quinta-feira, 16 de novembro de 2017


Um pandemônio é a realidade Já os demônios apenas existem dentro de mentes dominadas pela ignorância.

NATURAL

Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Destes nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos acostumados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

A ODIOSA “LEI CONTRA O ÓDIO”: UM PEDAGÓGICO EXEMPLO VENEZUELANO por Lucas Berlanza. Artigo publicado em 15.11.2017



Depois de algum tempo, talvez menos do que gostaríamos que fosse necessário, voltamos a lançar holofotes sobre a situação da Venezuela. Se a ditadura chavista-bolivariana de Maduro já era, pela sua própria essência, um exemplo pedagógico do desastre do “socialismo do século XXI”, do “sonho bolivariano” – nada além de mais uma atualização de um velho mal que remonta pelo menos à Revolução Russa, em seu século de nefasto legado -, a novíssima “Lei Contra o Ódio para a Tolerância e a Coexistência Pacífica” tem um aspecto ainda mais elucidativo para o resto do mundo.

A ideia de que precisamos de uma intervenção com pulso firme do Estado para “policiar” a sociedade e os seus mais lamentáveis pré-julgamentos tem sido uma presença constante e perniciosa no debate – ou melhor, a tentativa de debate – com as formas mais contemporâneas de esquerda. Como bem disse Roger Scruton, a suposta ânsia por libertar os oprimidos desencadeou uma “inflação de direitos”, estimulando a querer ver todo tipo de suscetibilidade contemplada em alguma previsão legal ou constitucional.

Esquecemos desde há muito a orientação de Edmund Burke de que “a base da liberdade política é um governo limitado que presta contas aos contribuintes, não um governo ativista que visa libertar cidadãos dos preconceitos e das disposições”. O discurso da necessidade de combater a “homofobia”, o “fascismo”, a “supremacia branca”, o “racismo” e outras abominações tem estimulado uma série de propostas de contenção do alastramento de publicações consideradas “duvidosas”, a serem controladas por mecanismos diferenciados, às vezes implementados pelas próprias empresas de gestão de redes sociais, às vezes pelo Estado – mas a pergunta “quem vai determinar o que é falso, odioso e duvidoso?” é convenientemente evitada, ou sequer ocorre aos “justiceiros sociais”, para quem qualquer opinião conservadora ou liberal clássica se enquadra no elástico espectro desses adjetivos.

O regime de Maduro veio prestar um serviço inestimável de permitir a dispensa de regimes totalitários da ficção, como a inolvidável Oceania de George Orwell no clássico 1984, para a exemplificação desse alerta. Estamos falando de uma tirania que, em nome do combate ao “imperialismo ianque” e do sonho de emancipar os “pobres e oprimidos”, provocou a carência de artigos fundamentais como o papel higiênico, instrumentalizou forças de repressão armada e assassinou mais de 100 manifestantes em protestos. Um regime que sobrevive apenas em função do discurso de responsabilizar o sucesso alheio pelos seus próprios fracassos inerentes – ou, melhor dizendo, pelo próprio sucesso em devastar o próprio país e destroçar o tecido da própria nação, em prol de aprofundar um domínio que se prova a cada dia mais difícil de ser desmontado.

Poderia esse regime ser julgado apto a combater o ódio, se é o próprio ódio a sua essência? Já dizia a Oceania de Orwell: “guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”. Estamos encarando uma batalha, sobretudo no Ocidente, contra aqueles que querem travestir o ódio e a tirania de amor e justiça, o que terá por consequência fazer da liberdade um sinônimo do mais inescapável servilismo.

Maduro, porém, já está adiantado nesse processo! Sua ditadura é a exata encarnação dos efeitos dessa demanda, seja quem a reivindique um acéfalo manipulado ou um protótipo de autocrata mal-intencionado. Ele apenas inverteu a ordem; instalou o regime autoritário primeiro, para depois aprofundá-lo pela consagração oficial da sua presença em todas as esferas de expressão do pensamento e da vida. É o que tem potencial para produzir a nova lei a que fazemos referência.

A Assembleia Constituinte, ela própria uma impostura chavista para sequestrar as prerrogativas do Parlamento, concebeu a lei, que permite o fechamento de meios de comunicação que a descumprirem, com penas de até vinte anos de prisão para os “crimes de ódio”. A proposta é “frear a campanha de ódio e violência promovida por setores extremistas da oposição venezuelana e buscar o reencontro, a reunificação, a harmonia e a paz do povo”. Tradução: perseguir implacavelmente qualquer um que acha péssimo ser governado por um troglodita que deixou o povo sem papel higiênico é um radical financiado pela CIA e deve ser calado de qualquer maneira e a qualquer preço.

