sábado, 31 de março de 2018

AREIA MOVEDIÇA


Um sofrido brasileiro andava perdido num pântano quando caiu numa areia movediça. Do nada apareceu uma mulher para ajudá-lo. Quando viu que a dita cuja era Dilma ele disse:
 -Obrigado! Prefiro ficar aqui, posso me safar. Já contigo existe o risco de eu me enterrar de vez.

PLUTÃO


Há milhões de anos havia vida em Plutão. Não era o paraíso, mas melhorava a cada dia. Isso até chegar por lá um tal de Zé Dirceu. ..

MAQUININHA

O FIM ESTÁ PRÓXIMO

NEWTON SILVA


APRESENTAÇÃO


O auditório estava lotado de homens de semblantes sérios, todos elegantemente vestidos, nenhum sem paletó e gravata. Bach deslizava pelas paredes e fazia sorrir àqueles corações que amavam a boa música.  O ar que se respirava no ambiente era o odor das boas virtudes, a paz interior que somente homens sem débito com Deus podem realmente expressar. Silêncio total quando Madame Junot subiu ao palco para mostrar a tão seleta e educada plateia as novas moçoilas do seu bordel de luxo.

GOSTO É GOSTO


Foi um dia muito especial para o planeta. Naquele dia choveram rosas multicores de muito perfume em todos os lugares da terra, inclusive sobre os mares e desertos. Porém, e sempre existe um porém, não foram poucos os bípedes não plumados que taparam suas narinas para o doce odor e preferiram abri-las para cheirar cu e bosta de galinha.

SÍLVIO


O pensamento em fogo de altas labaredas. O vento forte, o mar revolto, sentado na ponta do trapiche um Sílvio sem forças. Suas lágrimas misturadas ao sal, o frio que doía bem menos que o tridente cravado em seu coração. Sem rumo, sem foco, sem nada, esperando o tempo ficar velho. Então acobertada por uma chuva formidável, veio navegando sobre uma onda brava uma bela sereia. Toda cheia de encanto e ternura carregou Sílvio em seus braços mar adentro, levando ele para o recanto da eterna mansidão.

ANA ANDROPOVA E ALEXEI ROMANOV


Moscou, Rússia. Ana Andropova, 40 anos, dona de casa, cinco casamentos, sem filhos, cinco vezes viúva, todos de morte natural. Alexei Romanov, agricultor, um homem bom, 42 anos, se achava também um homem de muita sorte e propôs casamento a Ana Andropova; não temia morrer cedo. Acontecido o entendimento sentimental e financeiro entres as partes, casamento realizado. Foram morar no campo e viveram felizes por mais de quarenta anos. Não tiveram rebentos.  Morreram de infarto no mesmo dia e hora, sem sofrimento. Ao limparem os corpos descobriram que os dois tinham um trevo de quatro folhas vivo e crescido no ouvido esquerdo.

DONA MEIGA


Filha de Bastião Louco e Eldorina, Dona Meiga nasceu e viveu por mais setenta anos em Barra do Sarapião. Teve uma infância normal entre algumas dezenas de cadáveres de amigos do pai. Adulta, um doce era Dona Meiga.  Vivia da lavoura e nas horas de folga matava alguns conterrâneos em troco de uns cobres. Não judiava é verdade, somente matava a tiros como manda o bom figurino. Mas era na matança muito delicada e deveras tão gentil que alguns até agradeciam por estar entrando pra bala.


SUICIDA


Estava ele sentado na mureta da ponte
O olhar fixo no vazio
A dor agarrada ao seu eu
Sem dar trégua alguma
O rio que representava o fim das dores
O chamava para um abraço
Seu foco era um só
O ápice da desistência
Soltou então seu corpo
E voou para as águas
Sentindo quem sabe arrependimento
Ou alívio por finalmente conseguir matar o desespero que o consumia.


“Pedras são necessárias em nosso caminho.
Quem andou pela vida somente por jardins salpicado de flores,
corre o risco de fenecer ao pisar num espinho.” 


“As forças nascem dos sonhos.
Tirem dos homens os sonhos, as esperanças e
embalem então um monstro.” (Filosofeno)


“Haverá amanhã? Haverá paz? Todos são espertos, não?
As pedras jogadas para o alto um dia cairão,
na cabeça de quem não se sabe.” (Filosofeno)

DELÍRIO


Homens nos chiqueiros lambuzados de esterco
Mulheres de quatro no pasto e abocanhando grama
Vacas  nos telhados tendo gatos sobre suas costas catando carrapatos
No boteco cachorros bebem pinga e jogam baralho fazendo algazarra
Andorinhas tomam banho de piscina usando biquínis coloridos
Papai Noel tem as orelhas de um coelho
O pobre diabo sente a falta da malvada e alucina
É o começo do fim
Delirium tremens.

NADAS


Somos insignificantes para o universo
Um nada no todo 
Mas diante de alguns valores da sociedade humana
Alguns seres se embriagam na fonte da vaidade
E vão construindo pela vida castelos de areia
Que se desmancham com o sopro da morte.

