-lo. Ficará um luxo! E tire uma foto pra gente colocar aqui na minha mesa. 

REUNIÃO DE LENDAS

Casa de aroeira dentro da mata, fogo de chão, coral de insetos, corujas guardiãs, reunião das ditas lendas brasileiras. Comandando estava o Saci-Pererê, ladeado pela Mula-Sem-Cabeça. Presentes o Bicho-Papão; Curupira; Boitatá; Lobisomem e a bela sereia Iara. Conversa vai, conversa vem, comes e bebes. De repente ouviram alguém batendo:

-Toc! Toc! Quero entrar!
-Quem é?-perguntou o Saci-Pererê.
-É o Sapo Barbudo Honesto. Desejo participar da reunião. Vim de longe, eu também sou uma lenda, tenho direito.

Saci fez sinal com os olhos para os companheiros que assentiram. O Sapo Barbudo Honesto entrou na casa para fazer parte com todos os méritos das lendas brasileiras.

FOLHA CORRIDA


Meu pai sempre me quis na linha e minha mãe sempre falou para eu estudar e trabalhar ser um menino do bem porém eu fui atrás do ganho fácil e aqui estou dentro dessa cela num ambiente hostil dormindo quase dentro de uma privada com ratos pulgas e baratas na cama e arriscando tomar um golpe de estilete além das surras isso não é vida é um inferno em terra e lamento e choro a falta da boa comida lençóis limpos e banho quente carinho e amor tudo o que eu tinha e desprezei achando que era muito pouco queria andar de carrão roupas de grife muitas mulheres ao meu lado tudo isso sem esforço e disciplina só na base do pó e o que ganhei foi ficar anos aqui chaveado e entreverado com a bandidagem de primeira linha e ficar até feliz que ninguém ainda quis pegar a minha bunda todos os dias chega gente nova um mais mau que o outro não dá para encarar ninguém sem correr riscos espero os anos voem para que possa sair daqui.

PUTA QUE PARIU


Ontem à tarde estava eu numa estrada poeirenta no interior de Arapiraca, sujo e irritado com o calor, encostado num poste aguardando pelo ônibus quando pousou na estrada um objeto voador e dele saiu um ser estranho que perguntou se eu queria ir para algum lugar específico que eles me dariam carona. Respondi que desejava ir para a casa do diabo lá na puta que pariu. Então ele me respondeu que a Venezuela estava fora do itinerário. Foi embora e sumiu entre as nuvens.

SOCIALISMO

Vislumbra-se no horizonte
O juntar das correntes vermelhas
Prontas para encarcerar corpos e ideias
Dentro da maligna utopia socialista
Diante da incerteza da liberdade
E de um porvir de esperança
Açoita-nos o medo
De um futuro que é passado
De horror e miséria.

SAUDADES DOS ‘MORTADELAS’


A ausência de milhões nas ruas protestando leva cientistas políticos ao divã do analista. Alguns acusam Michel Temer de “desmobilizar o povo”, certamente porque dinheiro público já não financia “mortadelas”.

CH

BOM PARA O USUÁRIO


Estudo em quatro cidades americanas mostra que para cada dólar de receita do Uber, seis dólares foram economizados pelos usuários.

Claudio Humberto

VETA TEMER


O ministro Moreira Franco (Secretaria de Governo) espera que Michel Temer vete qualquer prejuízo a avanços como aplicativos do tipo Uber.

CH

APLICATIVOS: PROJETO PODE JOGAR O BRASIL NO ATRASO


Pode refletir em outros aplicativos uma eventual decisão do Congresso que proíba ou dificulte a utilização do Uber ou Cabify. Uma decisão equivocada pode condenar o Brasil ao atraso: assim como na Câmara já tramita proposta do lobby de hotéis para eliminar o aplicativo Airbnb, de aluguel de imóveis por temporada, bancários aguardam a derrota do Uber para pedir à Justiça o fim de aplicativos de internet banking.

Claudio Humberto

INFÂNCIA

“Nenhum adulto foi completamente  feliz na sua infância se não comeu ovo cozido meio mole na casca,  paçoquinha, sorvete seco,  maria-mole e picolé Skimó.” (Mim)

ILVANIA ILVANETE

“Meu objetivo no emprego é o seguro-desemprego.”(Ilvania Ilvanete)

CORTIÇO

“Só de falar em cortiço meu corpo quase entra em convulsão.” (Shirley Maquilaine)

Shirley Maquilaine

“A minha língua é de Jesus e  o resto do corpo para servir-se da nata.” (Shirley Maquilaine)

DILMA TONTA


“Dilma continua mais tonta que barata que bebeu inseticida no bico.” (Mim)

SUICIDA

Estava ele sentado na mureta da ponte
O olhar fixo no vazio
A dor agarrada ao seu eu
Sem dar trégua alguma
O rio que representava o fim das dores
O chamava para um abraço
Seu foco era um só
O ápice da desistência
Soltou então seu corpo
E voou para as águas
Sentindo quem sabe arrependimento
Ou alívio por finalmente conseguir matar o desespero que o consumia.

DELÍRIO

Homens estão nos chiqueiros lambuzados de esterco
Mulheres ficam de quatro no pasto e abocanham grama
Vacas sobem nos telhados tendo gatos sobre suas costas catando carrapatos
No boteco cachorros bebem pinga e jogam baralho fazendo algazarra
Andorinhas tomam banho de piscina usando biquínis coloridos
Papai Noel tem as orelhas de um coelho
O pobre diabo e a falta da malvada
É o começo do fim
Delirium tremens.



ENTROU? DURO É ACHAR A SAÍDA

Lá vai o pó pedido passagem pelas cavidades nasais
Entra o líquido para navegar pelas veias
É fumaça subindo ao céu
E seres descendo ao trágico
É relaxamento
Cores
Alucinações
Euforia
Tudo tem seu preço
Duras são as consequências
Dos momentos festivos
Pois quando o pobre dentro do inferno
O capeta fecha a porta e esconde a chave
Que poucos depois conseguem encontrar.

