quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

VEJA-Polícia chavista prende prefeito de Caracas, um dos líderes da oposição

O prefeito metropolitano de Caracas, o opositor Antonio Ledezma, foi preso nesta quinta-feira em seu escritório por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin, a polícia política da Venezuela). A mulher do opositor, Mitzy Capriles de Ledezma, denunciou que ele vinha sendo seguido. “Funcionários encapuzados levaram Antonio à força”, afirmou, em entrevista à Unión Radio.
Ela acredita que o prefeito tenha sido levado para a sede da Sebin, mas reclama da falta de informações. Contou ainda que não se sabe qual acusação pesa sobre ele e que ele foi agredido. Testemunhas disseram que tiros foram disparados para o alto para dispersar pessoas que tentaram evitar a detenção, informou a imprensa venezuelana.
O advogado do prefeito, Omar Estacio, denunciou a prisão como arbitrária e disse que não está tendo acesso a informações sobre Ledezma. “Negam-se a admitir que ele está detido pela Sebin”.
Abusos – O governo ainda não se manifestou sobre a prisão de Ledezma, mais uma das barbaridades cometidas contra opositores na Venezuela. Ao reprimir os manifestantes que foram às ruas no ano passado contra a alta criminalidade, a escassez de produtos básicos, a inflação galopante, as forças de segurança do Estado e as milícias paramilitares espalhou o terror entre os cidadãos. Houve milhares de prisões arbitrárias e muitos relatos de tortura. Mais de quarenta pessoas morreram.
Várias vozes se levantaram contra a situação. A ONG Human Rights Watch denunciou que as violações de direitos humanos não foram casos isolados, mas um padrão sistematicamente aplicado em diferentes locais do país, com a conivência de juízes e promotores. O Comitê contra a Tortura da ONU acusou a Venezuela de ser responsável pela tortura, maus-tratos e humilhações em mais de 3.000 presos.
Ao jornal Financial Times, Nizar El Fakih, do Centro de Direitos Humanos da Universidade Andrés Bello, em Caracas, disse que a maioria foi presa sem acusação, e muitos dos que foram liberados precisam cumprir medidas que restringem sua liberdade.
Oposição – Um dos maiores críticos do presidente Nicolás Maduro, Ledezma foi alvo da fúria chavista em 2008, quando foi eleito derrotando um membro do partido governista. Ele ficou impossibilitado de despachar na prefeitura, ocupada por milícias chavistas depois do anúncio de que o contrato de trabalho de 8.000 funcionários fantasmas não seria renovado.
O chavismo também retirou boa parte dos poderes do prefeito, incluindo o controle da polícia, das escolas e do orçamento, e criando um cargo de chefe de governo da região metropolitana, apontado pelo presidente. Apesar das dificuldades, Ledezma foi reeleito em 2013.
Durante a onda de protestos contra Maduro, no ano passado, o prefeito de Caracas cobrou várias vezes uma palavra de repúdio da presidente Dilma Rousseff sobre os abusos sofridos pela oposição.
Acusação – Na última semana, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello – que éacusado de ligação com o narcotráfico – afirmou que Ledezma e o deputado opositor Julio Borges planejavam eliminar outro opositor, Leopoldo López, há um ano mantido em uma prisão militar.
O objetivo, na estapafúrdia versão governista, era provocar mais caos no país, derrubar o governo e promover Ledezma como líder da oposição, disse, em um programa transmitido pela TV venezuelana.


Nesta quinta, o secretário-executivo da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática, Jesús Torrealba, condenou a prisão de Ledezma, dizendo que “o governo não encontra formas de fazer frente à crise, a única forma em que acreditam é na violência”.

“Lincoln foi um ex-lenhador que chegou à presidente dos EUA. Mas ao contrário do nosso metalúrgico não passou o resto da vida alcoolizado e se gabando disso.” (Eriatlov)

“Um mal que acomete quase a unanimidade dos dirigentes petistas é o excesso de empáfia.” (Eriatlov)

“A cada dia me convenço mais que o diabo é brasileiro.” (Mim)

“Rezo para Dilma todas às noites. Rezo. Rezo para que ela desista de tentar fazer o que não sabe, ou seja, governar.” (Pócrates)

Alexandre Garcia- A verdade do carnaval

Costuma-se comparar o carnaval a uma catarse, em que emerge o inconsciente, livre de censura. Exemplo disso é o bloco criado por jornalistas de Brasília em 1978, para satirizar e criticar o governo Geisel. O Pacotão já faz 37 anos e, ao contrário de O Pasquim, resistiu aos novos tempos de democracia, mesmo ausente o contraponto inspirador da ditadura, que, aliás, deixou incólumes O Pasquim, o Pacotão e a Banda de Ipanema, criada em 1965 para afrontar o regime recém instalado. Está na natureza mais inteligente do carnaval a oportunidade da crítica aos costumes e à política. Por toda parte, neste ano, vêem-se representações da dupla Lula-Dilma, vestidos de macacão e capacete da Petrobras, cada um com sua faixa presidencial “Mensalão” e “Petrolão”, tal como carnavais anteriores mostraram os anões do orçamento, PC Farias e José Dirceu/Marcos Valério, entre outros.