Pessoas que incitarem “o ódio, a discriminação ou a violência contra uma pessoa ou conjunto de pessoas em razão de sua filiação real ou contra determinado grupo social, étnico, religioso, político” serão punidas. Não parece o tipo de parágrafo que veríamos nos textos de um “engajadinho politicamente correto” qualquer em diretório acadêmico de universidade? Pois é… mas o que um parágrafo assim pode “mascarar” nas intenções de um regime como o de Maduro? Alguém realmente acredita que os chavistas se importam com qualquer “minoria” que não a dos abastados que se nutrem dos privilégios desfrutados apenas pela “corte” bolivariana, reinante sobre um povo miserável?

Os desmandos e a algazarra financeira do governo nada tiveram a ver com a falta de papel higiênico, conclui a genial Assembleia. Na verdade, foi tudo por causa das “mensagens de ódio” – tradução: qualquer divergência mínima de uma vírgula do que foi determinado pelo fanfarrão e sua trupe é uma abominação antissocial.

“O prestador de serviços de rádio ou televisão que divulgar mensagens que constituam propaganda a favor da guerra e apologia ao ódio nacional, racial, religioso, político ou de qualquer outra natureza serão punidos com a revogatória da concessão”. Além disso, os meios de comunicação serão obrigados a publicar conteúdos que promovam a “tolerância”. Tradução: “ataquem os americanos e louvem as nossas inexistentes realizações, ou ferraremos vocês”.

Diz também a presidente da Constituinte, Delcy Rodríguez, que a lei é “uma homenagem aos que perderam a vida sendo vítimas do ódio e da intolerância durante os protestos” (!). Tolice. Quem perdeu a vida foi vítima da ditadura. Aprofundar a ditadura e dar-lhe mais instrumentos legais de repressão não é homenagear as vítimas, é ofendê-las. Mais uma revoltante inversão orwelliana.

Parece muito bonito entregar a faca e o queijo na mão, em nosso caso, do Poder Judiciário, do Supremo Tribunal Federal, do procurador-geral, para decidir o que é “odioso” e o que é o “bem e o belo sobre a Terra”. Quando vemos o Judiciário venezuelano receber esse poder, submetido aos interesses da casta brutamontes reinante, aí a feiúra nisso tudo talvez fique mais evidente a quem tiver olhos de ver.

*Publicado originalmente em www.institutoliberal.org.br

UM PAÍS DE CHATOS por J.R. Guzzo - Revista Veja. Artigo publicado em 15.11.2017



Seria possível Nelson Rodrigues existir como autor no Brasil de hoje? Não dá para saber com certeza científica, mas é extraordinariamente difícil imaginar que pudesse escrever e dizer tudo o que escreveu e disse. Quem deixaria? Nelson Rodrigues é o maior autor de teatro que o Brasil já teve — seu nome estaria no topo da literatura mundial se não tivesse nascido, vivido e escrito na língua portuguesa.

Mas hoje seria considerado uma ameaça nacional. A mídia veria nele um agente da “onda conservadora” ou uma voz da “extrema direita”; estaria banido pela boa sociedade cultural brasileira como intolerante, preconceituoso e fascista. Os educadores públicos fariam objeções à leitura de seus textos nas salas de aula. Sua entrada poderia ser proibida no departamento de novelas da Rede Globo. Procuradores e juízes estariam em cima dele o tempo todo, tentando condená-lo por machismo, racismo ou homofobia. Pense um pouco no que Nelson estaria escrevendo, por exemplo, sobre transgêneros, “feminicídio” ou a indignação contra o papel higiênico preto — isso para não falar no homem pelado como obra de arte, ou nas multas aplicadas aos clubes de futebol quando a torcida grita “bicha” para o goleiro do outro time. Não dá. Nelson Rodrigues não cabe no Brasil de 2017.