PÃO COM BANANA


“Aqui em casa nem todo dia temos carne. Já pão com banana nunca falta.” (Climério)

SEMPRE


“Antes um pouco doido que um parvo.” (Climério)

TRIPLO OLHO


“Quem sai com mulher alheia coloca olho até nas costas.” (Climério)

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MATILDE

Mesa de bar. A fumaça dos cigarros deixa o ambiente sombrio. Baralho, tagarelas em ação, a língua se solta. Envolvido pela embriaguez o verme abre sua caixa de segredos para companheiros de aguardente. Conta à história da esposa Matilde que há anos foi embora, mas que na verdade não foi, tranco na cabeça, jaz enterrada num lugar ermo. Todos riem, acham brincadeira, mas um deles leva a sério. No dia seguinte ele conta o segredo para um amigo, que também tem um amigo policial e antes da seis da tarde o crápula já estava encarcerado contando tudo. Oito anos se passaram do fato, os timbós verdejantes balançam ao vento, máquinas em ação, cavouca aqui e ali, então quase desaparece o timbozal, tantos buracos na paisagem. Uma multidão acompanha e aguarda. No segundo dia surgem ossos, um vestido vermelho e uma sandália de couro cru. Matilde ali posta, Matilde morta, Matilde agora ossos e pó finalmente terá sua justiça. 

REALIDADE

Humanos mergulhados na empáfia?
Mais dia menos dia
Seremos todos ossos e pó
Salvo alguns esperançosos da criônica
Que acreditam em algo diferente
Mas a realidade do humano
É nascer
Crescer
Morrer
E mais não tem.

O SONO DO SONSO

O sono do eleitor sonso
É um sono pesado
E quase sempre quando o sonso acorda do seu sono
A vaca já foi para o brejo.

FILA DUPLA

Automóvel parado em fila dupla piscando ali fica
Tendo o motorista nos seus miolinhos que é dono da rua
E quando cobrado da safadeza por outros cidadãos
Tem ainda a petulância de ficar exasperado
Como se certo estivesse
Perto de tal jumento é melhor guardar distância
Pois além de receber algum pataço
Existe o risco de ser contaminado pela estultice do verme.

NATURAL

Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Destes nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos acostumados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

LOBO

Muitas vezes o mal se maquia
O lobo se torna ovelha
E através de manipulações e língua ferina
Tenta fazer da verdadeira ovelha
O ser que na verdade ele é.

MURO


“O Muro não foi uma gafe histórica. Cada socialismo requer seu próprio muro, seu próprio cárcere.” (Juan Ramón Rallo)

EU



Erro e acerto
Humano apenas
Porém faço enorme esforço
Para não ser mais um tonto
A caminhar sobre o planeta.

TUTELA


“Se me derem casa, comida, roupa, estudo, tudo em troca de tutela, em troca da minha liberdade, eu digo: Deixem-me nu na beira da estrada!” (Mim)

TSÉ-TSÉ


“Um mosquito do sono, o Tsé-Tsé, picou o Eduardo Suplicy. O mosquito dormiu por três meses.” (Mim)

EM SUAVES PRESTAÇÕES


“Boas doses de bebida destilada todos os dias. Isto é comprar a cirrose em suaves prestações.” (Mim)

INÚTEIS


“Os inúteis discutem o que além de coisas inúteis?” (Pócrates)

A CONSTITUIÇÃO DE 1988 NA VISÃO DE ROBERTO CAMPOS por Ney Prado. Artigo publicado em 30.10.2017



Neste centenário, em que Roberto, por sua pátria é reverenciado, Tudo se torna presente, Mesmo o tempo que é passado.

A esta altura, após 29 anos de vigência, o texto constitucional já recebeu abundantes apreciações de vários segmentos da sociedade brasileira e avaliações críticas dos setores político, econômico e jurídico, dando-nos um panorama razoavelmente diversificado de seus aspectos, tanto os positivos quanto negativos. Para atender a propósito do tema, julgo importante mencionar frases extraídas de algumas obras de Roberto Campos que retratam sua visão sobre a Carta de 1988.

"O problema brasileiro nunca foi fabricar Constituições, sempre foi cumpri-las. Já demonstramos à saciedade, ao longo de nossa história, suficiente talento juridicista – pois que produzimos sete Constituições, três outorgadas e quatro votadas – e suficiente indisciplina para descumpri-las rigorosamente todas!"

"A Constituição brasileira de 1988, triste imitação da Constituição portuguesa de 1976, oriunda da Revolução dos Cravos, levou ao paroxismo e mania das Constituições dirigentes ou intervencionistas. Esse tipo de Constituição, que se popularizou na Europa após a Carta Alemã de Weimar de 1919, representou, para usar a feliz expressão do professor Paulo Mercadante, um avanço do retrocesso."

"Nossa Constituição é uma mistura de dicionário de utopias e regulamentação minuciosa de efêmero; é, ao mesmo tempo, um hino à preguiça e uma coleção de anedotas; é saudavelmente libertária no político, cruelmente liberticida no econômico, comoventemente utópica no social; é um camelo desenhado por um grupo de constituintes que sonhavam parir uma gazela."

"No texto constitucional, muito do que é novo não é factível e muito do que é factível não é novo".

"Da ordem social – exibem-se duas características fundamentais do socialismo: despotismo e utopia. (...) Exemplos de despotismos são os dispositivos relativos à educação e à previdência social. Quanto à educação, diz-se que ela é dever do Estado, com a colaboração da sociedade. É o contrário. Ela é dever da família, com a colaboração do Estado. (...) Outro exemplo de despotismo é a previdência estatal compulsória. Todos devem ser obrigados a filiar-se a algum sistema previdenciário, para não se tornarem intencionalmente gigolôs do Estado."

"Na ordem econômica, nem é bom falar. Discrimina contra investimentos estrangeiros, marginalizando o Brasil na atração de capitais. Na Constituição de 1988, a lógica econômica entrou em férias."

"A cultura antiempresarial subestima a importância fundamental do empresário na criação de riquezas. Para os constituintes, o trabalhador é um mártir; o empresário um ser antissocial, que tem de ser humanizado por imposição dos legisladores; o investidor estrangeiro, um inimigo disfarçado. Nada mais apropriado para distribuir a pobreza e desestimular a criação de riqueza. A Constituição promete solução indolor para a pobreza."

"É difícil exagerar os malefícios desse misto de regulamentação trabalhista e dicionário de utopias em que se transformou nossa Carta Magna. Na Constituição, promete-nos uma seguridade social sueca com recursos moçambicanos. Esse país ideal é aquele onde é mais fácil divorciar-se de uma mulher do que despedir um empregado.

"No plano político, há o hibrismo" entre presidencialismo e parlamentarismo. No plano congressual, levou a um anárquico multipartidarismo."

