quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Como Michelle Bachelet pretende destruir as bases institucionais do Chile

Ao longo da década de 1980, ainda na vigência da ditadura de Augusto Pinochet, Milton Friedman insistia que o Chile tinha de reintroduzir a liberdade política caso quisesse preservar suas recém-criadas instituições de livre mercado.  Segundo Friedman, no longo prazo, o autoritarismo era incompatível com a liberdade econômica. 
Por outro lado, Friedman também se mostrava muito cético quanto ao futuro do Chile tão logo a democracia fosse reintroduzida.  Ele temia que a classe política viesse a utilizar o processo democrático para voltar a aumentar o tamanho do governo, desta maneira solapando severamente a liberdade econômica. 
Vinte e cinco anos após a reintrodução da democracia, as preocupações de Friedman com os efeitos deletérios da democracia parecem estar se materializando.
Apenas cinco meses se passaram desde que o governo socialista de Michelle Bachelet assumiu o poder no Chile, mas isso já foi o suficiente para fazer com que a taxa de crescimento econômico do país desabasse.  A principal causa deste repentino e dramático declínio na atividade econômica é o aumento das incertezas gerado pelo novo governo chileno, que pretende fazer uma tabula rasa com as próprias instituições de livre mercado que permitiram ao Chile se tornar o mais próspero país da América Latina.
Uma das mais deletérias propostas é uma maciça reforma tributária, a qual já foi aprovada, que irá dramaticamente elevar o imposto sobre pessoa jurídica no Chile, deixando-o acima da média dos países da OCDE.  Além disso, essa reforma tributária — a qual sofreu forte oposição das associações de empreendedores chilenos, e que vem perdendo o apoio da população — concede à Receita Federal inéditos poderes arbitrários sobre os pagadores de impostos.
Outro alvo do radical programa socialista de Bachelet é, como não poderia deixar de ser, o emblemático sistema previdenciário do Chile.  Como é amplamente sabido, o Chile foi o primeiro país do mundo a introduzir um sistema de seguridade social que é gerenciado por empresas privadas e que se baseia em contas de capitalização individual.  Sob este esquema, a cada mês, os trabalhadores chilenos depositam uma porcentagem de sua renda em uma conta sob seu nome, a qual é administrada por empresas privadas chamadas AFP (Administradoras de Fondos de Pensiones).  O arranjo funciona exatamente como um sistema de capitalização.
Assim, quando os trabalhadores chilenos se aposentam, eles — ao contrário de todos os outros sistemas previdenciários vigentes ao redor do mundo — não dependem de que outros trabalhadores continuem contribuindo para o sistema para que recebam sua aposentadoria; eles simplesmente recebem de volta todo o dinheiro que aplicaram corrigido pela inflação mais juros.
Ao contrário do sistema previdenciário estatal criado por Bismarck e copiado pelo mundo inteiro — tecnicamente chamado de pay-as-you-go —, o sistema chileno é totalmente solvente, pois não depende da demografia e nem de taxas de fecundidade para se manter. 
Mais ainda: esse sistema, por incentivar uma genuína poupança das pessoas, levou a um intenso processo de acumulação de capital no país.  A poupança dos trabalhadores era investida na própria economia do Chile, algo que foi essencial para o notável crescimento econômico que o país vivenciou nas décadas de 1990 e 2000. 
Adicionalmente, esse arranjo transformou os próprios trabalhadores chilenos em capitalistas.  No Chile, todos acompanham a evolução de suas Cuenta de AFP como acompanham o campeonato nacional de futebol.  Aliás, acompanham ainda mais de perto: o chileno recebe um extrato mensalmente detalhando quanto foi acrescido em sua conta, quanto valem atualmente suas economias, quanto ele receberia mensalmente caso se aposentasse hoje, e quanto ele receberá caso continue contribuindo para sua Cuenta até os 65 anos de idade.  É um sentimento meio inebriante, e fez com que a sociedade chilena se tornasse bastante preocupada com a segurança das empresas privadas, pois é nelas que sua preciosa poupança está investida e é da saúde delas que advém suas receitas previdenciárias.  Por isso, tornou-se um anátema no Chile qualquer grupo sindical ou político querer tumultuar a economia para proveito próprio.  Tais grupos simplesmente não têm o apoio da população. 
Toda essa realidade chilena, reconhecida pela literatura especializada, é desdenhada pelo atual governo socialista.
Determinados a trazer o estado de volta para o ramo da previdência, a senhora Bachelet e seus ministros já apresentaram um plano para criar uma empresa estatal para o setor previdenciário.  Como é fácil de se prever, isso provavelmente irá criar uma concorrência desleal para as atuais empresas privadas, as quais não mais seriam capazes de fazer frente às taxas de administração cobradas por uma empresa que é subsidiada com o dinheiro de impostos dos chilenos e que, caso apresente uma má gerência, será imediatamente socorrida com mais dinheiro de impostos.
Em outras palavras, há um perigo real de que a nova estatal se torne uma ameaça existencial para a mais importante dentre todas as reformas de livre mercado feitas no Chile na década de 1980. 
Outras reformas do programa socialista de Bachelet incluem acabar com o formato do atual sistema privado de saúde, o qual seria agora gerido de forma socializada.  As apólices e os prêmios que os trabalhadores chilenos pagam individualmente para seus planos de saúde seriam socializados e transferidos diretamente para os cofres do estado.  O objetivo seria criar um sistema universal de saúde, tão em voga no vocabulário mundial.  Isso não apenas representaria uma expropriação direta do dinheiro que os trabalhadores pagam às suas empresas de plano de saúde, como também, como vários economistas já alertaram, traria consequências desastrosas para todo o resto da economia, especialmente em termos de segurança jurídica e institucional.
Mas tem mais.
Dentre outras reformas, o atual governo socialista planeja fazer uma transformação substancial nas leis trabalhistas do país, as quais iriam conceder poderes inéditos e dramáticos aos sindicatos (que são a base eleitoral do atual governo) e afetar sobremaneira a produtividade.  Pretende também fazer uma reforma educacional que irá acabar com o atual sistema de voucher e criar um sistema educacional completamente gerido pelo estado, inclusive com educação universitária "gratuita" para todos, sistema idêntico ao que existe no Brasil e na Argentina (e com resultados nada invejáveis).
Para completar, os partidos de esquerda estão planejando criar uma constituição totalmente nova, a qual seria escrita — nas palavras do ex-presidente socialista Ricardo Lagos — "em uma página em branco".  Como o mesmo Lagos recentemente declarou, a nova Constituição tem de abolir o princípio da subsidiariedade vigente na atual Constituição, a qual diz que o estado só pode intervir quando os agentes privados não conseguiram solucionar problemas sociais urgentes.  Na nova constituição socialista, o governo passaria a ser o principal condutor do progresso econômico e social, um modelo que o Chile já tentou desde a década de 1930 e que terminoudesastrosamente em 1973.
Como que para deixar bem claro seu intuito, a própria Bachelet declarou recentemente que compartilha dos mesmos objetivos do ex-presidente marxista Salvador Allende, que geriu o país de 1971 a 1973.
Ao contrário de Allende, a senhora Bachelet não quer transformar o Chile em um regime comunista.  No entanto, não é nenhum segredo que ela endossa, em grande parte, uma antiquada filosofia estatizante.  E não há dúvidas de que, caso sua administração consiga implementar esses projetos, o Chile deixará de ser um modelo para a América Latina.  Resta saber se aqueles que querem preservar o caminho do progresso trilhado pelo Chile nas últimas décadas serão capazes de impedir que o país adote um modelo argentino de involução institucional.  Por enquanto, o futuro chileno não é nada alvissareiro.