As trapalhadas oficiais são tantas que quem tem visto passar o bloco do governo fica a imaginar se carnaval é o que está confinado a alguns dias do calendário ou existe o ano todo. Melhor seria se fosse apenas uma coreografia o desmonte de setor elétrico, o preço-fantasia dos combustíveis, as atravessadas de bateria entre o Palácio do Planalto e o Congresso, o excesso de figurantes, os gastos inúteis com miçangas, plumas, paetês e alegorias. O escritor Affonso Romano de Sant’Anna aproveitou o carnaval para lembrar das máscaras ideológicas que usávamos no século XX. Ele confessa ter escapado de radicalismos ideológicos por “ter esgotado dentro da igreja(que é o lugar próprio) minha experiência religiosa.” No Brasil, no carnaval confuso da política, partido é religião e estado ao mesmo tempo. Na Alemanha de Hitler, “o partido é o Estado; o Estado é o partido”.

No comunismo soviético a confusão é a mesma. Nas ditaduras que não permitem blocos satíricos, o partido é o estado e é religião. O ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, acaba de qualificar de “bobagem” impedir que partido político indique diretor da estatal. Mistura-se tudo e o partido privatiza a estatal como sua. No século XX, fascismo, comunismo, nazismo e populismo foram desgraças da Humanidade.

O Brasil ainda não se livrou delas, mas resta o carnaval para criticá-las. Ridendo castigat mores, dizia o teatro satírico romano. Pune-se com o riso. Mas os desgraçados riem só no carnaval; durante o resto do ano são os causadores da desgraça que riem da ingenuidade da maioria, que acreditou nos apelos populistas. Nazismo e comunismo sempre vêm fantasiados de democracia, sob a máscara da demagogia. Hoje vale descobrir quanta verdade está nas máscaras de políticos que pulam nas ruas brasileiras.

Controle de preços: ajuda aos mais pobres?