"Aos dois clássicos sistemas de governo – o presidencialista e o parlamentarista – o Brasil acaba, com originalidade, de acrescentar mais um – o promiscuísta."

"A Constituição dos miseráveis, como diz o dr. Ulysses, é uma favela jurídica onde os três Poderes viverão em desconfortável promiscuidade."

"Os estudiosos do Direito Constitucional aqui e alhures não buscarão no novo texto lições sobre a arquitetura institucional, sistema de governo ou balanço de Poderes. Em compensação, encontrarão abundante material anedótico."

"Aliás, a preocupação dos Constituintes não foi facilitar a criação de novos empregos, e sim garantir mais direitos para os já empregados."

"O modelo monopolista sindical que temos é fascista. Conseguimos combinar resíduos de corporativismo fascista com o mercantilismo colonial, e acabamos reduzidos à condição de súditos, não de cidadãos."

"A palavra produtividade só aparece uma vez no texto constitucional; as palavras usuário e eficiência figuram duas vezes; fala-se em garantias 44 vezes, em direito, 76 vezes, enquanto a palavra deveres é mencionada apenas quatro vezes."

"Segundo a Constituição, os impostos são certos, mas há duvidas quanto à morte, pois o texto garante aos idosos o direito à vida. (...) "Diz-se também que a saúde é direito de todos. Os idosos, como eu, sabem que se trata de um capricho do Criador..."

"Que Constituição no mundo tabela juros, oficializa o calote, garante imortalidade aos idosos, nacionaliza a doença e dá ao jovem de 16 anos, ao mesmo tempo, o direito de votar e de ficar impune nos crimes eleitorais? Nosso título de originalidade será criarmos uma nova teoria constitucional: a do progressismo arcaico."

"Essas rápidas pinceladas talvez nos deixem realmente convencidos de que o País tem pendente uma questão de urgência urgentíssima: reformar a Constituição e retirar o País do claustro, a fim de que os brasileiros respirem os ares do novo mundo em gestação."

Em conclusão, gostaria de enfatizar minha plena identidade com o pensamento liberal de Roberto Campos por seus incontáveis méritos, de forma e conteúdo. Acrescento, todavia: nossa Constituição tem reconhecidamente vícios e virtudes. Mas, necessária ou não, progressista ou retrógrada, boa ou má, bem-vinda ou não, estamos diante de um fato jurídico inarredável, qualquer que seja a avaliação de seu conteúdo e a inclinação política do intérprete.

* Desembargador federal do trabalho aposentado, é presidente da Academia Internacional de Direito e Economia

** Publicado originalmente no Estadão em 24 Outubro 2017 |

MARX


“Os comunistas deveriam deixar de lado o ódio aos bem sucedidos. Mais Groucho Marx e menos Karl Marx.” (Eriatlov)

MESTRE YOKI

“Mestre, por que países com maior poder tecnológico que o nosso não usam urnas eletrônicas”?
“Porque não é para qualquer país ter a fabulosa tecnologia venezuelana. Só por isso.”

“A fraternidade forçada destrói a liberdade.“ (Frederic Bastiat)


ESPOLIAÇÃO


“Não poderiam ser introduzidas na sociedade mudanças e infelicidade maior que esta: a lei convertida em instrumento de espoliação.“ (Frederic Bastiat)

Na contramão do caminho. Coluna Carlos Brickmann


Foi uma vitória suada; suada, difícil e cara. Neste momento, dez entre dez analistas dizem que o Governo acabou, que Michel Temer não tem força nem para se livrar da obstrução urinária sem fazer shopping parlamentar. Ficará manquitolando à espera do último dia de seu mandato.



Só que não é assim: vitória suada e cara também vale três pontos. Se, no momento em que enfrentava uma denúncia que poderia afastá-lo do cargo, ele sobreviveu, tem tudo para ganhar forças depois de livrar-se de Janot. O presidente tem muitos fatores a favor: o exercício do poder, que lhe permite preencher o Diário Oficial e dar apoio a algum candidato à Presidência, o fim das denúncias e esplêndidos resultados econômicos. Depende dele: não adianta usar Moreira Franco, Padilha e Eunício para divulgar boas notícias, porque neles ninguém vai acreditar. Mas, abrindo seu Governo à luz do Sol e tirando os suspeitos de sempre de seu lado, terá tudo para virar o jogo.



As exportações por Santos se aproximam de 100 milhões de toneladas, e vão batendo recordes. A balança comercial deve ter superávit de US$ 70 bilhões até o final do ano – recorde absoluto. A taxa de juros, em um ano e pouco de Temer, caiu à metade do que era com Dilma: foi de 14,25% a 7,5%. Há leves sinais de melhora da atividade – que ficarão mais visíveis a partir da taxa de juros mais baixa, que facilita os investimentos. Afastando a turma vetusta para que a equipe econômica cresça, Temer cresce com ela.



A vista...



O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) acha que Temer não terá força para votar a reforma da Previdência. Maia deve entender bem os sentimentos parlamentares, ou não se elegeria presidente; mas é verdade, ao mesmo tempo, que sua maior credencial é o pai, César Maia. Antes dos atuais episódios, poucos tinham ouvido falar de Rodrigo Maia.



O fato é que Temer está disposto a votar, ainda neste ano, a reforma da Previdência. Temer também conhece os sentimentos parlamentares, tanto que, sem apoio familiar externo, se elegeu três vezes presidente da Câmara. E, tendo sido quem convenceu Suas Excelências a ficar a seu lado, sabe perfeitamente quanto custa um voto, e qual seu prazo de validade.



...e a prazo



Quem foi abençoado com cargos para votar contra a aceitação da denúncia contra Temer pode, de uma hora para outra, perdê-los: não tem como retirar seu voto. Não pode, portanto, virar oposição a Temer, sem entrar no prejuízo, de uma hora para outra. Para aprovar a reforma, Temer precisará de 308 votos – os 251 que rejeitaram a denúncia contra ele, mais 57. Temer acredita que, entre os 107 deputados governistas que votaram contra ele, há pelo menos 57 favoráveis à reforma. E Suas Excelências sabem que, ao votar contra a reforma, estarão votando contra os cargos que seus partidos tiverem recebido; estarão contra a equipe econômica, bem na hora em que a economia mostra sinais de recuperação; e estarão contra um possível – e forte – candidato à Presidência, o ministro Henrique Meirelles.