Axel Kaiser é chileno e colunista financeiro da revista Forbes.

Do Baú do Janer Cristaldo- sexta-feira, outubro 24, 2008 SOBRE MONGES MISÓGINOS, MILIONÁRIOS E CORRUPTOS

Existe na Grécia uma montanha jamais pisada por mulher, desde que foi consagrada à Virgem, há mais de mil anos. É o monte Athos, a Montanha Sagrada. Em grego, Aghion Oros. Não só mulheres estão proibidas de pisar o solo sagrado, como toda e qualquer fêmea, seja cabra, ovelha ou galinha. No cais do porto pelo qual se chega à montanha, monges com olhos treinados vigiam para que nenhuma mulher vestida de homem profane o monte Athos. 

Em sua autobiografia, Testamento para El Greco, Nikos Kazantzakis conta sua visita a esta montanha só pisada por machos. O amigo que acompanhava Kazantzakis quis saber como os monges distinguiam as mulheres dos homens.
- Pelo cheiro – respondeu um jovem monge. E pediu ao rapaz que se dirigisse a um monge mais velho, que já fora sentinela no cais.
- As mulheres tem outro cheiro, Santo Padre? Que cheiro têm?
- Como gambás, fedorentas – respondeu o ancião.

Espécie de Vaticano greco-ortodoxo, este Estado misógino, com 371 km2, está situado na mais oriental das três penínsulas da Tessalônica, ao norte da Grécia e abriga cerca de 1500 monges ortodoxos, distribuídos em vinte mosteiros principais. Mesmo pertencendo ao território grego, constitui uma entidade teocrática independente. Para entrar no monte Athos, é preciso uma permissão especial, apesar de a Grécia fazer parte da União Européia e ter abolido os controles de fronteira. O encrave é rico em tesouros artísticos, como antigos manuscritos, ícones e afrescos. Desde suas origens, a Montanha Santa hospedou místicos e mestres espirituais cujos escritos foram recolhidos no século XVIII numa antologia - a Filocalia - que influenciou profundamente o mundo ortodoxo.

Os monges seguem uma vida de desapego aos bens materiais. Desapego, mas não muito, ao que tudo indica. Segundo o Courrier International, um sagrado escândalo sacode a Grécia. Até o momento intocável, o monastério de Vatopediou, um dos vinte da montanha santa, está sendo denunciado por transações imobiliárias duvidosas realizadas com o Estado. A affaire diz respeito a duas construções da vila olímpica, erguidas para os jogos de 2004, cedidas ao monastério pelo governo por uma soma simbólica e imediatamente revendidas pelos monges por uma plus-valia considerável.

O jornal grego Eleftherotypia pesquisou as posses do monastério, que é proprietário de numerosos bens na Grécia, como também em dez outros países, entre os quais a Bulgária, Romênia, Moldávia, Chipre e Turquia. Este patrimônio é calculado em centenas de milhões de euros. Trata-se de terras cultiváveis, terrenos de construção, residências, hotéis, empresas de todo tipo e mesmo minas. Nada mau para quem se dedica a uma vida monástica.