NO CHÃO


Estando parado eu não me encontro
Andando menos ainda
Então eu caio e fico inerte como um defunto
Esperando talvez pelo pranto de uns poucos
Falso morto
Às vezes pisco os olhos
Para espantar os urubus.

sexta-feira, 30 de março de 2018

SILÊNCIO


As noites são silenciosas nos cemitérios
Porque os fantasmas não falam
Só usam mímicas.

SOMBRAS TEDIOSAS


O objeto de não morrer em vida
É acalentar sonhos
Pois quem nada projeta para o amanhã
Já morreu e não sabe
Acorda todos os dias
Para entrar no círculo infinito
Da mediocridade galopante
Passa pelos dias sem vivê-los
Na opaca contemplação dos indivíduos que se movem
Misturando na fonte da inveja a covardia suprema de não tentar.

DE CABO A RABO


Queria um país de dirigentes austeros
Severos
Mas o que temos?
Meros gastadores
Descomprometidos
Vivendo o faz de conta da responsabilidade
Num país pra lá de falido
Corrompido até o último fio de cabelo.


BAGAÇA



Vivemos na era da mediocridade
Da política rasteira
Quase ninguém escapa
Desta pasmaceira
Quando o vivente votado não é asno
É inteligente
Porém bagaceira.

PASSARINHOS


Depositei farelos de pão
Num cantinho da minha rua
Chamando boas alminhas voadoras para uma refeição
Vieram pombas 
Pardais 
Sabiás 
E bem-te-vis
Bicar com satisfação
Mas ninguém ficou mais feliz do que eu
Vendo tantos emplumados em liberdade.

ILUMINADA


Iluminada é a mente
Que tem o horizonte infinito como alvo
Ao contrário do parvo
Que de cabeça baixa conta as pedras do caminho.

BESTAS


Há dias em que a sombra cai
E o mundo se parece com um enorme pasto
Só consigo enxergar ovelhas e asnos
Além de alguns humanos bestas
Que dirigem como loucos
Pondo em risco a existência de outros
Bicho este que comumente
Adjetivamos com o pior que há na língua pátria.

O IRMÃO


Pais que dos filhos escravos
No sentido de fazer vontades
Esquecem-se de que um dia partirão
E deixarão os rebentos no mundo
Para enfrentar a dura vida realidade
Amor carinho e ternura
Favorece o relacionamento
Porém devem  observar
Que o sim
Tem um irmão que se chama não.

CRESCENDO


Ocupar o tempo enquanto é tempo
De mente sã e de pés inquietos
Trazendo para dentro do baú material de boa qualidade
E tendo no final de cada dia
A sensação de ter ficado um pouco menos ignorante.

quinta-feira, 29 de março de 2018


“Um desocupado sempre acaba ocupando outros.” (Mim)


“Se me derem casa, comida, roupa, estudo, tudo em troca de tutela, em troca da minha liberdade, eu digo: Deixem-me nu à beira da estrada!” (Mim)


“Não é porque o marxismo é ateu que nós ateus somos marxistas.”(Mim)


 “Vinham tantos oficiais de justiça  tanto até minha casa que acabei compadre de meia dúzia.” (Mim)


“Já fui o rei dos boletos. Eu abria o chuveiro e no lugar de água caiam boletos.” (Mim)



“Fazer filhos sem planejar e depender de creches do estado. Trepar é fácil, o duro é sustentar a prole.” (Mim)

QUEM É MIM?

Mim sou eu.

“Meu velho, irei te amar de Janeiro a Janeiro, até o mundo acabar ou o meu cartão de crédito ser bloqueado.” (Eulália)



“A eternidade não me interessa, o que adoro é nesta vida é pecar.” (Eulália)


“Meu velho marido não é um iludido. Ele sabe  que o meu amor é pelo seu cartão de crédito.” (Eulália)



“Com o passar do tempo tudo muda. Já fui  rainha da bunda quente, hoje carrego neve no rego.” (Eulália)


“Não sou muita estimada na sociedade porque me casei por dinheiro. Mas e as outras?” (Eulália)


“Já tive muitas esperanças. Hoje sou uma quase viúva que envelhece ao lado de um Matusálem.” (Eulália)


“Sempre fui uma mulher de poucas virtudes e de muitos assanhamentos.” (Eulália)


EULÁLIA



“Ao encarar o espelho pela manhã sem maquiagem ouço minhas rugas e pés de galinha gritando por socorro.” (Eulália)


TOMATE


Numa tarde movimentada na BR 282 um tomate foi atravessar a pista destemidamente, então surgiu um caminhão em alta velocidade e o pneu dianteiro foi para cima do tomate que com extrema agilidade realizou a transformação papel e saiu ileso. Era um tomate ninja.

BELEZA



Bagunçada inspiração que em meu cérebro vagueia
Divagações sobre a beleza
Não minha
Alheia
De tal concluo que é fundamental amar as belas
Sem esquecer-se das feias.

COÇA-COÇA


Estava seu Costa respeitoso na missa
Quando começou o coça-coça nas nádegas
Pobre Costa não sabia o que fazer
Tamanha era a coceira que sentia
Resolveu deixar a missa pé-por-pé
Sob os olhares de reprovação da comunidade
Mas azar foi visto pelo vigário
Que o chamou pra liturgia
Mas como não suportava mais o sofrimento
Mostrou a língua para seus vizinhos
E subiu ao púlpito arranhando a bunda e rindo de alívio.