Reisman
“O desejo de lucrar leva alguém a produzir coisas que os compradores querem e que não estão sendo produzidas excessivamente por outros vendedores.” (George Reisman)
Em 1979, com a crise do petróleo dominando os debates econômicos e o governo americano aumentando a interferência na economia através do controle de preços, George Reisman escreveu um livro sobre os efeitos destrutivos desse controle, chamado The Government Against the Economy. Em paralelo, o livro é uma excelente defesa do livre mercado, mostrando como o planejamento central é impossível na prática, sempre levando ao caos e totalitarismo. Reisman defende a teoria de que a inflação é um fenômeno monetário, causado pelo grande aumento na quantidade de moeda, sempre por culpa do governo. A estagflação que os Estados Unidos experimentaram na época em que o livro foi escrito era uma evidência disso, já que o governo tinha aumentado quase vinte vezes a quantidade de moeda desde o New Deal de 1933. Qualquer um que ainda acredita que a inflação é causada pela ganância de empresários e que a solução passa pelo controle de preços pelo governo deveria ler o livro com urgência.
O funcionamento do livre mercado passa pelo desejo dos empresários de lucrar e evitar perdas, o que leva a uma tendência de uniformização da taxa de lucratividade das indústrias, ajustada ao risco, já que os capitalistas buscam sempre mais retorno. Esse mecanismo força um ajuste dos erros cometidos, pela própria natureza auto-corretiva do mercado. Os consumidores, através de suas escolhas, podem alterar o padrão de seus gastos, forçando um deslocamento da produção para os bens mais demandados. Os empresários, então, são levados a agir praticamente como agentes dos consumidores, tendo que buscar satisfazê-los sempre. Para manter a lucratividade num ambiente competitivo, os empresários precisam, portanto, inovar continuamente, introduzindo métodos mais eficientes de produção. Temos então o progresso, com tendência de queda dos custos e aumento da produção. Não custa lembrar que os recursos naturais existentes no planeta são basicamente os mesmos hoje e milênios atrás, tendo mudado apenas o conhecimento humano de como melhor utilizá-los para a melhoria do bem-estar. Eis um resumo simplificado do livre mercado e seu funcionamento. E eis o que o controle de preços acaba destruindo.
Um preço funciona sempre para equalizar a quantidade demandada de um bem ou serviço com a oferta limitada desse bem. Segue disso que não pode existir demanda insuficiente, não atendida, no livre mercado, já que o preço iria subir até o nível em que desestimularia tal demanda. O instrumento de ajuste será sempre o preço no livre mercado. O preço de um quadro do Picasso afasta a maioria dos compradores potenciais. A habilidade de ultrapassar outros na oferta de um preço maior por um bem desejado não é uma prerrogativa exclusiva dos mais ricos, diferente do que muitos podem pensar. Por exemplo: uma família mais rica pode alugar um apartamento de quatro quartos, enquanto uma mais humilde aluga um de dois. O motivo da família mais rica não alugar um apartamento de cinco quartos está no fato de que a família mais humilde é capaz e está disposta a pagar mais pelo seu segundo quarto do que a família rica pode pagar pelo seu quinto quarto. A família mais humilde, no exemplo, é mais competitiva em termos marginais, nesse quarto extra. Reisman utiliza vários outros exemplos para mostrar como a livre formação de preços, através de uma espécie de leilão ininterrupto entre os consumidores, é a forma mais eficiente de alocação dos recursos na economia.
Desta forma, os preços dos bens e serviços numa oferta limitada serão determinados não apenas pelo julgamento de valor dos consumidores, mas pelo julgamento de valor em respeito às quantidades marginais desses bens e serviços. Falando do caso da escassez de petróleo, causada pelo embargo árabe, mas muito ampliada pelo controle de preços do governo americano, um motorista de caminhão teria interesse em pagar mais por um litro extra de combustível do que uma família rica que iria utilizar esse litro para algo supérfluo, como talvez aquecer uma piscina. Se o mercado pudesse funcionar livremente, o óleo iria automaticamente para aqueles que mais demandavam o bem, na margem. O preço oferecido pelos usos mais importantes iria ultrapassar aquele oferecido pelos usos supérfluos, e a redução na oferta acabaria afetando apenas os usos sem muita importância para a economia. Mas o controle de preços paralisa a ação racional dos agentes, impedindo que este tipo de leilão possa direcionar os produtos para os usos mais demandados pela própria sociedade, ou seja, os consumidores.
O que Reisman demonstra no livro é que o controle de preços falha terrivelmente no seu objetivo aparente, que seria beneficiar os mais pobres. O controle de preços aniquila completamente os incentivos de melhora dos produtos e maior eficiência nos custos. Um exemplo bastante citado pelo autor é o mercado de aluguel de apartamentos populares em Nova Iorque, onde o governo controlava os preços. Com o tempo, novas ofertas desapareceram, os proprietários não tinham incentivo algum para melhorar a qualidade dos imóveis, e um pesado custo recaiu sobre a classe média, já que o preço dos apartamentos que não estavam controlados disparou. Aqueles que condenam o motivo lucro o fazem ou por ignorância ou por uma mentalidade destrutiva, fruto da inveja. Os incentivos da busca do lucro e a competição livre operam para o constante aumento da eficiência. Mas pessoas ressentidas acabam considerando que os ricos já são “ricos o suficiente”, e passam a pregar controle de preços. Como diz Reisman, “nada poderia ser mais absurdo do que consumidores numa economia capitalista atacando a riqueza de seus fornecedores”, já que essa riqueza serve justamente a eles, que são os beneficiários dela. Bill Gates só ficou bilionário porque gerou algo de valor segundo as próprias escolhas livres dos consumidores. Aquele que aprecia o produto deveria agradecer seu criador e o fato de sua criatura ter lhe tornado rico. É isso que garante novas invenções e ganhos de produtividade que reduzem os custos.
Reisman trata ainda de inúmeros detalhes sobre os efeitos nefastos do controle de preços, principalmente sobre aqueles que deveriam ser os beneficiados. A destruição que o controle de preços causa não pode ser subestimada, pois ela afeta o mecanismo de incentivos adequados da livre economia. Além disso, o controle tende a se espalhar para outros setores como um câncer, já que o governo, diante de cada novo problema criado pelo controle, tem que ir expandindo esse controle sobre todos os outros bens da cadeia produtiva. O exemplo preferido pelo autor é o da União Soviética, que ainda existia na época em que o livro foi escrito. Apesar de muita informação ser mantida como segredo pelo regime comunista, o que chegava ao exterior já era espantoso o suficiente, e absolutamente previsível pela teoria austríaca, adotada por Reisman. Uma economia não consegue funcionar sem um livre mecanismo de formação de preços. Seria preciso um Deus onisciente para ter toda a informação relevante que está dispersa entre os bilhões de consumidores e que é exposta através dos preços.
No controle universal de preços, presente no socialismo, não há mais conexão alguma entre as preferências dos consumidores e os lucros e perdas dos empresários. O único resultado possível é o que ocorreu em todo país socialista: escassez generalizada e produtos terríveis. Prateleiras vazias, filas infindáveis e um Lada na garagem, quando muito! A lógica econômica explica os motivos, e o mesmo valeu para a URSS e para a Alemanha nacional-socialista. O governo começa controlando alguns itens importantes, e logo tem que expandir o controle para tudo, decidindo quem produz o que e em qual quantidade, além de para quem será vendido. O governo assume o controle sobre os meios de produção de facto, como foi o caso no nazismo e comunismo. Essa interferência na propriedade privada produz invariavelmente o caos, proibindo os empresários de utilizar o capital da forma mais lucrativa possível, ou seja, da maneira que melhor atenda a demanda dos consumidores.
Ao abolir a liberdade econômica, o socialismo mata também a liberdade política. Socialismo, que seria o equivalente a um controle universal dos preços, significa o estabelecimento de uma ditadura totalitária. Não há como ser diferente, pela sua própria natureza. A única solução para o caos gerado pelo controle total de preços é a restauração do capitalismo liberal. Qualquer tipo de controle de preços através do governo deve ser duramente condenado por aqueles que defendem a liberdade.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