Para o jornal de oposição Ta Nea, as revelações de transações entre o Estado e o monastério de Vatopediu estão longe de acabar. “Em apenas um ano, vários terrenos foram doados ao monastério pelo Estado. Os monges decidiram então trocá-los pelas duas construções da vila olímpica, revendidas três meses depois por cerca de 41 milhões de euros, o dobro do preço de compra. Outras propriedades, como terrenos e lagos, teriam custado ao Estado mais de cem milhões de euros, isentos de imposto. Com efeito, a Igreja não paga imposto. Nenhum imposto. No entanto, uma tributação da Igreja, maior proprietária da Grécia, permitiria reequilibrar o orçamento do Estado”.

Misóginos, mas malandros, nossos monges. Não gostam de mulheres. São fedorentas. Mas nada têm contra o vil metal. Dinheiro não tem cheiro. Igrejas em muito se parecem.

“Casei-me com uma mulher feia para não ter incômodos. Pois não adiantou, tornei-me um alce.” (Pócrates)

Ensinando o básico da ciência econômica para suas crianças

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.   Provérbios 22:6

6a01053577995e970c0120a5be11f0970b-800wi.jpgComo criar métodos para iniciar os jovens no ensino da ciência econômica?  Isso é de suma importância, pois, afinal, a próxima geração é a que conta.
Tentar ensinar economia para adultos já é difícil o bastante, dado que é um tanto raro encontrar adultos que tenham genuíno interesse ou aptidão para o assunto. No máximo, há adultos com inclinações partidárias e ideológicas, mas não com genuíno interesse pela ciência econômica.
Será que existe alguma maneira de apresentar ideias tão complexas a crianças, de modo que elas se sintam compelidas a ter um comportamento social condizente com o livre mercado?  Talvez.  Mas antes vamos refletir sobre nossa matéria-prima: as crianças a quem ensinaríamos.
Há aquelas pessoas que afirmam que cada bebê inicia a vida como um pequeno selvagem; que ele está dotado, entre outras coisas, de órgãos e músculos sobre os quais não tem controle, com um instinto de autopreservação, com emoções e impulsos agressivos como a raiva, o medo, e o amor, sobre os quais ele tampouco possui qualquer controle, e que durante o processo do crescimento é normal para uma criança se sujar, brigar, responder, desobedecer, se esquivar. "Toda criança deve crescer e ao mesmo tempo se livrar do comportamento delinquente". Assim é o argumento.
De minha parte, não me sinto confortável com essa visão freudiana da gênese da raça humana. Preferiria muito mais pensar em uma criança como um broto de planta, com todo o potencial para a beleza e a felicidade que um organismo em crescimento prenuncia. É claro que em cada caso específico, do ponto de vista de um adulto, poderá haver uma aparente desorganização, uma falta de coordenação, e uma desarmonia. Mesmo que seja assim, o potencial para a beleza e a harmonia está lá.
Seja a criança considerada um bárbaro selvagem ou uma beldade em germinação, o desafio está em fazê-la sair de um estado de ignorância quanto às suas relações com os outros, e ascender para um estado de harmonia com as leis universais que governam a condição humana. A criança é uma extensão da responsabilidade dos pais, e essa responsabilidade inclui colocá-la na direção de um sólido entendimento econômico. Eis algumas possibilidades:
Se derrubar algo, pegue.
Isso é fácil de ser ensinado, especialmente para os pais que seguem essa máxima eles próprios. Trata-se de um treinamento básico sobre assumir a responsabilidade pelos próprios atos — ou seja, não prejudicar terceiros com o próprio comportamento.
Uma criança que adota esse comportamento desde cedo está dando seus primeiros passos em direção ao autocontrole.  E, caso esse comportamento se torne um hábito, ela provavelmente irá, ao atingir a maturidade, recorrer a si mesma, e não aos outros, para se resgatar a si própria de dificuldades econômicas criadas por seus próprios erros.
Muito provavelmente, ela não será um fardo para a sociedade.
O indivíduo que possui um genuíno domínio sobre seu autocontrole tende a desenvolver uma capacidade rara e valiosa: a habilidade de determinar as próprias ações. Uma pessoa assim não se sentirá tentada a mudar bovinamente de posição apenas para ser mais um no meio da massa.  Ela não cederá por conta de pressões, de opiniões volúveis, de sabedorias populares etc. Ela irá se tornar seu próprio mestre.
Pegar o que você deixou cair ajuda a organizar sua mente.  Ao se transformar em algo instintivo, torna-se um hábito jubiloso, levando você eventualmente a pegar coisas que outros deixaram cair.  Projetado na vida adulta, isso mostra uma atitude caridosa, no sentido judaico-cristão: o dever moral de uma pessoa para com os menos afortunados.
Se abrir uma porta, feche-a.
Esta é uma sequência da lição anterior; trata-se meramente de uma prática que confirma a sabedoria de se completar cada transação em sua vida.
Um inevitável dualismo divide a natureza, de maneira que cada coisa é uma metade, supondo alguma outra coisa que a complete; espírito e matéria, homem e mulher, subjetivo e objetivo, dentro e fora, em cima e embaixo, movimento e repouso, sim e não.[1]
Para ensinar crianças eu acrescentaria isso: derrubar, apanhar; abrir, fechar; e outras.
Se fizer uma promessa, mantenha-a.
Não há melhor aliado para o caos social do que promessas não cumpridas.
Crianças que não tenham sido educadas para manter a palavra dada serão autoras de tratados feitos para não serem seguidos; elas concorrerão a cargos políticos ou executivos fazendo falsas promessas, cancelarão contratos, e utilizarão meios políticos para expropriar propriedade alheia; elas venderão suas almas em troca de fama, fortuna e poder.