GALHOS


O velho de bolso cheio
Com brotinho faceiro desfila
Pelas noites da vida
Se ciente que é apenas um momento de ilusão
Que o dinheiro pode comprar
Não deixa de ser um feliz
Porém acreditando em paixão
E no amor desinteressado da jovem
Será espoliado sem dó
Enquanto crescem os chifres.

NO BOLSO


Não parece doença
Mas é das bravas
Que toma o sujeito pela mente
E o conduz gentilmente
A ser um contribuinte compulsório
Dos procuradores do tal senhor onipotente
Que ninguém vê
Que ninguém sente
Salvo o sentir no bolso mensalmente.

quarta-feira, 28 de março de 2018

CHORAR NÃO ADIANTA


O Brasil está assim que está
E não adianta chamar a mãe e chorar
O melhor a fazer pelo país é abandonar certas bandeiras
E olhar com mais atenção para o passado e à companhia dos seus preferidos.

INDO


Muito cansado
Da hipocrisia dos vermelhos
Apanho meu tapete voador
E parto para o fim do mundo
Onde a voz estridente da canalha
Não se faz ouvir.


FAZ UM BEM ENORME


Sentado sossegado numa escada entre jardins
O cão amigo no colo
Flores de todas as cores diante dos olhos
Quase silêncio
E observando um colibri navegando inquieto
Isso tudo faz tão bem que até minhas orelhas sorriem.

PT REMEMBER


Vejo faces preocupadas e olhos atentos
Na longa fila que dobra o quarteirão
É o emprego que eles buscam para novamente terem de volta a dignidade
Perdida após a passagem desgraçada de um tsunami
De duas letras chamado PT.

DILMA REMEMBER


Vil nutridora de mazelas
Observas bem a vala em que nos jogas
Atenta para o desempregado que se desespera
Ante o filho com fome
Veja os milhões que são instados a permanecer sem futuro
Como bolsista do programa miséria voto
Sem contrapartida para evoluir
Mas não te preocupes
Teu lugar no rodapé da história está garantido
Como a poderosa mais burra
Entronada na terra descoberta por Cabral.


“Bandido bom é bandido torto, que já recebeu pelo menos um tiro em cada perna.” (Climério)


“Não me importo em ser um ninguém. Pior é ser um procurado.” (Climério)


"Há algo débil e um pouco desprezível no homem que não consegue encarar as adversidades da vida sem a ajuda de mitos confortantes."

Bertrand Russell

“Antes um pouco doido que um parvo.” (Climério)


“Um tapado não contente em sê-lo ainda dá um verniz: vota no PT.” (Climério)


“Estou de bem com a vida. Agradeço não ter nascido urubu.” (Climério)


“Quem sai com mulher alheia coloca olho até nas costas.” (Climério)



 “Não sou de ficar constrangido. Na mesa sempre como o último bolinho.” (Climério)



“Creio que ter um patrimônio de alguns milhões de dólares  não faz mal para ninguém.” (Climério)


“A caravana do Lula é carniça que enseja vômito.” (Climério)


“No Brasil é assim: quando esperamos por uma revoada de andorinhas o STF nos joga em cima um monte de urubus.” (Climério)


AVÓ NOVELEIRA


“Teu avô meu neto, tocava violino como poucos lá em Camanducaia. Até quando ele ensaiava tinha platéia. Também pudera, ele tocava num tal de Estradevários.” (Avó Noveleira)

AVÓ NOVELEIRA


“Lula é um gambá sindical que agora só bebe uísque de 30 ânus.” (Avó Noveleira)

BILU CÃO


“Minha patroa anda falando em comprar um rottweiler. Já estou até planejando minha fuga, pois não nasci para ser lanchinho.” (Bilu Cão)

BILU CÃO


“Nós cães não votamos, mas acredito que faríamos melhor.” (Bilu Cão)

terça-feira, 27 de março de 2018

PROFISSÃO


É pouco depois da hora de almoço. Homem maltrapilho está deitado no banco da praça descansando, todo suado com isso atraindo moscas. Antes de assinalar duas horas ele fica em pé e caminha até a esquina. Senta-se na calçada e estende o boné para angariar esmolas. Assim passa o resto do dia. Quando os sinos da catedral batem seis horas ele recoloca o boné na cabeça. Logo surge um Corolla preto, o motorista desce e diz para ele:
-Vamos patrão?

CONTRABALANÇANDO


A cachorrinha da dona Cleusa saía todo dia de sua casa e ia elegantemente fazer seu cocô matinal na grama limpa e verde do vizinho. Reclamar ele reclamou, mas seus apelos foram em vão. Era um homem gentil, detestava discussões e intrigas. Digamos que era um cavalheiro. Com o tempo achou que o negócio tinha passado dos limites. Resolveu ele também comprar um animalzinho de estimação para contrabalançar. Não foi fácil, mas conseguiu. E assim toda manhã ele saía de casa com seu elefante de estimação para fazer cocô no belo gramado do vizinho.

