domingo, 21 de abril de 2019


HERNILDA MOSCA

A família de Hernilda Mosca chegou à festa e sobrevoou a mesa repleta de delícias. Alvos escolhidos, atacaram em massa pousando nas guloseimas com suas patinhas imundas. Porém sofreram um contra-ataque rápido e fim da jornada. Não contaram para elas que era uma festa de sapos.






A FILA

A fila ultrapassava cinco quarteirões. O passante curioso perguntou para o último dos esperançosos:
-Fila para emprego?
-Não. Estamos pegando senha para no futuro entrarmos no paraíso.
O passante ficou atônito:
- É grátis?
-Não! Duzentos reais.
-Bem caro- falou o passante. - Acho que irei aguardar pela fila do purgatório.





POR LIVRE OBRIGAÇÃO

Paulino corria pelo campo aberto e de vez em quando olhava para trás. O suor descia pelo rosto, os pés doíam, os dedos faziam força para fugir dos sapatos. O sol ardia na pele e as bochechas estavam em brasas. Uma pequena brisa amainava um pouco o mal-estar do calor. Quando subia uma pequena elevação pedregosa teve que esquivar-se de uma cobra cascavel. Adiante se deparou com um encontro de escorpiões, tendo que dar saltos acrobáticos para escapar ileso. Passou por uma cerca de fazenda e foi recebido a tiros pelos peões. Vomitou de medo e cansaço. Depois atravessando um milharal foi corrido por porcos do mato. Olhou para trás e viu à distância homens montados em velozes cavalos vindos em sua direção. Não demorou muito para desmaiar diante de um muro de pedra. Foi logo alcançado pelos cavaleiros, medicado e levado de volta à cidade. Após ser lavado, vestido e perfumado, foi entregue à noiva na porta da igreja.



A TRANSFORMAÇÃO  

Não importava o sol abrasador que torrava os miolos. Não importava o odor terrível que emanava daqueles latões de lixo, tanto que até urubus passavam por perto usando máscaras. Mas Demétrio não se importava; lá estava ele todos os dias mexendo em tudo, fedendo ele próprio mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há anos não sabia o que era uma carícia das águas que não fosse da chuva. Carregava moscas pelo rosto todos os dias, como se fosse um lotação de insetos, sendo algumas também embarcadas nas orelhas. Vivia, comia e dormia na imundície, lugar mais sujo impossível. O corpo adornado de perebas já nem se importava mais. Assim foi por muitos e muitos anos. Porém um dia acordou sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para algumas ratazanas com segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora os gostos de um rato, bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim, transformara-se num rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de Kafka, o Demétrio rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns dias até ser comido por um gato esfomeado.



OS VELHOS E A VELA

O velho e velha Antiok resolveram sair de casa para visitar o grande amigo Sirtuk que estava acamado. Quando tinham dados poucos passos na rua a velha se lembrou que havia deixado a vela por apagar. Voltaram os velhos para apagar a vela e saíram. Novamente eram alguns passos porta afora e o velho disse que precisava voltar para pegar seu isqueiro. Voltaram. Sem precisar da vela o velho achou seu isqueiro. Nisso a velha percebeu que estava sem calcinha e acendeu a vela para procurá-la. O velho segurava a vela enquanto a velha procurava por sua calcinha. Achada e posta a calcinha o velho apagou a vela sem não antes tropeçar e derrubar a velha e a vela. De pé os velhos saíram deixando a vela no escuro. Mais tarde quando retornaram para casa os velhos perceberam que a porta havia ficado aberta. O velho disse que entraria sozinho por segurança, a velha ficaria na porta aguardando. O velho então entrou, mas não encontrou a vela para verificar como tudo estava. A velha ansiosa resolveu entrar para procurar pela vela também. A vela não foi encontrada, e não havia outra na casa. O caso é que a vela fora roubada, e o velho e a velha dormiram no escuro com saudade da prestimosa vela.


ORAÇÃO

Ó SENHOR, DAI-ME PAZ E SABEDORIA NESTE DIA, ESPECIALMENTE PARA ESCOLHER A MELHOR CERVEJA, QUE SEJA ELA COMPATÍVEL COM MEU CORPO E QUE AMANHÃ A DOR DE CABEÇA NÃO ESTEJA ENTRE NÓS. AMÉM.



O ASSALTO

Quase meio dia.  A porta foi do escritório foi forçada e dois homens entraram de armas em punho. O mais alto gritou: É um assalto, todos para o chão! Severino sem tirar os olhos do texto que estava digitando berrou: Então entra de uma vez seu filho da puta, fecha essa porta que está entrando um vento frio, não quero pegar um resfriado!   O bandido mais alto tirou os óculos escuros e fez menção de atirar, mas ao ver quem era disse, papai! Pediu a bênção e foi assaltar o escritório ao lado.




UM DIA DE CÃO

Nilson acordou estranho naquele dia. Saiu da cama sem vontade de caminhar, preferiu andar de quatro. No lugar de ir ao banheiro foi para fora e fez xixi no canto da casa. Após comer a ração do Totó fez um montinho no gramado lateral. Depois correu pelas ruas próximas perseguindo automóveis. Quando voltou para seu quintal foi pego pela esposa roendo um osso sobre a calçada. Ela foi para dentro e voltou com uma coleira nas mãos. Colocou o marido preso próximo da casinha, pôs água limpa e ração nova. Recomendou que não latisse para não perturbar os vizinhos. Isto feito tomou banho e foi às compras.