Elas não apenas fracassarão em serem honestas com seus companheiros, como também não darão atenção nem mesmo às ordens de suas próprias consciências.
Por outro lado, crianças educadas a manterem suas promessas não fugirão de suas obrigações, chova ou faça sol. A integridade será a sua marca de distinção.
O que quer que você tenha pegado emprestado, devolva.
Essa é uma extensão da lição sobre manter a promessa.
A adesão a esses conselhos desenvolve o respeito pela propriedade privada, que é uma premissa fundamental para a doutrina econômica sólida.
Nenhuma pessoa criada dessa forma pensaria em construir seu ninho à custa dos ninhos de outros.  Estatistas adeptos do assistencialismo e entusiastas do planejamento centralizado não surgem se houver esse tipo de treinamento.  
É verdade que um socialista pode honrar uma dívida contraída em seu próprio nome, mas o fato é que ele desconsiderará qualquer endividamento feito em nome "do povo" ou do bem comum.  Ele não foi educado para entender que o princípio da compensação se aplica a todo e qualquer caso.
Jogue o "jogo do obrigado".
Essa lição levará um pai brilhante e uma criança esperta a qualquer lugar.
É possível enunciar a ideia, mas não há como ensiná-la. Uma vez compreendida, a ideia é bastante simples, embora tão evasiva que, apesar dos 33.000 anos passados desde o homem de Cro-Magnon, ela só foi descoberta há pouco mais de um século: o valor de um bem ou serviço não é determinado objetivamente pelo custo de produção, mas sim subjetivamente pelo que outras pessoas estão dispostas voluntariamente a dar em troca deste bem ou serviço.
Não há conceito mais importante do que esse na ciência econômica: o livre mercado não tem outra origem econômica que não esta teoria de valor subjetivo ou de utilidade marginal.  Com efeito, ela é mais precisamente definida como a teoria do valor-mercado.
Exemplo: quando uma mãe troca R$ 1,00 por um kg de arroz, ela valoriza mais o arroz do que o R$ 1,00 e o vendedor dá mais valor ao R$ 1,00 do que ao quilo de arroz. Se a mãe valorizasse mais o R$ 1,00 do que o arroz, ela não faria a troca. Se o vendedor valorizasse mais o arroz do que o R$ 1,00, ele não faria a troca. Os valores do arroz e do R$ 1,00 (excluindo qualquer outra consideração) são determinados por duas opiniões subjetivas.
A quantidade de trabalho empregada (custo) na obtenção do R$ 1,00 ou na aquisição do arroz não tem nenhuma relação com o valor do R$ 1,00 ou do arroz.
Repetindo: o valor de qualquer bem ou serviço é determinado pelo que será dado por ele em uma troca voluntária, e nunca forçada ou involuntária.[2] Quando o R$ 1,00 é trocado pelo arroz, o vendedor conclui a transação dizendo "Obrigado", já que em sua opinião ele teve um ganho. Esse é o mesmo motivo pelo qual a mãe diz "Obrigada", já que ela também obteve um ganho, na sua própria opinião. Não seria nada impróprio descrever isso como o "estilo grato da vida econômica".
Esse conceito de valor, é bom lembrar, tem sido praticado pelo homem comum milênios antes de os teóricos econômicos o identificarem como o meio mais eficaz de se avançar mutuamente no bem-estar econômico.  E, justamente por isso, a criança pode ser ensinada a praticá-lo antes mesmo de ela ter condições de entender o básico da teoria.
Ao trocar brinquedos ou bolinhas de gude ou figurinhas ou o que quer seja entre si, crianças podem perfeitamente jogar o "jogo do obrigado".  Elas podem ser ensinadas a expressar o mesmo "obrigado" que esperam receber de seus amigos.  Se isso não ocorrer é porque houve algo de errado com a troca.  Por outro lado, quando ao final da transação dizem "obrigado", é porque todos saíram ganhando.
Obtenha essa atitude de um menino ou de uma menina e você terá plantado a semente do pensamento econômico sólido.
Não faça a um amigo o que você não gostaria que ele fizesse a você.
A filosofia moral é o estudo e a investigação sobre o certo e o errado. Já a ciência econômica é um ramo dessa disciplina: o estudo do certo e do errado em assuntos econômicos.
Sendo assim, o livre mercado é simplesmente a aplicação da filosofia moral à ciência econômica — a economia de livre mercado, portanto, depende da prática da Regra de Ouro (a ética da reciprocidade).
É duvidoso que a Regra de Ouro possa ser descrita e ensinada de modo a ser completamente apreendida antes da adolescência. Sua apreensão requer uma natureza moral, faculdade raramente adquirida antes da juventude — e, em alguns casos, nunca.
Mas o esforço para se ensinar a Regra de Ouro a meninas e meninos irá resultar, no mínimo, em uma melhor observação dessa regra por parte dos pais. Crianças — altamente impressionáveis — são guiadas muito mais pela conduta dos pais do que por suas reprimendas; elas são guiadas muito mais pela observação de exemplos do que pelo mero ensino verbal.
Assim, a tentativa de se ensinar esse princípio fundamental de moralidade e justiça, resultando em um comportamento altamente exemplar, pode levar a criança primeiro à imitação, e depois à observância e à prática rotineiras.

Ambos os genitores são os responsáveis pelas gerações vindouras, e são também eles os responsáveis por escolher os tipos de pessoas que ajudarão a educar e a ensinar seus filhos.


[1] Extraído de Compensation de Ralph Waldo Emerson
[2] Impostos, subsídios, tarifas de importação são exemplos de trocas forçadas.