A hora do sonho



Quando Meirelles voltou para o Brasil, depois de boa carreira no Banco de Boston, tinha um plano em duas etapas: primeiro, eleger-se governador de seu Estado, Goiás; segundo, tentar a Presidência. Entrou no PSDB, com a proposta de pagar sua própria campanha, sem doações. Havia, entretanto, um obstáculo intransponível: o cacique tucano de Goiás, Marconi Perillo. Meirelles então se elegeu deputado federal.



Nem tomou posse: Lula, eleito ao mesmo tempo, convidou-o para presidente do Banco Central. Mas seu sonho se manteve: está no PSD de Kassab, seu trabalho na Fazenda vai bem, Temer não tem outro nome. Entre Lula (ou poste de plantão), Alckmin e Bolsonaro, Meirelles pode ser o candidato-novidade, sem processos, capaz de viajar a Curitiba a passeio, sem medo, e com Temer.



Atenção em Lula



Lula disse que está na hora de parar de gritar “Fora, Temer”. Por que?



Amigos...



Lula não se transformou, de uma hora para outra, em apreciador de Temer. Soltou até, em Minas, uma frase venenosa (que, embora atinja a posta de sua escolha, derrama mais peçonha no adversário): “Como Deus escreve certo por linhas tortas, as pessoas que diziam que a Dilma era uma desgraça perceberam que Temer era desgraça e meia”.



...inimigos


Na verdade, Lula não tinha como falar isso sem atingir aliados. Quem foi que montou a chapa Dilma -Temer que ganhou a eleição?



Mas Lula provavelmente está estudando o terreno, escolhendo os adversários de campanha. Pois sua caravana, que deve percorrer o país inteiro, não está repetindo o sucesso da Caravana da Cidadania, de antes de se eleger presidente. É pouca gente e muita vaia.









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CONTRAPARTIDA

A Comissão de Finanças da Câmara analisa projeto que obriga médicos e enfermeiros formados em instituições públicas (ou bancadas com dinheiro público) a prestar serviços remunerados em comunidades carentes, em suas regiões. A prática é comum em todo o mundo.

Claudio Humberto

FATURANDO

Quem mais lucra com a crise política neste momento em Brasília são vendedores de camisetas “Fora Temer” em torno da Universidade de Brasília. É o único “Fora Temer” que deu certo até agora.

Claudio Humberto

E O AMIGO?

Na reeleição de Sérgio Cabral no Rio, em 2010, Lula tascou: “Votar em Cabral é quase uma obrigação moral, ética, política”. Agora réu 15 vezes na Lava Jato, Lula não o visitou uma vez sequer na cadeia.

Claudio Humberto

CUNHA

Eduardo Cunha que já faz um bom tempo está preso deve estar se perguntando: por que só eu?

BARBARIDADE

Lula aparece com 35% de intenções no IBOPE e aí eu pergunto: que país este povo quer? Estamos cercados de imbecis e assemelhados moralmente do traste?

domingo, 29 de outubro de 2017

“Não é só aluno não, há muito professor que vai à escola apenas para comer a merenda.” (Mim)

“Ninguém consegue o mel da vida sem tomar umas ferroadas.” (Filosofeno)


“O Brasil é o país do futuro de alguns.” (Eriatlov)


DEUS FALANDO DE NOÉ


“Pedro, como o povo é tolo, acredita em tudo, até na história da Arca. Ora, nós dois sabemos que Noé não seria capaz de construir uma gamela, imagine então um barco daqueles.” (Deus)

SABÃO DE SODA


“Lembrar-se do passado é o que resta. Não faz muito Bilu só tomava banho no Pet com shampoo importado. Agora meu corpinho recebe sabão de soda.” (Bilu Cão)

CHEIRO


“Quem anda com quem não presta acaba pegando o cheiro.” (Filosofeno)

RUIM

“Dilma foi tão ruim que conseguiu  melhorar até a imagem do governo Sarney.” (Mim)

COMUNISTA BRASILEIRO

“Comunista brasileiro não é fraco. Tem dinheiro aplicado em banco e se bobear até conta na Suíça.” (Eriatlov)

ESPELHO E DIGNIDADE


“Jamais aceitaria um cargo para o qual não estou preparado, ainda mais para receber um salário que sei que não mereço.” (Eriatlov)

RUI


“Fosse contemporâneo dos atuais políticos e ministros de tribunais superiores(?), Rui Barbosa com certeza morreria de desgosto. “ (Eriatlov)

TETA


“Socialista brasileiro não pode ver uma teta estatal que já prepara o bico para mamar.” (Eriatlov)

MADURO VAI PARA O INFERNO

Maduro morre e chega ao portão do  céu para ser avaliado. . É recebido pelo secretário do secretário do secretário do auxiliar do secretário do secretário suplente de São Pedro. Ele olha para Maduro e fala de jeito sonso:
-O senhor vai para o inferno, notas ruins. Mas o senhor não irá estranhar. Lá no inferno eles também não usam papel higiênico. Na bunda é lixa ou urtiga.

AVÓ NOVELEIRA

“Em Brasília eles vivem num outro mundo.  Será que estão emaconhados?”

CONSELHEIROS


“É bom não dar ouvidos para o que dizem os conselheiros de boteco. No mais das vezes suas vidas vão de mal a porcamente.” (Filosofeno)


MEDO

“Gato escaldado tem medo até de uísque com gelo.” (Mim)

REZA BRAVA

Conheci uma corola que rezou muito para o marido ficar impotente, pois era um pouco bruto. Sei lá como deu certo. Depois ela quis voltar atrás e nenhuma reza fez efeito. Ficou lá, o murcho.

SONEGAI

Chegando à Cidade Nova o jovem foi procurar um hotel. Preenchendo a ficha de hospedagem.
-Seu nome?
-Sonegai.
-Pai?
-Sustenta Parasitas.
-Mãe?
-Fechando Portas.
-Entendi. Acho que somos parentes.

MESTRE YOKI

 “Mestre, quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”
 “Foi tua mãe.”

QUEM MANDOU


“Certa vez lati para minha sogra. Por isso até hoje estou roendo um osso.” (Chico Melancia)

MATEMÁTICA


“Fosse depender da matemática estaria passando fome.” (Chico Melancia)

ZEROS


“Na escola sempre tive o privilégio de levar muitos zeros.” *(Chico Melancia)

LEVADO


“Sempre fui muito levado. Minha mãe já usava algemas comigo quando eu tinha quatro anos.” (Chico Melancia)

sábado, 28 de outubro de 2017

QUEM SOU EU?


