sexta-feira, 17 de março de 2017

O SONO DO SONSO

O sono do eleitor sonso
é um sono pesado.
E quase sempre quando o sonso acorda do seu sono,
a vaca já foi para o brejo.

FANTASMAS

Acobertados pelo manto da noite,
saem de suas moradas os fantasmas de todos os tempos,
para jogar pedras e bagunçar
a casa mente dos tolos.

SEM BUTIRÁCEO

Mesa posta no meio da tarde  
serve pão seco e café preto doce. 
Nenhum butiráceo cobrindo o pão seco. 
O certo é que quando a fome é grande, pouco importa o engasgo.

QUEM É EVA?

“Pedro, quem é essa moça chamada Eva que há séculos nos pede calcinhas?” (Deus)

DOU RAZÃO

“A solidão me fez dar razão aos meus inimigos; não é fácil me aturar.” (Climério)

PARA NAMORAR

“Para rezar nunca fui de andar muito. Mas para namorar já gastei dúzias de ferraduras.” (Climério)

EVOLUÇÃO

“A evolução não cessa. Dentro de alguns milhões de anos até as lesmas terão suas plantações de alface.” (Pócrates)

A DOR ENSINA

“A dor ensina. Ensina a tomar analgésicos." (Pócrates)

DESTINO

“Se acreditasse em destino não me levantaria da cama pela manhã.” (Pócrates)

A CONSTITUIÇÃO DA ILHA DA FANTASIA por Alamir Longo. Artigo publicado em 17.03.2017

(Publicado originalmente por luizberto.com)

Que me desculpem os jurisprudentes e demais personalidades ligadas a ciências jurídicas e sociais, mas se tem livrinho que eu não gosto nem de chegar perto, é esse da tal Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Enquanto os yankees têm uma única Constituição com sete artigos e vinte e sete alterações – vigorando desde 1789 até hoje –, nós aqui na banânia já vamos engolindo a sétima que regulamenta até pendenga de bebum com cachorro louco.

Decididamente, essa Constituição de 1988 bem que poderia ser batizada de “A Constituição da Ilha da Fantasia,” tal as montanhas de devaneios nela contidas por nossos paranóicos constituintes.
Ao redigi-la, nossos aloprados legisladores tomaram um verdadeiro porre de irrealidade, se embriagaram na taça da demagogia e perambularam freneticamente por cerca de 250 cavernosos artigos atrelados a um imenso calhamaço de penduricalhos, absolutamente inexequíveis. Tomaram um verdadeiro porre de direitos, mas no que tange a deveres, deixaram a pobre “Redentora” praticamente em estado de inanição.
Ao final da nobre empreitada, nossos heróis gritaram aos quatro ventos que haviam descoberto o antídoto da eterna felicidade.
Observem, por exemplo, o que reza o texto constitucional referente a salário-mínimo: “O artigo 7º, inciso VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, garantiu aos trabalhadores urbanos e rurais um “salário-mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”.
Não é fantástico?
Se alguém souber de algum banânico que perceba o salário-mínimo e com ele consegue manter um padrão de vida digno para ele e sua família, sendo suficiente para custear MORADIA, ALIMENTAÇÃO, garantir uma boa EDUCAÇÃO à sua prole, bem como suprir gastos com SAÚDE, LAZER, VESTUÁRIO, TRANSPORTE, HIGIENE e PREVIDÊNCIA SOCIAL, como manda a Constituição, que por favor me informe, porque se trata de milagre.
Outra coisa que nossos constituintes esqueceram, é que num país como o nosso onde vigora a suprema suruba política(segundo Jucá), a Constituição Federal tem o mesmo valor de um dólar furado. Querem um exemplo clássico de violação à Constituição Federal que permanece até hoje impune e ninguém mais fala?
Refiro-me àquele estupro à Constituição cometido naquele fatídico circo montado no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, presidido pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Inacreditavelmente, contrariando o que preconiza a Carta Régia que não separa a inabilitação da perda do cargo, a ex-presidente teve seus direitos políticos mantidos. O Parágrafo Único do Artigo 52 é claríssimo: não há fatiamento! Quem perde o cargo, perde também os direitos políticos e ponto.
E aí eu pergunto aos “especialistas em golpismo:” esse foi ou não foi um clássico e escancarado golpe constitucional?
Poderia ficar aqui citando inúmeros exemplos de violações à Constituição Federal, tão ultrajada nesses últimos tempos. Porém, seria alongar-me demais. Por isso encerro com uma modesta reflexão:
Um país para atingir sua plenitude em todos os campos e ser reconhecido internacionalmente como sério, precisa de “leis que governem homens e não homens que governem leis.” (Honório Lemes)
 