Como poderia ser diferente, num país tão empenhado no policiamento da atividade de pensar? Não existe hoje no Brasil nenhuma obrigação moral e cívica mais cobrada do cidadão do que se manifestar contra o “preconceito” e a “intolerância”. Não espere, portanto, nenhum Nelson Rodrigues num ambiente assim. Em vez disso, fique atento às suspeitas da ocorrência, próxima ou distante, de qualquer comportamento que possa ser classificado como preconceituoso ou intolerante. Aí, se quiser ser um bom cidadão, assine o mais depressa possível um manifesto de condenação, desses que aparecem todos os dias no jornal — ou, se não tiver cacife para tanto, por não ser licenciado como celebridade, faça alguma coisa a respeito, nem que seja um telefonema anônimo para o “Disque-Denúncia” mais próximo. É fácil descobrir a opinião que você deve ter a respeito dos assuntos em circulação. Preconceito e intolerância, em termos práticos, são o que o Comitê Brasileiro de Vigilância do Pensamento decreta, de hora em hora, que são preconceito e intolerância.

Que “comitê” é esse? É o habitual aglomerado de artistas, com ou sem obra, pessoas descritas como intelectuais, com ou sem algum intelecto visível, e gente de currículo em estado gasoso, mas que por alguma razão é apresentada como “importante”. São eles os árbitros, hoje em dia, do que é certo ou errado neste país. Decidem como todos os demais cidadãos devem se comportar dos pontos de vista moral, social e político. Não toleram que alguém demonstre intolerância — é assim que chamam, automaticamente, qualquer ponto de vista não autorizado por seu livro de regras. O delito essencial, por esse catecismo, é pensar com a própria cabeça a respeito de uma lista cada vez maior de assuntos. Sobre cada um deles há decisões já tomadas em última instância; são apresentados diariamente nos meios de comunicação.

“Vai se inventando, de cima para baixo, uma sociedade mal-humorada, neurastênica e hostil à liberdade de expressão”

O resultado é que o combate a tudo o que possa ser carimbado como intolerância está criando no Brasil mais uma raça de intolerantes. Acaba de ser derrubada no STF, por exemplo, a regra baixada quatro anos atrás pelos organizadores do Enem pela qual levam nota zero os estudantes que escreverem na prova de redação alguma coisa considerada contrária aos “direitos humanos”. Considerada por quem? Por eles mesmos, os burocratas do “Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais”. Ou seja: nomearam a si próprios árbitros do que os alunos podem ou não podem pensar e dão zero quando não gostam do que o aluno pensa. Nem no regime militar se chegou a esse grau de megalomania na tentativa de controlar o pensamento alheio; nunca, na época, alguém assinou um papel em que se determinava a anulação de provas de conteúdo subversivo. Quem é essa gente para decidir o que você pode dizer?

Outro exemplo comum de hostilidade a ideias discordantes é a conversa da “identidade de gênero” — ou a questão, ou até a “causa”, das pessoas atualmente descritas como “transgêneros”. Ficou estabelecido, como princípio moderno e gerador de mais justiça, que os seres humanos não devem ser diferenciados, para propósitos de identificação, pelo sexo anatômico com que nasceram. Podem escolher o gênero que combina mais com o seu jeito de ser, no momento em que julgarem necessário fazer essa opção. Tudo bem: cada um pensa o que quiser, e, além do mais, todo cidadão é livre para levar a vida que prefere, ou que pode, em termos de sexualidade. Mas não há nenhuma razão para a sociedade se escandalizar com quem não concorda, ou não entende, que as coisas sejam assim — ou não acredita que esse seja um assunto de interesse universal. Qual é o problema? Não deveria ser considerado intolerante, retrógrado ou totalitário quem acredita que os sexos são só dois, masculino e feminino. Ou que todo ser humano, sem exceção, tem um pai e uma mãe, que obrigatoriamente são um homem e uma mulher. Ou que é impossível um homem ficar grávido, por lhe faltarem um útero, trompas, ovário — ou por não ter leite, não menstruar e não produzir óvulos, da mesma maneira que uma mulher não produz espermatozoides. Não pode haver, é claro, nenhum problema com nada disso. Só que há.

A lista de pecados capitais contra o pensamento obrigatório vai longe. Você estará perto da blasfêmia se argumentar que animais não têm direitos, pois a noção de direito se aplica unicamente a seres humanos — animais não podem ter o direito de votar, por exemplo, ou de ter nacionalidade, ou de receber salário mínimo. Mas dizer isso é infração gravíssima.