Uma pequena luz surgiu e ele começou a ter consciência de si. Perguntas fazia sem ter noção de como aprendeu a fazê-las... Quem sou eu? Que lugar é este? O que estou fazendo aqui? O que é mãe? Onde está a minha mãe? Tenho pai? Quem é o meu pai? Tenho um nome? Qual será o meu nome? Apertado dentro da casa queria sair correndo, mas como correr se não tinha pernas, se estava dominado por cordas? Sentiu um pulsar de um coração, bem próximo, alguém o tirando do sufoco da casa, deixando-o menos apertado e sufocado. Viajou pelo ar e quedou-se dentro de um enorme lugar escuro, de cheiro um pouco azedo e viu que lá existiam outros como ele, mas silenciosos, não faziam qualquer movimento ou barulho. Na escuridão fazia mais perguntas , queria saber...Que cheiro é esse? Por que ninguém fala comigo? Deus existe? Por que este lugar é tão abafado? Quem é Madona? Estou desesperado, quero sair daqui! Impostos, o que são impostos? Jesus, cadê Jesus? Serei ateu? Por que tenho quatro furos no peito? As perguntas não cessavam e acabaram irritando um zíper de calça jeans que também estava no mesmo cesto de roupa suja. O zíper foi duro: ‘Cale-se imbecil! Você é apenas um botão de quatro furos que agora raciocina, vivendo sua vidinha miserável numa camisa de flanela xadrez! Basta!’

OS FILHOS DE BENTO MORAES


O Doutor Bento Moraes teve dois filhos com Maria Conselheira. O Prudente Moraes e o Imprudente Moraes. Tiveram os dois educação esmerada, boas escolas, falavam francês e inglês. Prudente médico e Imprudente advogado. Prudente teve três filhos, Imprudente doze. Prudente bebia moderadamente, já Imprudente falecia uma garrafa de uísque em poucas horas. Prudente gostava de esportes, já Imprudente gostava do perigo, de caçadas na selva. Prudente faleceu aos oitenta anos cercado pela família de uma doença no coração. Imprudente morreu aos 42 anos brincando na floresta com uma cobra jararaca. *Nossas vidas, nossas escolhas. Devemos ser livres para escolher o caminho que desejamos trilhar. Quem disse que aquele que escolheu o perigo e morreu jovem não partiu como queria e feliz?

TEMPO DE DÚVIDAS por Maria Lucia Victor Barbosa. Artigo publicado em 25.10.2017



“A civilização brasileira, como a personagem de Machado de Assis, chama-se veleidade, sombra coada entre sombras, ser e não ser, ir e não ir, a indefinição das formas e da vontade criadora” - Raymundo Faoro.

Tudo indica que nossa veleidade se acentuou neste quase admirável mundo novo Ocidental, no qual o ser humano se desestabiliza, se angustia e se perde nas dúvidas. Prevalece a ditadura da esquerda, não a do proletariado porque essa não vingou, mas do politicamente correto através do qual ser tachado de intolerante, preconceituoso, conservador, estigmatiza quem ousa ostentar tais características.

Não é possível relembrar em um pequeno artigo as teorias de Marx e Engels, passando por Lenin e Stalin até chegar à Antonio Gramsci e Louis Althusser que enfatizaram a importância das superestruturas. Porém, há um pensamento comum entre eles que está sendo utilizado atualmente.

Marx e Engels enfatizarem a importância fundamental do que chamaram de infraestrutura (base econômica, modos de produção). Também pregaram o fim da propriedade burguesa, da liberdade e da individualidade burguesas, da família burguesa, da moral e da religião burguesas, que são as superestruturas, para que estas se harmonizassem com a infraestrutura.

Gramsci distinguiu na superestrutura a “sociedade política” e a “sociedade civil”, sendo que esta última se assenta na persuasão e diz respeito à ideologia em todos seus aspectos (religião, filosofia, direito, ciência, arte, cultura, etc.) e às instituições que as criam e difundem (escolas, igrejas, meios de comunicação). Como a sociedade civil, na visão do pensador é “primitiva e gelatinosa”, a revolução socialista pode se limitar ao essencial: apropriar-se do aparelho coercitivo do Estado e em seguida desenvolver uma verdadeira sociedade civil em harmonia com a infraestrutura.

Observe-se que Louis Althusser voltou ao tema e apresentou o problema da autonomia relativa das superestruturas, que chamou de aparelhos ideológicos do Estado (A.I.E), como o religioso (Igreja), o educacional (escolas, universidades), o familiar, o jurídico, os partidos políticos, o sindical, a mídia, o cultural (teatro, belas artes, literatura).

Destaca-se, segundo Althusser, a escola, que tem posição privilegiada por inculcar a ideologia dominante desde a infância. Donde se conclui, que será fundamental que o Aparelho repressivo do Estado domine completamente os Aparelhos ideológicos.

O que acontece hoje mostra que a esquerda não desapareceu sob o fracasso soviético ou debaixo dos escombros do Muro de Berlin. Revive através de táticas mais sutis, baseadas na superestrutura e a escola se torna o grande foco através do qual se pode despersonalizar a delicada mente em evolução de crianças e jovens através do ensino da permissividade, da amoralidade, da dúvida sobre o sexo.

Afrouxam-se, assim, normas sociais consensuais e intuições da consciência são neutralizadas para que não mais se distinga entre o certo e o errado. Abole-se diferenças entre os sexos e decreta-se que não existem mais meninos e meninas. Isso é ensinado em escolas “moderninhas” em obediência a diretrizes do MEC.

Imagine-se as futuras gerações que poderão advir desse processo, despersonalizadas, problemáticas, cheias de dúvidas, sem parâmetros morais em que possam se amparar. Entusiasmados, os sub-humanos servirão ao Estado totalitário comunista com fervor e sujeição. Será algo que nem Marx em toda sua imaginação poderia conceber. Especialmente, se a tecnologia e a ciência, que avançam com grande rapidez, forem apropriadas pelo partido único ou dominante, ou melhor, pela nomenclatura.

Alguns dirão que incursionei na ficção científica. Será? Especialmente durante o governo petista foi concreto e não ficcional o incessante trabalho feito nas escolas junto às crianças e jovens no tocante a chamada ideologia de gênero. Nisso se notabilizou o então ministro da Educação, o petista Fernando Haddad.