COMO OS CANALHAS FRAUDAM A DEMOCRACIA por Percival Puggina. Artigo publicado em 17.03.2017

A tentativa de instituir o voto em lista fechada é a manobra mais descarada desde o início das operações da Lava Jato. Supera, em despudor, a missão do Bessil levando a Lula o ato que o homiziaria no ministério de Dilma. É mais desavergonhada do que a "anistia do caixa 2". A democracia dos canalhas alcança seu apogeu com algo tão indecente na motivação, tão contra a democracia na concepção e tão escancaradamente desonesto que estará coberto de razão o cidadão que registrar, na polícia, um boletim de ocorrência.
A ideia e a intenção estão em todos os noticiários desta sexta-feira 17 de março. Seus promotores, grandes figurões da política nacional, estão preocupados com os prejuízos eleitorais que lhes advêm do conhecimento de seus crimes e de suas inclusões nas listas de Janot. O que conceberam pode ser descrito como um gigantesco iceberg político sem nada submerso. Da ponta à base, o mastodonte está inteiramente visível nas páginas dos jornais. Nosso país nunca adotou o voto em lista fechada exatamente pelo motivo que, agora, a organização criminosa atuante na política brasileira passou a vê-lo com bons olhos: ele esconde os candidatos e o voto deixa de ser direto e pessoal.
Com efeito, nesse sistema:
1) cada partido elabora uma lista com os nomes em disputa;
2) no dia da eleição, o eleitor escolhe e vota na lista de sua preferência;
3) o percentual de votos dados a cada lista, em relação ao total de sufrágios da eleição, define quantas cadeiras cabem a cada partido;
4) são os partidos que estabelecem a ordem dos nomes nas respectivas listas;
5) é dentro dessa ordem que as cadeiras são preenchidas (se um partido tiver direito a dez cadeiras, por exemplo, os dez primeiros nomes de sua lista serão titulares).
Com medo da reação da sociedade ante os escândalos em que estão envolvidos, os piores elementos da vida pública brasileira, candidatos preferenciais a serem varridos das urnas em 2018, encontraram no voto em lista fechada um modo de se elegerem sem necessidade de encarar individualmente os eleitores. Pretendem, com essa manobra, retomar cadeiras e preservar o foro privilegiado escondidos na lista partidária, mais ou menos como se dá comprimido para cachorro, disfarçado dentro de um naco de carne. É assim, escondidos e sem votos pessoais, mascarados, que eles querem voltar aos negócios em 2018. Antes, desfiguravam a representação política comprando votos e abusando do poder econômico com dinheiro mal havido; agora, querem continuar abastardando a democracia com o voto em lista fechada.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, fevereiro 19, 2006 CIVILIZAÇÃO É RIR

Tenho em meus arquivos a execução do jornalista americano Daniel Pearl, no Paquistão. É vídeo que não repassei a ninguém, para não perturbar estômagos fracos. Correspondente do Wall Street Journal no Sul da Ásia, Pearl foi morto não tanto por ser americano, mas principalmente por ser judeu. A execução, filmada em close, mostra a faca penetrando aos poucos a garganta do jornalista, o sangue jorrando e ouve-se inclusive um regougo de voz entrecortada pelos esguichos. Não contentes com a brutalidade da degola, os muçulmanos enviaram o vídeo para o Ocidente, à guisa de escarmento. Foi entregue na véspera do feriado da Aid el-Kebir, quando milhões de cabras e carneiros são degolados no mundo muçulmano. Se a morte horrenda de Pearl teve grande repercussão nos Estados Unidos e Europa, foi quase ignorada no Brasil.

De qualquer forma, não vimos judeus nem americanos ou europeus atacando embaixadas nem queimando bandeiras de países muçulmanos no Ocidente. Queimar embaixadas e bandeiras de países europeus foi a resposta muçulmana à publicação de inócuas charges de um obscuro jornal da pequena Dinamarca. Estratégia de jerico, comentei em crônica passada. As notícias a confirmam: até hoje, já morreram 35 pessoas de países muçulmanos nos protestos. Em Bengasi, na Líbia, na sexta-feira passada, dez pessoas morreram e 55 ficaram feridas, em uma manifestação frente ao edifício do consulado italiano. Neste sábado, morreram mais 15, em Maiduguri, norte da Nigéria. Enfim, enquanto eles se matarem entre eles mesmos, nada contra.