Domingo é dia de descanso? Ou: O socialismo sindical ainda quebra a França…



Paulo é um sujeito desempregado, vivendo de esmolas estatais. João é um pequeno comerciante, que gostaria de incrementar seu faturamento operando também aos domingos. Paulo adoraria trabalhar para João, mesmo aos domingos. Afinal, o emprego lhe daria dignidade, algo que esmolas estatais não dão, além de um salário razoável para sustentar melhor a família. João aceita as condições de Paulo e está disposto a lhe pagar um pouco mais por se tratar de domingo, um dia “extra”. Mas o acordo não sai. Não por falta de vontade de ambas as partes envolvidas, mas porque o governo não deixa.
Assim é na França e em tantos outros países com mentalidade anticapitalista, antiliberal e coletivista, dominados por fortes sindicatos. “O poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar”, escreveu o Prêmio Nobel de Economia, Hayek. Por trás desse tipo de afronta ao direito de escolha individual, jaz a premissa de que, sem a “proteção” sindical ou estatal, o empresário irá explorar como um escravo o trabalhador. Mas essa premissa é falsa.
Quem faz uso dela apela para um passado distante, como no advento da Revolução Industrial, ignorando não só o contexto como a alternativa. Sim, o trabalho era duro, até desumano em muitos casos. Só que sem essas mudanças, que tiveram mais peso na Inglaterra, a situação era muito pior. Não era um sindicato forte que garantia a melhor qualidade de vida dos trabalhadores, mas o próprio avanço capitalista. Onde esse não deu o ar de sua graça, o resultado foi muito mais miséria.
Na visão paternalista de esquerda, o empresário é um ganancioso insensível disposto a transformar seus trabalhadores em escravos, e os sindicalistas e políticos são almas abnegadas dispostas ao autossacrifício para defender os pobres trabalhadores. Como alguém ainda consegue preservar tal visão caricatural em pleno século XXI é, para mim, um mistério! Mas é exatamente essa mentalidade que possibilita a manutenção desse modelo autoritário e ineficiente, que cria privilégios para alguns à custa do direito dos demais.
Na China, milhões trabalham duro para acumular algum e sair da miséria, imposta por décadas de socialismo. Não é agradável imaginar que pessoas precisem passar por isso ainda hoje para sobreviver, mas o realista deveria se perguntar: qual a alternativa? Voltar ao socialismo de Mao, que matou milhões de inanição? Criar várias “conquistas trabalhistas” impondo restrições aos trabalhadores chineses e, com isso, matando não só seu direito de escolha como seu diferencial de competitividade? Por que uma empresa contrataria um chinês menos produtivo que um americano pelo mesmo custo?
Na Coreia do Sul, como na Ásia em geral, é comum trabalhar seis dias por semana. Cultura, necessidade, o que for, mas será que o governo deve impedir isso em nome da proteção ao trabalhador? O que muitos não querem enxergar é que várias dessas “conquistas trabalhistas” são um luxo que o capitalismo permite, e que muitas vezes é possível somente à custa de outros. O empregado adora privilégios, mas o que está procurando emprego aceitaria menos regalias, e é punido pelos sindicatos. É “aquilo que não se vê”, para usar a expressão de Bastiat.
Tudo isso foi para chegar ao atual debate na França, sobre permitir mais sete domingos no ano de comércio, para tentar aumentar a criação de empregos no país. Quem tenta fazer essa mudança, uma singela concessão ao liberalismo, é ironicamente o governo socialista de Hollande. É que até socialistas precisam se deparar com a realidade de vez em quando. A França é um dos maiores destinos de turismo do mundo, mas perde o domingo como possibilidade de girar a economia e aumentar as receitas. Faz sentido?
A França também limita as horas trabalhadas sem qualquer elo com a produtividade do trabalhador, como se o salário não dependesse, em última instância, dela. É a crença de que o estado, em conluio com sindicatos, pode simplesmente decretar vantagens impunemente. A “República Sindical” cobra seu preço: mais desemprego, menos criação de riqueza, perda de competitividade vis-à-vis os outros países. É bom mesmo para o trabalhador a longo prazo? E para o desempregado?
Carlos Alberto Sardenberg, com sua tradicional abordagem didática, explica em sua coluna de hoje como isso vem afetando negativamente o país. Comparando a França com a Alemanha, Sardenberg toca no xis da questão:
Não se pode dizer, portanto, que os problemas franceses decorram do excesso de austeridade ou de liberalismo. Há anos que a França não cumpre a meta de equilibrar as contas públicas. É um círculo vicioso: o governo aumenta os gastos, cria benefícios que custam caro (como jornada de trabalho de 34 horas e aposentadorias aos 50 anos) e depois aumenta impostos e impõe regras para obrigar as empresas a um comportamento “mais social”.
Verdadeiras reformas liberalizantes foram feitas na Alemanha, isso há mais de dez anos, no governo do social-democrata Gerhard Schroder. Angela Merkel, da Democracia Cristã, que governa desde 2005, beneficiou-se do impulso econômico afinal providenciado pelas reformas que, ao contrário, haviam derrubado Schroder. Não é curioso que Merkel tenha sido eleita com um programa que, na ocasião, poderia ser chamado de antiliberal e antiausteridade?
Não é curioso que um socialista francês possa cair acusado de liberalismo e austeridade? Não é curioso que a proposta antiliberal e antiausteridade reúna as extremas esquerda e direita? Tudo isso para dizer o seguinte: em toda parte e toda vez que os políticos procuram maneiras de fugir de algumas verdades, o resultado é a confusão do debate e a trapaça com os eleitores.
A fuga da verdade é a maior inimiga não só do bom debate, como dos interesses dos próprios trabalhadores. O maior aliado deles, por outro lado, é o aumento de produtividade, que puxa os salários para cima de forma sustentável, assim como um ambiente de maior concorrência, o que força o empregador a atender da melhor forma possível as demandas dos seus trabalhadores. Ninguém precisa de sindicatos poderosos no Vale do Silício para “proteger” os trabalhadores. E se conquistas legais fossem sinônimo de benefícios concretos, os trabalhadores brasileiros e franceses estariam em situação bem melhor do que os californianos do setor de tecnologia. Estão?
Domingo é dia de descanso para muitos. Para outros, é apenas uma chance de incrementar o ganho, melhorar a qualidade de vida da família, ou quiçá ter um emprego e um ganha-pão. Questão de escolha. Eu, por exemplo, trabalho aos domingos, escrevendo textos no blog, e detestaria que um sindicato ou o governo me impedissem de fazer isso, ainda mais em nome dos meus interesses.
Que tal deixar o preconceito ideológico de lado e dar uma chance à liberdade de escolha de patrões e empregados? O resultado não será o retorno da escravidão, como pensam os esquerdistas. A escravidão existe em Cuba, onde não há capitalismo e o governo “protege” todos dos “exploradores” capitalistas.
Rodrigo Constantino