Nas universidades se acentuou a doutrinação de esquerda, feita não por “intelectuais orgânicos” oriundos do proletariado como profetizou Gramsci, mas por professores da classe média convertidos ao petismo ou docentes oportunistas que se intitulam petistas para obter os privilégios e regalias que só são dados aos companheiros.

No tocante a destruição da família composta por mãe, pai e filhos, impressiona a doutrinação homossexual feita através de novelas, revistas e jornais. Destaca-se a TV com sua poderosa influência sobre comportamentos, costumes e valores, que antes eram transmitidos pela família e pela religião, instituições que aos poucos vão perdendo a capacidade educativa e de influência.

E eis que surge uma especial “arte” com seu apelo à zoofilia, à pedofilia, à homossexualidade.

Nesse tempo de dúvidas, algo também se desenvolve sobre o que se denomina de esquerda e de direita. Permanece a dicotomia do “nós contra eles”, mas à luta de classes difícil de ser levada à efeito, foi substituída pela luta racial (negros contra brancos), pela luta de “gêneros” (heterossexuais contra homossexuais) e outras esquisitices, mantendo assim a chama do ódio entre os contendores.

Ser de esquerda, como reza o politicamente correto, é ser intrinsecamente bom, a favor do aborto, antissemita, contra os Estados Unidos, defensor de ditaturas venezuelana como a cubana, a venezuelana, etc. e ser amoral.

A direita é classificada sempre de radical, fascista, intolerante, preconceituosa, conservadora, atrasada.

Mas nem a esquerda nem a direita como são taxadas, existem. Quando pessoas se revoltam contra a manipulação mental de seus filhos ou da dita arte, não são de direita, mas expressam seus valores morais e religiosos.

No momento a esquerda brasileira conta com a volta de Lula da Silva para se consolidar. O futuro dirá se queremos ser escravos de nós mesmos.

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

MUNDO INDECENTE por Pedro Valls Feu Rosa. Artigo publicado em 27.10.2017



Adultos molestarem sexualmente crianças é algo repulsivo. A humanidade, porém, está produzindo algo seguramente ainda pior: crianças que abusam sexualmente de outras crianças.

Acaba de ser divulgado, no Reino Unido, um chocante relatório noticiando nada menos que 30.000 casos de abusos sexuais entre crianças, acontecidos nos últimos quatro anos - 2.625 deles verificados em escolas. Dentre os abusos reportados, 255 estupros.

Constatou-se que este sério problema só tem se agravado: de 4.603 casos em 2013 passou para 7.866 em 2016 - um aumento de 71%. Se considerados apenas os atos praticados por menores de dez anos, estaríamos a falar em mais do dobro: 204 em 2013 contra 456 em 2016.

Como explicar-se este fenômeno? Começo por um outro estudo, igualmente realizado no Reino Unido, segundo o qual nada menos que um terço das crianças até dez anos de idade veem pornografia na Internet. E oito a cada dez na faixa dos 14 aos 16 anos o fazem regularmente.

Localizei uma terceira pesquisa, indicando que na década de 1990 havia, quando muito, 7.000 imagens indecentes de crianças circulando na Internet - hoje, segundo estimativas conservadoras, este número já passa dos cem milhões.

Em recente julgamento acontecido naquele país, um juiz culpou tal quadro ao deparar-se com uma criança de 12 anos de idade que estuprou sua irmã, de apenas sete anos, após jogar um videogame no qual o objetivo era violar mulheres.

Vamos a outro episódio: uma criança de dez anos de idade estuprou sua irmã, que mal havia completado oito anos, após tornar-se viciado em fotografias pornográficas que via na Internet. Há ainda o caso da menina russa viciada em pornografia, que contava apenas 12 anos de idade. Proibida pelos pais de acessar a Internet, suicidou-se.

O pior é que nada se faz - afinal, reza a hipocrisia corrente ser "politicamente incorreto" criticar-se a disseminação da pornografia, protegida que seria por uma certa "liberdade de expressão"!

Diante desta realidade, somente nos resta recordar Joubert, segundo quem "as crianças tem mais necessidade de modelos do que de críticas". Ou Karl Menninger, a nos alertar para o fato de que "tudo o que você faz por uma criança ela fará pela sociedade". Ou, finalmente, Gabriela Mistral: "o futuro das crianças é hoje. Amanhá já é tarde demais".

* Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
* Publicado originalmente no Diário do Poder

ALCE


“Casei-me com uma mulher feia para não ter incômodos. Pois não adiantou, tornei-me um alce.” (Pócrates)

SEM SUOR


“Os vagabundos se aproximam da mesa só depois da galinha morta.” (Pócrates, o filósofo dos pés sujos)

SUGADOR


“O tal Deus esteve grudado em mim por muitos anos como um carrapato. Sugou tempo e racionalidade.” (Pócrates)

PODERES


“Gentalha. Os Três Poderes são isso aí.” (Pócrates)

VIDA FÁCIL


“Vida fácil só político brasileiro que é cheio de mordomias. As ditas garotas de vida fácil levam é ferro.” (Pócrates)

NOSSAS VIDAS

Num dia chovem rosas
Noutro cadáveres
O bem e o mal são finitos
Para nossa alegria ou tristeza
Depende apenas do momento que vivemos.

NÃO É UM KINDER OVO

É preciso observar os fatos
Ler a história
Procurar saber das coisas
Não deixar para outros todas as decisões
Ficar atento aos tuteladores
Bons de mídia e de armadilhas para o povo
Ser realista o bastante para saber
Que soluções mágicas não estão dentro de um Kinder Ovo.

PREGUIÇA

Acordando hoje com dois quatis nas costas
Exaltando a siesta mexicana
Lembrei-me da história do sujeito
Que de preguiça morria de fome na cama

Foi então que alma boa
Ofereceu-lhe vida afora
Arroz com casca em qualquer demanda
Para aplacar sua fome a qualquer hora

Sabendo disso o sujeito
Do arroz com casca e não cozido
Agradeceu do vivente a nobre  fidalguia
Mas que ante o trabalho da descasca
A boa morte preferia.