As ameaças muçulmanas já vinham surtindo efeito, bem antes das atuais manifestações. Em entrevista para o Der Spiegel, a deputada somali de nacionalidade holandesa, Ayaan Hirsi Ali, nos conta poucas e boas. Em 1980, uma rede de televisão privada britânica exibiu um documentário sobre o apedrejamento de uma princesa saudita que cometera adultério. O governo de Riad interveio e o governo britânico pediu desculpas. Em 1987, foi a vez de o governo alemão pedir desculpas, quando o holandês Rudi Carrell ridicularizou o aiatolá Khomeiny em uma peça, apresentada na TV alemã. Em 2000, uma peça sobre Aisha, a menina deflorada por Maomé aos nove anos, foi cancelada antes de estrear em Roterdã. Ou seja, antes de protestar contra charges, os muçulmanos já exerciam pressão sobre os meios de comunicação ocidentais, no sentido de proibir até mesmo fatos ocorridos no universo islâmico, fossem fatos atuais ou da época do profeta.

Ayaan está trabalhando na seqüência do filme Submission (tradução de Islã em inglês), de Theo Van Gogh, o cineasta holandês assassinado a tiros por um muçulmano de origem marroquina. O novo filme está sendo feito em completo anonimato e todos os envolvidos na filmagem serão irreconhecíveis. Pela primeira vez no Ocidente, um filme é feito na clandestinidade. Resta saber se algum cinema terá coragem de exibi-lo.

A arrogância muçulmana parece estar despertando ocultos e supostamente extintos vulcões no seio do velho continente. É o que nos conta o primeiro-ministro libanês, Fuad Saniora. Recebido quinta-feira passada por sua Santidade o papa Bento XVI, no Vaticano, o premiê libanês contou que o pontífice apoiou os protestos pacíficos realizados contra a publicação das charges. A posição do Vaticano é que os desenhos, alguns dos quais associam a imagem de Maomé - que a Folha de São Paulo grafa Muhammad, temendo ferir suscetibilidades - ao terrorismo, são uma "provocação inaceitável".

Segundo Saniora, o papa disse que "a liberdade não pode de maneira nenhuma ultrapassar a liberdade dos outros". Foi mais ou menos o que escreveu o sedizente jornal liberal Estado de São Paulo, em editorial, há poucos dias. Logo este jornal que se orgulha de ter lutado bravamente contra a censura nos idos de 64. O editorial coincide com a opinião do presidente americano, George Bush, que reclama "uma atitude responsável dos países europeus", como se na Europa algum Estado fosse responsável pela opinião de seus jornais. Ao proferir tamanho despautério, Bush assume a mesma atitude dos fanáticos orientais, que responsabilizam os Estados europeus pelas opiniões de suas mídias. No fundo, o Estadão defende proibir a liberdade de expressão, particularmente quando se trata de criticar religiões. Estadão, Vaticano e Bush, o mesmo combate. Fundamentalismo é altamente contagiante.

Navegando na esteira muçulmana de protestos, o Opus Dei espera que a edição final de O Código da Vinci seja alterada para não ofender os fiéis. A organização católica, com raízes na Espanha, disse em Roma que a Sony Pictures ainda tem tempo para fazer mudanças que seriam apreciadas pelos católicos, "principalmente nesses dias em que todos têm percebido as conseqüências dolorosas da intolerância". O filme, baseado no best-seller de Dan Brown, tem estréia mundial marcada no próximo Festival de Cannes - o que, aliás, constitui uma desmoralização para o festival. É um conto de fadas para adultos, uma ficção boba sem maiores fundamentos históricos, que só pode ser vista como fútil entretenimento. O Vaticano e membros da hierarquia católica, que têm protestado contra o livro, portam-se como criançolas ao não perceber que os protestos só servem para divulgar uma obra medíocre. 

No rastro dos sarracenos, o Ocidente católico aproveita para tirar sua casquinha. Já que não se pode criticar Maomé, que não se possa criticar Jeová. Nem em contos de fada. E muito menos a Opus Dei, que é vista na ficção de Brown como uma seita sedenta de poder. Um pouco de fundamentalismo - ainda que muçulmano - sempre vem bem para dogmáticos do Ocidente.

Está na hora de rever A Vida de Brian, dos Monty Python, filme de 1979, antes que seja proibido. Se você, leitor, é mais jovem e ainda não o viu, corra até uma locadora e delicie-se com uma das mais sarcásticas e inteligentes comédias do século passado. O filme mostra a vida paralela de um messias que não deu certo, mas as referências são todas ao Cristo. O deus encarnado do Ocidente é mostrado como um mosca-tonta que jamais percebe o que está ocorrendo em torno a si. Apesar da contundência da sátira, o filme foi exibido em todo o Ocidente. Foi proibido apenas na Noruega. Mesmo no Brasil, onde o anódino Je vous salue, Marie, do Godard, foi proibido (ou seja, foi promovido) por obra e graça de José Sarney, o filme dos Monty Python não teve censura alguma. Pessoalmente, acho que só deixei de rir quando o vi pela quinta vez, aí já conhecia de cor e salteado todos os episódios. Nada mais salutar para as nações do que rir dos próprios deuses.