Está vetado, igualmente, o debate sobre a questão ambiental como um todo; é considerado suspeito qualquer pedido de mais pesquisas científicas sobre temas como o aquecimento global, ou a cobrança de dados mais seguros sobre a previsão de que o Rio de Janeiro vai ser engolido pelo mar daqui a alguns anos. Defensivos agrícolas são uniformemente descritos como “agrotóxicos”; não insista. Também é tido como preconceito grave discordar da ideia de que o crime no Brasil é um “problema social” e que os criminosos, portanto, são vítimas da sociedade, e não agressores. O deputado Jair Bolsonaro foi condenado por uma juíza do Rio de Janeiro, ainda outro dia, por ter feito uma piada de quilombola durante uma palestra. A Constituição, obviamente, proíbe que um deputado seja punido por falar o que lhe passa pela cabeça, mas a juíza argumentou que “política não é piada” e foi em frente. Não é piada? De que país ela está falando?

A intolerância contra opiniões que incomodam começa a produzir, depois de algum tempo, disparates como esse. É uma surpresa que o Ministério Público ainda não tenha proibido as piadas de papagaio, ou que uma juíza não tenha decretado que a dama deve valer a mesma coisa que o rei no jogo de baralho. Vai se inventando, de cima para baixo, uma sociedade mal-humorada, neurastênica e hostil à liberdade de expressão. É um ambiente que convive mal com a observação dos fatos, a ciência e o raciocínio lógico. Estão construindo, talvez acima de tudo, um país de chatos.

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA- CARLOS BRICKMANN



Não é a injúria racial, ou racismo, o motivador da campanha: é o pensamento de Waack, que desagrada militantes de tendências opostas.
Não consegui ouvir direito a frase que motivou o afastamento de William Waack da Rede Globo de Televisão. Mas minha eventual incapacidade auditiva, e a de vários colegas que também tentaram ouvi-la sem êxito, não entra na discussão: admitamos que Waack tenha mesmo dito que as buzinadas na rua, que atrapalharam a gravação de seu programa e o irritaram, eram “coisas de preto”.
Mas, como minha surdez, a frase de Waack não tem nada a ver com o caso. A campanha contra ele, um ano depois da gravação da frase, não tem como motivo algo que tenha dito, mas o fato de ter sido dito por ele. Não é a injúria racial, ou racismo, o motivador da campanha: é o pensamento de Waack, que desagrada militantes de tendências opostas.
Imaginemos que, em vez de Waack, outras pessoas, de outras tendências político-partidárias, tivessem pronunciado frases do mesmo teor. Melhor, em vez de imaginar, lembremos frases já enunciadas por pessoas tão ou mais influentes que William Waack:
Do presidente Ernesto Geisel, referindo-se a um economista liberal (e, portanto, adversário de sua política econômica), professor Eugênio Gudin: “Esse judeu filho da puta!” O episódio é narrado na excelente obra de Elio Gaspari sobre o regime militar. Alguém protestou contra a frase preconceituosa de Geisel? OK, era perigoso falar mal de Geisel durante a ditadura. Mas nas dezenas de anos que se passaram, e com o caso voltando ao debate com os livros de Gaspari, houve protestos? A propósito, o professor Gudin não era judeu.
Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o prefeito de Pelotas, RS: “Pelotas é um pólo exportador de veados”. Homofobia? Ninguém chegou a falar nisso, que me lembre. Ah, se Waack fosse o autor da frase!
… cá entre nós, quem nunca fez piada de português, de loira burra, de preto, de judeu, de turco, de veado, de sapatão? Apresente-se…
Do governador paulista Orestes Quércia, brincando ao telefone com o prefeito de Pelotas (que ficou furioso): “Podemos fazer uma estrada ligando Campinas a Pelotas, a Transviadônica”.
E há, é óbvio, o caso de Caetano Veloso. Paula Lavigne disse que, aos 13 anos, foi à festa de aniversário de Caetano, que fazia 40, com a intenção (bem sucedida) de fazer sexo com ele. Agora, na mesma guerra ideológica que tenta vitimar Waack, mas com sinal partidário trocado, quiseram atribuir a Caetano o crime de pedofilia, como querem atribuir a Waack o de racismo. E, semelhante em ambos os casos, há a má intenção de atingir uma pessoa de quem não gostam usando pretextos politicamente corretos.
E, cá entre nós, quem nunca fez piada de português, de loira burra, de preto, de judeu, de turco, de veado, de sapatão? Apresente-se. E atire a primeira pedra.