Leonard Read foi o fundador do instituto Foundation for Economic Education -- o primeiro moderno think tank libertário dos EUA -- e foi amplamente responsável pelo renascimento da tradição liberal no pós-guerra.

YOANY SÁNCHEZ-As utopias e dissidências de Pedro Pablo Oliva

As utopias e dissidências de Pedro Pablo Oliva

, 27/10/2014
Fragmento de 'Las extrañas divagaciones de Utopito', de la exposición de Pedro Pablo Oliva, Utopías y disidencias
Faz alguns anos visitei a casa estúdio do pintor Pedro Pablo Oliva. Havíamos apenas nos visto em alguma ocasião anterior, porém ele me chamou ao seu estúdio e me mostrou a obra em que dava os últimos retoques. Uma enorme tela vertical se levantava em frente a mim e o artista permaneceu em silêncio, sem nada explicar. No centro da tela duas figuras levitavam. Uma era Fidel Castro, translúcido como se o víssemos através de uma radiografia, avantajado e com certo ar fantasmagórico. Entre seus braços apertava até a asfixia uma garota lânguida que parecia querer escapar daquele aperto. Era Cuba, esgotada por companhia tão monopolizadora. Aos pés um grupo de cidadãos pequeninos e de olhos vazios observava – ou imaginava – a cena.
Nunca pude esquecer aquele quadro porque num limitado número de centímetros Oliva havia fixado o percurso nacional do último meio século. Seu atrevimento naquela obra me impactou como já o havia feito seu clássico El Gran apagón (1994), exibido quando os cortes elétricos eram mais do que uma metáfora artística. Agora, anos depois, soube do cancelamento da sua exposição Utopias e dissidências no Museu de Arte de Pinar Del Río. As justificativas oficiais insinuaram que na cidadenão existiam “condições subjetivas favoráveis” para inaugurar a mostra. Uma forma rebuscada de rechaçar as imagens incômodas onde o personagem de Utopito questionava as ideologias e os sonhos a partir dos resultados.
Contudo, a tenacidade de Oliva sobrepujou os funcionários culturais e acaba de anunciar que a exposição censurada será, finalmente, feita em sua casa estúdio. De modo que seus admiradores pinareños e de toda a Ilha poderão desfrutar de uma parte das obras de Utopias e dissidências a partir de primeiro de novembro próximo, já que dado o pequeno espaço onde serão exibidas não pode incluir todas.
Nessa mesma sala onde um político inconsciente aperta a pátria até a sufocação, em poucos dias comprovaremos como ela consegue sair deste abraço mortal, seguir sua vida e continuar sua criação.
Tradução por Humberto Sisley

“A solidão me fez dar razão aos meus inimigos. Não é fácil me aturar.” (Climério)

“Estamos perdidos no mato e o cachorro está morto.” (Mim)

“Se você é daqueles não acha graça em nada, como é que alguém vai achar graça em você?” (Pócrates)

A maior festa do regime comunista acontece quando ele acaba. E que festa!

“Hoje acordei sem saber quem eu sou. Perguntei pra mulher ao meu lado e ela também não sabe.” (Nono Ambrósio)

Muito quente, nunca tinha visto algo assim: rãs, na lagoa, usando sombrinhas.

É calor amigos! Galinhas saindo assadas dos frigoríficos!

VIDA EM CUBA- NASCIDOS NA LAGE

Nascidos na laje.

YOANI SÁNCHEZ, La Habana | 28/10/2014
Fotograma de Madagascar(1994) filme dirigido por Fernando Pérez
Há cidades que tem uma vida subterrânea. Urbes com uma realidade que literalmente acontece sob o solo. Metrôs, túneis e porões… A vitória humana de ter conquistado centímetros da pedra. Havana não, Havana é uma cidade de superfície, pouco subterrânea. Contudo, sobre os tetos das casas, nos lajes mais impensáveis, levantaram casinhas, banheiros, cercados de porcos e gaiolas de pomba. Como se por cima dos tetos tudo fosse possível, inalcançável.
Ignácio tem a antena parabólica sobre a laje de um vizinho, está escondida sob uma parreira que dá uvas raquíticas e ácidas. A poucos metros alguém fez uma gaiola para prender cães de briga, que durante o dia buscam a sombra sedentos e chateados. Do outro lado da rua vários membros de uma família quebraram o muro que os ligava ao teto de uma velha oficina estatal. Fizeram sobre o local abandonado um terraço e um quarto de banho. Ao cair da noite jogam partidas de dominó enquanto a brisa do malecón chega até eles.
Carmita guarda todo o seu tesouro sobre a sua casa. Umas enormes vigas de madeira com as quais quer escorar os quartos antes que caiam. A cada semana sobe para ver como a chuva e o calor incharam a madeira e racharam as peças. Seu neto usa a laje para encontros amorosos quando a noite cai e os olhos apenas distinguem as sombras, mesmo que os ouvidos detectem os gemidos.
Todos vivem uma parte das suas existências lá em cima, em uma Havana que gostaria de ir ao céu, mas que consegue apenas elevar-se uns centímetros.
Tradução por Humberto Sisley

“Como todo e qualquer besta também me reservo o direito de estar quase sempre errado.” (Pócrates)

A HISTÓRIA DO GRANDE RACIONAMENTO DE PALAVRAS

Conto de Tage Danielsson
Tradução do sueco de Janer Cristaldo


Um dia disse Nosso Senhor à sua mulher:

- Ouve, Elvira, é algo absolutamente incrível o que os homens falam e falam sem parar. Acho que a situação piorou nos últimos tempos com tagarelices cada vez mais sem sentido. Para alguém como eu que tudo vê e tudo ouve, devo confessar que isso se torna um pouco irritante.