CURRUÍRA DESBOCADA



Os meninos Zico e Neto estavam caçando passarinhos num bosque perto da cidade. Zico preparou o bodoque para atirar numa curruíra. Neto intercedeu:
-Não atira! Curruíra é o passarinho de Nossa Senhora!
A curruíra não se conteve e abriu o bico:
-Passarinho de Nossa Senhora é o caralho!
Dito  isso sumiu na mata. Os guris largaram os bodoques e foram rezar na capelinha da igreja, não sem antes lavar os ouvidos com água benta.



A ONÇA E A CAPIVARA


A onça faminta caçava. Farejava daqui, farejava dali. Sentiu o cheiro de uma capivara.  E seguiu em frente, procurando, enquanto a capivara procurava despistá-la o mais rápido possível. Chegou um momento que não teve como fugir, a capivara ficou encurralada. Enquanto a bichana afiada os dentes  ela perguntou:
-Conhece o Rio de Janeiro?
-Conheço.
-Já ouviu falar no Castor de Andrade?
-Sim, muito.
-Pois então, ele é o meu primo mais chegado.
-É?
-É!
-Segue o teu caminho que estou sem fome.

OS CÃES


Ouve um tempo na Grécia que os cães evoluíram, passaram a raciocinar, a ler, escrever e tomar consciência de si. O líder marcou um evento os seriam lançadas as bases na nova civilização baseada nos princípios caninos e não mais nos princípios humanos. A palavra de ordem era “Ossos sim, ração não!” O salão estava lotado, centenas e centenas de cães presentes ouvindo os grandes oradores dogsgrecos demonstrando como seria o novo mundo fruto das ideias guaipecanas.  A danação do evento símbolo foi que dois gatos distraídos entraram no salão e aconteceu uma louca debandada de cães correndo atrás dos bichanos. Muitos morreram pisoteados, outros sufocados na ânsia de pegar os gatos. O líder olhou para um dos oradores e disse: “É, não estamos prontos à civilização.” Isso dito voltou a latir enquanto procurava um arbusto para urinar.

NA FRUTEIRA


NA FRUTEIRA

- Você é um mamão?
-Não, não sou mamão.
-Não é mamão?
-Não. Sou melão.
-Nunca ouvi falar.
-E você o que é?
-Banana caturra.
-Nunca ouvi falar.
-Sou artista, eu canto.
-Eu também. Canto até em espanhol.
-El dia que me quieras?
-Sim.
-Vamos cantar em dupla?
-Vamos!... Acaricia mi ensueño
El suave murmullo
De tu suspirar.
Como ríe la vida...
Nisso se intromete na conversa o abacate.
-Vocês podem ficar quietos, estou tentando dormir.
-Dormir agora durante o dia?- pergunta o melão.
-Sim, ainda estou verde, preciso amadurecer.
Nisso uma distinta senhora passa pela fruteira e leva os dois artistas para sua casa, alegrando por hora o verde abacate que cochila entre macias palhas.





“Os meus melhores amigos sempre foram o pudim e sagu.” (Fofucho)


“Nunca fui muito competitivo. O único título que ganhei da infância foi o de Maior Comedor de Sorvete Seco.” (Fofucho)


“Tenho banhas localizadas em todas as partes do corpo.” (Fofucho)


“Não saio com mulheres magras. Sempre existe o risco de cair em cima e machucá-las.” (Fofucho)

“Antes morrer de indigestão que de fome.” (Fofucho)

“Sou o homem das massas, dos molhos e de toda família que engorda e satisfaz.” (Fofucho)


“Perco peso e logo depois ele me acha”. (Fofucho)

“Determinação não é o meu forte. Meu último regime durou duas horas.” (Fofucho)

QUEM SOU EU?


Uma pequena luz surgiu e ele começou a ter consciência de si.  Perguntas fazia sem ter noção de como aprendeu a fazê-las... Quem sou eu? Que lugar é este? O que estou fazendo aqui? O que é mãe? Onde está a minha mãe? Tenho pai? Quem é o meu pai? Tenho um nome? Qual será o meu nome? Apertado dentro da casa queria sair correndo, mas como correr se não tinha pernas, se estava dominado por cordas? Sentiu um pulsar de um coração, bem próximo, alguém o tirando do sufoco da casa, deixando-o menos apertado e sufocado. Viajou pelo ar e quedou-se dentro de um enorme lugar escuro, de cheiro um pouco azedo e viu que lá existiam outros como ele, mas silenciosos, não faziam qualquer movimento ou barulho. Na escuridão fazia mais perguntas , queria saber...Que cheiro é esse? Por que ninguém fala comigo? Deus existe? Por que este lugar é tão abafado? Quem é Madona? Estou desesperado, quero sair daqui! Impostos, o que são impostos? Jesus, cadê Jesus? Serei ateu?  Por que tenho quatro furos no peito? As perguntas não cessavam e acabaram irritando um zíper de calça jeans que também estava no mesmo cesto de roupa suja. O zíper foi duro: ‘Cale-se imbecil! Você é apenas um botão de quatro furos que agora raciocina, vivendo sua vidinha miserável numa camisa de flanela xadrez! Basta!’