O REI PAVÃO

No Reino das Penosas, o Rei Pavão  discursava.
“Eu sou o mais belo, o mais inteligente, o mais feroz, o mais iluminado, o mais honesto dos seres do planeta...”
“...peraí, falou uma codorna o meio da multidão, cortando o discurso do rei.”
O Rei Pavão perguntou- “Alguma objeção pequena e feia ave?”
A codorna- “Mais honesto sei não, lá no Brasil tem um tal de Lula.”
Era uma vez uma codorna...

MATILDE

Mesa de bar. A fumaça dos cigarros deixa o ambiente sombrio. Baralho, tagarelas em ação, a língua se solta. Envolvido pela embriaguez o verme abre sua caixa de segredos para companheiros de aguardente. Conta à história da esposa Matilde que há anos foi embora, mas que na verdade não foi, tranco na cabeça, jaz enterrada num lugar ermo. Todos riem, acham brincadeira, mas um deles leva a sério. No dia seguinte ele conta o segredo para um amigo, que também tem um amigo policial e antes da seis da tarde o crápula já estava encarcerado contando tudo. Oito anos se passaram do fato, os timbós verdejantes balançam ao vento, máquinas em ação, cavouca aqui e ali, então quase desaparece o timbozal, tantos buracos na paisagem. Uma multidão acompanha e aguarda. No segundo dia surgem ossos, um vestido vermelho e uma sandália de couro cru. Matilde ali posta, Matilde morta, Matilde agora ossos e pó finalmente terá sua justiça. 

O VELHO INÁCIO E O DIABO

Noite escura e temporal daqueles, luzes piscando e o vento zunindo. O velho Inácio está sozinho em casa. Batem. Ele atende, na porta está um sujeito vermelho, com chifres e rabo.
-Inácio Brandão?
-Sim.
-Sou o diabo, vim para levá-lo.
-Você disse quiabo? Que nome estranho!
-Não é quiabo, é diabo!
-Pois é o que estou dizendo, quiabo! Mas que tipo de quiabo?
-Você não vê que sou vermelho, tenho chifres e rabo pontudo?
-É fantasia? Muito bem feita.
-Velho tonto, eu venho do inferno, o reino do fogo eterno.
-Entendo que o senhor vem do inverno, e inverno é fogo mesmo. São Joaquim?
-Duro de entender, não é?
-O quê?
-Que sou satã.
-Maçã? São Joaquim terra da maça? É isso? Mas o que é que o senhor quer aqui em São Paulo? Está vendendo maçã?
-Deixa para lá. Vai para o céu seu velho filho da puta!

E o diabo se mandou enquanto grossa chuva caía.

MULA-SEM-CABEÇA


Após vinte anos de pesquisas em todo o território brasileiro o professor Martin Roney chegou à conclusão que não existe mula-sem-cabeça. Mas salientou que existem os socialistas, o que vem ser a mesma coisa.

QUEIMADO


Irado como nunca Nicanor olhou para ele com todo o desprezo do mundo. Cuspiu e sapateou em cima dele com os sapatos sujos de barro. Humilhou-o dizendo que não servia para nada, um inútil. Jogou-o na churrasqueira, deu-lhe um banho de gasolina e riscou um fósforo. Foi abraçado pelas chamas e rapidamente desapareceu, virou cinzas. Tão importante e mal utilizado de quatro em quatro anos, vilipendiado, assim morreu em nosso país mais um título de eleitor.

CARLOS ROBERTO


Violento e machista, Carlos Roberto jamais conseguiu manter um relacionamento. Todos de curta duração, pois o homem é intragável. Na semana passada após a última surra sua mulher-inflável também pediu o divórcio.

ESQUECIDO


Guilherme é um sujeito muito esquecido. Esquece coisas nos lugares mais impróprios e jamais se lembra de ir buscá-los. Ontem fez doze anos que deixou a mulher na casa da sogra.

GUERRA SANTA

No governo, chamam de “guerra santa” a briga para reformar a Previdência e acabar com a lógica perversa em que a esmagadora maioria dos aposentados sustenta uma “casta de privilegiados.”

Claudio Humberto

NADA A DEVER

Proposta do deputado André Figueiredo (PDT-CE) proíbe magistrados de julgar casos envolvendo quem os nomeou. Se a regra existisse no julgamento do mensalão, apenas três ministros do STF teriam julgado a gangue do PT: Celso de Mello, Marco Aurélio e Gilmar Mendes.
  •  
  •  
  •  
    Claudio Humberto