- Não seja idiota, Karl-Ragnar - disse a mulher de Nosso Senhor -. Uma conversinha de quando em quando, podes muito bem permitir aos pobres coitados.

- Besteiras aqui, besteiras lá, besteiras por todo lado - disse Nosso Senhor - mas agora vou terminar com este eterno blá-blá-bá. Acho que vou racionar um pouco as palavras.

- Então faz o favor de te limitar aos teus homens - atalhou a mulher de Nosso Senhor -. Não te mete com minhas colegas, lembra-te bem disto.

- Não vamos brigar por uma coisinha destas - disse Nosso Senhor, conciliante -. Se todos os homens se tornam um pouco mais silenciosos, a coisa já melhora.

Nosso Senhor sentou-se e pensou: "Não será agora que vou ser parcimonioso, mas, pelo contrário, fartamente generoso. Vou dar-lhes dez mil palavras por dia, isto certamente lhes será suficiente. Vejamos... isto dá três milhões e seiscentas e cinqüenta mil palavras ao ano... acho que posso deixar de lado um acréscimo extra para os anos bissextos, este dia eles podem muito bem calar a boca em nome da paz... e assim em 78 anos teremos... bem, se ofereço a cada um cem milhões de palavras, contadas desde o nascimento, eles têm em todo caso uma boa margem para conversa fiada".

Nosso Senhor expediu uma circular com este conteúdo a todos os seres humanos do sexo masculino. Comunicava ainda que cada ocasião que alguém ultrapassasse a cifra exata de um milhão de palavras, soaria uma pequena campainha no ouvido do próprio. E quando a provisão de palavras estivesse quase esgotada e restassem apenas dez palavras, a campainha emitiria sinais curtos durante um minuto. 

Nosso Senhor calculara certo, como sempre. A consciência de que a provisão de palavras era racionada fez com que muitos dos mais loquazes senhores na terra se pusessem a pensar um pouco mais cada vez que soava a campainha. Talvez eu tenha falado demais, pensavam. Talvez eu deva pensar um pouco mais e falar um pouco menos. E assim pensavam um pouco antes de continuar a falar. Para suas alegrias, observaram que suas conversas dali por diante se tornaram mais coerentes e interessantes de serem ouvidas, e tiveram grande sucesso na vida graças à sábia decisão de Nosso Senhor. Até aqui, apenas três pessoas deram cabo de suas cem milhões de palavras. 

O primeiro foi um sacerdote que durante muitos anos de serviço desfiava as escrituras em tão longas prédicas que a campainha lhe tilintava freqüentemente no ouvido. Ele no entanto não se preocupava muito com aqueles avisos da campainha, pois achava que na condição de servidor de Nosso Senhor, certamente teria direito a uma reserva extra de palavras caso sua quota chegasse ao fim. 

Um dia, justo quando havia começado sua prédica dominical, ouviu os curtos e insistentes sinais que significavam que agora ele tinha apenas dez palavras. Mas nem ligou para isso. "O chefe certamente me fornecerá um acréscimo extra, bom como ele é", pensou despreocupadamente.

Encontrava-se em meio a um raciocínio que começara com a caminhada de Jesus sobre as águas e continuava com uma comparação entre o passeio divino e o comportamento ímpio que dão prova muitos escravos do pecado em nossos tempos dissolutos ao banharem-se embriagados e nus, à noite, nos chafarizes em frente a nossos museus e instituições de cultura. E continuou como se nada tivesse acontecido em seus ouvidos:

- Objetará então o pecador: não é pecado gozar a vida.

Um silêncio divino inundou a igreja. Os paroquianos despertaram surpresos de suas semi-sonolências. Terminaria a prédica com estas palavras? Sim, pelo jeito, pois o pastor mantinha o rosto entre as mãos e nada mais dizia. Após alguns instantes, um órgão perplexo começou a soar.

Naquele dia todos chegaram alegres da missa em bom tempo para escutar programas da velha guarda, fortalecidos na alma pelas palavras finais do pastor que diziam não ser pecado gozar a vida.

- Foi uma prédica extraordinariamente linda - diziam os paroquianos um para o outro, e ninguém entendeu porque depois daquele domingo o pastor foi conduzido para um silencioso serviço na secretaria da paróquia. 

O segundo pela ordem a ser atingido pelo racionamento de palavras foi um relações-públicas do ramo de detergentes. Sua profissão consistia em ser excepcionalmente gentil, da manhã à noite, e em especial durante o almoço e a janta, com todas as pessoas que sua firma entrava em contato. Então vocês podem imaginar que o relações-públicas conhecia todas as histórias engraçadas sobre detergentes que existiam e mais algumas ainda, e além disso dominava a arte de sorrir todo o tempo com seus dentes alvíssimos enquanto falava, de forma que as pessoas ficavam loucas por ele e por seus detergentes. 

- Cada vez que eu abro a boca, um par de meias é jogado em nosso detergente em alguma parte do mundo - costumava dizer com seu sorriso irresistível e, como isto havia sido calculado pelo departamento de estatística de sua firma, era indubitavelmente verdade. 