FAMÍLIA


Tive pai e mãe até o dia em que minha mãe fugiu com o vizinho chamado Ruan, isso quando eu tinha doze anos. O meu pai ficou com a vizinha mais por raiva e também porque já não tinha mais nada para fazer, além de juntar os seus quatro filhos com os sete filhos dela, o que acabou fazendo da nossa casa um albergue dos diabos, com colchonetes até no banheiro e uma falta de tudo, até mesmo do sempre abundante pão com bananas, que verdade seja dita, era o cardápio dos dias de semana e também aos domingos. Mas nada disso é tão importante como o fato da mulher gritar mais que pastor em culto de arrecadação e não dar sossego e nomes aos filhos dela, pois meu pai  sabia dar nome aos filhos; João Paulo, André Rodrigo são nomes comuns, já os irmãos ganhos na roleta russa da vida se chamavam Werlilaine, Wermenton, Wirton, Wurtenson, Wesllei, Wasvanesca e Wislon; que é diabo a carregue com tanto W. O caso que ninguém mais conseguia ler ouvir rádio ou assistir TV gato tamanho era o amontoado de gente naquele casebre de quatro por nada, pois até o gato e os cachorros fugiram para o bairro vizinho, pois nem eles suportaram o inferno em que estávamos todos metidos. Havia brigas para poder comer, tomar banho no tanque; não havia chuveiro, lavar o rabo e tudo mais era difícil. Foi o que me fez fugir de casa com treze anos para nunca mais voltar. Na verdade foi minha sorte, pois soube que meu pai teve mais três filhos com a louca adoradora de w, embora o Wirton tenha morrido de pneumonia dupla, pobre diabo. O caso é que nem posso aqui do norte imaginar a dificuldade de convivência naquele pequeno universo de barrigudos verminados e mais feios que temporal em alto mar.

JOSEFINA PRESTES


“Alguns homens com o passar do tempo se transformam em ursos: só bafo e pelos.” (Josefina Prestes)

JOSEFINA PRESTES


“A tal terceira idade é o reino das pelancas.” (Josefina Prestes)


segunda-feira, 26 de março de 2018

MESTRE YOKI


“Mestre, é possível uma mulher bela ser feliz ao lado de um homem feio?”
“É possível. Difícil é ser feliz ao lado de um bruto ignorante.”


MESTRE YOKI



“Mestre, onde fica o inferno?”
“Sobre o teu pescoço.”


MESTRE YOKI


“Mestre, qual o grande legado socialismo à humanidade?”
“Defuntos.”

UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS


-Pai, vamos visitar seus amigos na Papuda?
-Guri, você é meu filho ou amigo da onça? Quer que eu seja reconhecido como amigo dessa gente?

UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS


-Pai!
-O que foi filho.
-Decidi que quero ser sindicalista.
-Ainda bem! Tive receio que você fosse pensar em trabalhar!

UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS


-Pai, mais um amigo seu foi preso pela Operação Lava-Jato!
- Amigo, que amigo? Nunca vi mais branco.
- Entendi pai, entendi...

DICIONÁRIO DE HUMOR INFANTIL- PEDRO BLOCH


FILHO ÚNICO- Não sei como mamãe tem coragem de bater em mim, seu filho único.


DICIONÁRIO DE HUMOR INFANTIL- PEDRO BLOCH


FELICIDADE- É peixinho comer isca sem se machucar no anzol


OMISSOS


A omissão traz a perturbação
Os enganadores gostam disso
Para impor suas mentiras dissimuladas
Mas é de bom augúrio avisar aos muristas
Que quando o muro cair
Cairá também sobre eles.

BAFO


O ébrio de todo dia
Exala um vapor azedo
Que inibe o abraço afetuoso
E coloca nos lábios do bem o medo
De conceder um beijo molhado
Ou mesmo seco
Pois ninguém gosta de beijar carniça
Nem mesmo seu arremedo.

OBCECADO PELA REALIDADE


Um proprietário de navios estava prestes a mandar para o mar um navio de emigrantes. Ele sabia que o navio estava velho, e nem fora muito bem construído; que vira muitos mares e climas, e com frequência necessitara de reparos. Dívidas de que possivelmente não estivesse em condições de navegar lhe haviam sido sugeridas. Essas dúvidas lhe oprimiam a mente e o deixavam infeliz. Ele chegou a pensar que o navio talvez tivesse de ser totalmente examinado e reequipado, ainda que isso lhe custasse grandes despesas. No entanto, antes que a embarcação partisse, conseguiu superar essas reflexões melancólicas. Disse para si mesmo que o navio passara por muitas viagens e resistira a muitas tempestades em segurança, que era infundado supor que não voltaria a salvo também dessa viagem. Ele confiaria na Providência, que não podia deixar de proteger todas essas famílias infelizes que estavam abandonando a sua terra natal em busca de dias melhores em outro lugar. Tiraria de sua cabeça todas as suspeitas mesquinhas sobre a honestidade dos construtores e empreiteiros. Dessa forma, ele adquiriu uma convicção sincera e confortável de que o seu navio era totalmente seguro e capaz de resistir s intempéries; assistiu a sua partida de coração leve e cheio de votos bondosos para o sucesso dos exilados naquele que seria o seu estranho novo lar; e embolsou o dinheiro do seguro, quando o navio afundou no meio do oceano, sem contar histórias a ninguém.
O que devemos dizer desse homem? Sem dúvida, o seguinte: que ele foi de fato culpado da morte desses homens. Admitisse que ele acreditasse sinceramente nas boas condições de seu navio; mas a sinceridade de sua convicção não o ajuda de modo algum, porque ele não tinha o direito de acreditar na evidência que estava diante de si. Não adquirira a sua opinião conquistando-a honestamente pela investigação paciente, mas reprimindo as suas dúvidas...

