segunda-feira, 7 de maio de 2018

BRINCADEIRA ANTIGA


Há sombras rondando a minha nova morada. Elas vêm todos os dias, sem hora determinada. São sombras silenciosas e rápidas, num piscar de olhos elas somem. Não tenho por elas nenhum sentimento, nem medo, nem amor. Saio do meu caixão, subo e me sento sobre um grande mármore escuro. O céu está limpo, consigo ver o sol, mas não o sinto. Vejo as sombras escondidas detrás de um jazigo. Grito para elas:
-Basta! Vocês já não me assustam mais! Agora sou apenas um fantasma como vocês!
Elas chegam até mim, se apresentam sorridentes e me contam como é a antiga brincadeira de assustar novos mortos; digo, "estou dentro".


ESPERANÇA


Formigas caminham despreocupadas pela varanda  enquanto o cão preguiçoso boceja deitado satisfeito na cerâmica fria. Nuvens passeiam pelo céu, sem pressa. O sol vespertino é forte; o verde das árvores se destaca; o cantar dos pássaros presos é triste. Alados libertos cruzam os ares fazendo alarido e lamentando a má-sorte dos irmãos engaiolados. Não tem jeito, quem está na gaiola canta de tristeza, mas os obtusos pensam que é de alegria. Quem canta seus males espanta; eles sabem disso mais do que ninguém. Uns poucos ainda olham para cima com esperança de um dia poder novamente voar. A esperança, sempre ela, junto do ser até o derradeiro suspiro.


MANSO KA


Por séculos e séculos os sacerdotes mantiveram o POVO KA de joelhos e na escuridão. O discurso do temor aos deuses era pregado diariamente geração após geração. Todos nasciam, cresciam e morriam sob os pés dos religiosos e cheios de medo. Diziam que quem saísse da tribo seria devorado por monstros infernais. Assim os religiosos viviam a boa vida e eram sustentados e bajulados pela nação inteira. O azar de deles foi ter nascido Manso Ka. Manso nasceu surdo e com quinze anos de idade se mandou. Dez anos depois Manso voltou ainda sem ouvir, mais cheio de brilho e conhecimento. Voltou ver seus pais e irmãos e mostrar ao povo que monstros infernais eram lendas alimentadas pelos dominantes. Houve então uma grande festa e assaram os sacerdotes em fogo baixo e os comeram com muita pimenta. Manso preferiu comer peixe.


O VOO


Tomas dormia durante o voo. A aeronave estava em velocidade de cruzeiro quando ele acordou. Após olhar detalhadamente em volta percebeu algo estranho. Naquele voo pareciam estar reunidas inúmeras pessoas famosas já falecidas. Ao seu lado, por exemplo, estava o Mahatma Ghandi. Do outro lado do corredor viu com clareza Airton Senna gargalhando ao brincar com amigos. Alguma coisa diferente acontecia naquele voo, o que seria? Quando foi ao banheiro deu de frente com uma pessoa muito conhecida aos católicos, o Papa João Paulo II, usando crachá de copiloto. Quando Madre Tereza de Calcutá uniformizada de aeromoça passou com o carrinho de lanche pelo corredor Tomas ficou pálido e perguntou ao senhor ao lado o que estava acontecendo naquele avião. O ancião olhou rindo para ele e respondeu:
- Acorde tonto, você está sonhando!


O CONSELHO DOS SÁBIOS


2.099. Os homens mais sábios do planeta se reuniram em Genebra na Suíça para decidir qual deles era o mais sábio para presidir o conselho que governaria o planeta terra dali por diante. Todos se apresentaram como candidatos e fizeram suas explanações dando mostras de suas ideias. Após um mês de árduos debates ainda não haviam encontrado um nome de consenso e quando a palavra  “burros” foi dita no plenário. Acendeu-se uma chama de ira e todos se engalfinharam com sangue nos olhos  usando facas e estiletes, já que armas de fogo eram proibidas. Não sobrou um só dos sábios vivo. Dona Cleusa que cuidava do cafezinho  tomou posse da cadeira presidencial vazia dizendo: É cum eu!


“O socialismo é a divisão da miséria, algo que não vale obviamente para seus dirigentes”. (Filosofeno)


“Algumas mentes andam em círculos. Repetem clichês, adotam o pronto-pensar. São como bois tocando a roda do moinho.” (Filosofeno)


“A rotina é algo que mata o casamento por envenenamento em pequenas doses diárias.” (Filosofeno)

“Não se doma o bicho conhecimento sem esforço. “ (Filosofeno

“A loucura é uma fatalidade. Já ser imbecil é uma escolha.” (Filosofeno)


“Altos magistrados com bandidos de estimação. Turma de pouca moral com muito veneno.” (Filosofeno)


“Às vezes a solidão nos obriga a uma convivência difícil.” (Filosofeno)


“Um semblante sério pode não dizer nada. Por detrás dele talvez se esconda um falsário ou coisa pior.” (Filosofeno)


“Um relacionamento que se expressa entre tapas e beijos tem tudo para terminar em tragédia.” (Filosofeno)