Para um tal relações-públicas, a campainha evidentemente soava com freqüência. Após cada sinal ele ficava algo pensativo e naquele dia não tomava nenhum Dry Martini, pois Dry Martini lhe soltava de tal modo a língua que lindas palavras e lindos slogans lhe fluíam da boca sorridente como um lindo rio onde as associações de donas-de-casa e revendedores se afogavam prazerosamente. 

Quando soaram os últimos e repetidos sinais curtos em seus ouvidos ele estava almoçando, por custa de sua firma, com uma delegação do Instituto de Pesquisas Domésticas. Já havia tomado seu Dry Martini aquele dia, e antes de perceber exatamente que soara o último sinal, deixou escapar: 

- Apanhem o detergente que quiserem e comparem-no ao nosso.

Então controlou-se. Por Deus, a campainha das dez palavras. E nove já haviam sido ditas! Uma única palavra, pensou ele, uma única!

Enfiou a mão no elegante bolso de seu casaco e apanhou um pacotinho com o detergente de sua firma, que sempre carregava consigo. Despejou uma dose mortal do detergente em sua taça de vinho, ergueu com seu sorriso alvíssimo a taça ante os encantados delegados do Instituto de Pesquisas Domésticas e disse:

- Delicioso.

Bebeu e caiu, elegantemente morto. Pois um relações-públicas não pode viver sem a possibilidade de dizer sem cessar coisas lindas.

Naturalmente agora vocês se perguntam quem foi o terceiro homem a dar cabo de suas cem milhões de palavras. Pois bem, vou dizer-lhes, foi um político. Ele desenrolava textos e conversava fiado e lançava acusações e sofismava e esbravejava tanto que antes mesmo de ter chegado aos cinqüenta a campainha já havia soado em seus ouvidos noventa e nove vezes. E agora se aproximavam as eleições e nosso político sentou-se em uma mesa em companhia de seus adversários e de um apresentador, para um debate na TV.

O político do qual falo olhava fixamente para a câmara e disse no seu minuciosamente ocupado espaço onze mil quinhentas e sessenta e três palavras, entre as quais podemos escolher, ao azar: segurança, todos, aposentadoria, vocês mentem, padrão de vida, conspiração, eleitores querem saber, aposentadoria, besteiras, 1956, orçamento, homens do povo, grupos de baixo salário, confiança e aposentadoria.

Ao chegar ao apelo final soaram os pequenos sinais curtos nos ouvidos daquele político. Ficou tão estupefato que disse espontaneamente a todo mundo:

- Já disse tantas bobagens que agora eu calo a boca.

Graças a este apelo final aquele político foi escolhido para ministro e governou por muitos anos. Como não podia mais dedicar-se a cacetear os eleitores com conversa fiada, dispunha então do dia inteiro para pensar um pouco e executar uma série de medidas, de modo que se tornou um dos melhores ministro de Estado que este país teve, como consta nos Anais do Partido. E se não estivesse morto, estaria governando ainda. 

Enquanto vocês lêem isto, Nosso Senhor fez um levantamento para sua mulher do resultado de seu grande racionamento de palavras.

- Podes notar que tudo ficou significativamente mais silencioso agora, Elvira - disse ele -. Seria agora o caso de pensarmos em estender as determinações de racionamento inclusive ao campo das mulheres, não achas? Hás de convir, tu que falas a todo instante de emancipação e dessa papagaiada toda. (Lá no fundo, Nosso Senhor pensou que seria melhor se inclusive sua mulher fosse submetida ao racionamento, mas evidentemente nem tocou no assunto). 

- Emancipação aqui, emancipação acolá - disse a mulher de Nosso Senhor -. Mas um racionamento desses para mulheres tu só vais estabelecer em cima de meu cadáver, Karl-Ragnar. 

O fato é que a mulher de Nosso Senhor nunca morre. Esta é a sorte de vocês, adoráveis tagarelas.