Os deuses gregos morreram, dizia Nietzsche. Morreram de rir ao saber que no Ocidente havia um que se pretendia único. No dia em que os muçulmanos conseguirem rir de seu deus e seus profetas, terão chegado ao que convencionamos chamar de civilização.

AMOR AO PRÓXIMO

“Devemos amar o próximo sim, desde que ele não nos encha de socos.” (Pócrates)

INÚTIL

“Não se deve dar um harém para um garanhão que definha.” (Pócrates)

ATÉ A MÃE

“Mãe normalmente não acha filho feio. Mas a minha votou no sim duas vezes.” (Assombração)


EXORCISMO

“Quando eu nasci a minha avó beata queria me exorcizar com solvente. Fui salvo por uma vizinha ateia.” (Assombração)

NA BASE DO SUSTO

“Estou uma mulher mais feia do que eu. Ao acordarmos não sei quem se assusta mais.” (Assombração)

SOBRE REGRAS ABSOLUTAS

O problema mais gritante de sistemas absolutistas, como os Dez Mandamentos, é que, quando há mais de uma regra absoluta, torna-se possível o surgimento de conflitos entre elas. Assim, poderíamos perguntar se é algo apropriado assassinar para prevenir um roubo. É permitido roubar para prevenir um assassinato? Deveríamos mentir se tivéssemos uma boa razão para acreditar que a verdade faria com que o indivíduo morresse de ataque cardíaco? É apropriado mentir para evitar ser assassinado? É lícito quebrar o sábado santo para salvar a vida de alguém? Seria correto roubarmos um carro se soubéssemos que isso evitaria que seu dono trabalhasse no sábado santo ou matasse alguém? Deveríamos honrar a vontade de nossos pais se eles nos pedissem para quebrar algum dos outros mandamentos? Deveríamos roubar nossos pais se, ao fazê-lo, talvez estivéssemos prevenindo um assassinato? Todos os tipos de dilema como esses são possíveis. (…) Isso demonstra que não podemos viver baseados em princípios absolutos e abstratos. Precisamos relacioná-los à vida e às necessidades humanas. — Frederick Edwords

Arthur Schopenhauer

O médico vê o homem em toda a sua fraqueza; o jurista o vê em toda a sua maldade; o teólogo, em toda a sua imbecilidade. — Arthur Schopenhauer

SPINOZA

Deus é o asilo da ignorância. — Baruch Spinoza

O ASCENSORISTA

Naquele fim de tarde de sexta-feira o elevador dois do Edifício Gimenez estava lotado, inclusive com um padre e dois pastores evangélicos. Silêncio entre os presentes e ninguém notou o novo ascensorista que hora se apresentava. O elevador subia e descia e não parava em nenhum andar. Interpelaram o trabalhador que disse estar com um pequeno problema que logo seria resolvido. Por alguns minutos ninguém reclamou, mas depois... Após muitas indas e vindas reclamações, o elevador parou num andar não visualizado no painel, a porta se abriu e todos caíram diretamente no fogo do inferno. O ascensorista era o próprio Satanás Ferreira que resolvera começar o final de semana com uma brincadeirinha, digamos, bem quente.

GUMERCINDO

Mocorongo feito que, solitário e abandonado pela mulher além de extremamente endividado, Gumercindo estava tão para baixo que andava feito louco procurando pelos bolsos e gavetas dos velhos armários o próprio atestado de óbito. Não encontrou nenhum atestado, mas achou mais dívidas deixadas pela ex- mulher sem-vergonha. A cada dia que se passava a cabeça mais ficava na lua que aqui na terra. E foi assim zanzando para lá e para cá até findar sua existência como um morto vivo sem eira nem beira, terminando por ser enterrado sob uma touceira de guanxuma.

BAH!

Com sangue até nos ossos,
O assassino pago beija suas crianças,
carrega compras de uma velhinha,
e dorme sem precisar contar carneirinhos.
Esse é o estágio que atingiram
alguns seres racionais.

NAVIO SEM RUMO

Acordo com a mente envolvida na tristeza,
pois absorvo e somo todos os fatos.
E uma só conclusão resulta
dessa minha abstração:
É de que há muito somos um navio sem rumo,
lotado de marinheiros safados e de passageiros imbecis.