BRASÍLIA- FRALDAS COM PÓ DE MICO- Nova CPI da Petrobras começa na próxima quinta

Democracia socialista: contradictio in adjecto

Democracia socialista: contradictio in adjecto

ds-30-anos1O Partido dos Trabalhadores (PT) possui uma tendência interna chamada democracia socialista. Em Filosofia, chamamos isso de contradictio in adjecto,uma expressão latina utilizada quando se atribui a um nome uma característica que o contradiz.
A democracia pressupõe individualismo e liberdade, enquanto o planejamento social próprio do socialismo tenta alcançar a igualdade reprimindo o indivíduo. Em um jogo retórico que ainda hoje nos confunde, o socialismo passa a prometer uma libertação econômica que seria mais fundamental que a libertação política. O perigo, porém, está no fato de que a supressão da liberdade política equivale à coerção e ao poder arbitrário sobre o indivíduo, de modo que aquilo que fora apresentado como caminho para a liberdade torna-se o caminho para a servidão.
O debate entre socialismo e liberalismo não deveria ser posto no âmbito das finalidades, sob o risco de que se corrompa a discussão com a ideia equivocada de que socialista é aquele que busca a diminuição da pobreza enquanto liberal é aquele que só se preocupa com o lucro. A discussão entre ambos diz respeito mais aos meios que aos fins. O liberal tem uma convicção: a de que os métodos propostos pelos socialistas para atingirem seus fins (abolição da propriedade privada dos meios de produção, abolição da livre iniciativa econômica e excesso de centralização) põem em perigo um valor que para ele é essencial: a liberdade.
Há valores que jamais poderiam ser postos em parêntese, sob pretexto algum. Basta olhar para a realidade política do nosso próprio país para perceber o quanto a noção de que os fins justificam os meios pode ser maléfica. Não creio que ainda haja dúvidas quanto ao fato de o Partido dos Trabalhadores ter tomado de assalto o Estado brasileiro, mas trata-se, como diria Luiz Felipe Pondé, de uma corrupção ideologicamente justificada. Mesmo cientes da máquina de corrupção que se tornou esse partido, muitos justificam a falta de ética nos meios por acreditarem que há honestidade nos fins. Não há. E, se houvesse, a roubalheira também não se justificaria.
Democracia socialista é contradictio in adjecto porque, diferentemente do socialismo, a democracia não possui um fim fora de si mesma em nome do qual possa relativizar seus fundamentos. A finalidade da democracia é justamente assegurar determinados fundamentos. Ela não pode abrir mão da justiça em nome de uma causa qualquer porque sua finalidade é justamente garantir a justiça. A democracia não reparte as demandas de uma população com se houvesse entre as pessoas uma distinção de cor, de credo ou de classe social; a democracia não consiste em delegar poderes, mas em limitá-lo. É nessa limitação que consiste a sua eficácia e é nessa posição equilibrada que consiste a sua justiça. Portanto, o maior desafio da democracia não é cravejar de pérolas a casa dos pobres ou melar de lama a casa dos ricos, mas sim fornecer a todos os cidadãos a capacidade plena de exercício de seu livre-arbítrio, de uma consciência moderna, de uma razão emancipada.

