sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

MEMÓRIAS DE MINHA INFÂNCIA- O TURBO DA SADIA EM CHAPECÓ


MEMÓRIAS- O TURBO DA SADIA EM CHAPECÓ

 Muitas e muitas vezes eu e meus amigos já estivéramos no aeroporto para acompanhar o pouso e decolagens dos teco-tecos. Porém havia grande expectativa quando foi noticiado que pousaria regularmente em nossa cidade um avião Turbo hélice da empresa Sadia. O ano preciso não lembro, creio que entre 1967 e 1968. A Sadia estava crescendo e deu um salto qualitativo padronizando sua frota com aeronaves de propulsão turbo hélice, cabine pressurizada e equipadas com radar metereológico. O modelo escolhido foi o "Dart Herald" - (asa alta). Assim agindo, a empresa adiantou-se cerca de cinco anos em relação as demais companhias brasileiras de aviação comercial. Então fomos (quase toda a gurizada da Vila Sapo-hoje Centro- Jardim Itália) para o aeroporto presenciar o grande evento. Ao lado da pista existia um outeiro, e de lá é que observávamos os pousos e decolagens que ocorriam. O responsável pelo aeroporto, Sr. Baccarin, não cansava de xingar quem insistia em se colocar dentro da pista. Recordo que ele gritava enfurecido: ”vocês não entendem português? ” E nós embalados pela ignorância: “ele diz falar português em vez de brasileiro! ”
Foi um dia e tanto quando este animal metálico pousou pela primeira vez em nossa cidade levantando poeira e cascalho da pista. Chegando em casa tínhamos história para contar para nossos pais. Foi sem dúvida um dia especial que ficou gravado em minha memória.

UMA VOZ DE CORAGEM


MINICONTO- INFARTO DO MIOCÁRDIO


Borda do Cafundó, três mil almas. No dia 15 de outubro de 2010 nasceu o primeiro filho de Jurema e Deodato. Ele escolheu o nome do menino, nome este que não saiu da sua cabeça deste que ouviu alguém falar no hospital da capital, quando o pai estivera internado: ‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’.
-Como? Perguntou perplexo o
Tabelião Amadeu.
-‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’.
-‘Infarto do Miocárdio’ não pode seu Deodato!
-Não pode, não pode por que seu Amadeu?
-Porque não é nome de gente, é um mal que acomete o coração!
-Não me interessa se é ou não é, é diferente, soa bem e eu quero!
-Mas seu Deodato, onde já se viu? Pobre do menino!
-Vai ver está com ciúme! Faça filho e meta nele o nome que quiser! O meu filho será ‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’ e o apelido dele será ‘Infartinho do Deodato’!

O tabelião andou de lá para demovê-lo da ideia e nada de conseguir. A tarde já findava e o Deodato não arredava o pé. E quando viu que o tabelião não iria mesmo registrar o Miocárdio não teve outra saída senão sacar da peixeira e do 38 que são dois tipos de muita argumentação. O menino foi registrado e seu Amadeu ganhou mais um afilhado.

MINICONTO- O HOMEM NU E A BARATA


Roberto dormia nu enquanto uma barata passeava sobre seu corpo. Ainda sonolento sentiu o toque de bicho nojento na sua pele e instintivamente mandou um tapa daqueles do vivente trocar de orelhas. Errou do bicho e acertou em cheio o próprio saco. Caiu da cama gritando de tanta dor. A barata estava rindo quando o corpo dele tombou sobre ela. Ploc! Ponto para o peludo com dor nos ovos.