William K. Clifford, The ethics of belief (1874)




DAVID HUME


SOBRE RELIGIÕES DOUTRINÁRIAS

Os homens não ousam confessar, nem mesmo a seus corações, as dúvidas que têm a respeito desses  assuntos . Eles valorizam a fé implícita; e disfarçam para si mesmos a sua real descrença, por meio das afirmações mais convictas e do fanatismo mais positivo.

David Hume


“O inferno eterno é uma impossibilidade. A madeira e o gás são finitos.” (Pócrates)


“Gentalha. Os Três Poderes são isso aí.” (Pócrates)


“O Brasil é grande, porém já estamos sem espaço para tantos canalhas.” (Pócrates)


“Com bicho ou sem bicho o pensar de um homem maduro é fruto de suas experiências.” (Pócrates)

PAULO FRANCIS


“Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma.” (Paulo Francis)

“É o meio político brasileiro. Só se pode tolerá-lo tapando as narinas.”

 PAULO FRANCIS

TEATRO -TRAGÉDIA SOCIALISTA



TEATRINHO TRAGÉDIA SOCIALISTA- Na Venezuela o pequeno Pablo acorda com dor e sem uma das mãos. Berra alucinado e corre até sua mãe que está na cozinha.
-Mamãe,  cortaram fora a minha mão!
-Eu sei. Acabou o frango.
O menino desmaia enquanto sua mãe esfrega na própria bunda a foto de Nicolás Maduro.


“Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.” (Nelson Rodrigues)

“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.” (Nelson Rodrigues)


“Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.” (Nelson Rodrigues)

"O anticapitalismo só mantém em evidência por viver às custas do capitalismo." - Ludwig Von Mises

“Lula é honesto e eu sou Deus.”


NO PARAÍSO


No paraíso Lula é Adão e Dilma é Eva. Deus pergunta:
-Quem comeu o fruto proibido?
-Eu não sei de nada- diz Lula.
-Eu não sei de nada- diz Dilma.
Deus irritado manda os dois para o inferno para sempre.
*Em tempo, a serpente era o Zé Dirceu.


“Esse Narizinho do PT está entupido de tatu. Eca!”

CORONEL OLIVEIRO


Oito horas da manhã. O suicida subiu na torre da igreja e de lá ameaçava se jogar. O povo foi chegando, se aglomerando e comentando. Uns diziam “se jogue!” outros gritavam “Não faça isso!” O tempo foi passando e que diante da grande dificuldade ninguém conseguia subir na torre para tirar o homem. Havia risco para os policiais. Onze e meia da manhã e o homem por um fio, agarrado nos braços de Santo Antônio. O Coronel Oliveiro ia passando e foi saber a causa da balbúrdia. Inteirado dos fatos, sacou do revólver e derrubou o potencial suicida, que a chumbo foi para o outro lado. Coronel Oliveiro olhou o corpo estirado na calçada e disse- “Aí está um homem que conseguiu o que queria. Queria morrer, pois está morto!” E foi para o almoço, pois a barriga já estava roncando.

domingo, 25 de março de 2018

PINHO MOREIRA


“E o governador de Santa Catarina Pinho Moreira é um traste que não serve nem para desinfetante.” (Limão)

PSDB


“PSDB são quatro letras que choram lágrimas de oportunismo e covardia.” (Limão)

SUCURI


Há uma sucuri no Rio Fortes?  Muitos dizem ter visto, outros fugido com ela no encalço e certos pescadores contam ter nadado com ela lado a lado. No vilarejo dos Fortes a sucuri é assunto reincidente nas conversas fiadas de fim de tarde. Pois a filha do Coronel Breno Fortes, Madalena, andou pegando cria e o pai do rebento não apareceu. Apertada pelo pai ela disse nadava no rio e que a sucuri quando nela se agarrou e assim foi que engravidou numa tarde de domingo de muito calor. O Coronel, homem matreiro, não foi na conversa da filha, e pesquisando aqui e ali chegou até a famosa sucuri do tal Nico Bico Doce que crescia entre suas pernas. Os capangas levaram o dito Nico até um lugar ermo e diante da navalha afiada preferiu ele manter a sua sucuri bem viva e topou o casamento sem pestanejar.