Sobre o autor

Catarina Rochamonte
Doutoranda em Filosofia pela UFSCar
Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE (Universidade Estadual do Ceará), mestre em Filosofia pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), doutoranda em Filosofia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos); é escritora e jornalista independente.

FUI!- Megainvestidor Soros vende 60% de suas ações na Petrobras

DIÁRIO DA ANTA DOURADA- Governo Dilma atrasa repasses a escolas do Pronatec

Uma das principais bandeiras da petista na eleição acabou virando dor de cabeça para as instituições particulares.

“Evito passar sob escadas não por ser supersticioso. Temo um tijolo ou mesmo um galão de tinta nos cornos.” (Climério)

“Os americanos têm Obama, o Frouxo. Nós temos Dilma, a Búlgara Dispendiosa.” (Eriatlov)

Jorge Luiz Mauad- Seria cômico...

O estado da saúde pública tupiniquim é realmente lamentável.  Além das filas, da falta de médicos, remédios e equipamentos, ainda nos defrontamos com um despreparo profissional gritante.  O que vai abaixo é o testemunho (postado no Facebook) de um amigo que esteve recentemente num dos maiores hospitais públicos do Rio de Janeiro.  Atenção, não é piada!
“Durante um passeio de barco hoje pela manhã, meu cunhado encostou numa água viva “caravela”, extremamente agressiva, levando-o ao Hospital Souza Aguiar.  Depois de esperar por mais de uma hora, sua mulher perguntou à enfermeira que o atendera se o médico iria demorar.  Resposta: o ortopedista ainda não chegou.  Ortopedista? Por que precisamos de um ortopedista?  Ué, ele não foi atingido por uma caravela?  O último que sair, por favor, apague as luzes!!!”

NOTÍCIAS DE SAMPA- Efeito Haddad: Moradores começam a deixar a Vila Madalena; preço de imóveis despenca; prefeito está destruindo o bairro

Eu sou como o Pequeno Príncipe, que nunca desistia de uma pergunta. E eu não desisto de uma ideia quando os fatos evidenciam  que tenho razão.
Reportagem do Estadão conta a história da família da neuropsicóloga Cristine Franco Alves, moradora da rua Fidalga, na Vila Madalena. Depois de 70 anos no local, os Alves estão deixando seu imóvel, expulsos pela irresponsabilidade do prefeito Fernando Haddad, do PT, que decidiu transformar o bairro num laboratório da sua inexperiência administrativa, ciceroneado por seus esquerdistas que pensam que a academia é botequim e que o botequim é a academia. A casa fica perto da rua Aspicuelta, no miolo da bagunça.
O patrimônio das pessoas está virando pó, mato, pedra. Está sendo cheirado, fumado, inalado. O preço dos imóveis despenca. Um leitor pede que não dê o nome por razões óbvias. Ele tinha praticamente fechado a venda de um apartamento de alto padrão. O e-mail que recebeu da imobiliária deveria servir de lápide para o velório político de Haddad. O comprador — um executivo, mulher e filha que se mudaram recentemente para São Paulo — não desistiu apenas do seu apartamento. Não quer é saber da Vila Madalena.
Os comerciantes reclamam por razões óbvias. Vendem menos, não mais. Se a Vila continuar nessa toada, a decadência é inexorável. A questão é, antes de mais nada, econômica.
Brinquei ontem na rádio Jovem Pan que aquele velho maconheiro, meio comunista, da Vila — o estereótipo do barrigudo progressista, quase careca, de rabinho de cavalo — está desolado. Era gostoso brincar de petismo, revolução de costumes e outras imprecisões teóricas quando isso parecia, assim, uma coisa de minorias supostamente inteligentes. Aí chegou Haddad, o administrador que eles imaginavam que realizaria suas utopias.
O resultado é este: onde quer que prospere o seu modelo de cidade, o que se tem é desordem, decadência e desolação.
Por Reinaldo Azevedo

J.R. Guzzo: A palavra ‘I’

Publicado na edição impressa de VEJA
J.R. GUZZO
Uma das complicações da política brasileira de hoje é que a poeira não baixa. Deveria baixar, pela lei da gravidade; “se subiu tem de descer”, dizia Raul Seixas numa de suas muitas observações notáveis. Mas no Brasil da presidente Dilma Rousseff a lei da gravidade parece não estar funcionando. Seria mais uma dessas leis que não pegam?