SANGUESSUGAS

O pote da desesperança está aberto.
O chapéu do desalento cai sobre os que pensam com clareza.
Que país,
Que país de sanguessugas.

PODEM CHOVER MARRETAS DO CÉU

Podem chover marretas do céu
que não abrirão as cabeças contaminadas pelo estatismo que atrofia o crescimento.
O estado provedor é para eles vida e morte,
não sabem viver fora disso.
Desconhecem o trabalho para montar uma empresa,
pagar aluguel, fornecedores e funcionários,
os impostos em cascata e o custo imenso da legislação trabalhista obsoleta.
Ter que aturar muitos fiscais frustrados querendo tirar uma casquinha em qualquer detalhe,
por certo não sabendo o que seja perder noites de sono porque as vendas estão fracas e não há dinheiro em caixa para honrar os compromissos.
Os estatistas não sabem nada disso
porque  nunca arriscaram nada.
Sabem sim que mamam em teta gorda,
E querem continuar assim vivendo do estado monstro,
Matando quem produz aos poucos,
tudo para manter seus empregos bem pagos,
e se possível eternizando-se no poder,
fazendo do assistencialismo sem contrapartida um grande curral eleitoral.

ESCURIDÃO

Há muita escuridão lá fora no convívio das gentes.
Então me refugio na casa da luz das mentes,
É onde me assossego.

SERVIDOR TARTARUGA

Há exceções à regra,
Faz-se justo dizer.
Mas o contrato de estabilidade
Gera um conforto inútil,
E faz proliferar como salmonela,
O descompromissado servidor tartaruga.

FANTASMAS

Acobertados pelo manto da noite,
Saem de suas moradas os fantasmas de todos os tempos,
Para jogar pedras e bagunçar,
A casa mente dos tolos.

TIRANIA

Estado de direito torto morto,
Melhor dormir no relento,
No gramado ou  mato adentro.
Não ficar em casa esperando pela visita desgraçada,
Dos mandados do tirano,
Que te trazem algemas de presente pela madrugada.

BASTA O HOJE

“Não temo o amanhã, já basta o hoje para me tirar o sossego. ” (Pócrates, o filósofo dos pés sujos)

CACHORRO

“Fiquei sabendo que muçulmano não gosta de cachorro. Melhor para o cachorro.” (Pócrates)

URUBUS

“A bandidagem só faz aumentar. Até parece que já temos mais urubus do que carniça.” (Pócrates)


RÓTULAS

“Nossos motoristas são educados e sempre param nas rótulas. Isso após terem batido, nunca antes.” (Pócrates)

MEDIEVAIS

Muitos são os estúpidos,
Inocentes quase sempre os escolhidos.
O trânsito está repleto de medievais,
Urrando e prontos para machucar.

FAMÍLIA

Tive pai e mãe até o dia em que minha mãe fugiu com o vizinho chamado Ruan, isso quando eu tinha doze anos. O meu pai ficou com a vizinha mais por raiva e também porque já não tinha mais nada para fazer, além de juntar os seus quatro filhos com os sete filhos dela, o que acabou fazendo da nossa casa um albergue dos diabos, com colchonetes até no banheiro e uma falta de tudo, até mesmo do sempre abundante pão com bananas, que verdade seja dita, era o cardápio dos dias de semana e também aos domingos. Mas nada disso é tão importante como o fato da mulher gritar mais que pastor em culto de arrecadação e não dar sossego e nomes aos filhos dela, pois meu pai  sabia dar nome aos filhos; João Paulo, André Rodrigo são nomes comuns, já os irmãos ganhos na roleta russa da vida se chamavam Werlilaine, Wermenton, Wirton, Wurtenson, Wesllei, Wasvanesca e Wislon; que é diabo a carregue com tanto W. O caso que ninguém mais conseguia ler ouvir rádio ou assistir TV gato tamanho era o amontoado de gente naquele casebre de quatro por nada, pois até o gato e os cachorros fugiram para o bairro vizinho, pois nem eles suportaram o inferno em que estávamos todos metidos. Havia brigas para poder comer, tomar banho no tanque; não havia chuveiro, lavar o rabo e tudo mais era difícil. Foi o que me fez fugir de casa com treze anos para nunca mais voltar. Na verdade foi minha sorte, pois soube que meu pai teve mais três filhos com a louca adoradora de w, embora o Wirton tenha morrido de pneumonia dupla, o pobre diabo. O caso é que nem posso aqui do norte imaginar a dificuldade de convivência naquele pequeno universo de barrigudos verminados e mais feios que temporal em alto mar.