“Entre pós perfumados, cremes etéreos e loções indescritíveis, a minha feiura se esvanece”. (Assombração)

ASSOMBRAÇÃO


“Eu disse para minha mãe quando em desespero: melhor um filho feio que um filho bandido e ladrão.” (Assombração)

"Milagres acontecem para aqueles que acreditam neles. Por que a Virgem Maria nunca aparece para budistas, muçulmanos e hindus que não ouviram falar dela?"  — Bernard Berenson

"Criacionistas fazem parecer que uma “teoria” é algo que você sonhou depois de ter passado a noite inteira bêbado" (Isaac Asimov)


“Não aconselho ninguém a me levar para casa. Posso garantir que não sou confiável. E digo que uma das poucas virtudes que temos é a sinceridade.” (Leão Bob)


“Toda família tem um esquisito. Meu irmão mais novo, por exemplo, não come carne sem sal e pimenta. É um enjoado.” (Leão Bob)


“Não conheço o Brasil. Mas fiquei sabendo que lá tiveram uma anta presidente.” (Leão Bob)

PARA O JUÍZO UNIVERSAL por J.R. Guzzo. Artigo publicado em 24.03.2018



O STF é o melhor lugar do mundo para delinquentes top de linha


O Supremo Tribunal Federal já deixou, há muito tempo, de ter alguma relação com o ato de prestar justiça a alguém. O que se pode esperar da conduta de sete ministros, entre os onze lá presentes, que foram nomeados por um ex-presidente condenado a doze anos de cadeia e uma ex-presidente que conseguiu ser deposta do cargo por mais de 70% dos votos do Congresso Nacional? Outros três foram indicados, acredite quem quiser, por José Sarney, Fernando Collor e Michel Temer. Sobra um, nomeado por Fernando Henrique Cardoso – mas ele é Gilmar Mendes, justamente, ninguém menos que Gilmar Mendes. Deixem do lado de fora qualquer esperança, portanto, todos os que passarem pela porta do STF em busca da proteção da lei. Quer dizer, todos não — ao contrário, o STF é o melhor lugar do mundo para você ir hoje em dia, caso seja um delinquente cinco estrelas e com recursos financeiros sem limites para contratar advogados milionários. O STF, no fundo, é uma legítima história de superação. Por mais que tenha se degenerado ao longo do tempo, a corte número 1 da justiça brasileira está conseguindo tornar-se pior a cada dia que passa e a cada decisão que toma. Ninguém sabe onde os seus ocupantes pretendem chegar. Vão nomear o ex-presidente Lula para o cargo de Imperador Vitalício do Brasil? Vão dar indulgência plenária a todos os corruptos que conseguirem comprovar atos de ladroagem superiores a 1 milhão de reais? Vão criar a regra segundo a qual as sentenças de seus amigos, e os amigos dos amigos, só “transitam em julgado” depois de condenação no Dia do Juízo Universal?

Os ministros do STF, com as maiorias que conseguem formar hoje em dia lá dentro, podem fazer qualquer coisa dessas, ou pior. Por que não? Eles vêm sistematicamente matando a democracia no Brasil, com doses crescentes de veneno, ao se colocarem acima das leis, dos outros poderes e da moral comum. Mandam, sozinhos, num país com 200 milhões de habitantes, e ninguém pode tirá-los dos seus cargos pelo resto da vida. O presente que acabam de dar a Lula é apenas a prova mais recente da degradação que impõem ao sistema de justiça neste país. Foi uma decisão tomada unicamente para beneficiar o ex-presidente – chegaram a mudar o que eles próprios já tinham resolvido a respeito, um ano e meio atrás, quando declararam que o sujeito pode ir para a cadeia depois de condenado na segunda instância. É assim que se faz em qualquer lugar do mundo onde há justiça de verdade — afinal, as penas de prisão precisam começar a ser cumpridas em algum momento da vida. Para servir a Lula, porém, o STF estabeleceu que cadeia só pode vir depois que esse mesmo STF decidir, no Dia de São Nunca, se vale ou não vale prender criminoso que já foi condenado em primeira e segunda instâncias (no caso de Lula, por nove juízes diferentes até agora), ou se é preciso esperar uma terceira, ou quarta, ou décima condenação para a lei ser enfim obedecida. Falam que a decisão foi “adiada”, possivelmente para o começo de abril. Mentira. Já resolveram que Lula está acima da lei – como, por sinal, o próprio Lula diz o tempo todo que está.

O STF atende de maneira oficial, assim, não apenas a Lula, mas aos interesses daquilo que poderia ser chamado de “Conselho Nacional da Ladroagem” – essa mistura de empreiteiras de obras públicas que roubam no preço, políticos ladrões, fornecedores corruptos das estatais e toda a manada de escroques que cerca o Tesouro Nacional dia e noite. Para proteger essa gente o “plenário” está disposto a qualquer coisa. Ministros se dizem “garantistas”, como Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello, e juram que seu único propósito é garantir o “direito de defesa”. Quem pode levar a sério uma piada dessas? A única coisa que garantem é a impunidade. No julgamento do recurso de Lula, o ministro Ricardo Lewandowski teve a coragem de dizer que a decisão não era para favorecer o ex-presidente, mas sim “milhares de mulheres lactantes” e “crianças” que poderiam estar “atrás das grades” se o STF não mandasse soltar quem pede para ser solto. É realmente fazer de palhaço o cidadão que lhe paga o salário. O que uma coisa tem a ver com a outra? Porque raios não se poderia soltar as pobres mulheres lactantes que furtaram uma caixinha de chicletes e mandar para a cadeia um magnata que tem a seu serviço todos os advogados que quer? Tem até a OAB inteira, se fizer questão. À certa altura, no esforço de salvar Lula, chegaram a falar em “teratologia”. Teratologia? Será que eles acham que falando desse jeito as pessoas dirão: “Ah, bom, se é um caso de teratologia…” Aí fica tudo claríssimo, não é mesmo? É um mistério, na verdade, para o que servem essas sessões do STF abertas ao “público”. Depois que um ministro assume a palavra e diz “boa tarde”, adeus: ninguém entende mais uma única palavra que lhe sai da boca; talvez seja mais fácil entender o moço que fica no cantinho de baixo da tela, à direita, e que fala a linguagem dos surdos-mudos. Sem má vontade: como seria humanamente possível alguém compreender qualquer coisa dita pela ministra Rosa Weber? Ou, então, pelos ministros Celso de Mello, ou Marco Aurélio? É chinês puro.