O fato concreto é que a poeira em volta do governo, quase sempre levantada por ele mesmo, continua subindo — e o inconveniente disso é que deixou de existir a opção de esperar que a poeira baixe antes de tomar decisões, como recomenda a sempre tão prudente sabedoria popular. Esperar como? Antes de se desmanchar uma nuvem já vem outra, e se alguém ficar esperando o ambiente clarear corre o risco de passar a vida sem fazer nada.
No momento, com a catástrofe que o Palácio do Planalto criou ao se deixar moer como picadinho na eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, subiu um poeirão de estrada de terra em Mato Grosso em tempo de seca. Vai ficar aí por tempo indeterminado — e o resultado é que a vida pública brasileira continuará no voo cego que vem fazendo nos últimos quatro anos.

Sempre há a esperança de que bata um vento capaz de limpar a atmosfera, mas a experiência informa que está rodando no governo Dilma um programa pelo qual os ventos, caprichosamente, não têm tido a bondade de produzir os efeitos esperados deles — a cada vez que venta, ao contrário, tudo o que se tem é mais poeira. Mal começou o ano de 2015, e mal começou o segundo mandato da presidente, e já estamos em pleno breu. Para ficar numa lista resumida, continua em perfeita forma a tempestade de areia levantada no ano passado pelo assalto sem precedentes, e sem limites, aos cofres da Petrobras — só possível, na vida real, pela colaboração prestada aos assaltantes durante doze anos seguidos por parte dos dois governos do PT; no melhor dos casos, é um espetáculo de inépcia, negligência e imperícia que respeitados juristas já acham vizinho da cumplicidade.
Do fim do ano para cá, a coisa só fez piorar. Seguiu-se, logo de cara, a nuvem de pó desse incompreensível novo ministério. Logo depois veio a revelação de que o Brasil corre o risco de um desastre no fornecimento de energia elétrica — ao contrário da afirmação pública da presidente, um ano atrás, de que graças ao seu governo o país tinha energia de sobra, barata e eterna. As contas públicas de 2014 fecharam com um rombo inédito na história: o governo federal arrecadou por volta de 1,2 trilhão de reais, mas conseguiu gastar quase 350 bilhões de reais a mais do que isso. Enfim, na eleição da Câmara, Dilma e seus grandes estrategistas políticos lançaram-se a uma aventura desesperada. Inventaram de declarar guerra a Eduardo Cunha, embora ele comande uma porção decisiva do PMDB, partido que há doze anos é o principal aliado do próprio governo, perderam e criaram uma nova liderança para a oposição, mais perigosa que todas as que já estavam aí.

A vitória de Cunha parece um desses casos clássicos em que a malícia é superada pela burrice. Dilma queria derrotar o PMDB para pagar menos por seu apoio. Vai pagar mais, e não pode fazer nada contra a bizarra espécie de aliado-adversário que criou. Não pode, é claro, expulsar o PMDB do governo, como não podia desde o começo da briga; não pode retaliar nem os partidos anões que comprou com cargos e que a traíram votando em Cunha. Quem iria colocar em seus lugares? Para piorar, o candidato da presidente ficou com pouco mais de 25% dos votos na eleição — uma soma ridícula, francamente, para quem pretende a “hegemonia” na vida política brasileira, como está escrito nos documentos oficiais do PT. A torcida do governo, agora, tenta se animar com a ajuda que imagina receber de gigantes do movimento de massas como Gilberto Kassab e Renan Calheiros — é a isso que está reduzida.

Mais que tudo, Dilma pôs em circulação, inteiramente de graça, a palavra “impeachment”. É um despropósito, levando-se em conta que não está provada até agora nenhuma conduta criminal em relação a ela. Só está provado que faz um governo horrível, mas a Constituição não diz que o governo tem de ser bom; diz apenas que tem de ser eleito. Se é ruim, o remédio prescrito pela lei são eleições de quatro em quatro anos. Ao mesmo tempo, o Congresso não é obrigado a esperar decisões da Justiça para depor presidente algum; fez exatamente isso, por sinal, com Fernando Collor. Eis aí o que pode acabar sendo, para Dilma Rousseff, a mãe de todas as poeiras.

Magno Karl- Sobre os rolezinhos: direitos de propriedade, estado de direito e um pouco de bom senso



O problema do rolezinho poderia ter sido solucionado logo no primeiro dia, com a mistura de três ingredientes simples: direitos de propriedade, estado de direito e um pouco de bom senso.

Os shoppings são estabelecimentos privados de acesso público. Não são locais públicos. Teoricamente, não há o que impeça estabelecimentos comerciais privados de regularem de alguma forma a entrada de clientes. Casas noturnas revistam seus clientes, estabelecem um mínimo a ser consumido em suas dependências, e chegam até a verificar se o que vestem está de acordo com regras pré-estabelecidas. Essas normas nos soam comuns, por já termos nos acostumado a elas. Não há nada que impeça os shoppings de adotarem medidas semelhantes e “selecionarem” os seus clientes.