MINICONTO- O MURO


Faz alguns anos na Vila Marta havia um terreno murado que aguçava a curiosidade dos moradores e passantes. O muro de mais de dois metros de altura todo caiado de branco era como se fosse um monumento daquele quarteirão. Uma enorme placa dizia: “Perigo. Muito cuidado! Não tente pular este muro! ” As gentes se perguntavam o que poderia existir de perigoso por detrás daqueles tijolos pintados de branco que sabiam não ter moradia. Bichos? Plantas venenosas? Canibais? Amigos falsos? Comunistas? Parentes do Lula? Então certo dia após uns goles uns gaiatos resolveram dar fim à curiosidade e pular o obstáculo. Uma escada foi colocada, e quando dois deles subiram no muro ele ruiu por completo. No chão, cheio de dores e machucados os dois observaram no meio do terreno uma pequena placa e nela escrito: “Eu avisei! ”

MINICONTO- O GRANDE TALENTO


Naquele dia Paulo resolveu mudar de vida. Já estava com trinta anos, o momento era aquele. Ou agora ou nunca! Tinha que ser, não dava mais para esperar. O plano estava feito, não mudaria de ideia. Iria sem falta procurar a TV local para mostrar o seu talento excepcional. A ansiedade foi tanta que quase teve um ataque.
Então foi. Entrou gritando no escritório da TV ALIANÇA: eu sou um pássaro, eu sei voar! Eu sou um pássaro, eu sei voar! Quero uma chance para mostrar! Todos pararam. Mais um louco, pensaram. Queria ele ser apresentado ao diretor artístico, sem perda de tempo. A secretária da presidência chamou os seguranças conforme determinou o diretor administrativo. Deveriam colocá-lo para fora do prédio. Ele não se deu por entregue. Antes da chegada dos brutamontes bateu os braços e saiu voando pela janela. Sorte dele que estava no térreo.

CASA ESCURA


Na minha rua há uma casa que chamamos de ‘CASA ESCURA’. Moram lá quatro seres, pais e filhos, que não gostam de luz. Não são maus, apenas tolos que vivem lambendo um tal de Senhor, que por sinal ninguém nunca viu. Faça inverno ou verão pouco se abrem as janelas e portas, e raras visitas só de alguns abençoados que também devem conhecer o tal de Senhor. Possuem da vida uma visão diminuta, mal enxergam a ponta do próprio nariz. São como morcegos vivendo na escuridão, respirando um ar cheio de bactérias, com medo da vida, não querendo conviver com os seres de diferentes tipos de fé. São isto sim adeptos do coitadismo explícito. Para eles os vizinhos não existem, Não há cumprimentos que a boa educação confere, existe sim fuga, luzes apagadas e silêncio, salvo se o visitante de momento trouxer nas mãos alguma doação. Os moradores da CASA ESCURA são os primeiros morcegos cristãos que conheço.

MAL


MAL

É o submundo
Vermes de foice e martelo invadem mentes
Mentem
E os homens não vacinados
São suscetíveis ao mal
Porém esses somente darão conta da doença terminal
Quando a cura não for mais possível.

DESERTO


Areia
Sol escaldante
Cansaço e sede
Caminhar lento
Animais peçonhentos
Passos em câmera lenta
Areia
Noite que congela
Num mar de estrelas
E imensa solidão no solo
O deserto não perdoa
Não é um lugar para fracos
Pois logo eles perecem.


MINICONTO-MEDO


Insônia. Passava da meia-noite quando Antenor foi à sacada do seu apartamento que ficava no oitavo andar para fumar. A esposa dormia. Sentou-se, acendeu um cigarro e ficou ouvindo o murmúrio noturno da cidade. Algumas frenagens, buzinas e sirenes, sons da madrugada na cidade grande. Enquanto observava a fumaça se dissipando no ar pensava na vida. Já completara 53 anos em boa forma, a vida familiar era harmoniosa, a loja de peças permitia uma vida digna, o filho Rafael de 15 anos tinha boa saúde, bom aluno e não incomodava os pais. O que estaria faltando? O que lhe tirava o sono? Dívidas e inimigos sérios não faziam parte do seu mundo. Ficou remoendo dentro do cérebro perguntas e mais perguntas tentando obter respostas. Fumou mais um cigarro, voltou para seu quarto, acordou a mulher que bem dormia e perguntou: “Amor, você também tem medo da velhice?”

“Marciano era um homem que tinha todos os defeitos do mundo. Queria mais. Então entrou para o PT.”