O espetáculo de prestação de serviço a Lula veio um dia depois, justamente, de uma briga de sarjeta, na frente de todo o mundo, entre os ministros Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes. Entre outras coisas, chamaram-se um ao outro de “psicopata” ou de facilitador para operações de aborto. Por que não resolvem suas rixas em particular? É um insulto ao cidadão brasileiro. Por que precisam punir o público pela televisão (aliás, paga pelo mesmo público) com a exibição de sua valentia sem risco? Os ministros dão a qualquer um, depois disso, o direito de chamá-los de psicopatas ou advogados de abortos clandestinos – por que não, se fizeram exatamente isso e continuam sendo ministros da “Corte Suprema”? Dias ruins, com certeza, quando pessoas desse tipo têm a última palavra em alguma coisa – no caso, nas questões mais cruciais da justiça e, por consequência, da democracia. É o mato sem nenhuma esperança de cachorro, realmente. A televisão nos mostra umas figuras de capa preta, fazendo cara de Suprema Corte da Inglaterra e dizendo frases incompreensíveis. O que temos, na vida real, é um tribunal de Idi Amin, ou qualquer outra figura de pesadelo saída de alguma ditadura africana.

* • Publicado originalmente em Veja.com

STF, UMA VISÃO DO INFERNO por Percival Puggina. Artigo publicado em 23.03.2018



Não, três vezes não! Eles não farão um Brasil à sua hedionda imagem e semelhança.

Nesta noite de 22 de março, enquanto escrevo, sinto o coração apertado. Sei que, neste momento, os ratos se regozijam nos porões do submundo e os grandes abutres festejam nas iluminadas coberturas do poder. Aos olhos escandalizados da nação, o STF testemunhou contra si mesmo. Falou aos trancos com o “humanitário” Gilmar Mendes. Soprou vaidade e ironia matreira com Marco Aurélio Mello. Tartamudeou e olhou assustado com Rosa Weber. Perdeu resquícios de pudor militante e se fantasiou de amor ao próximo com Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Deu razão a Saulo Ramos com os floreios monocórdios de Celso de Mello.

Enquanto confessavam suas culpas e exaltavam a impunidade, viralizava o crime, a corrupção e o pandemônio moral. Suas palavras nos aprisionavam ainda mais, corroendo esperanças que juízes de verdade haviam plantado em nossas almas. Acabamos o dia numa cidadania vã, sugados feito bagaço, desprovidos de qualquer poder e capturados pelo mecanismo que nos tomou como servos submissos, pagadores das contas que não cessam de nos impor. Ironicamente, queriam convencer-nos de que era tudo para o nosso bem e que impunidade também pode ser chamada – vejam o sacrilégio! – de liberdade. Ora, isso é tão ridículo que não prosperará!

Reconheço. Assim como, em Cuba, tive medo do Estado, esta tarde tive medo aqui. Medo de também nos tomarem a esperança. Senti a dormência de sua perda e me lembrei das palavras lidas por Dante no sinistro portal do Inferno: “Por mim se vai a cidade dolente; por mim se vai a eterna dor; por mim se vai a perdida gente...”. E, ao fim do verso, a sentença terrível que, há sete séculos, ecoa com letras escuras nas horas sombrias: “Lasciate ogni speranza voi ch’entrate” (Deixai toda esperança, vós que entrais).

Não exagero, leitor amigo. Ali estava, mesmo, o portal do Averno, do Inframundo. Cinco dos sete pecados capitais eram encenados por uma tribo de togas. Os dardos da ira cruzavam o salão como tiroteio na favela. A soberba se refestelava na própria voz. Ah, o poder sem freios! A inveja se esbaforia entre duas malquerenças: a do brilho e a da altivez. A preguiça, sim ela, fez parar a sessão às 18 horas; ela mesma admitiu as férias pascais. A avareza fremia de cupidez, olhos postos nos bilhões em honorários que se derramarão para a imediata soltura de milhares de criminosos endinheirados, já cumprindo pena de prisão por condenação em segunda instância. São sentenciados cujas condenações extinguiram completamente a presunção de inocência, mas em relação às quais não se completou – e talvez não se complete jamais – o rito do trânsito em julgado. Ao menos enquanto houver talão de cheques com fundos suficientes para puxar os cordéis da impunidade.

Todavia, não! Este é o país de Bonifácio, de Pedro II, de Nabuco, de Caxias! Esse STF fala por si e haverá de passar! Os corruptos não nos convencem nem nos vencem. Trouxeram-nos às portas do Inferno. Exibiram-nos o portal de Dante. Que entrem sozinhos. Perseveraremos.

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


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