O Brasil optou por mais estatismo - a visão dos estrangeiros

Recessão econômica, inflação de preços acumulada em 6,7% nos últimos 12 meses, e um audacioso esquema de corrupção na estatal Petrobras não foram suficientes para negar à presidente Dilma Rousseff, do PT, a reeleição para um segundo mandato.  Ela derrotou seu desafiante Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, por 51,63% a 48,36%.
A campanha de Dilma baseou-se em uma plataforma anti-mercado e pró-assistencialismo, o que ajuda a explicar por que ela se saiu muito melhor nas regiões mais pobres e dependentes de auxílios do governo do que nas regiões prósperas voltadas para o agronegócio, como o sul e o centro-oeste, e na maior cidade brasileira, onde a economia se baseia majoritariamente no setor de serviços e em indústrias de alto valor agregado.
Assim como nos EUA, o Brasil também possui uma classe alta formada por eleitores urbanos de esquerda, que se sentem virtuosos em defender a intervenção estatal na vida de outras pessoas e em ajudar a ditadura cubana.  Porém, existe também um Brasil mais ambicioso, o qual é formado por empreendedores que se arriscam, por agropecuaristas competitivos globalmente e por uma ascendente classe média que anseia enormemente por uma maior integração com o resto do mundo.  Esses brasileiros queriam desesperadamente uma mudança para mais mercado e mais capitalismo, e viram no candidato Aécio Neves um representante mais próximo dessa mudança.  Foram esses brasileiros que fizeram com que as eleições presidenciais do último domingo fossem a mais apertada da história do Brasil.
Com esse resultado apertado, Dilma tem agora de descobrir o que fará com seus próximos quatro anos.  De um lado, ela pode imaginar ser possível consolidar o poder do PT — seu objetivo supremo — dando continuidade às políticas que utilizou até agora, não importa os custos para a economia.  Alternativamente, ela pode optar por fazer ajustes econômicos pragmáticos com o objetivo de restaurar a confiança e o crescimento.
Essa última opção é até possível, mas é bem improvável, pois os militantes do seu partido, que ganharam poderes e engordaram suas contas bancárias durante os governos do PT, querem ainda mais poder, e não menos.  Dilma pode até fazer algumas declarações aparentemente conciliatórias e, no curto prazo, implantar algumas medidas em prol de um pouco mais de liberdade econômica, como fez seu mentor Lula nos primeiros anos de seu governo, quando ele tinha o objetivo de acalmar os mercados que estavam em queda por temor de seu novo governo.  Uma vez alcançado esse objetivo, no entanto, Lula voltou para a esquerda.
As chances são de que Dilma fará o mesmo, assegurando por mais quatro anos a já tradicional reputação do Brasil para a mediocridade.  Somente se uma investigação criminal comprovar que Dilma e Lula sabiam sobre o esquema de corrupção na Petrobras é que as coisas podem se alterar substantivamente.
A grande ironia da campanha eleitoral é que, enquanto Dilma e Lula reivindicavam todo o crédito pelo crescimento econômico que o Brasil vivenciou na década de 2000, ambos se opuseram às reformas estruturais ocorridas na década de 1990.  A privatização de empresas estatais, a abertura (ainda que limitada) da economia brasileira à concorrência estrangeira, e a reforma monetária de 1994, que criou o real e acabou com a hiperinflação — todas essas medidas estimularam o desenvolvimento e, devido a essa geração de riqueza, possibilitaram a criação de programas assistencialistas mais generosos, os quais são a marca registrada do PT. 
Não fossem essas reformas da década de 1990 — às quais o PT se opôs —, não haveria chances de sucesso para os subsequentes governos do PT na década de 2000.
O problema é que o PT não quis aprofundar essas reformas, e a consequência é que o "milagre brasileiro" morreu no berço.  Na mais generosa das avaliações, o país é visto hoje como apenas mais um entre vários países em desenvolvimento; já na maioria das vezes, ele é visto lá no fim da fila.
Nem Lula e nem Dilma parecem se preocupar com desenvolvimento econômico.  De acordo com um relatório do Goldman Sachs, de 2004 a 2013, os gastos do governo cresceram a um ritmo de 8% ao ano, em termos reais, o que representou um crescimento mais de duas vezes maior do que o crescimento do PIB.  A inflação de preços está hoje em quase 7% ao ano para aqueles bens e serviços cujos preços não são controlados pelo governo.  E quando se considera apenas o setor de serviços, a inflação de preços está em 8,6% ao ano.  Para piorar, as expectativas quanto à inflação futura estão se deteriorando.
Dilma imaginou que poderia conter a carestia congelando o preço da gasolina, a qual é ofertada pela Petrobras, e o preço do etanol, o qual é ofertado por usineiros locais e utilizado por carros flexíveis em combustível.  No entanto, dado que os custos de produção continuaram aumentando (por causa da inflação crescente), a Petrobras e o setor sucroalcooleiro estão incorrendo em severos prejuízos.  Várias usinas de álcool já faliram e várias outras estão por falir.  Elas não sobreviverão caso essa política de congelamento de preços continue.
O PT se gaba de ajudar os pobres com políticas assistencialistas, mas a mesma mão que dá é aquela que tira — e a mão que tira é a mais pesada.  O aumento do protecionismo, os pesados encargos sociais e trabalhistas que oneram a folha de pagamento das empresas, os altos impostos sobre o consumo, uma infraestrutura em frangalhos, e as inflexíveis leis trabalhistas geram custos que impedem o aumento dos salários e que fazem com que o padrão de vida dos brasileiros esteja muito aquém do seu potencial.
Ainda mais preocupante é o estrago que o PT pode fazer com as instituições e com o estado de direito ao longo dos próximos 48 meses.  A sociedade civil brasileira é uma forte defensora das liberdades civis e do pluralismo.  No entanto, como um sagaz empresário me confidenciou, "Estamos vivenciando, passo a passo, uma tendência rumo à Argentina, à Bolívia e ao Equador".  Um exemplo é o decreto de maio, assinado por Dilma, que cria os"conselhos populares", os quais criariam um modelo semelhante ao que já existe na Venezuela.  Até o momento, o Congresso vem oferecendo resistência.  Porém, se o tradicional esquema de compra de votos ocorrer, ele pode capitular.
Trata-se de uma perspectiva pavorosa para qualquer pessoa que conheça um pouco de história.  Como já havia observado no século XVIII o filósofo David Hume: "A liberdade não é abolida de uma só vez; o processo ocorre em etapas." 
Hoje, Dilma é apenas uma política que ganhou uma eleição.  No futuro, os brasileiros podem aprender que o governo de um partido só e regras indefinidas são os verdadeiros projetos de longo prazo do PT. 

Mary Anastasia O’Grady é editora do The Wall Street Journal e faz a cobertura de eventos da América Latina.

“Antes o SERASA que o cemitério.” (Mim)

“Adoro um evento, comer salgadinhos e bebericar de graça. Participo de todos, até mesmo de inauguração de funerária.” (Chico Melancia)

“O pior inimigo é aquele que bem te conheces.” (Filosofeno)

QUE SEJA ETERNO ENQUANTO DURE- “Juntos sim meu amor, até o cancelamento dos cartões.” (Eulália)

Quarta-feira. Vivos e saudáveis. Vamos comemorar?