VELOCIDADE


“Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.” (Nelson Rodrigues)

SENSO MORAL


“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.” (Nelson Rodrigues)

PRISÃO PERPÉTUA


“Pergunto para digníssimos cornos e outras excelências: por que não temos prisão perpétua para latrocidas?” (Limão)

ETERNIDADE


“Eternidade seria uma chatice. Não suportaria me aturar por cem anos, imagine então para sempre.” (Limão)

IMPOSTOS


“O governo arrecada impostos pela boca de um tubarão e nos devolve em serviços pelo ânus de um lambari.” (Limão)

VIAJADO


“Já viajei tanto que conheço até países que ainda não existem” (Chico Melancia)

RAIZ QUADRADA


“Sempre fui péssimo em matemática. Para aprender a tal raiz quadrada quem ficava quadrado era eu.” (Chico Melancia)

PRIMO


“Tenho um primo de 24 anos que já ficou mais tempo preso do que mamando.” (Chico Melancia)

CONCURSO


“Apesar dos meus esforços contrários não sei como consegui passar num concurso para trabalhar na prefeitura. Estou fugindo do país.” (Chico Melancia)

FUTURO


“Se minha geração é o futuro do Brasil o país tá morto.” (Chico Melancia)

NAMORO OCULTO


“Estou namorando uma gata que é um monumento. Quero ver como é que fica quando ela ficar sabendo.” (Chico Melancia)

TRABALHO


“Meu pai está com a Síndrome do CPT, ou seja, o Chico precisa trabalhar.” (Chico Melancia)

PECADO


“Quando o sexo era pecado a tentação era maior, rezei e penitenciei mais que qualquer freira enclausurada.” (Chico Melancia)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017


“Antes do PT tínhamos a corrupção ocasional individual. Eles conseguiram implantar a roubalheira sistemática coletiva partidária.” (Eriatlov)
“O povo ainda acredita em governo Papai Noel. A verdade é que quanto maior for o saco dele menor será o nosso.”(Eriatlov)


“Não, Nicolás Maduro não é um cavalo, pois cavalo a gente respeita.” (Eriatlov)


ALEXANDRE GARCIA-A maldade e a ignorância

O fogo consome milhares de hectares do parque nacional que é patrimônio natural da humanidade, a Chapada dos Veadeiros, cerca de 200 quilômetros ao norte de Brasília. O mais chocante é o assassinato de milhares de animais das espécies que habitam o cerrado. Onças, lobos-guarás, veados, tatus, cobras, lagartos e aves, como a ema, pássaros - 50 variedades raras da fauna ou com risco de extinção - e, o que é pior, sem chance para os filhotes. Vi fotos de animais mortos pelo fogo, de pássaros a cavalos - uma tragédia.

O coordenador do IBAMA para combate a incêndio confirma o que eu sempre disse: a origem do incêndio tem nome: é o homem. A mão criminosa de alguém que começou o fogo na estação seca e quente. Pode não ter feito por maldade, com a intenção de destruir e matar. Mas fez. Fez por ignorância, mas matou e destruiu. Por isso digo que a ignorância é o maior dos males, porque ela é a maior causadora de destruição e morte. Mais que a destruição e morte praticadas por maldade.

Vejam no trânsito: os que trafegam com aquele farol auxiliar aceso. São as luzes que ficam abaixo dos faróis e só têm um facho, de luz alta e ofuscante, que serve para identificar veículo perdido na neblina. Ofuscam até quem estiver na janela do sexto andar. Ofuscam quem vem atrás, porque acendem mais luz brilhante pela traseira. E trafegam com isso nas estradas sem nevoeiro e nas cidades, ofuscando todos os demais. E há os que trafegam de luzes apagadas, porque estão enxergando a via e deixam de sinalizar seu veículo para os outros; se tornam fantasmas. Fazem isso por maldade, com a intenção de ofuscar os outros e causar acidentes? Não. Fazem por ignorância.

Vejam na política: reclamam dos poderes que a Constituição deu à Justiça, aos deputados e senadores, ao presidente da República. Mas não se importaram com isso ao eleger seus constituintes. Importaram-se mais com o futebol. Reclamam dos corruptos na Câmara e no Senado, mas todos que lá estão para lá foram mandados pelo voto de cada um. Foi por maldade, que escolhemos constituintes que fizeram uma constituição que beneficia o criminoso, o bandido menor-de-idade? Foi por maldade que mandamos corruptos para a Câmara e o Senado? Não. Foi por ignorância.

Há poucos dias um aluno de 14 anos ateou fogo numa escola estadual no Acre, porque o professor lhe chamara a atenção por chegar atrasado. Reagiu porque estão retirando da escola a disciplina e a autoridade do professor. Um episódio simbólico: a escola, que seria o antíodoto para a ignorância, é queimada pelo atraso. A ignorância quer permanecer, porque o conhecimento liberta. A ignorância escraviza e consegue produzir mais mal, com o “foi-sem-querer, eu-não-sabia”, que o mal em si, proposital.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- sexta-feira, novembro 28, 2008 OS ÔNIBUS DE LONDRES E O MELHOR MÉTODO

“Provavelmente deus não existe. Assim, deixa de preocupar-te e trata de gozar tua vida”. Este slogan estará estampado nos ônibus de Londres em meados de janeiro próximo. Trata-se da primeira campanha ateísta no Reino Unido financiada com doações de contribuintes anônimos. Previa-se coletar 6.500 euros e, em apenas dois dias, foram arrecadados dez vezes mais. A iniciativa não é isolada. Na Espanha, aumentam os pedidos de apostasia. Parece ter chegado a hora dos não-crentes. É o que leio em El País. Estará o ateísmo tomando consciência mais ativa na sociedade? – pergunta-se o jornal.

Não sou assim tão otimista. Para começar, a primeira proposição a ser estampada nos ônibus de Londres me parece tímida. Não é que provavelmente deus não exista. O fato é mais singelo: deus não existe. Qualquer pessoa que se dedique ao estudo de história das religiões, concluirá que o tal de deus é criação humana. Primeiro, para tentar entender o mundo. Quando caía um raio, aquele nosso ancestral de clava em punho julgava que aquele estrondo e aquele brilho eram emanações de alguma potestade. Foram necessários alguns milênios para que o Homo sapiens descobrisse que aquele fenômeno não provinha de potestade alguma.

Em segundo lugar, a sociedade humana necessitava de algumas regras para bem viver. Voltasse Moisés com duas tabuinhas do Sinai e disse aos hebreus: “olha, gente, eu escrevi umas regrinhas para que possamos viver em paz”, é claro que todos ririam dele. Já a coisa toma outro cariz quando Moisés anuncia: o Todo-Poderoso me confiou estas tábuas, que agora serão nossa lei. Todos os grandes malandros da História souberam usar este recurso. Sócrates, por exemplo, nunca falava em nome próprio. Sabia que convenceria muito mais dizendo; “o meu daimon me disse que...”