Mas não haver nada de errado com uma prática, não faz com que ela seja desejável. Afinal, você gostaria de fazer compras em um shopping que controlasse a sua entrada, verificasse a sua identidade e as roupas que veste, perguntasse quem são as suas companhias e estabelecesse um valor de consumação mínima para a sua permanência? Os shoppings são estabelecimentos privados e, como casas noturnas, poderiam adotar medidas de controle às suas dependências, mas o prejuízo que elas poderiam trazer inviabiliza qualquer ideia nesse sentido. Os shoppings acabarão por investir em segurança pontual para evitar tumultos e saques. E só.

Um pouco de Estado de Direito também não faria mal à reação aos rolezinhos. Se os lojistas e frequentadores do shopping devem ser suas propriedades e integridade física protegidas, as garantias do Estado de Direito devem ser estendidas a todos, inclusive aos participantes da “atividade”. Elas não podem ser relegadas como fatores secundários, principalmente durante a atividade policial. Em um estado democrático de direito, os papéis de mocinho (polícia) e bandido (os bandidos de verdade) são claramente demarcados, mesmo em uma época em que a violência se apresenta como uma praga nacional.

Os policiais não devem aguardar a agressão passivamente, mas devem agir conforme a lei. E é por um bom motivo que a lei limita os poderes da polícia e regulamenta o uso da violência. A polícia não pode bater gratuitamente, não pode ameaçar dar tapa na cara, não pode coagir menor. Nenhum cidadão jamais estará livre de agressões policiais enquanto não compreendermos que a polícia não está autorizada a agredir suspeitos e que a coação não faz parte dos poderes que o Estado a delega. Na semana passada, foram os funkeiros de bonezão. Amanhã, ninguém sabe.

Sou otimista em relação ao debate público no Brasil, mas quando a realidade se recusa a se encaixar nas ideias dos analistas, esse otimismo sofre. Colunistas falam dos shoppings como locais frequentados pelos filhos da elite, como se nunca tivessem conhecido um pobre ou ido a qualquer shopping center. Outros, falam dos adolescentes da periferia, dos pobres e dos funkeiros, como se eles fossem os enviados de uma ideologia maligna para corroer os alicerces da nossa civilização, e logo no nosso centro da alta cultura -- o shopping.

Quando eu tinha a idade dos garotos e garotas que protagonizaram os rolezinhos nas últimas semanas, o maior programa da minha semana também era ir caminhar em um shopping. Colocávamos nossas melhores roupas e olhávamos as vitrines, olhávamos as pessoas e encontrávamos os nossos amigos. Quando tínhamos algum dinheiro, comprávamos; quando não tínhamos, andávamos. Não éramos todos pretos, não éramos todos brancos, não éramos todos ricos e, apesar de sermos todos pobres, nem éramos pobres do mesmo jeito. Eu fui um adolescente pobre que gostava de funk e encontrava meus amigos em um shopping center. Talvez por isso a guerra de generalizações derivadas dos rolezinhos me irritem tanto.

Nos fins de semana, os shopping centers brasileiros são frequentados pelos trabalhadores e pelos seus filhos. Quem tem grana prefere suas casas de praia, suas fazendas ou os shoppings (de Paris). Os pobres e a classe média -que ganha como pobre, mas gasta como rica- vão ver vitrines, alugar um filme, comer na praça de alimentação. A retórica da luta de classes dos colunistas não resiste a uma visita a um shopping de grande cidade. E para esse diagnóstico, nós nem precisávamos do Datafolha: bastava olhar. Basta ser ou conhecer um brasileiro comum.

Um pouco de calma na emissão de veredictos definitivos também não faria mal: a era das notícias rápidas transformou a reação dos observadores. A emoção fala antes da análise e da avaliação racional. Depois, nos esforçamos para fazer a realidade se encaixar naquela primeira reação. É o elefante da emoção comandando o seu pequeno passageiro, a razão, na famosa analogia de Jonathan Haidt.

A sociedade é um organismo complexo, indivíduos são agentes do próprio destino e membros concomitantes de grupos distintos, mas tudo parece ser muito mais simples online. A briga entre os times vermelho e azul apaga todas as nuances. Quando uma polêmica chega à internet --e dela transborda para a mídia tradicional-- o time azul grita de um lado, o time vermelho grita do outro. Tudo se transforma emnós contra eles. A cegueira partidária, de petralhas e reaças, transforma pessoas inteligentes em tias que compartilham no Facebook imagens com frases fora de contexto.

Em um debate político, a generalização e o exagero estão longe de ser instrumentos novos. No entanto, o padrão que se forma nessas discussões -- e que vem apagando a separação entre status updates e a mídia formal --, soa esquisito e assusta até mesmo observador otimista a respeito das próximas décadas no Brasil. A maioria da população vive ao largo desses debates e se quisermos engajá-la em algumas dessas discussões, devemos nos esforçar para que elas pareçam um pouco mais com o mundo onde as pessoas vivem e um pouco menos com os modelos maniqueístas da discussão política atual.
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