O biólogo Richard Dawkins, que já é conhecido como o rottweiler de Darwin, por sua férrea defesa da teoria evolucionista, afirma que a situação dos ateus hoje em dia na América é comparável a dos homossexuais há 50 anos. Pode ser, mas lá nos States, certamente um dos países mais fanáticos – do ponto de vista religioso – do mundo contemporâneo. Não me parece que o mesmo ocorra na Europa ou mesmo na América Latina. Verdade que cá entre nós, candidato algum a cargos políticos ousa definir-se como ateu. Mas são vigaristas que mentem à vontade para ter acesso a mordomias. Como mentiu um dia Fernando Henrique, como mentiu Lula e como mentiu, mais recentemente, a terrorista santa Dilma Roussef. Já entre pessoas sem maiores ambições de subir a cargos públicos, não é preciso mentir. Nunca me senti discriminado por ser ateu. Posso provocar eventuais perplexidades, mas nada além disso.

Ateu, não simpatizo com militantes do ateísmo. Quando ateus querem criar um clube, estão doidinhos para acreditar num deus qualquer, desde que seja distinto do deus oficial. Ateu sendo, vivo bem com esta minha condição e jamais convidei alguém a participar dela. Ateísmo exige coragem, virtude que nem todos têm. O que prevalece é o medo do Além. As religiões nunca morrerão. A humana covardia as garante.

Tenho muitos leitores crentes e é bom que os tenha. Me sentiria um fanático se escrevesse só para ateus. Espanta-me que, entre estes leitores crentes, há muitos acadêmicos. Ora, não consigo conceber um universitário acreditando em deidades. Em algum momento, houve um erro. O ensino da ciência e dos métodos científicos não foi bem ministrado. É por esta, e por outras razões, que descreio totalmente do ensino das ditas ciências humanas. Formam tanto comunistas como papistas. O que dá no mesmo.

Entre estes leitores crentes, não poucos acham que minhas leituras da Bíblia ou preocupações com questões de fé denunciam um apóstata que quer voltar a crer. Nada disso. Leio a Bíblia porque adoro as ficções teológicas. Mais do que as literárias. As literárias tratam, de modo geral, de bobas angústias de seus autores. Não são normativas. As ficções teológicas, estas sim o são. Impõem dogmas, comportamentos, ética e mesmo legislação. Se um escritor contemporâneo diz que gosta de deitar com homens, tudo bem. Mas quando lemos no Levítico: “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”, aí a coisa toma aspectos mais solenes. Vira lei.

E é por isso que gosto de ler a Bíblia. Escritorinhos manifestam suas pequenas angústias. O Livro manda e não pede. É ficção com força de lei. Alguns leitores – curiosamente os crentes, et pour cause – acham que é perda de tempo discutir a Bíblia. Não acho. Perda de tempo é discutir futebol, fórmula 1 e outras que tais. Não leva a nada. No boteco que freqüento aos fins de semana, há uma mesa que só discute isso. Sento-me há uns dez metros de distância. Ouvir estupidez me faz mal.

A Bíblia é o livro que formata todo o pensamento ocidental e quem não a conhecer não conhece o Ocidente. Além do mais, é preciso terminar com essa bobagem de que é um livro de amor. Pelo contrário, há ódio, massacre e genocídio em praticamente todas suas páginas. Quando fala em amor, o amor é compulsório: ou me amas ou vais para as profundas do inferno. Nem o Alcorão é tão sanguinário como a Bíblia. Há uns dois meses recebi de um amigo minha nona tradução do Livro, a da Gallimard, a meu ver uma das mais fiéis aos textos antigos. Que aliás, nem mais existem. A Bíblia tem sido traduzida a partir de cópias de cópias de cópias, conforme os interesses de cada igreja. Gosto de cotejar traduções, só para ver como cada fanático puxa brasa para seu assado.

Tenho prazer imenso quando encontro pessoas com as quais posso discutir a Bíblia, a história, óperas, línguas, gastronomia e viagens. Felizmente, tenho esses interlocutores aqui em São Paulo e meus fins de semana são sempre ricos de bons papos. Tenho a ventura de ter uma filha intelectualmente ambiciosa, e viajamos longe quando proseamos. Ela ainda não chegou às questões bíblicas - nem às ostras e polvos - mas um dia vai chegar. Cultura e refinamento do palato são coisas que andam juntas e dependem de idade.

Nós, ateus, adoramos ler a Bíblia, para xingar os crentes com autoridade. Além disso, lá estão os mitos todos que dominam a cultura ocidental. Como disse, impossível entender o Ocidente e sua cultura sem conhecer a Bíblia. Sem falar que tem dois livros de uma poesia extraordinária, o Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos, que até hoje não sei como foram integrados ao cânone. São livros transgressores e se opõe frontalmente ao espírito do Livro.

Quem crê, não precisa ler, basta crer. Quem descrê, tem de ler, para justificar sua descrença. É por isso que um ateu sempre conhecerá melhor a Bíblia do que um crente. Quando alguém tiver dúvidas a respeito do Livro, sugiro consultar este ateu empedernido. Conheço a Bíblia mais do que bispos. É livro extremamente complexo, porque em virtude dos embates entre as várias tendências da Igreja, virou um cajón de sastre, como dizem os espanhóis. Baú de alfaiate, com retalhos de todas as cores. Estou lendo atualmente sobre como foi constituído o baú.

Aliás, vou adiante: conheço a Bíblia mais do que o papa. Esse papa tem dito besteiras a respeito da Bíblia que não são aceitáveis nem em párocos de aldeia. Em janeiro passado, por exemplo, ele andou deitando homilia sobre os reis magos. Que reis magos? Não existem reis magos na Bíblia. Como é que o Bento diz uma besteira dessas? Acho que vou oferecer meus serviços ao Vaticano, para assessorá-lo em suas falas e evitar que profira bobagens.

Se alguém tem preguiça de ler os textos fundamentais da humanidade, nada posso fazer. Sei que hoje nem mesmo os professores universitários se dedicam a leituras mais profundas. Não falo apenas sobre a Bíblia e Deus. Falo apenas quando leio besteiras sobre o tema. Minhas crônicas se alimentam das besteiras alheias. Ou seja, assunto não me falta.

Assim sendo, me parece muito ingênuo esse slogan dos ônibus de Londres. Eu faria diferente. Proporia: “leia a Bíblia”. É o melhor método para deixar de acreditar em bobagens.